Contagem regressiva


No corre-corre rotineiro, o dia parece não caber mais em 24 horas e as mulheres são as que mais sofrem com isso

Por Ciça Vallerio

Falta tempo para tudo. Para cuidar da saúde, dos filhos, da casa, das obrigações do trabalho e, nem se fala, para ler um bom livro, investir num curso, namorar e desfrutar de momentos de lazer. São tantas atribuições diárias que se chega ao fim do dia com aquele gostinho de frustração por não ter dado conta de tudo. E as mulheres se ressentem mais disso do que os homens, de acordo com o estudo Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, desenvolvido pelo especialista em produtividade pessoal e empresarial, Christian Barbosa, diretor executivo da Tríade do Tempo, empresa que oferece programas e palestras em companhias e para seus próprios funcionários. - Quando a mulher deixa de fazer algo por falta de tempo, se cobra mais, gerando culpa excessiva e sensação de mal-estar. O homem não se culpa tanto, apenas diz: "paciência", e segue em frente. Queixa recorrente entre as mulheres, a falta de tempo virou um problema crônico. Para a pesquisa realizada por Christian, foram entrevistadas, no ano passado, 5.362 mulheres de vários estados - com concentração maior em São Paulo e Rio de Janeiro. As participantes - com idades médias de 34 anos, e a maioria casada - responderam um questionário on line. Do total, 61% não conseguem equilibrar as vidas profissional e pessoal, e 78% não dedicam tempo suficiente para sua vida sexual e para relacionamentos. Os dados serviram de fonte para o livro Você, Dona do Seu Tempo (Editora Gente), de autoria de Christian. Quando lançou o seu primeiro título, A Tríade do Tempo: A Evolução da Produtividade Pessoal (Editora Campus), ele se baseou numa outra pesquisa, de 2005, que envolveu mais de 15 mil pessoas. O objetivo era descobrir como o brasileiro utilizava seu tempo. Naquela época, não acreditou que pudesse haver diferença entre os gêneros, até que se deparou com uma realidade feminina singular. "Essa descoberta mudou a minha visão, que era de certa forma machista", confessa Christian. "Sou casado há nove anos e nunca havia lavado uma louça. Boa parte dos problemas delas está relacionada à sobrecarga de tarefas, por causa dos vários papéis que assumem. Com as estatísticas em mãos, comecei a lavar louça e a partilhar outras tarefas domésticas. Escrevi também o livro para ajudá-las a administrar melhor o tempo, para que encontrem um equilíbrio." Centralizadoras O segundo estudo desenvolvido por Christian, Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, aponta para a dificuldade feminina de dizer não. Sem conseguir recusar nem delegar trabalho, elas assumem mais e mais compromissos. O ponto positivo é que, nessa corrida maluca contra o relógio, conseguem executar multitarefas. Acostumadas a apagar incêndios, realizam várias coisas simultâneas. No entanto, o problema de ser mulher-maravilha é que, a cada interrupção causada pelo excesso de atividades, gasta-se de 15 a 25 minutos para retomar o trabalho no ponto produtivo de antes, avisa Christian. "Hoje há mulheres equilibristas, forçadas a administrar uma agenda insustentável", atesta a escritora e historiadora Rosiska Darcy de Oliveira, de 60 anos. "Esse estilo de vida que está sendo disseminado como normal, em que quantidade ganhou o sinônimo de qualidade, é uma aberração." Desde que lançou o livro Reengenharia do Tempo (Editora Rocco), em 2003, ela não pára de viajar pelo País para falar sobre o assunto, de suma importância no mundo contemporâneo. Rosiska diz ter encontrado muitas pessoas infelizes, principalmente aquelas na