‘A banda era a minha companhia’: fãs relatam a importância de Linkin Park em momentos difíceis


Psicóloga explica como a música pode trazer conforto e identificação de uma forma positiva

Por Luiza Pollo
Chester Bennington em2012. Foto: REUTERS/Steve Marcus

Após a morte de Chester Bennington na quinta-feira, 20, fãs foram às redes sociais relatar a dor da perda de um ídolo. Mas havia algo diferente. Ao falar da perda de Chester - e do possível fim de Linkin Park - muita gente encontrou espaço para compartilhar histórias de como a banda acertava em cheio ao traduzir em palavras os sentimentos mais íntimos de cada um que a escutava.

“Não que outras bandas não façam isso”, diz a estudante Gabriela Portela. Mas, para ela, Linkin Park tinha valor especial desde a pré-adolescência. “Eu sempre tive problemas emocionais, como ansiedade, e me ajudava muito escutar antes de situações que me deixavam acelerada. Me ajudava a respirar e me acalmar.”

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Além das individualidades, a banda é conhecida por atingir temas universais da adolescência. Sensação de não-pertencimento, solidão, dúvidas. “Eu tinha 13, 14 anos, poucos amigos, e ficava mais em casa. A banda era a minha companhia”, afirma Jhonattan Reis, hoje com 22 anos. 

Jhonattan, que estuda jornalismo, começou a compor músicas no início da adolescência, com inspiração principalmente em Linkin Park. Desencorajado a seguir carreira musical na época, as criações e os covers ficavam só na brincadeira. Mais tarde, montou uma banda, a Scarter, e agora tem certeza de que a música vai ser sua profissão. “Tomei essa decisão por mim, mas agora também pelo Chester.”

Jhonattan comprou o cordão da banda no show de 2012, no Rio de Janeiro. "Eu levo ele comigo em todos os shows que faço hoje. É um símbolo de um dia em que tudo deu certo", relembra. Foto: Acervo pessoal/Jhonattan Reis
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Superação. Se para Jhonattan a banda ajudou a mudar o futuro, para outros ela deu forças para lidar com uma dor que precisava ficar no passado. Há quatro anos, Gabriela precisou enfrentar a morte do avô. “Eu fiquei sem chão, porque para mim ele era imortal, sabe? Eu chorei muito escutando (as músicas). Ao mesmo tempo elas me acalmavam e faziam pensar sobre tudo, me davam força para enfrentar aquele vulcão explodindo dentro da cabeça.”

Endine Meigan também encontrou na banda a força para lidar com a morte de um familiar muito próximo em 2010. “Foi logo que a música Waiting for the End estourou”, lembra. 

É difícil te deixar ir. / Eu sei o que é preciso para seguir em frente. / Tudo o que eu quero fazer é trocar a minha vida por algo novo. / Segurando-me ao que não tenho. 

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“Descrevia tudo que eu estava sentindo naquele momento. É como se eu soubesse que não era só eu que sentia o que estava sentindo. Como se eu não estivesse passando por isso sozinha”, afirma Endine, hoje com 24 anos.

Endine Meigan em 2008, aos 15 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal/Endine Meigan

A psicóloga Josie Conti explica que não é só impressão. A arte em geral tem o poder real de ajudar quem está passando por um momento difícil. “Um pessoa com depressão, por exemplo, reconhece a outra. Esse reconhecimento é a empatia.” No caso da música, Josie explica que quem está sofrendo consegue perceber que seus sentimentos têm voz. Com o uso de metáforas e abstrações, as letras com grande carga sentimental são capazes de se encaixar com diversas experiências, por mais pessoais que sejam. 

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“A gente acaba encontrando na música um alicerce”, explica Fernanda Swiecki, de 24 anos. “Durante a minha adolescência, meu pai teve problemas de saúde muito sérios, eu tive síndrome do pânico, depressão. A música era um lar para mim”, detalha a estudante. 

