Self-service de humor

Opinião|Dicionário do isolado


Por Carlos Castelo

Meu conto finalista no Prêmio Off Flip 2021.

 

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(Isaac Quesada on Unsplash)  

Ela chorou na live. Ela bebeu todas. Ela pediu o Rivotril. Ela não vê mais

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a luz do sol. Ela comprou litros de álcool gel. Ela não vai mais casar. Ela

chamou o Samu. Ela se encheu de cozinhar. Ela perdeu o emprego. Ela ficou

a um metro e meio do caixa. Ela higienizou o pacote. Ela surtou com o

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bebê. Ela tocou o foda-se. Ela toma vitamina D. Ela adiou as férias. Ela não

compra mais roupa. Ela fez o teste duas vezes. Ela não lê mais os jornais. Ela

assinou outro canal de streaming. Ela não acredita mais em Deus.

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Ele está deprê. Ele está seguindo os protocolos. Ele está na cloroquina. Ele

está tossindo. Ele ganhou peso. Ele está de saco na lua. Ele vive nas redes

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sociais. Ele usa oxímetro. Ele está no Zoom. Ele pediu Ifood. Ele está só com

uma febrinha. Ele broxou. Ele está intubado. Ele deu um soco na parede. Ele

era tão bom marido. Ele agora faz massa artesanal. Ele está trabalhando de

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casa. Ele virou uma estrelinha.

 

Eles vão pagar pra ver. Eles nunca mais vieram. Eles cancelaram os ingressos.

Eles foram para a chácara. Eles lá, eu aqui. Eles higienizaram o cachorro.

Eles rezam muito. Eles pegaram. Eles estão na pior. Eles pensam que são

imunes. Eles não têm internet. Eles? Não sei.

 

Eu me cuido. Eu espero que passe. Eu corri pra dentro. Eu fico vendo filme.

Eu sinto falta de ar. Eu virei monge. Eu renasci. Eu quero a minha mãe. Eu

saí do grupo de família. Eu aconselho não ir. Eu odeio esse vírus. Eu corria.

Eu ainda vou nesse show. Eu nem ligo. Eu acho que já deu. Eu só vi de longe.

Eu desisto.

 

Nós torcemos muito. Nós sabemos do perigo. Nós vendemos o carro. Nós

Nós não nos aguentamos mais. Nós escapamos. Nós não transamos mais.

Nós erramos. Nós, eles e mais ninguém. Nós cagamos e andamos. Nos

nos separamos. Nós tiramos ele daqui. Nós abrimos mão. Nós respiramos

aliviados. Nós sentimos muito.

 

Você é que sabe. Você é adulto. Você fica aqui com sua mãe. Você me

enlouquece. Você é uma péssima companhia. Você abusa da sorte. Você saia

daqui agora. Você me respeite. Você não ajuda em nada. Você só pensa no

seu rabo. Você me contaminou.

Meu conto finalista no Prêmio Off Flip 2021.

 

(Isaac Quesada on Unsplash)  

Ela chorou na live. Ela bebeu todas. Ela pediu o Rivotril. Ela não vê mais

a luz do sol. Ela comprou litros de álcool gel. Ela não vai mais casar. Ela

chamou o Samu. Ela se encheu de cozinhar. Ela perdeu o emprego. Ela ficou

a um metro e meio do caixa. Ela higienizou o pacote. Ela surtou com o

bebê. Ela tocou o foda-se. Ela toma vitamina D. Ela adiou as férias. Ela não

compra mais roupa. Ela fez o teste duas vezes. Ela não lê mais os jornais. Ela

assinou outro canal de streaming. Ela não acredita mais em Deus.

 

Ele está deprê. Ele está seguindo os protocolos. Ele está na cloroquina. Ele

está tossindo. Ele ganhou peso. Ele está de saco na lua. Ele vive nas redes

sociais. Ele usa oxímetro. Ele está no Zoom. Ele pediu Ifood. Ele está só com

uma febrinha. Ele broxou. Ele está intubado. Ele deu um soco na parede. Ele

era tão bom marido. Ele agora faz massa artesanal. Ele está trabalhando de

casa. Ele virou uma estrelinha.

 

Eles vão pagar pra ver. Eles nunca mais vieram. Eles cancelaram os ingressos.

Eles foram para a chácara. Eles lá, eu aqui. Eles higienizaram o cachorro.

Eles rezam muito. Eles pegaram. Eles estão na pior. Eles pensam que são

imunes. Eles não têm internet. Eles? Não sei.

 

Eu me cuido. Eu espero que passe. Eu corri pra dentro. Eu fico vendo filme.

Eu sinto falta de ar. Eu virei monge. Eu renasci. Eu quero a minha mãe. Eu

saí do grupo de família. Eu aconselho não ir. Eu odeio esse vírus. Eu corria.

Eu ainda vou nesse show. Eu nem ligo. Eu acho que já deu. Eu só vi de longe.

Eu desisto.

 

Nós torcemos muito. Nós sabemos do perigo. Nós vendemos o carro. Nós

Nós não nos aguentamos mais. Nós escapamos. Nós não transamos mais.

Nós erramos. Nós, eles e mais ninguém. Nós cagamos e andamos. Nos

nos separamos. Nós tiramos ele daqui. Nós abrimos mão. Nós respiramos

aliviados. Nós sentimos muito.

 

Você é que sabe. Você é adulto. Você fica aqui com sua mãe. Você me

enlouquece. Você é uma péssima companhia. Você abusa da sorte. Você saia

daqui agora. Você me respeite. Você não ajuda em nada. Você só pensa no

seu rabo. Você me contaminou.

