Self-service de humor

Opinião|Racismo do cão


Quando um cachorro se julga superior a outro cachorro.

Por Carlos Castelo

Até então não se sabia que aquilo acontecia entre os cachorros. Mas, um certo dia, um grupo de cães de caça trocava ideia num pet-shop, um poodle ouviu o papo e contou a um fox paulistinha. Foi mais ou menos assim.

"Estamos entre iguais aqui, por isso posso falar à vontade: se tem um cachorro que eu abomino é o vira-lata. " - disse um dos cães de caça.

Houve um consentimento geral entre os outros.  O maior de todos deu um latido concordando:

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"Vira-latas são como ratos. Estão em todos os cantos minando o bom nome canino. Não me dirijo a eles. Quando vejo um, com aquele focinho de ratazana, se não estiver de coleira, mudo de calçada."

Um outro acrescentou:

"E o jeito que eles mijam? Com as suas perninhas tortas. E depois ficam raspando o chão com aquelas unhas nojentas, agh!!"

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Uma cadela de caça, vestindo uma jaqueta verde-selva, deu seu ponto de vista:

"Pior: eles comem ração como comemos. Se a gente bobear, com essa escassez toda, uma hora não sobra nem passarinha de boi pra gente!"

O ódio em relação aos vira-latas estava longe de ser isolado. Ele tomava conta de vários pontos do país e não era apenas anti-viralatismo; mas também um virulento anti-toyismo.

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Para os cães de caça, que se julgavam uma raça superior, os cães toys, de miniatura, eram anões degenerados e precisavam ser definitivamente eliminados. Os vira-latas deveriam ser marginalizados da sociedade: puxar trenós no gelo na Patagônia, trabalhar como cães farejadores em minas de carvão ou ser cães de tribos indígenas no Alto Xingu.

Não demorou para manifestações violentas começarem a ocorrer.  Nos parques, os cães de caça faziam barreiras que impediam vira-latas de entrar. Centenas de poodle toys, yorkshires micro e pinschers também foram atacados ao tentar urinar em muros de casas onde viviam os que se supunham de raça superior.

O Kennel Club procurava manter neutralidade nos episódios, apesar da imprensa especializada em pets começar a pressionar fortemente por uma posição mais clara.

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A discórdia canina já preocupava até o governo central. Isto porque as brigas entre os cães aumentava a lotação das carrocinhas, o que onerava o Erário Público.

A situação ganhou contornos críticos quando, numa apresentação de circo, um sabujo atacou um chihuahua equilibrista e o público revoltado tocou fogo na lona.

Era preciso reagir urgentemente. Representantes do Ministérios da Saúde reuniram-se com técnicos em Direitos dos Animais da ONU e propuseram uma resposta imediata à crise. A ideia foi polêmica e muitos dos delegados presentes foram contrários, já que a implementação poderia trazer até mesmo desequilíbrio ambiental. 

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Só que, para o bem o para o mal, acabaram aprovando-a: numa madrugada, milhões de gatos foram soltos nas ruas das principais capitais.

Em menos de uma semana não havia mais racismo. Pelo menos entre os cães.

Até então não se sabia que aquilo acontecia entre os cachorros. Mas, um certo dia, um grupo de cães de caça trocava ideia num pet-shop, um poodle ouviu o papo e contou a um fox paulistinha. Foi mais ou menos assim.

"Estamos entre iguais aqui, por isso posso falar à vontade: se tem um cachorro que eu abomino é o vira-lata. " - disse um dos cães de caça.

Houve um consentimento geral entre os outros.  O maior de todos deu um latido concordando:

"Vira-latas são como ratos. Estão em todos os cantos minando o bom nome canino. Não me dirijo a eles. Quando vejo um, com aquele focinho de ratazana, se não estiver de coleira, mudo de calçada."

Um outro acrescentou:

"E o jeito que eles mijam? Com as suas perninhas tortas. E depois ficam raspando o chão com aquelas unhas nojentas, agh!!"