faixa dos 40 anos. "Vejo que está batendo um cansaço muito grande, por isso é importante rever essa dinâmica diabólica, que tem gerado mulheres culpadas, casais em conflito, crianças desassistidas e idosos solitários - problema que já não está apenas na esfera pessoal, mas também na pública. A vida como está não cabe em 24 horas." Na contramão do "tempo é dinheiro", a escritora sustenta que "tempo é liberdade". Rosiska tem conseguido driblar os ponteiros do relógio. Conforme conta, primeiro começou a enxergar seu ritmo alucinante como um "problema". Depois, criou uma escala de prioridades, sacrificando até mesmo alguns itens relacionados à "carreira" - e olha que ter menos ambição profissional neste mundo não é fácil. Em seguida, passou a dizer "não" e a recusar convites. Resignação A dona do Ateliê Maria Brigadeiro, Juliana Motter, de 31 anos, ao menos tenta romper com a dinâmica "cruel e opressora" do tempo. Com algumas adaptações aqui e acolá, não considera mais um carrasco o enorme relógio que fica pendurado em sua cozinha, o qual serve para controlar o prazo de entrega de seus doces. Mas não era assim. Antes de abrir seu negócio, vivia refém do tempo. "Tive de aprender na marra", conta Juliana. "Percebi que, a partir do momento em que virei o jogo, o tempo passou a funcionar a meu favor, dependendo da minha organização. Hoje me programo para não ter de abrir mão da minha vida pessoal." Percebeu que o melhor a fazer era antecipar as entregas. Também passou a se conformar com o que precisa deixar para trás. Se para quem não tem filho a vida já é um corre-corre desenfreado, para quem é mãe, a coisa piora - e muito. Gisela Prochaska, de 45 anos, dona de uma empresa de marketing que organiza eventos corporativos, vive dias tão atribulados que mal dá para cuidar dela mesma, já que sua prioridade é a filha, de 15 anos. "Agora estou sem namorado, senão ainda teria de aparecer linda, perfumada e sem sinais de cansaço", brinca Gisela. A tecnologia ajuda bastante, mas também é a responsável pela "aceleração dos minutos", causada pela sensação de imediatismo e pelo fato de as pessoas ficarem on line todo o tempo. Mas há muitos que fazem da tecnologia uma importante aliada. É o caso da empresária Amalia Sina, de 44 anos, uma das mais bem-sucedidas executivas brasileiras, que não vive sem seu blackberry. "Vou até ao banheiro com ele." Amalia foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita do Brasil e vice-presidente sênior da Philips para a América Latina. Agora lançou sua linha de cosméticos, e com apenas um ano e meio no mercado nacional já exporta para os Estados Unidos, Dinamarca, Inglaterra e Alemanha. A empresária é casada, tem um filho de 11 anos, e sete livros publicados, entre os quais, Mulher e Trabalho - O Desafio de Conciliar Diferentes Papéis na Sociedade (Editora Saraiva). Por incrível que pareça, uma coisa da qual Amalia pode se gabar é de não ter problema com o seu tempo. "É do tamanho que você quer que ele seja", ressalta. "Acordo pela manhã com duas máximas. A primeira: não serei perfeita o dia inteiro; a segunda: não vou entregar tudo o que cada um quer de mim. Quando se admite os limites, o dia fica mais leve e proveitoso." A empresária também criou a "teoria dos 70%". Ou seja, o importante é colocar na cabeça que não se conseguirá atingir a perfeição de 100% em todos os papéis exercidos. Seguindo esse raciocínio, se ela não consegue ser uma mãe 100%, poderá ser 70%, e assim por diante. "A somatória de todos esses 70% serão os 100%. Isso nos deixa mais aliviadas e, portanto, com menos medo de arriscar. Ficamos mais tolerantes conosco e com os outros."