Amizade. Para quem se sentia sozinho, Linkin Park também foi uma forma de conhecer pessoas. Todos os entrevistados relatam que fizeram amigospor causa da banda. “Eu diria que 90% das minhas amizades mais próximas se formaram por causa do Chester. Os meus melhores amigos hoje são de um fã-clube do Linkin Park que foi diminuindo e ficou em cinco pessoas”, diz Jhonattan.

FernandaSwiecki (na segunda fileira, atrás do garoto de moletom cinza) conheceu a banda no show de 2010, no festival SWU em Itu (SP). Foto: Acervo pessoal/Fernanda Swiecki
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Com a morte de Chester, vieram as mensagens de antigos amigos que sabiam da paixão delas pela banda. Fernanda relata que seu WhatsApp foi tomado pela notícia, inclusive vindo de pessoas com quem ela não tem mais contato. 

Gabriela teve uma experiência parecida. “Quando peguei meu celular ontem tinha muita gente do tempo do colégio que me marcou nas notícias. Eu devia ser muito fanática mesmo pra eles lembrarem!”, observou com bom-humor. 

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Mas nem todo mundo em volta entende a dor da perda de um ídolo. Endine relata que os pais acharam a tristeza um pouco exagerada. “Eu falei para os meus pais que nem acreditava, e eles me olharam meio torto. É engraçado, porque é como se fosse alguém próximo, da família, um amigo. Sei que o Chester nem sabe que eu existo, mas querendo ou não eu o acompanhei. Ele está presente na minha história.”

Para Jhonattan, a tristeza veio acompanhada de força. Ele estava trabalhando no momento em que recebeu a notícia e escreveu a matéria sobre a morte de Chester para o jornal onde faz estágio na cidade de Campos (RJ). “Cheguei em casa depois do trabalho e fiquei uma hora sentado, sem conseguir fazer outra coisa. Depois levantei e pensei: quer saber? Se antes era sério, agora é a maior certeza que existe para mim. Vou correr atrás da música com toda a força que eu tenho. E com a força do Chester.”

Jhonattan é comparado a Chester por seus amigos. “É estranho. Quando eu vejo ele cantar, é como se seu soubesse que nota vem depois, qual vai ser a expressão dele”, revela. Tanta proximidade fez com que os amigoscomeçassem a dizer que o cantor era o 'pai' dele. Foto: Paul A. Hebert / Invision / AP | Arquivo Pessoal / Jhonattan Reis

Vale um alerta: Josie reafirma que, em casos de depressão, a ajuda deve também ser profissional. Quando a tristeza não tem motivo aparente e dura semanas, é preciso ficar atento e procurar apoio. Uma simples conversa inicial com um psicólogo pode ajudar a entender se é necessário algum tipo de acompanhamento profissional.

Para quem busca ajuda, além de psicólogos e psiquiatras, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio online no site http://www.cvv.org.br, pelo telefone 141 (188 no Rio Grande do Sul), via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.

Ouça as músicas preferidas dos entrevistados:

Jhonattan Reis:

A Place for my Head

One Step Closer

Gabriela Portela e Fernanda Swiecki:

By Myself

Endine Meigan:

Waiting for the End

Chester Bennington em2012. Foto: REUTERS/Steve Marcus

Após a morte de Chester Bennington na quinta-feira, 20, fãs foram às redes sociais relatar a dor da perda de um ídolo. Mas havia algo diferente. Ao falar da perda de Chester - e do possível fim de Linkin Park - muita gente encontrou espaço para compartilhar histórias de como a banda acertava em cheio ao traduzir em palavras os sentimentos mais íntimos de cada um que a escutava.

“Não que outras bandas não façam isso”, diz a estudante Gabriela Portela. Mas, para ela, Linkin Park tinha valor especial desde a pré-adolescência. “Eu sempre tive problemas emocionais, como ansiedade, e me ajudava muito escutar antes de situações que me deixavam acelerada. Me ajudava a respirar e me acalmar.”