Uma cadela de caça, vestindo uma jaqueta verde-selva, deu seu ponto de vista:

"Pior: eles comem ração como comemos. Se a gente bobear, com essa escassez toda, uma hora não sobra nem passarinha de boi pra gente!"

O ódio em relação aos vira-latas estava longe de ser isolado. Ele tomava conta de vários pontos do país e não era apenas anti-viralatismo; mas também um virulento anti-toyismo.

Para os cães de caça, que se julgavam uma raça superior, os cães toys, de miniatura, eram anões degenerados e precisavam ser definitivamente eliminados. Os vira-latas deveriam ser marginalizados da sociedade: puxar trenós no gelo na Patagônia, trabalhar como cães farejadores em minas de carvão ou ser cães de tribos indígenas no Alto Xingu.

Não demorou para manifestações violentas começarem a ocorrer.  Nos parques, os cães de caça faziam barreiras que impediam vira-latas de entrar. Centenas de poodle toys, yorkshires micro e pinschers também foram atacados ao tentar urinar em muros de casas onde viviam os que se supunham de raça superior.

O Kennel Club procurava manter neutralidade nos episódios, apesar da imprensa especializada em pets começar a pressionar fortemente por uma posição mais clara.

A discórdia canina já preocupava até o governo central. Isto porque as brigas entre os cães aumentava a lotação das carrocinhas, o que onerava o Erário Público.

A situação ganhou contornos críticos quando, numa apresentação de circo, um sabujo atacou um chihuahua equilibrista e o público revoltado tocou fogo na lona.

Era preciso reagir urgentemente. Representantes do Ministérios da Saúde reuniram-se com técnicos em Direitos dos Animais da ONU e propuseram uma resposta imediata à crise. A ideia foi polêmica e muitos dos delegados presentes foram contrários, já que a implementação poderia trazer até mesmo desequilíbrio ambiental. 

Só que, para o bem o para o mal, acabaram aprovando-a: numa madrugada, milhões de gatos foram soltos nas ruas das principais capitais.

Em menos de uma semana não havia mais racismo. Pelo menos entre os cães.

Até então não se sabia que aquilo acontecia entre os cachorros. Mas, um certo dia, um grupo de cães de caça trocava ideia num pet-shop, um poodle ouviu o papo e contou a um fox paulistinha. Foi mais ou menos assim.

"Estamos entre iguais aqui, por isso posso falar à vontade: se tem um cachorro que eu abomino é o vira-lata. " - disse um dos cães de caça.

Houve um consentimento geral entre os outros.  O maior de todos deu um latido concordando:

"Vira-latas são como ratos. Estão em todos os cantos minando o bom nome canino. Não me dirijo a eles. Quando vejo um, com aquele focinho de ratazana, se não estiver de coleira, mudo de calçada."

Um outro acrescentou:

"E o jeito que eles mijam? Com as suas perninhas tortas. E depois ficam raspando o chão com aquelas unhas nojentas, agh!!"

Uma cadela de caça, vestindo uma jaqueta verde-selva, deu seu ponto de vista:

"Pior: eles comem ração como comemos. Se a gente bobear, com essa escassez toda, uma hora não sobra nem passarinha de boi pra gente!"

O ódio em relação aos vira-latas estava longe de ser isolado. Ele tomava conta de vários pontos do país e não era apenas anti-viralatismo; mas também um virulento anti-toyismo.

Para os cães de caça, que se julgavam uma raça superior, os cães toys, de miniatura, eram anões degenerados e precisavam ser definitivamente eliminados. Os vira-latas deveriam ser marginalizados da sociedade: puxar trenós no gelo na Patagônia, trabalhar como cães farejadores em minas de carvão ou ser cães de tribos indígenas no Alto Xingu.

Não demorou para manifestações violentas começarem a ocorrer.  Nos parques, os cães de caça faziam barreiras que impediam vira-latas de entrar. Centenas de poodle toys, yorkshires micro e pinschers também foram atacados ao tentar urinar em muros de casas onde viviam os que se supunham de raça superior.

O Kennel Club procurava manter neutralidade nos episódios, apesar da imprensa especializada em pets começar a pressionar fortemente por uma posição mais clara.