Falta tempo para tudo. Para cuidar da saúde, dos filhos, da casa, das obrigações do trabalho e, nem se fala, para ler um bom livro, investir num curso, namorar e desfrutar de momentos de lazer. São tantas atribuições diárias que se chega ao fim do dia com aquele gostinho de frustração por não ter dado conta de tudo. E as mulheres se ressentem mais disso do que os homens, de acordo com o estudo Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, desenvolvido pelo especialista em produtividade pessoal e empresarial, Christian Barbosa, diretor executivo da Tríade do Tempo, empresa que oferece programas e palestras em companhias e para seus próprios funcionários. - Quando a mulher deixa de fazer algo por falta de tempo, se cobra mais, gerando culpa excessiva e sensação de mal-estar. O homem não se culpa tanto, apenas diz: "paciência", e segue em frente. Queixa recorrente entre as mulheres, a falta de tempo virou um problema crônico. Para a pesquisa realizada por Christian, foram entrevistadas, no ano passado, 5.362 mulheres de vários estados - com concentração maior em São Paulo e Rio de Janeiro. As participantes - com idades médias de 34 anos, e a maioria casada - responderam um questionário on line. Do total, 61% não conseguem equilibrar as vidas profissional e pessoal, e 78% não dedicam tempo suficiente para sua vida sexual e para relacionamentos. Os dados serviram de fonte para o livro Você, Dona do Seu Tempo (Editora Gente), de autoria de Christian. Quando lançou o seu primeiro título, A Tríade do Tempo: A Evolução da Produtividade Pessoal (Editora Campus), ele se baseou numa outra pesquisa, de 2005, que envolveu mais de 15 mil pessoas. O objetivo era descobrir como o brasileiro utilizava seu tempo. Naquela época, não acreditou que pudesse haver diferença entre os gêneros, até que se deparou com uma realidade feminina singular. "Essa descoberta mudou a minha visão, que era de certa forma machista", confessa Christian. "Sou casado há nove anos e nunca havia lavado uma louça. Boa parte dos problemas delas está relacionada à sobrecarga de tarefas, por causa dos vários papéis que assumem. Com as estatísticas em mãos, comecei a lavar louça e a partilhar outras tarefas domésticas. Escrevi também o livro para ajudá-las a administrar melhor o tempo, para que encontrem um equilíbrio." Centralizadoras O segundo estudo desenvolvido por Christian, Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, aponta para a dificuldade feminina de dizer não. Sem conseguir recusar nem delegar trabalho, elas assumem mais e mais compromissos. O ponto positivo é que, nessa corrida maluca contra o relógio, conseguem executar multitarefas. Acostumadas a apagar incêndios, realizam várias coisas simultâneas. No entanto, o problema de ser mulher-maravilha é que, a cada interrupção causada pelo excesso de atividades, gasta-se de 15 a 25 minutos para retomar o trabalho no ponto produtivo de antes, avisa Christian. "Hoje há mulheres equilibristas, forçadas a administrar uma agenda insustentável", atesta a escritora e historiadora Rosiska Darcy de Oliveira, de 60 anos. "Esse estilo de vida que está sendo disseminado como normal, em que quantidade ganhou o sinônimo de qualidade, é uma aberração." Desde que lançou o livro Reengenharia do Tempo (Editora Rocco), em 2003, ela não pára de viajar pelo País para falar sobre o assunto, de suma importância no mundo contemporâneo. Rosiska diz ter encontrado muitas pessoas infelizes, principalmente aquelas na faixa dos 40 anos. "Vejo que está batendo um cansaço muito grande, por isso é importante rever essa dinâmica diabólica, que tem gerado mulheres culpadas, casais em conflito, crianças desassistidas e idosos solitários - problema que já não está apenas na esfera pessoal, mas também na pública. A vida como está não cabe em 24 horas." Na contramão do "tempo é dinheiro", a escritora sustenta que "tempo é liberdade". Rosiska tem conseguido driblar os ponteiros do relógio. Conforme conta, primeiro começou a enxergar seu ritmo alucinante como um "problema". Depois, criou uma escala de prioridades, sacrificando até mesmo alguns itens relacionados à "carreira" - e olha que ter menos ambição profissional neste mundo não é fácil. Em seguida, passou a dizer "não" e a recusar convites. Resignação A dona do Ateliê Maria Brigadeiro, Juliana Motter, de 31 anos, ao menos tenta romper com a dinâmica "cruel e opressora" do tempo. Com algumas adaptações aqui e acolá, não considera mais um carrasco o enorme relógio que fica pendurado em sua cozinha, o qual serve para controlar o prazo de entrega de seus doces. Mas não era assim. Antes de abrir seu negócio, vivia refém do tempo. "Tive de aprender na marra", conta Juliana. "Percebi que, a partir do momento em que virei