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Opinião|Desabafo de uma tornozeleira eletrônica


Por Carlos Castelo

As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento.

 Foto: Estadão
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  (Pixabay)

Muitos pensam que, por a gente possuir a denominação "eletrônica", não temos sentimentos. É um engano. As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento - o resto, eu garanto, é igualzinho a esse pedaço aí da sua perna.

Se formos analisar, a tornozeleira eletrônica passa por situações bem mais dramáticas do que a sua correspondente de carne e osso. Somos instaladas na porção inferior de todo tipo de escroque: traficantes, assassinos, estupradores, falsificadores, políticos. E ainda temos que acompanhar os tais criminosos em todos os seus momentos. Até nos mais íntimos. E, são nesses, que somos mais xingadas. No frigir dos ovos (sem trocadilhos) dá para entender bem o porquê. Não deve ser fácil praticar o Kama Sutra, estressado pelo peso de uma sentença, e ainda por cima ter algo pesado impedindo o movimento dos seus glúteos.

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Há ainda o problema dos reis do crime sempre tentarem nos tirar de suas pernas. Não aparece muito na imprensa, mas arriscaria dizer que 70% dos malfeitores tenta nos eliminar. E, lamento informar, da forma mais bárbara possível.

Por esses dias, um ladrão de casaca - não mencionarei o nome porque ele está em prisão preventiva - tentou me arrancar usando um vibrador. Ok, era o único objeto pontudo à mão do safado, mas o fato é que, além de não conseguir me desgrudar, o facínora ainda me provocou um ataque de cócegas. Parece brincadeira, mas isso quase me provocou um shut-down. Aí já viu: se eu entro em desligamento por dildo, pra me dar um power on de novo só com a presença de um TI da Polícia Federal.

Foi o que aconteceu; claro, só depois de duas semanas. Sabe como é a burocracia estatal: teve que providenciar uma tornozeleira nova, o depósito da PF estava em operação-padrão e o navio que trazia a reposição de estoques da China foi assaltado por piratas no Mali. Fiquei a ver navios por mais de 15 dias. Ou melhor, a não ver, aproveitaram a agressão pra fazer uma diagnose no meu sistema e descobriram vírus: toca a ficar de quarentena.

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Agora, me diga, alguém aí já viu o pessoal das redes sociais falando do assédio diário que as tornozeleiras eletrônicas sofrem? Da violência verbal, moral, física (melhor dizendo material)? Sabe, a gente acaba se sentindo uma coisa, um objeto. Mesmo assim, nenhuma voz se levanta para nos defender. Talvez seja pelo nosso papel na sociedade, o de pegar no pé dos outros, mesmo assim não é justo um silêncio tão pesado assim.

Hoje estou vivendo na perna de um corrupto. A única coisa boa é que me exercito bastante; o homem não para o dia inteiro. É meeting com advogado, almoço com assessor de imprensa, café com gringos e jantar com os sócios das empresas dele. Fora os laranjas que vêm de madrugada e a reunião é no quarto de empregada da mansão. É tanto pra cima e pra baixo que a minha bateria está supercarregada, zero quilômetro.

Espero, se Deus quiser, ficar um bom tempo por aqui. Afora as gotas de champanhe que caem em cima do meu hardware nos rega-bofes, o resto até que dá pra encarar. Apesar dos pesares, mereço um sossego: as tornozeleiras eletrônicas também amam.

As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento.

 Foto: Estadão

  (Pixabay)

Muitos pensam que, por a gente possuir a denominação "eletrônica", não temos sentimentos. É um engano. As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento - o resto, eu garanto, é igualzinho a esse pedaço aí da sua perna.

Se formos analisar, a tornozeleira eletrônica passa por situações bem mais dramáticas do que a sua correspondente de carne e osso. Somos instaladas na porção inferior de todo tipo de escroque: traficantes, assassinos, estupradores, falsificadores, políticos. E ainda temos que acompanhar os tais criminosos em todos os seus momentos. Até nos mais íntimos. E, são nesses, que somos mais xingadas. No frigir dos ovos (sem trocadilhos) dá para entender bem o porquê. Não deve ser fácil praticar o Kama Sutra, estressado pelo peso de uma sentença, e ainda por cima ter algo pesado impedindo o movimento dos seus glúteos.

Há ainda o problema dos reis do crime sempre tentarem nos tirar de suas pernas. Não aparece muito na imprensa, mas arriscaria dizer que 70% dos malfeitores tenta nos eliminar. E, lamento informar, da forma mais bárbara possível.

