Self-service de humor

Opinião|De como não me tornei baterista


Uma aventura no tempo do rock progressivo.

Por Carlos Castelo

Ninguém perguntou, mas as minhas maiores influências musicais vieram do rock progressivo. Talvez eu parecesse mais 'bad boy' se dissesse que o punk dos anos 1980 seria a minha real inspiração. Mas foram mesmo Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Brian Eno, Robert Fripp e Rick Wakeman os que fizeram a minha cabecinha.

O primeiro LP que ouvi nessa linha mais elaborada do rock foi "Aqualung", do Jethro Tull. Quando bati os olhos naquela capa com o mendigo psicopata já me acendeu uma luz amarela. Parei tudo o que estava fazendo e botei a bolacha em meu Garrard com agulha de diamante.

Na hora em que os agudos da flauta de Ian Anderson espalharam-se através das caixas do amplificador Gradiente Quadrisonic veio o sinal verde. Ali entendi o que era a música do meu tempo.

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A paixão só foi aumentando.  Os colegas da classe no ginásio e eu trocamos, sem escala, as figurinhas de futebolistas pelas coleções de discos. Os mais abastados compravam vinis importados na Hi-Fi e no Museu do Disco. Os menos, como eu, juntavam uma grana e compravam usados de um colega 'dealer'.

Por essa época meus pais ganharam uma bateria na rifa da paróquia. Sabedores da minha obsessão pela música vincularam meu desempenho escolar à promessa de que eu teria aulas do instrumento em breve. Logo me vi um Bill Bruford solando freneticamente aquela bateria Gope de coro de igreja.

Obviamente, com tantos hormônios, uma certa tendência ao devaneio e a sexualidade aflorando, minhas notas acabaram ficando todas vermelhas. E a batera e o sonho de ser um 'pop star' ficaram lá me olhando num canto escuro da garagem.

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Uma tarde, o colega 'dealer' foi até em casa após a aula. Levou alguns vinis em sua bolsa de couro de cabra comprada do hippie da Augusta com a Franca. Lembro-me de ter ouvido algumas bandas muito loucas aquele dia: Soft Machine, The Wilde Flowers, Caravan, Hatfield & The North - todos da chamada Canterbury Scene. Movimento musical, segundo o colega, raríssimo e com um pé no fusion. "Comprei as bolachas de um cara que voltou de Londres, estão novinhas e só ele, você e eu sabemos desses grupos no Brasil. Por isso vai sair um pouco mais caro, só que é tudo papa fina" - disse ele com convicção.

Quando me revelou o valor da transação fiz uma conta mental: dava seis meses de mesada. "Impossível", decretei e voltei a dar golinhos no meu Toddy morno.

Mas o 'dealer' não era 'dealer" por acaso, sabia negociar. Colocou todos aqueles ícones do Canterbury Scene no meu colo e perguntou: "e a bateria lá na garagem, aceita troca?"

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A verdade é que não podia mais viver sem aquele som britânico. A desatualização poderia ser fatal pra minha futura carreira de 'band leader'. "Fechado, mas quero também aquele pirata do Rick Wakeman ao vivo", exigi.

Eu estava com ingressos comprados pra ir com meus dois primos ao show do multitecladista do Yes no estádio da Portuguesa, o álbum seria fundamental.

Sem consultar ninguém, autorizei o 'dealer' a sair de casa com a bateria.

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Mas o castigo não tardou a vir. Nunca virei um Bill Bruford e ainda tive que ir ao show do Rick Wakeman na companhia de dois dos maiores leigos em rock progressivo no país: mamãe e papai.

Ninguém perguntou, mas as minhas maiores influências musicais vieram do rock progressivo. Talvez eu parecesse mais 'bad boy' se dissesse que o punk dos anos 1980 seria a minha real inspiração. Mas foram mesmo Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Brian Eno, Robert Fripp e Rick Wakeman os que fizeram a minha cabecinha.

O primeiro LP que ouvi nessa linha mais elaborada do rock foi "Aqualung", do Jethro Tull. Quando bati os olhos naquela capa com o mendigo psicopata já me acendeu uma luz amarela. Parei tudo o que estava fazendo e botei a bolacha em meu Garrard com agulha de diamante.

Na hora em que os agudos da flauta de Ian Anderson espalharam-se através das caixas do amplificador Gradiente Quadrisonic veio o sinal verde. Ali entendi o que era a música do meu tempo.

A paixão só foi aumentando.  Os colegas da classe no ginásio e eu trocamos, sem escala, as figurinhas de futebolistas pelas coleções de discos. Os mais abastados compravam vinis importados na Hi-Fi e no Museu do Disco. Os menos, como eu, juntavam uma grana e compravam usados de um colega 'dealer'.

