A maquete da escola de música proposta pelo Urban Think Tank, da Venezuela, para São Paulo
Favelas, assentamentos irregulares, cortiços... Urbanistas e arquitetos têm um termo particular para designar tais ocupações: "cidade informal". Nome aos bois à parte, como transformar essa precariedade comum a São Paulo e outros centros urbanos do mundo? "Precisamos tirar o estigma dessas áreas e valorizá-las", opina a arquiteta Marisa Barda, curadora da exposição A Cidade Informal do Século 21. Organizada pelo Museu da Casa Brasileira (MCB), a mostra, que vai até 9 de maio, pretende discutir a questão.
"Em 50 anos, haverá 3 bilhões de pessoas nas cidades que terão de construir suas próprias casas, porque nem o governo nem o mercado farão isso", prevê o historiador George Brugmans. Ele é diretor da Bienal Internacional de Arquitetura de Roterdã, parceira na promoção da mostra com a Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo.
Interessado nos projetos da secretaria em Paraisópolis, zona sul paulistana, Brugmans levou-os à bienal, em outubro do ano passado. Além disso, escritórios de arquitetura de outros países foram convidados a repensar a comunidade. Maquetes desses projetos estão na mostra. "É o caso da escola de música dos venezuelanos do Urban Think Tank e das habitações criadas pelo Elemental, do Chile", explica Elisabete França, superintendente da secretaria. Ela ainda destaca os trabalhos daqui, como o do arquiteto Marcos Boldarini e do MMBB Arquitetos, também exibidos.
Há livros, vídeos e computadores com apresentações detalhadas de propostas inclusive para outras localidades. Além daquelas de profissionais experientes, pode-se conferir as de alunos de Arquitetura das universidades americanas de Columbia e Harvard e da Escola São Paulo. A eles, interessados pelo tema, não deverá mesmo faltar campo de trabalho tão cedo.
Entrevista / George Brugmans:
Historiador aborda a cidade informal
Esforço conjunto
Quais são as perspectivas das chamadas cidades informais no mundo?
Nos próximos 50 anos, a expectativa é de que 3 bilhões de pessoas estarão nas grandes cidades precisando construir suas próprias casas. A razão é que os governos e o mercado não poderão fazê-lo. Lidaremos com isso.
E quanto aos caminhos para enfrentar essa nova realidade?
Impossível responder. É tão complexo! Não é só uma questão de urbanização, mas de globalização. Há pobreza, segregação, violência, questões ambientais, de segurança... Na Bienal de Roterdã, queremos resolver o problema a partir das cidades. Isso só vai ocorrer quando arquitetos, urbanistas, ecologistas, economistas, planejadores e políticos trabalharem em sintonia.
Isso é quase utópico, não?
Não se deve pensar assim. Isso é necessário para nossa sobrevivência. É preciso mesmo conectar a cidade informal, feita de grupos com grande capacidade e flexibilidade para equacionar problemas, à cidade formal.
Mas, para isso, é preciso um input da formal...
É aí que entra a boa vontade dos políticos.
Que palavras-chave elegeria para incentivar essa conexão de que o senhor fala?
Acho que solidariedade, sustentabilidade, resiliência e viabilidade econômica.
Cite exemplos de cidades informais que conhece e suas particularidades.
Em Caracas, na Venezuela, existem bairros que há 30 anos têm seu próprio governo. Já em Nairóbi, no Quênia, há grupos que resistem à integração porque têm receio dos corruptos.