Além das individualidades, a banda é conhecida por atingir temas universais da adolescência. Sensação de não-pertencimento, solidão, dúvidas. “Eu tinha 13, 14 anos, poucos amigos, e ficava mais em casa. A banda era a minha companhia”, afirma Jhonattan Reis, hoje com 22 anos. 

Jhonattan, que estuda jornalismo, começou a compor músicas no início da adolescência, com inspiração principalmente em Linkin Park. Desencorajado a seguir carreira musical na época, as criações e os covers ficavam só na brincadeira. Mais tarde, montou uma banda, a Scarter, e agora tem certeza de que a música vai ser sua profissão. “Tomei essa decisão por mim, mas agora também pelo Chester.”

Jhonattan comprou o cordão da banda no show de 2012, no Rio de Janeiro. "Eu levo ele comigo em todos os shows que faço hoje. É um símbolo de um dia em que tudo deu certo", relembra. Foto: Acervo pessoal/Jhonattan Reis

Superação. Se para Jhonattan a banda ajudou a mudar o futuro, para outros ela deu forças para lidar com uma dor que precisava ficar no passado. Há quatro anos, Gabriela precisou enfrentar a morte do avô. “Eu fiquei sem chão, porque para mim ele era imortal, sabe? Eu chorei muito escutando (as músicas). Ao mesmo tempo elas me acalmavam e faziam pensar sobre tudo, me davam força para enfrentar aquele vulcão explodindo dentro da cabeça.”

Endine Meigan também encontrou na banda a força para lidar com a morte de um familiar muito próximo em 2010. “Foi logo que a música Waiting for the End estourou”, lembra. 

É difícil te deixar ir. / Eu sei o que é preciso para seguir em frente. / Tudo o que eu quero fazer é trocar a minha vida por algo novo. / Segurando-me ao que não tenho. 

“Descrevia tudo que eu estava sentindo naquele momento. É como se eu soubesse que não era só eu que sentia o que estava sentindo. Como se eu não estivesse passando por isso sozinha”, afirma Endine, hoje com 24 anos.

Endine Meigan em 2008, aos 15 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal/Endine Meigan

A psicóloga Josie Conti explica que não é só impressão. A arte em geral tem o poder real de ajudar quem está passando por um momento difícil. “Um pessoa com depressão, por exemplo, reconhece a outra. Esse reconhecimento é a empatia.” No caso da música, Josie explica que quem está sofrendo consegue perceber que seus sentimentos têm voz. Com o uso de metáforas e abstrações, as letras com grande carga sentimental são capazes de se encaixar com diversas experiências, por mais pessoais que sejam. 

“A gente acaba encontrando na música um alicerce”, explica Fernanda Swiecki, de 24 anos. “Durante a minha adolescência, meu pai teve problemas de saúde muito sérios, eu tive síndrome do pânico, depressão. A música era um lar para mim”, detalha a estudante. 

Amizade. Para quem se sentia sozinho, Linkin Park também foi uma forma de conhecer pessoas. Todos os entrevistados relatam que fizeram amigospor causa da banda. “Eu diria que 90% das minhas amizades mais próximas se formaram por causa do Chester. Os meus melhores amigos hoje são de um fã-clube do Linkin Park que foi diminuindo e ficou em cinco pessoas”, diz Jhonattan.

FernandaSwiecki (na segunda fileira, atrás do garoto de moletom cinza) conheceu a banda no show de 2010, no festival SWU em Itu (SP). Foto: Acervo pessoal/Fernanda Swiecki

Com a morte de Chester, vieram as mensagens de antigos amigos que sabiam da paixão delas pela banda. Fernanda relata que seu WhatsApp foi tomado pela notícia, inclusive vindo de pessoas com quem ela não tem mais contato. 

Gabriela teve uma experiência parecida. “Quando peguei meu celular ontem tinha muita gente do tempo do colégio que me marcou nas notícias. Eu devia ser muito fanática mesmo pra eles lembrarem!”, observou com bom-humor. 