A discórdia canina já preocupava até o governo central. Isto porque as brigas entre os cães aumentava a lotação das carrocinhas, o que onerava o Erário Público.

A situação ganhou contornos críticos quando, numa apresentação de circo, um sabujo atacou um chihuahua equilibrista e o público revoltado tocou fogo na lona.

Era preciso reagir urgentemente. Representantes do Ministérios da Saúde reuniram-se com técnicos em Direitos dos Animais da ONU e propuseram uma resposta imediata à crise. A ideia foi polêmica e muitos dos delegados presentes foram contrários, já que a implementação poderia trazer até mesmo desequilíbrio ambiental. 

Só que, para o bem o para o mal, acabaram aprovando-a: numa madrugada, milhões de gatos foram soltos nas ruas das principais capitais.

Em menos de uma semana não havia mais racismo. Pelo menos entre os cães.

Até então não se sabia que aquilo acontecia entre os cachorros. Mas, um certo dia, um grupo de cães de caça trocava ideia num pet-shop, um poodle ouviu o papo e contou a um fox paulistinha. Foi mais ou menos assim.

"Estamos entre iguais aqui, por isso posso falar à vontade: se tem um cachorro que eu abomino é o vira-lata. " - disse um dos cães de caça.

Houve um consentimento geral entre os outros.  O maior de todos deu um latido concordando:

"Vira-latas são como ratos. Estão em todos os cantos minando o bom nome canino. Não me dirijo a eles. Quando vejo um, com aquele focinho de ratazana, se não estiver de coleira, mudo de calçada."

Um outro acrescentou:

"E o jeito que eles mijam? Com as suas perninhas tortas. E depois ficam raspando o chão com aquelas unhas nojentas, agh!!"

Uma cadela de caça, vestindo uma jaqueta verde-selva, deu seu ponto de vista:

"Pior: eles comem ração como comemos. Se a gente bobear, com essa escassez toda, uma hora não sobra nem passarinha de boi pra gente!"

O ódio em relação aos vira-latas estava longe de ser isolado. Ele tomava conta de vários pontos do país e não era apenas anti-viralatismo; mas também um virulento anti-toyismo.

Para os cães de caça, que se julgavam uma raça superior, os cães toys, de miniatura, eram anões degenerados e precisavam ser definitivamente eliminados. Os vira-latas deveriam ser marginalizados da sociedade: puxar trenós no gelo na Patagônia, trabalhar como cães farejadores em minas de carvão ou ser cães de tribos indígenas no Alto Xingu.

Não demorou para manifestações violentas começarem a ocorrer.  Nos parques, os cães de caça faziam barreiras que impediam vira-latas de entrar. Centenas de poodle toys, yorkshires micro e pinschers também foram atacados ao tentar urinar em muros de casas onde viviam os que se supunham de raça superior.

O Kennel Club procurava manter neutralidade nos episódios, apesar da imprensa especializada em pets começar a pressionar fortemente por uma posição mais clara.

A discórdia canina já preocupava até o governo central. Isto porque as brigas entre os cães aumentava a lotação das carrocinhas, o que onerava o Erário Público.

A situação ganhou contornos críticos quando, numa apresentação de circo, um sabujo atacou um chihuahua equilibrista e o público revoltado tocou fogo na lona.

Era preciso reagir urgentemente. Representantes do Ministérios da Saúde reuniram-se com técnicos em Direitos dos Animais da ONU e propuseram uma resposta imediata à crise. A ideia foi polêmica e muitos dos delegados presentes foram contrários, já que a implementação poderia trazer até mesmo desequilíbrio ambiental. 

Só que, para o bem o para o mal, acabaram aprovando-a: numa madrugada, milhões de gatos foram soltos nas ruas das principais capitais.

Em menos de uma semana não havia mais racismo. Pelo menos entre os cães.

Opinião por Carlos Castelo

Carlos Castelo. Cronista, compositor e frasista. É ainda sócio fundador do grupo de humor Língua de Trapo.

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