Para o povo mapuche, indígenas da região centro-sul do Chile e do sudoeste da Argentina, a palavra "mapu" significa o cuidado com a Pachamama, a mãe-terra. Já para a família Zylbersztajn, Mapu é também o nome de um projeto antigo que finalmente está sendo realizado: um refúgio na Patagônia Chilena. Em meio à pandemia, a modelo Patrícia Beck e o fotógrafo Gustavo Zylbersztajn optaram por trocar o agito da capital paulista pelo vilarejo de Futaleufú. A mudança inspirou a edição virtual da mostra Casa na Toca, que abre digitalmente hoje (16), com "refúgios" como tema.
“Quando soubemos que Pati e Gustavo estavam se mudando e construindo o Mapu, começamos a pensar se não seria o cenário perfeito para a nossa edição virtual, com o tema refúgios”, conta a designer Cris Barretto que, ao lado das jornalistas Isabela Caban e Simone Ratzik, assina a curadoria do evento, que vai até 11 de abril.
O desejo por um novo estilo de vida foi cultivado por muitos durante a quarentena. Por isso, faz sentido que tenha sido o tema escolhido para guiar a edição de 2021. “Privilegiamos o viver de forma simples mas com estilo. A convivência com a natureza e a vida em família foram pontos altos e muito necessários em 2020, quando passamos por esse período louco de pandemia e de valorização da casa. Muitos estão trabalhando em casa e descobriram que é possível viver em lugares remotos”, diz Isabela.
Muito mais do que apresentar novos profissionais e tendências para o público, as mostras de decoração são essenciais para mudar nosso ponto de vista sobre o vestir da casa. “Nós, organizadoras, criamos uma paleta de tons, há sempre um tema que norteia a criação dos ambientes, mas, de forma geral, gostamos que os visitantes tenham a sensação de estar entrando em uma casa de verdade, onde há uma conexão estética e natural entre os espaços”, explica Simone.
O nome Casa na Toca, não à toa, ressoa algo lúdico e divertido - o que a diferencia de outras mostras. Seus ambientes trazem soluções originais e criativas para que as crianças se sintam incluídas em toda a casa. Depois de três edições de sucesso, duas no Rio de Janeiro e uma em São Paulo, a mostra volta com duas novidades: além do formato 100% digital, ela se inspira, de fato, em uma família real.
Gustavo Zylbersztajn conta que há muitos anos tinha a meta de estar próximo da água e conectado com a natureza. "Em 2014 compramos o terreno aqui na Patagônia e a pandemia acabou impulsionando nossa vinda. Nos meus planos a gente viria pra cá em uns três, quatro anos”, diz. Ele, ao lado de Patrícia, fará uma live de estreia, às 16h, no Instagram @casanatoca.
Ao todo, são 25 projetos de ambientes distribuídos em cinco casas diferentes, formando a estrutura Mapu. Além de ver diferentes ângulos da casa, o visitante poderá “percorrer” a mostra em um tour de 360º, com áudio de apresentação dos espaços feitos por cada autor. O destaque da madeira, tons terrosos, peças artesanais e texturas naturais, além de muitas janelas e vidros, para emoldurar a paisagem e favorecer a iluminação natural, são fatores que conectam todo o local.
Ambientes
Como tudo foi adiantado pela quarentena, o casal, hoje, vive em um dos lofts já prontos, junto com os filhos Ben, de 2 anos, e Cora, de 3 meses. O resto da estrutura Mapu ainda está sendo construído e, graças à mostra Casa Na Toca, já tem muitas inspirações. “Tem coisas muito legais que a gente vai poder se inspirar para seguir e são superaplicáveis aqui”, explica Gustavo.
Quando pronto, o Mapu será um local de conexão, especialmente para os amantes da natureza. “Em resumo, o Mapu é uma ode de experiências que vai focar em workshops, períodos de imersão”, sintetiza Gustavo, que garante que o local terá uma grade de programação anual. “Devemos abrir para receber as pessoas no fim de março, meados de abril”, diz.