Mas nem todo mundo em volta entende a dor da perda de um ídolo. Endine relata que os pais acharam a tristeza um pouco exagerada. “Eu falei para os meus pais que nem acreditava, e eles me olharam meio torto. É engraçado, porque é como se fosse alguém próximo, da família, um amigo. Sei que o Chester nem sabe que eu existo, mas querendo ou não eu o acompanhei. Ele está presente na minha história.”

Para Jhonattan, a tristeza veio acompanhada de força. Ele estava trabalhando no momento em que recebeu a notícia e escreveu a matéria sobre a morte de Chester para o jornal onde faz estágio na cidade de Campos (RJ). “Cheguei em casa depois do trabalho e fiquei uma hora sentado, sem conseguir fazer outra coisa. Depois levantei e pensei: quer saber? Se antes era sério, agora é a maior certeza que existe para mim. Vou correr atrás da música com toda a força que eu tenho. E com a força do Chester.”

Jhonattan é comparado a Chester por seus amigos. “É estranho. Quando eu vejo ele cantar, é como se seu soubesse que nota vem depois, qual vai ser a expressão dele”, revela. Tanta proximidade fez com que os amigoscomeçassem a dizer que o cantor era o 'pai' dele. Foto: Paul A. Hebert / Invision / AP | Arquivo Pessoal / Jhonattan Reis

Vale um alerta: Josie reafirma que, em casos de depressão, a ajuda deve também ser profissional. Quando a tristeza não tem motivo aparente e dura semanas, é preciso ficar atento e procurar apoio. Uma simples conversa inicial com um psicólogo pode ajudar a entender se é necessário algum tipo de acompanhamento profissional.

Para quem busca ajuda, além de psicólogos e psiquiatras, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio online no site http://www.cvv.org.br, pelo telefone 141 (188 no Rio Grande do Sul), via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.

Ouça as músicas preferidas dos entrevistados:

Jhonattan Reis:

A Place for my Head

One Step Closer

Gabriela Portela e Fernanda Swiecki:

By Myself

Endine Meigan:

Waiting for the End

Chester Bennington em2012. Foto: REUTERS/Steve Marcus

Após a morte de Chester Bennington na quinta-feira, 20, fãs foram às redes sociais relatar a dor da perda de um ídolo. Mas havia algo diferente. Ao falar da perda de Chester - e do possível fim de Linkin Park - muita gente encontrou espaço para compartilhar histórias de como a banda acertava em cheio ao traduzir em palavras os sentimentos mais íntimos de cada um que a escutava.

“Não que outras bandas não façam isso”, diz a estudante Gabriela Portela. Mas, para ela, Linkin Park tinha valor especial desde a pré-adolescência. “Eu sempre tive problemas emocionais, como ansiedade, e me ajudava muito escutar antes de situações que me deixavam acelerada. Me ajudava a respirar e me acalmar.”

Além das individualidades, a banda é conhecida por atingir temas universais da adolescência. Sensação de não-pertencimento, solidão, dúvidas. “Eu tinha 13, 14 anos, poucos amigos, e ficava mais em casa. A banda era a minha companhia”, afirma Jhonattan Reis, hoje com 22 anos. 

Jhonattan, que estuda jornalismo, começou a compor músicas no início da adolescência, com inspiração principalmente em Linkin Park. Desencorajado a seguir carreira musical na época, as criações e os covers ficavam só na brincadeira. Mais tarde, montou uma banda, a Scarter, e agora tem certeza de que a música vai ser sua profissão. “Tomei essa decisão por mim, mas agora também pelo Chester.”

Jhonattan comprou o cordão da banda no show de 2012, no Rio de Janeiro. "Eu levo ele comigo em todos os shows que faço hoje. É um símbolo de um dia em que tudo deu certo", relembra. Foto: Acervo pessoal/Jhonattan Reis

Superação. Se para Jhonattan a banda ajudou a mudar o futuro, para outros ela deu forças para lidar com uma dor que precisava ficar no passado. Há quatro anos, Gabriela precisou enfrentar a morte do avô. “Eu fiquei sem chão, porque para mim ele era imortal, sabe? Eu chorei muito escutando (as músicas). Ao mesmo tempo elas me acalmavam e faziam pensar sobre tudo, me davam força para enfrentar aquele vulcão explodindo dentro da cabeça.”