o jogo, o tempo passou a funcionar a meu favor, dependendo da minha organização. Hoje me programo para não ter de abrir mão da minha vida pessoal." Percebeu que o melhor a fazer era antecipar as entregas. Também passou a se conformar com o que precisa deixar para trás. Se para quem não tem filho a vida já é um corre-corre desenfreado, para quem é mãe, a coisa piora - e muito. Gisela Prochaska, de 45 anos, dona de uma empresa de marketing que organiza eventos corporativos, vive dias tão atribulados que mal dá para cuidar dela mesma, já que sua prioridade é a filha, de 15 anos. "Agora estou sem namorado, senão ainda teria de aparecer linda, perfumada e sem sinais de cansaço", brinca Gisela. A tecnologia ajuda bastante, mas também é a responsável pela "aceleração dos minutos", causada pela sensação de imediatismo e pelo fato de as pessoas ficarem on line todo o tempo. Mas há muitos que fazem da tecnologia uma importante aliada. É o caso da empresária Amalia Sina, de 44 anos, uma das mais bem-sucedidas executivas brasileiras, que não vive sem seu blackberry. "Vou até ao banheiro com ele." Amalia foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita do Brasil e vice-presidente sênior da Philips para a América Latina. Agora lançou sua linha de cosméticos, e com apenas um ano e meio no mercado nacional já exporta para os Estados Unidos, Dinamarca, Inglaterra e Alemanha. A empresária é casada, tem um filho de 11 anos, e sete livros publicados, entre os quais, Mulher e Trabalho - O Desafio de Conciliar Diferentes Papéis na Sociedade (Editora Saraiva). Por incrível que pareça, uma coisa da qual Amalia pode se gabar é de não ter problema com o seu tempo. "É do tamanho que você quer que ele seja", ressalta. "Acordo pela manhã com duas máximas. A primeira: não serei perfeita o dia inteiro; a segunda: não vou entregar tudo o que cada um quer de mim. Quando se admite os limites, o dia fica mais leve e proveitoso." A empresária também criou a "teoria dos 70%". Ou seja, o importante é colocar na cabeça que não se conseguirá atingir a perfeição de 100% em todos os papéis exercidos. Seguindo esse raciocínio, se ela não consegue ser uma mãe 100%, poderá ser 70%, e assim por diante. "A somatória de todos esses 70% serão os 100%. Isso nos deixa mais aliviadas e, portanto, com menos medo de arriscar. Ficamos mais tolerantes conosco e com os outros."

Falta tempo para tudo. Para cuidar da saúde, dos filhos, da casa, das obrigações do trabalho e, nem se fala, para ler um bom livro, investir num curso, namorar e desfrutar de momentos de lazer. São tantas atribuições diárias que se chega ao fim do dia com aquele gostinho de frustração por não ter dado conta de tudo. E as mulheres se ressentem mais disso do que os homens, de acordo com o estudo Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, desenvolvido pelo especialista em produtividade pessoal e empresarial, Christian Barbosa, diretor executivo da Tríade do Tempo, empresa que oferece programas e palestras em companhias e para seus próprios funcionários. - Quando a mulher deixa de fazer algo por falta de tempo, se cobra mais, gerando culpa excessiva e sensação de mal-estar. O homem não se culpa tanto, apenas diz: "paciência", e segue em frente. Queixa recorrente entre as mulheres, a falta de tempo virou um problema crônico. Para a pesquisa realizada por Christian, foram entrevistadas, no ano passado, 5.362 mulheres de vários estados - com concentração maior em São Paulo e Rio de Janeiro. As participantes - com idades médias de 34 anos, e a maioria casada - responderam um questionário on line. Do total, 61% não conseguem equilibrar as vidas profissional e pessoal, e 78% não dedicam tempo suficiente para sua vida sexual e para relacionamentos. Os dados serviram de fonte para o livro Você, Dona do Seu Tempo (Editora Gente), de autoria de Christian. Quando lançou o seu primeiro título, A Tríade do Tempo: A Evolução da Produtividade Pessoal (Editora Campus), ele se baseou numa outra pesquisa, de 2005, que envolveu mais de 15 mil pessoas. O objetivo era descobrir como o brasileiro utilizava seu tempo. Naquela época, não acreditou que pudesse haver diferença entre os gêneros, até que se deparou com uma realidade feminina singular. "Essa descoberta mudou a minha visão, que era de certa forma machista", confessa Christian. "Sou casado há nove anos e nunca havia lavado uma louça. Boa parte dos problemas delas está relacionada à sobrecarga de tarefas, por causa dos vários papéis que assumem. Com as estatísticas em mãos, comecei a lavar louça e a partilhar outras tarefas domésticas. Escrevi também o livro para ajudá-las a administrar melhor o tempo, para que encontrem um equilíbrio." Centralizadoras O segundo estudo desenvolvido por