Por esses dias, um ladrão de casaca - não mencionarei o nome porque ele está em prisão preventiva - tentou me arrancar usando um vibrador. Ok, era o único objeto pontudo à mão do safado, mas o fato é que, além de não conseguir me desgrudar, o facínora ainda me provocou um ataque de cócegas. Parece brincadeira, mas isso quase me provocou um shut-down. Aí já viu: se eu entro em desligamento por dildo, pra me dar um power on de novo só com a presença de um TI da Polícia Federal.

Foi o que aconteceu; claro, só depois de duas semanas. Sabe como é a burocracia estatal: teve que providenciar uma tornozeleira nova, o depósito da PF estava em operação-padrão e o navio que trazia a reposição de estoques da China foi assaltado por piratas no Mali. Fiquei a ver navios por mais de 15 dias. Ou melhor, a não ver, aproveitaram a agressão pra fazer uma diagnose no meu sistema e descobriram vírus: toca a ficar de quarentena.

Agora, me diga, alguém aí já viu o pessoal das redes sociais falando do assédio diário que as tornozeleiras eletrônicas sofrem? Da violência verbal, moral, física (melhor dizendo material)? Sabe, a gente acaba se sentindo uma coisa, um objeto. Mesmo assim, nenhuma voz se levanta para nos defender. Talvez seja pelo nosso papel na sociedade, o de pegar no pé dos outros, mesmo assim não é justo um silêncio tão pesado assim.

Hoje estou vivendo na perna de um corrupto. A única coisa boa é que me exercito bastante; o homem não para o dia inteiro. É meeting com advogado, almoço com assessor de imprensa, café com gringos e jantar com os sócios das empresas dele. Fora os laranjas que vêm de madrugada e a reunião é no quarto de empregada da mansão. É tanto pra cima e pra baixo que a minha bateria está supercarregada, zero quilômetro.

Espero, se Deus quiser, ficar um bom tempo por aqui. Afora as gotas de champanhe que caem em cima do meu hardware nos rega-bofes, o resto até que dá pra encarar. Apesar dos pesares, mereço um sossego: as tornozeleiras eletrônicas também amam.

As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento.

 Foto: Estadão

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Muitos pensam que, por a gente possuir a denominação "eletrônica", não temos sentimentos. É um engano. As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento - o resto, eu garanto, é igualzinho a esse pedaço aí da sua perna.

Se formos analisar, a tornozeleira eletrônica passa por situações bem mais dramáticas do que a sua correspondente de carne e osso. Somos instaladas na porção inferior de todo tipo de escroque: traficantes, assassinos, estupradores, falsificadores, políticos. E ainda temos que acompanhar os tais criminosos em todos os seus momentos. Até nos mais íntimos. E, são nesses, que somos mais xingadas. No frigir dos ovos (sem trocadilhos) dá para entender bem o porquê. Não deve ser fácil praticar o Kama Sutra, estressado pelo peso de uma sentença, e ainda por cima ter algo pesado impedindo o movimento dos seus glúteos.

Há ainda o problema dos reis do crime sempre tentarem nos tirar de suas pernas. Não aparece muito na imprensa, mas arriscaria dizer que 70% dos malfeitores tenta nos eliminar. E, lamento informar, da forma mais bárbara possível.

Por esses dias, um ladrão de casaca - não mencionarei o nome porque ele está em prisão preventiva - tentou me arrancar usando um vibrador. Ok, era o único objeto pontudo à mão do safado, mas o fato é que, além de não conseguir me desgrudar, o facínora ainda me provocou um ataque de cócegas. Parece brincadeira, mas isso quase me provocou um shut-down. Aí já viu: se eu entro em desligamento por dildo, pra me dar um power on de novo só com a presença de um TI da Polícia Federal.

Foi o que aconteceu; claro, só depois de duas semanas. Sabe como é a burocracia estatal: teve que providenciar uma tornozeleira nova, o depósito da PF estava em operação-padrão e o navio que trazia a reposição de estoques da China foi assaltado por piratas no Mali. Fiquei a ver navios por mais de 15 dias. Ou melhor, a não ver, aproveitaram a agressão pra fazer uma diagnose no meu sistema e descobriram vírus: toca a ficar de quarentena.