Por essa época meus pais ganharam uma bateria na rifa da paróquia. Sabedores da minha obsessão pela música vincularam meu desempenho escolar à promessa de que eu teria aulas do instrumento em breve. Logo me vi um Bill Bruford solando freneticamente aquela bateria Gope de coro de igreja.

Obviamente, com tantos hormônios, uma certa tendência ao devaneio e a sexualidade aflorando, minhas notas acabaram ficando todas vermelhas. E a batera e o sonho de ser um 'pop star' ficaram lá me olhando num canto escuro da garagem.

Uma tarde, o colega 'dealer' foi até em casa após a aula. Levou alguns vinis em sua bolsa de couro de cabra comprada do hippie da Augusta com a Franca. Lembro-me de ter ouvido algumas bandas muito loucas aquele dia: Soft Machine, The Wilde Flowers, Caravan, Hatfield & The North - todos da chamada Canterbury Scene. Movimento musical, segundo o colega, raríssimo e com um pé no fusion. "Comprei as bolachas de um cara que voltou de Londres, estão novinhas e só ele, você e eu sabemos desses grupos no Brasil. Por isso vai sair um pouco mais caro, só que é tudo papa fina" - disse ele com convicção.

Quando me revelou o valor da transação fiz uma conta mental: dava seis meses de mesada. "Impossível", decretei e voltei a dar golinhos no meu Toddy morno.

Mas o 'dealer' não era 'dealer" por acaso, sabia negociar. Colocou todos aqueles ícones do Canterbury Scene no meu colo e perguntou: "e a bateria lá na garagem, aceita troca?"

A verdade é que não podia mais viver sem aquele som britânico. A desatualização poderia ser fatal pra minha futura carreira de 'band leader'. "Fechado, mas quero também aquele pirata do Rick Wakeman ao vivo", exigi.

Eu estava com ingressos comprados pra ir com meus dois primos ao show do multitecladista do Yes no estádio da Portuguesa, o álbum seria fundamental.

Sem consultar ninguém, autorizei o 'dealer' a sair de casa com a bateria.

Mas o castigo não tardou a vir. Nunca virei um Bill Bruford e ainda tive que ir ao show do Rick Wakeman na companhia de dois dos maiores leigos em rock progressivo no país: mamãe e papai.

Ninguém perguntou, mas as minhas maiores influências musicais vieram do rock progressivo. Talvez eu parecesse mais 'bad boy' se dissesse que o punk dos anos 1980 seria a minha real inspiração. Mas foram mesmo Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Brian Eno, Robert Fripp e Rick Wakeman os que fizeram a minha cabecinha.

O primeiro LP que ouvi nessa linha mais elaborada do rock foi "Aqualung", do Jethro Tull. Quando bati os olhos naquela capa com o mendigo psicopata já me acendeu uma luz amarela. Parei tudo o que estava fazendo e botei a bolacha em meu Garrard com agulha de diamante.

Na hora em que os agudos da flauta de Ian Anderson espalharam-se através das caixas do amplificador Gradiente Quadrisonic veio o sinal verde. Ali entendi o que era a música do meu tempo.

A paixão só foi aumentando.  Os colegas da classe no ginásio e eu trocamos, sem escala, as figurinhas de futebolistas pelas coleções de discos. Os mais abastados compravam vinis importados na Hi-Fi e no Museu do Disco. Os menos, como eu, juntavam uma grana e compravam usados de um colega 'dealer'.

Por essa época meus pais ganharam uma bateria na rifa da paróquia. Sabedores da minha obsessão pela música vincularam meu desempenho escolar à promessa de que eu teria aulas do instrumento em breve. Logo me vi um Bill Bruford solando freneticamente aquela bateria Gope de coro de igreja.

Obviamente, com tantos hormônios, uma certa tendência ao devaneio e a sexualidade aflorando, minhas notas acabaram ficando todas vermelhas. E a batera e o sonho de ser um 'pop star' ficaram lá me olhando num canto escuro da garagem.

Uma tarde, o colega 'dealer' foi até em casa após a aula. Levou alguns vinis em sua bolsa de couro de cabra comprada do hippie da Augusta com a Franca. Lembro-me de ter ouvido algumas bandas muito loucas aquele dia: Soft Machine, The Wilde Flowers, Caravan, Hatfield & The North - todos da chamada Canterbury Scene. Movimento musical, segundo o colega, raríssimo e com um pé no fusion. "Comprei as bolachas de um cara que voltou de Londres, estão novinhas e só ele, você e eu sabemos desses grupos no Brasil. Por isso vai sair um pouco mais caro, só que é tudo papa fina" - disse ele com convicção.