Christian, Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, aponta para a dificuldade feminina de dizer não. Sem conseguir recusar nem delegar trabalho, elas assumem mais e mais compromissos. O ponto positivo é que, nessa corrida maluca contra o relógio, conseguem executar multitarefas. Acostumadas a apagar incêndios, realizam várias coisas simultâneas. No entanto, o problema de ser mulher-maravilha é que, a cada interrupção causada pelo excesso de atividades, gasta-se de 15 a 25 minutos para retomar o trabalho no ponto produtivo de antes, avisa Christian. "Hoje há mulheres equilibristas, forçadas a administrar uma agenda insustentável", atesta a escritora e historiadora Rosiska Darcy de Oliveira, de 60 anos. "Esse estilo de vida que está sendo disseminado como normal, em que quantidade ganhou o sinônimo de qualidade, é uma aberração." Desde que lançou o livro Reengenharia do Tempo (Editora Rocco), em 2003, ela não pára de viajar pelo País para falar sobre o assunto, de suma importância no mundo contemporâneo. Rosiska diz ter encontrado muitas pessoas infelizes, principalmente aquelas na faixa dos 40 anos. "Vejo que está batendo um cansaço muito grande, por isso é importante rever essa dinâmica diabólica, que tem gerado mulheres culpadas, casais em conflito, crianças desassistidas e idosos solitários - problema que já não está apenas na esfera pessoal, mas também na pública. A vida como está não cabe em 24 horas." Na contramão do "tempo é dinheiro", a escritora sustenta que "tempo é liberdade". Rosiska tem conseguido driblar os ponteiros do relógio. Conforme conta, primeiro começou a enxergar seu ritmo alucinante como um "problema". Depois, criou uma escala de prioridades, sacrificando até mesmo alguns itens relacionados à "carreira" - e olha que ter menos ambição profissional neste mundo não é fácil. Em seguida, passou a dizer "não" e a recusar convites. Resignação A dona do Ateliê Maria Brigadeiro, Juliana Motter, de 31 anos, ao menos tenta romper com a dinâmica "cruel e opressora" do tempo. Com algumas adaptações aqui e acolá, não considera mais um carrasco o enorme relógio que fica pendurado em sua cozinha, o qual serve para controlar o prazo de entrega de seus doces. Mas não era assim. Antes de abrir seu negócio, vivia refém do tempo. "Tive de aprender na marra", conta Juliana. "Percebi que, a partir do momento em que virei o jogo, o tempo passou a funcionar a meu favor, dependendo da minha organização. Hoje me programo para não ter de abrir mão da minha vida pessoal." Percebeu que o melhor a fazer era antecipar as entregas. Também passou a se conformar com o que precisa deixar para trás. Se para quem não tem filho a vida já é um corre-corre desenfreado, para quem é mãe, a coisa piora - e muito. Gisela Prochaska, de 45 anos, dona de uma empresa de marketing que organiza eventos corporativos, vive dias tão atribulados que mal dá para cuidar dela mesma, já que sua prioridade é a filha, de 15 anos. "Agora estou sem namorado, senão ainda teria de aparecer linda, perfumada e sem sinais de cansaço", brinca Gisela. A tecnologia ajuda bastante, mas também é a responsável pela "aceleração dos minutos", causada pela sensação de imediatismo e pelo fato de as pessoas ficarem on line todo o tempo. Mas há muitos que fazem da tecnologia uma importante aliada. É o caso da empresária Amalia Sina, de 44 anos, uma das mais bem-sucedidas executivas brasileiras, que não vive sem seu blackberry. "Vou até ao banheiro com ele." Amalia foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita do Brasil e vice-presidente sênior da Philips para a América Latina. Agora lançou sua linha de cosméticos, e com apenas um ano e meio no mercado nacional já exporta para os Estados Unidos, Dinamarca, Inglaterra e Alemanha. A empresária é casada, tem um filho de 11 anos, e sete livros publicados, entre os quais, Mulher e Trabalho - O Desafio de Conciliar Diferentes Papéis na Sociedade (Editora Saraiva). Por incrível que pareça, uma coisa da qual Amalia pode se gabar é de não ter problema com o seu tempo. "É do tamanho que você quer que ele seja", ressalta. "Acordo pela manhã com duas máximas. A primeira: não serei perfeita o dia inteiro; a segunda: não vou entregar tudo o que cada um quer de mim. Quando se admite os limites, o dia fica mais leve e proveitoso." A empresária também criou a "teoria dos 70%". Ou seja, o importante é colocar na cabeça que não se conseguirá atingir a perfeição de 100% em todos os papéis exercidos. Seguindo esse raciocínio, se ela não consegue ser uma mãe 100%, poderá ser 70%, e assim por diante. "A somatória de todos esses 70% serão os 100%. Isso nos deixa mais aliviadas e, portanto, com menos medo de arriscar. Ficamos mais tolerantes conosco e com os outros."