Agora, me diga, alguém aí já viu o pessoal das redes sociais falando do assédio diário que as tornozeleiras eletrônicas sofrem? Da violência verbal, moral, física (melhor dizendo material)? Sabe, a gente acaba se sentindo uma coisa, um objeto. Mesmo assim, nenhuma voz se levanta para nos defender. Talvez seja pelo nosso papel na sociedade, o de pegar no pé dos outros, mesmo assim não é justo um silêncio tão pesado assim.

Hoje estou vivendo na perna de um corrupto. A única coisa boa é que me exercito bastante; o homem não para o dia inteiro. É meeting com advogado, almoço com assessor de imprensa, café com gringos e jantar com os sócios das empresas dele. Fora os laranjas que vêm de madrugada e a reunião é no quarto de empregada da mansão. É tanto pra cima e pra baixo que a minha bateria está supercarregada, zero quilômetro.

Espero, se Deus quiser, ficar um bom tempo por aqui. Afora as gotas de champanhe que caem em cima do meu hardware nos rega-bofes, o resto até que dá pra encarar. Apesar dos pesares, mereço um sossego: as tornozeleiras eletrônicas também amam.

As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento.

 Foto: Estadão

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Muitos pensam que, por a gente possuir a denominação "eletrônica", não temos sentimentos. É um engano. As tornozeleiras eletrônicas são como os tornozelos naturais. A única diferença é o monitoramento - o resto, eu garanto, é igualzinho a esse pedaço aí da sua perna.

Se formos analisar, a tornozeleira eletrônica passa por situações bem mais dramáticas do que a sua correspondente de carne e osso. Somos instaladas na porção inferior de todo tipo de escroque: traficantes, assassinos, estupradores, falsificadores, políticos. E ainda temos que acompanhar os tais criminosos em todos os seus momentos. Até nos mais íntimos. E, são nesses, que somos mais xingadas. No frigir dos ovos (sem trocadilhos) dá para entender bem o porquê. Não deve ser fácil praticar o Kama Sutra, estressado pelo peso de uma sentença, e ainda por cima ter algo pesado impedindo o movimento dos seus glúteos.

Há ainda o problema dos reis do crime sempre tentarem nos tirar de suas pernas. Não aparece muito na imprensa, mas arriscaria dizer que 70% dos malfeitores tenta nos eliminar. E, lamento informar, da forma mais bárbara possível.

Por esses dias, um ladrão de casaca - não mencionarei o nome porque ele está em prisão preventiva - tentou me arrancar usando um vibrador. Ok, era o único objeto pontudo à mão do safado, mas o fato é que, além de não conseguir me desgrudar, o facínora ainda me provocou um ataque de cócegas. Parece brincadeira, mas isso quase me provocou um shut-down. Aí já viu: se eu entro em desligamento por dildo, pra me dar um power on de novo só com a presença de um TI da Polícia Federal.

Foi o que aconteceu; claro, só depois de duas semanas. Sabe como é a burocracia estatal: teve que providenciar uma tornozeleira nova, o depósito da PF estava em operação-padrão e o navio que trazia a reposição de estoques da China foi assaltado por piratas no Mali. Fiquei a ver navios por mais de 15 dias. Ou melhor, a não ver, aproveitaram a agressão pra fazer uma diagnose no meu sistema e descobriram vírus: toca a ficar de quarentena.

Agora, me diga, alguém aí já viu o pessoal das redes sociais falando do assédio diário que as tornozeleiras eletrônicas sofrem? Da violência verbal, moral, física (melhor dizendo material)? Sabe, a gente acaba se sentindo uma coisa, um objeto. Mesmo assim, nenhuma voz se levanta para nos defender. Talvez seja pelo nosso papel na sociedade, o de pegar no pé dos outros, mesmo assim não é justo um silêncio tão pesado assim.

Hoje estou vivendo na perna de um corrupto. A única coisa boa é que me exercito bastante; o homem não para o dia inteiro. É meeting com advogado, almoço com assessor de imprensa, café com gringos e jantar com os sócios das empresas dele. Fora os laranjas que vêm de madrugada e a reunião é no quarto de empregada da mansão. É tanto pra cima e pra baixo que a minha bateria está supercarregada, zero quilômetro.

Espero, se Deus quiser, ficar um bom tempo por aqui. Afora as gotas de champanhe que caem em cima do meu hardware nos rega-bofes, o resto até que dá pra encarar. Apesar dos pesares, mereço um sossego: as tornozeleiras eletrônicas também amam.

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Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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