Quando me revelou o valor da transação fiz uma conta mental: dava seis meses de mesada. "Impossível", decretei e voltei a dar golinhos no meu Toddy morno.

Mas o 'dealer' não era 'dealer" por acaso, sabia negociar. Colocou todos aqueles ícones do Canterbury Scene no meu colo e perguntou: "e a bateria lá na garagem, aceita troca?"

A verdade é que não podia mais viver sem aquele som britânico. A desatualização poderia ser fatal pra minha futura carreira de 'band leader'. "Fechado, mas quero também aquele pirata do Rick Wakeman ao vivo", exigi.

Eu estava com ingressos comprados pra ir com meus dois primos ao show do multitecladista do Yes no estádio da Portuguesa, o álbum seria fundamental.

Sem consultar ninguém, autorizei o 'dealer' a sair de casa com a bateria.

Mas o castigo não tardou a vir. Nunca virei um Bill Bruford e ainda tive que ir ao show do Rick Wakeman na companhia de dois dos maiores leigos em rock progressivo no país: mamãe e papai.

Ninguém perguntou, mas as minhas maiores influências musicais vieram do rock progressivo. Talvez eu parecesse mais 'bad boy' se dissesse que o punk dos anos 1980 seria a minha real inspiração. Mas foram mesmo Yes, Emerson, Lake & Palmer, King Crimson, Brian Eno, Robert Fripp e Rick Wakeman os que fizeram a minha cabecinha.

O primeiro LP que ouvi nessa linha mais elaborada do rock foi "Aqualung", do Jethro Tull. Quando bati os olhos naquela capa com o mendigo psicopata já me acendeu uma luz amarela. Parei tudo o que estava fazendo e botei a bolacha em meu Garrard com agulha de diamante.

Na hora em que os agudos da flauta de Ian Anderson espalharam-se através das caixas do amplificador Gradiente Quadrisonic veio o sinal verde. Ali entendi o que era a música do meu tempo.

A paixão só foi aumentando.  Os colegas da classe no ginásio e eu trocamos, sem escala, as figurinhas de futebolistas pelas coleções de discos. Os mais abastados compravam vinis importados na Hi-Fi e no Museu do Disco. Os menos, como eu, juntavam uma grana e compravam usados de um colega 'dealer'.

Por essa época meus pais ganharam uma bateria na rifa da paróquia. Sabedores da minha obsessão pela música vincularam meu desempenho escolar à promessa de que eu teria aulas do instrumento em breve. Logo me vi um Bill Bruford solando freneticamente aquela bateria Gope de coro de igreja.

Obviamente, com tantos hormônios, uma certa tendência ao devaneio e a sexualidade aflorando, minhas notas acabaram ficando todas vermelhas. E a batera e o sonho de ser um 'pop star' ficaram lá me olhando num canto escuro da garagem.

Uma tarde, o colega 'dealer' foi até em casa após a aula. Levou alguns vinis em sua bolsa de couro de cabra comprada do hippie da Augusta com a Franca. Lembro-me de ter ouvido algumas bandas muito loucas aquele dia: Soft Machine, The Wilde Flowers, Caravan, Hatfield & The North - todos da chamada Canterbury Scene. Movimento musical, segundo o colega, raríssimo e com um pé no fusion. "Comprei as bolachas de um cara que voltou de Londres, estão novinhas e só ele, você e eu sabemos desses grupos no Brasil. Por isso vai sair um pouco mais caro, só que é tudo papa fina" - disse ele com convicção.

Quando me revelou o valor da transação fiz uma conta mental: dava seis meses de mesada. "Impossível", decretei e voltei a dar golinhos no meu Toddy morno.

Mas o 'dealer' não era 'dealer" por acaso, sabia negociar. Colocou todos aqueles ícones do Canterbury Scene no meu colo e perguntou: "e a bateria lá na garagem, aceita troca?"

A verdade é que não podia mais viver sem aquele som britânico. A desatualização poderia ser fatal pra minha futura carreira de 'band leader'. "Fechado, mas quero também aquele pirata do Rick Wakeman ao vivo", exigi.

Eu estava com ingressos comprados pra ir com meus dois primos ao show do multitecladista do Yes no estádio da Portuguesa, o álbum seria fundamental.

Sem consultar ninguém, autorizei o 'dealer' a sair de casa com a bateria.

Mas o castigo não tardou a vir. Nunca virei um Bill Bruford e ainda tive que ir ao show do Rick Wakeman na companhia de dois dos maiores leigos em rock progressivo no país: mamãe e papai.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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