Endine Meigan também encontrou na banda a força para lidar com a morte de um familiar muito próximo em 2010. “Foi logo que a música Waiting for the End estourou”, lembra. 

É difícil te deixar ir. / Eu sei o que é preciso para seguir em frente. / Tudo o que eu quero fazer é trocar a minha vida por algo novo. / Segurando-me ao que não tenho. 

“Descrevia tudo que eu estava sentindo naquele momento. É como se eu soubesse que não era só eu que sentia o que estava sentindo. Como se eu não estivesse passando por isso sozinha”, afirma Endine, hoje com 24 anos.

Endine Meigan em 2008, aos 15 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal/Endine Meigan

A psicóloga Josie Conti explica que não é só impressão. A arte em geral tem o poder real de ajudar quem está passando por um momento difícil. “Um pessoa com depressão, por exemplo, reconhece a outra. Esse reconhecimento é a empatia.” No caso da música, Josie explica que quem está sofrendo consegue perceber que seus sentimentos têm voz. Com o uso de metáforas e abstrações, as letras com grande carga sentimental são capazes de se encaixar com diversas experiências, por mais pessoais que sejam. 

“A gente acaba encontrando na música um alicerce”, explica Fernanda Swiecki, de 24 anos. “Durante a minha adolescência, meu pai teve problemas de saúde muito sérios, eu tive síndrome do pânico, depressão. A música era um lar para mim”, detalha a estudante. 

Amizade. Para quem se sentia sozinho, Linkin Park também foi uma forma de conhecer pessoas. Todos os entrevistados relatam que fizeram amigospor causa da banda. “Eu diria que 90% das minhas amizades mais próximas se formaram por causa do Chester. Os meus melhores amigos hoje são de um fã-clube do Linkin Park que foi diminuindo e ficou em cinco pessoas”, diz Jhonattan.

FernandaSwiecki (na segunda fileira, atrás do garoto de moletom cinza) conheceu a banda no show de 2010, no festival SWU em Itu (SP). Foto: Acervo pessoal/Fernanda Swiecki

Com a morte de Chester, vieram as mensagens de antigos amigos que sabiam da paixão delas pela banda. Fernanda relata que seu WhatsApp foi tomado pela notícia, inclusive vindo de pessoas com quem ela não tem mais contato. 

Gabriela teve uma experiência parecida. “Quando peguei meu celular ontem tinha muita gente do tempo do colégio que me marcou nas notícias. Eu devia ser muito fanática mesmo pra eles lembrarem!”, observou com bom-humor. 

Mas nem todo mundo em volta entende a dor da perda de um ídolo. Endine relata que os pais acharam a tristeza um pouco exagerada. “Eu falei para os meus pais que nem acreditava, e eles me olharam meio torto. É engraçado, porque é como se fosse alguém próximo, da família, um amigo. Sei que o Chester nem sabe que eu existo, mas querendo ou não eu o acompanhei. Ele está presente na minha história.”

Para Jhonattan, a tristeza veio acompanhada de força. Ele estava trabalhando no momento em que recebeu a notícia e escreveu a matéria sobre a morte de Chester para o jornal onde faz estágio na cidade de Campos (RJ). “Cheguei em casa depois do trabalho e fiquei uma hora sentado, sem conseguir fazer outra coisa. Depois levantei e pensei: quer saber? Se antes era sério, agora é a maior certeza que existe para mim. Vou correr atrás da música com toda a força que eu tenho. E com a força do Chester.”