Falta tempo para tudo. Para cuidar da saúde, dos filhos, da casa, das obrigações do trabalho e, nem se fala, para ler um bom livro, investir num curso, namorar e desfrutar de momentos de lazer. São tantas atribuições diárias que se chega ao fim do dia com aquele gostinho de frustração por não ter dado conta de tudo. E as mulheres se ressentem mais disso do que os homens, de acordo com o estudo Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, desenvolvido pelo especialista em produtividade pessoal e empresarial, Christian Barbosa, diretor executivo da Tríade do Tempo, empresa que oferece programas e palestras em companhias e para seus próprios funcionários. - Quando a mulher deixa de fazer algo por falta de tempo, se cobra mais, gerando culpa excessiva e sensação de mal-estar. O homem não se culpa tanto, apenas diz: "paciência", e segue em frente. Queixa recorrente entre as mulheres, a falta de tempo virou um problema crônico. Para a pesquisa realizada por Christian, foram entrevistadas, no ano passado, 5.362 mulheres de vários estados - com concentração maior em São Paulo e Rio de Janeiro. As participantes - com idades médias de 34 anos, e a maioria casada - responderam um questionário on line. Do total, 61% não conseguem equilibrar as vidas profissional e pessoal, e 78% não dedicam tempo suficiente para sua vida sexual e para relacionamentos. Os dados serviram de fonte para o livro Você, Dona do Seu Tempo (Editora Gente), de autoria de Christian. Quando lançou o seu primeiro título, A Tríade do Tempo: A Evolução da Produtividade Pessoal (Editora Campus), ele se baseou numa outra pesquisa, de 2005, que envolveu mais de 15 mil pessoas. O objetivo era descobrir como o brasileiro utilizava seu tempo. Naquela época, não acreditou que pudesse haver diferença entre os gêneros, até que se deparou com uma realidade feminina singular. "Essa descoberta mudou a minha visão, que era de certa forma machista", confessa Christian. "Sou casado há nove anos e nunca havia lavado uma louça. Boa parte dos problemas delas está relacionada à sobrecarga de tarefas, por causa dos vários papéis que assumem. Com as estatísticas em mãos, comecei a lavar louça e a partilhar outras tarefas domésticas. Escrevi também o livro para ajudá-las a administrar melhor o tempo, para que encontrem um equilíbrio." Centralizadoras O segundo estudo desenvolvido por Christian, Mulheres, Problemas e Necessidades de Gestão de Tempo, aponta para a dificuldade feminina de dizer não. Sem conseguir recusar nem delegar trabalho, elas assumem mais e mais compromissos. O ponto positivo é que, nessa corrida maluca contra o relógio, conseguem executar multitarefas. Acostumadas a apagar incêndios, realizam várias coisas simultâneas. No entanto, o problema de ser mulher-maravilha é que, a cada interrupção causada pelo excesso de atividades, gasta-se de 15 a 25 minutos para retomar o trabalho no ponto produtivo de antes, avisa Christian. "Hoje há mulheres equilibristas, forçadas a administrar uma agenda insustentável", atesta a escritora e historiadora Rosiska Darcy de Oliveira, de 60 anos. "Esse estilo de vida que está sendo disseminado como normal, em que quantidade ganhou o sinônimo de qualidade, é uma aberração." Desde que lançou o livro Reengenharia do Tempo (Editora Rocco), em 2003, ela não pára de viajar pelo País para falar sobre o assunto, de suma importância no mundo contemporâneo. Rosiska diz ter encontrado muitas pessoas infelizes, principalmente aquelas na faixa dos 40 anos. "Vejo que está batendo um cansaço muito grande, por isso é importante rever essa