Meu conto finalista no Prêmio Off Flip 2021.

 

(Isaac Quesada on Unsplash)  

Ela chorou na live. Ela bebeu todas. Ela pediu o Rivotril. Ela não vê mais

a luz do sol. Ela comprou litros de álcool gel. Ela não vai mais casar. Ela

chamou o Samu. Ela se encheu de cozinhar. Ela perdeu o emprego. Ela ficou

a um metro e meio do caixa. Ela higienizou o pacote. Ela surtou com o

bebê. Ela tocou o foda-se. Ela toma vitamina D. Ela adiou as férias. Ela não

compra mais roupa. Ela fez o teste duas vezes. Ela não lê mais os jornais. Ela

assinou outro canal de streaming. Ela não acredita mais em Deus.

 

Ele está deprê. Ele está seguindo os protocolos. Ele está na cloroquina. Ele

está tossindo. Ele ganhou peso. Ele está de saco na lua. Ele vive nas redes

sociais. Ele usa oxímetro. Ele está no Zoom. Ele pediu Ifood. Ele está só com

uma febrinha. Ele broxou. Ele está intubado. Ele deu um soco na parede. Ele

era tão bom marido. Ele agora faz massa artesanal. Ele está trabalhando de

casa. Ele virou uma estrelinha.

 

Eles vão pagar pra ver. Eles nunca mais vieram. Eles cancelaram os ingressos.

Eles foram para a chácara. Eles lá, eu aqui. Eles higienizaram o cachorro.

Eles rezam muito. Eles pegaram. Eles estão na pior. Eles pensam que são

imunes. Eles não têm internet. Eles? Não sei.

 

Eu me cuido. Eu espero que passe. Eu corri pra dentro. Eu fico vendo filme.

Eu sinto falta de ar. Eu virei monge. Eu renasci. Eu quero a minha mãe. Eu

saí do grupo de família. Eu aconselho não ir. Eu odeio esse vírus. Eu corria.

Eu ainda vou nesse show. Eu nem ligo. Eu acho que já deu. Eu só vi de longe.

Eu desisto.

 

Nós torcemos muito. Nós sabemos do perigo. Nós vendemos o carro. Nós

Nós não nos aguentamos mais. Nós escapamos. Nós não transamos mais.

Nós erramos. Nós, eles e mais ninguém. Nós cagamos e andamos. Nos

nos separamos. Nós tiramos ele daqui. Nós abrimos mão. Nós respiramos

aliviados. Nós sentimos muito.

 

Você é que sabe. Você é adulto. Você fica aqui com sua mãe. Você me

enlouquece. Você é uma péssima companhia. Você abusa da sorte. Você saia

daqui agora. Você me respeite. Você não ajuda em nada. Você só pensa no

seu rabo. Você me contaminou.

Meu conto finalista no Prêmio Off Flip 2021.

 

(Isaac Quesada on Unsplash)  

Ela chorou na live. Ela bebeu todas. Ela pediu o Rivotril. Ela não vê mais

a luz do sol. Ela comprou litros de álcool gel. Ela não vai mais casar. Ela

chamou o Samu. Ela se encheu de cozinhar. Ela perdeu o emprego. Ela ficou

a um metro e meio do caixa. Ela higienizou o pacote. Ela surtou com o

bebê. Ela tocou o foda-se. Ela toma vitamina D. Ela adiou as férias. Ela não

compra mais roupa. Ela fez o teste duas vezes. Ela não lê mais os jornais. Ela

assinou outro canal de streaming. Ela não acredita mais em Deus.

 

Ele está deprê. Ele está seguindo os protocolos. Ele está na cloroquina. Ele

está tossindo. Ele ganhou peso. Ele está de saco na lua. Ele vive nas redes

sociais. Ele usa oxímetro. Ele está no Zoom. Ele pediu Ifood. Ele está só com

uma febrinha. Ele broxou. Ele está intubado. Ele deu um soco na parede. Ele

era tão bom marido. Ele agora faz massa artesanal. Ele está trabalhando de

casa. Ele virou uma estrelinha.

 

Eles vão pagar pra ver. Eles nunca mais vieram. Eles cancelaram os ingressos.

Eles foram para a chácara. Eles lá, eu aqui. Eles higienizaram o cachorro.

Eles rezam muito. Eles pegaram. Eles estão na pior. Eles pensam que são

imunes. Eles não têm internet. Eles? Não sei.

 

Eu me cuido. Eu espero que passe. Eu corri pra dentro. Eu fico vendo filme.

Eu sinto falta de ar. Eu virei monge. Eu renasci. Eu quero a minha mãe. Eu

saí do grupo de família. Eu aconselho não ir. Eu odeio esse vírus. Eu corria.

Eu ainda vou nesse show. Eu nem ligo. Eu acho que já deu. Eu só vi de longe.

Eu desisto.

 

Nós torcemos muito. Nós sabemos do perigo. Nós vendemos o carro. Nós

Nós não nos aguentamos mais. Nós escapamos. Nós não transamos mais.

Nós erramos. Nós, eles e mais ninguém. Nós cagamos e andamos. Nos

nos separamos. Nós tiramos ele daqui. Nós abrimos mão. Nós respiramos

aliviados. Nós sentimos muito.

 

Você é que sabe. Você é adulto. Você fica aqui com sua mãe. Você me

enlouquece. Você é uma péssima companhia. Você abusa da sorte. Você saia

daqui agora. Você me respeite. Você não ajuda em nada. Você só pensa no

seu rabo. Você me contaminou.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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