Jhonattan é comparado a Chester por seus amigos. “É estranho. Quando eu vejo ele cantar, é como se seu soubesse que nota vem depois, qual vai ser a expressão dele”, revela. Tanta proximidade fez com que os amigoscomeçassem a dizer que o cantor era o 'pai' dele. Foto: Paul A. Hebert / Invision / AP | Arquivo Pessoal / Jhonattan Reis

Vale um alerta: Josie reafirma que, em casos de depressão, a ajuda deve também ser profissional. Quando a tristeza não tem motivo aparente e dura semanas, é preciso ficar atento e procurar apoio. Uma simples conversa inicial com um psicólogo pode ajudar a entender se é necessário algum tipo de acompanhamento profissional.

Para quem busca ajuda, além de psicólogos e psiquiatras, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio online no site http://www.cvv.org.br, pelo telefone 141 (188 no Rio Grande do Sul), via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.

Ouça as músicas preferidas dos entrevistados:

Jhonattan Reis:

A Place for my Head

One Step Closer

Gabriela Portela e Fernanda Swiecki:

By Myself

Endine Meigan:

Waiting for the End

Chester Bennington em2012. Foto: REUTERS/Steve Marcus

Após a morte de Chester Bennington na quinta-feira, 20, fãs foram às redes sociais relatar a dor da perda de um ídolo. Mas havia algo diferente. Ao falar da perda de Chester - e do possível fim de Linkin Park - muita gente encontrou espaço para compartilhar histórias de como a banda acertava em cheio ao traduzir em palavras os sentimentos mais íntimos de cada um que a escutava.

“Não que outras bandas não façam isso”, diz a estudante Gabriela Portela. Mas, para ela, Linkin Park tinha valor especial desde a pré-adolescência. “Eu sempre tive problemas emocionais, como ansiedade, e me ajudava muito escutar antes de situações que me deixavam acelerada. Me ajudava a respirar e me acalmar.”

Além das individualidades, a banda é conhecida por atingir temas universais da adolescência. Sensação de não-pertencimento, solidão, dúvidas. “Eu tinha 13, 14 anos, poucos amigos, e ficava mais em casa. A banda era a minha companhia”, afirma Jhonattan Reis, hoje com 22 anos. 

Jhonattan, que estuda jornalismo, começou a compor músicas no início da adolescência, com inspiração principalmente em Linkin Park. Desencorajado a seguir carreira musical na época, as criações e os covers ficavam só na brincadeira. Mais tarde, montou uma banda, a Scarter, e agora tem certeza de que a música vai ser sua profissão. “Tomei essa decisão por mim, mas agora também pelo Chester.”

Jhonattan comprou o cordão da banda no show de 2012, no Rio de Janeiro. "Eu levo ele comigo em todos os shows que faço hoje. É um símbolo de um dia em que tudo deu certo", relembra. Foto: Acervo pessoal/Jhonattan Reis

Superação. Se para Jhonattan a banda ajudou a mudar o futuro, para outros ela deu forças para lidar com uma dor que precisava ficar no passado. Há quatro anos, Gabriela precisou enfrentar a morte do avô. “Eu fiquei sem chão, porque para mim ele era imortal, sabe? Eu chorei muito escutando (as músicas). Ao mesmo tempo elas me acalmavam e faziam pensar sobre tudo, me davam força para enfrentar aquele vulcão explodindo dentro da cabeça.”

Endine Meigan também encontrou na banda a força para lidar com a morte de um familiar muito próximo em 2010. “Foi logo que a música Waiting for the End estourou”, lembra. 

É difícil te deixar ir. / Eu sei o que é preciso para seguir em frente. / Tudo o que eu quero fazer é trocar a minha vida por algo novo. / Segurando-me ao que não tenho. 

“Descrevia tudo que eu estava sentindo naquele momento. É como se eu soubesse que não era só eu que sentia o que estava sentindo. Como se eu não estivesse passando por isso sozinha”, afirma Endine, hoje com 24 anos.