dinâmica diabólica, que tem gerado mulheres culpadas, casais em conflito, crianças desassistidas e idosos solitários - problema que já não está apenas na esfera pessoal, mas também na pública. A vida como está não cabe em 24 horas." Na contramão do "tempo é dinheiro", a escritora sustenta que "tempo é liberdade". Rosiska tem conseguido driblar os ponteiros do relógio. Conforme conta, primeiro começou a enxergar seu ritmo alucinante como um "problema". Depois, criou uma escala de prioridades, sacrificando até mesmo alguns itens relacionados à "carreira" - e olha que ter menos ambição profissional neste mundo não é fácil. Em seguida, passou a dizer "não" e a recusar convites. Resignação A dona do Ateliê Maria Brigadeiro, Juliana Motter, de 31 anos, ao menos tenta romper com a dinâmica "cruel e opressora" do tempo. Com algumas adaptações aqui e acolá, não considera mais um carrasco o enorme relógio que fica pendurado em sua cozinha, o qual serve para controlar o prazo de entrega de seus doces. Mas não era assim. Antes de abrir seu negócio, vivia refém do tempo. "Tive de aprender na marra", conta Juliana. "Percebi que, a partir do momento em que virei o jogo, o tempo passou a funcionar a meu favor, dependendo da minha organização. Hoje me programo para não ter de abrir mão da minha vida pessoal." Percebeu que o melhor a fazer era antecipar as entregas. Também passou a se conformar com o que precisa deixar para trás. Se para quem não tem filho a vida já é um corre-corre desenfreado, para quem é mãe, a coisa piora - e muito. Gisela Prochaska, de 45 anos, dona de uma empresa de marketing que organiza eventos corporativos, vive dias tão atribulados que mal dá para cuidar dela mesma, já que sua prioridade é a filha, de 15 anos. "Agora estou sem namorado, senão ainda teria de aparecer linda, perfumada e sem sinais de cansaço", brinca Gisela. A tecnologia ajuda bastante, mas também é a responsável pela "aceleração dos minutos", causada pela sensação de imediatismo e pelo fato de as pessoas ficarem on line todo o tempo. Mas há muitos que fazem da tecnologia uma importante aliada. É o caso da empresária Amalia Sina, de 44 anos, uma das mais bem-sucedidas executivas brasileiras, que não vive sem seu blackberry. "Vou até ao banheiro com ele." Amalia foi presidente da Philip Morris do Brasil, da Walita do Brasil e vice-presidente sênior da Philips para a América Latina. Agora lançou sua linha de cosméticos, e com apenas um ano e meio no mercado nacional já exporta para os Estados Unidos, Dinamarca, Inglaterra e Alemanha. A empresária é casada, tem um filho de 11 anos, e sete livros publicados, entre os quais, Mulher e Trabalho - O Desafio de Conciliar Diferentes Papéis na Sociedade (Editora Saraiva). Por incrível que pareça, uma coisa da qual Amalia pode se gabar é de não ter problema com o seu tempo. "É do tamanho que você quer que ele seja", ressalta. "Acordo pela manhã com duas máximas. A primeira: não serei perfeita o dia inteiro; a segunda: não vou entregar tudo o que cada um quer de mim. Quando se admite os limites, o dia fica mais leve e proveitoso." A empresária também criou a "teoria dos 70%". Ou seja, o importante é colocar na cabeça que não se conseguirá atingir a perfeição de 100% em todos os papéis exercidos. Seguindo esse raciocínio, se ela não consegue ser uma mãe 100%, poderá ser 70%, e assim por diante. "A somatória de todos esses 70% serão os 100%. Isso nos deixa mais aliviadas e, portanto, com menos medo de arriscar. Ficamos mais tolerantes conosco e com os outros."

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