Apesar de não ter conhecido todos os profissionais virtualmente, a família compartilhou todo o material das suas experiências dos últimos três anos na Patagônia, o que deu base suficiente para que eles montassem os ambientes. Tudo, claro, pelo computador.
“Já é de costume do escritório apresentar projetos 3D para os clientes. Obviamente a gente tem a parte legal que é realizar o projeto depois, mas o 3D deve ser funcional igual ao projeto que será construído”, explica a arquiteta Maria Rita Cappellano da MRC Arq. Design, que planejou a Sala de Convívio.
O ambiente traz o que muitos descobriram essencial durante o período de home office: um lugar para trabalhar e entreter as crianças. “A princípio seria home office, mas como o contexto da casa é que a gente tenha ambientes onde as crianças se sintam integradas, optamos por uma sala de convívio”, conta ela. Inspirando-se no casal, ela criou uma bancada orgânica que rodeia todo o ambiente. “É pensada com espaço para os adultos trabalharem e para as crianças se divertirem. Ela se transforma num brinquedo, onde a criança pode passar por baixo, como um túnel, ou por cima, ela pode subir no estofado pela escada”, diz.
E se por um lado o sonho dos adultos é concretizado, o das crianças também há de ser: um quarto dedicado a reunir os amigos, para fazer bagunça e brincar até a hora de ir para a cama. Planejado pela arquiteta Isabela Iung Simis, do Muito Mais Arquitetura, em parceria com a Nina Moraes Design e Ateliè Baobá Pitucos, ele traz as aventuras da família de viajantes como tema principal.
“Desde o início nossa inspiração foi fazer uma cama diferente, que fosse além do dormir, que virasse também brincadeira. E como eles gostam muito de viajar, a gente se inspirou em beliches de vagão de trem que, dependendo do tamanho, dá até para cinco crianças”, diz Isabela. Ela faz questão de citar também a parede oposta à cama, feita pelo pessoal da Nina Moraes que ganhou um mapa personalizado com todas as viagens que a família já fez.
Confira os ambientes da mostra:
Casa Na Toca 2021
Filosofia de vida
"Quanto mais coisas você tem, mais você vai percebendo que tem menos tempo pra você, pros seus filhos, pra criação, para encontrar seus amigos. E hoje, pra gente, é muito importante ter mais tempo para poder compartilhar as coisas que queremos", diz Patrícia que, junto ao marido, tem o projeto de vida de criar os filhos em meio à natureza, respeitando o tempo de desenvolvimento de cada um e incentivando a autonomia, dentro da filosofia da educação Waldorf. “O homeschooling sempre foi algo que a gente quis fazer”, conta Gustavo.
Inspirados pelo desejo do casal, o Studio Adoleta criou uma escola caseira que, com muita cor e formas, incentiva a brincadeira e o estudo lúdico. Logo ao lado, o Estúdio Noz dedicou espaço à prática de esportes da região: rafting, pesca, ciclismo e caminhada. Sem faltar um cantinho especial para aulas de yoga e meditação.
Na área externa, um quincho - área para churrasco. “O quincho seria um lugar aberto, para refeições ao ar livre. Mas na Patagônia, por conta do frio, o ambiente se torna mais acolhedor. No nosso caso, as arquitetas Leila Bittencourt, Cynthia Bento e Flávia Lauzana se uniram para criar um espaço de leitura, uma cozinha comunitária e uma área externa com direito a mesa de refeições, balanços e até uma piscina natural”, explica Cris Barreto.
E se mesmo com tanto a fazer dentro de casa, a vontade de viajar for maior, Caio Bruno e João Pedro Neri, do Cajoo.studio, transformaram uma casa móvel, em estilo vintage, com todos os confortos necessários para desbravar a Patagônia, relembrando o começo do sonho dessa família. “Em 2018 a gente saiu com trailer para viajar e ficamos cerca de seis meses na estrada”, diz Gustavo. Justamente por isso, o local será ‘RVfriendly’, ou seja: aceitará trailers e veículos recreativos.