Endine Meigan em 2008, aos 15 anos de idade. Foto: Arquivo pessoal/Endine Meigan

A psicóloga Josie Conti explica que não é só impressão. A arte em geral tem o poder real de ajudar quem está passando por um momento difícil. “Um pessoa com depressão, por exemplo, reconhece a outra. Esse reconhecimento é a empatia.” No caso da música, Josie explica que quem está sofrendo consegue perceber que seus sentimentos têm voz. Com o uso de metáforas e abstrações, as letras com grande carga sentimental são capazes de se encaixar com diversas experiências, por mais pessoais que sejam. 

“A gente acaba encontrando na música um alicerce”, explica Fernanda Swiecki, de 24 anos. “Durante a minha adolescência, meu pai teve problemas de saúde muito sérios, eu tive síndrome do pânico, depressão. A música era um lar para mim”, detalha a estudante. 

Amizade. Para quem se sentia sozinho, Linkin Park também foi uma forma de conhecer pessoas. Todos os entrevistados relatam que fizeram amigospor causa da banda. “Eu diria que 90% das minhas amizades mais próximas se formaram por causa do Chester. Os meus melhores amigos hoje são de um fã-clube do Linkin Park que foi diminuindo e ficou em cinco pessoas”, diz Jhonattan.

FernandaSwiecki (na segunda fileira, atrás do garoto de moletom cinza) conheceu a banda no show de 2010, no festival SWU em Itu (SP). Foto: Acervo pessoal/Fernanda Swiecki

Com a morte de Chester, vieram as mensagens de antigos amigos que sabiam da paixão delas pela banda. Fernanda relata que seu WhatsApp foi tomado pela notícia, inclusive vindo de pessoas com quem ela não tem mais contato. 

Gabriela teve uma experiência parecida. “Quando peguei meu celular ontem tinha muita gente do tempo do colégio que me marcou nas notícias. Eu devia ser muito fanática mesmo pra eles lembrarem!”, observou com bom-humor. 

Mas nem todo mundo em volta entende a dor da perda de um ídolo. Endine relata que os pais acharam a tristeza um pouco exagerada. “Eu falei para os meus pais que nem acreditava, e eles me olharam meio torto. É engraçado, porque é como se fosse alguém próximo, da família, um amigo. Sei que o Chester nem sabe que eu existo, mas querendo ou não eu o acompanhei. Ele está presente na minha história.”

Para Jhonattan, a tristeza veio acompanhada de força. Ele estava trabalhando no momento em que recebeu a notícia e escreveu a matéria sobre a morte de Chester para o jornal onde faz estágio na cidade de Campos (RJ). “Cheguei em casa depois do trabalho e fiquei uma hora sentado, sem conseguir fazer outra coisa. Depois levantei e pensei: quer saber? Se antes era sério, agora é a maior certeza que existe para mim. Vou correr atrás da música com toda a força que eu tenho. E com a força do Chester.”

Jhonattan é comparado a Chester por seus amigos. “É estranho. Quando eu vejo ele cantar, é como se seu soubesse que nota vem depois, qual vai ser a expressão dele”, revela. Tanta proximidade fez com que os amigoscomeçassem a dizer que o cantor era o 'pai' dele. Foto: Paul A. Hebert / Invision / AP | Arquivo Pessoal / Jhonattan Reis

Vale um alerta: Josie reafirma que, em casos de depressão, a ajuda deve também ser profissional. Quando a tristeza não tem motivo aparente e dura semanas, é preciso ficar atento e procurar apoio. Uma simples conversa inicial com um psicólogo pode ajudar a entender se é necessário algum tipo de acompanhamento profissional.

Para quem busca ajuda, além de psicólogos e psiquiatras, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio online no site http://www.cvv.org.br, pelo telefone 141 (188 no Rio Grande do Sul), via Skype (acesso pelo site), ou e-mail (mensagem enviada também pelo site). Em todos os canais, o atendimento é feito por voluntários treinados e a conversa é anônima, com sigilo completo sobre tudo que for dito.

Ouça as músicas preferidas dos entrevistados:

Jhonattan Reis:

A Place for my Head

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Gabriela Portela e Fernanda Swiecki:

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