Psiquiatria e sociedade

Opinião|A cura para a cura gay


Por Daniel Martins de Barros

Toda doença causa sofrimento, mas nem todo sofrimento pode ser chamado de doença. Isso não significa que as pessoas que sofrem por motivos não patológicos não precisem de atenção e mesmo de cuidados.

O projeto do deputado João Campos, do PSDB-GO, o famigerado projeto da "cura gay" que Marcos Feliciano pretende colocar em votação no próximo dia 8 de maio na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ignora essa diferença básica, misturando sofrimento e doença, e, principalmente, confundindo ciência e política. Explicando: o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu, desde 1999, que os psicólogos do país divulguem ser capazes de curar algum homossexual de sua orientação, bem como de se referir à homossexualidade como doença. A medida, há que se ressaltar, é muito mais para regulamentar o trabalho dos profissionais do que determinar o que é ou não patológico - a definição oficial do que é doença não se dá por uma decisão de um conselho de classe, seja qual for, mas passa por grandes grupos de estudo, seja da Organização Mundial da Saúde ao definir a Classificação Internacional de Doenças, seja da Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Estatístico e Diagnóstico, o DSM. Desde a segunda metade do século XX essas classificações foram excluindo progressivamente a orientação sexual de seus quadros, e hoje já não se associa, em qualquer diálogo em que haja seriedade, homossexualidade e doença. A decisão do CFP, portanto, está alinhada com o conhecimento científico atual, e contribuiu em muito para a redução do estigma que pesa sobre os homossexuais.

Levando em conta a distinção entre sofrimento e doença, contudo, fica claro como o argumento do projeto de Campos, de que a resolução do CFP impede a liberdade profissional é falacioso. As pessoas podem sofrer pelos mais variados motivos - podem sofrer por serem mais baixas do que a média, por exemplo, ou por não serem correspondidas no amor. E não é raro que homossexuais sofram por conta de sua orientação - seja por pressão da família, por inadequação ao contexto ou mesmo por crises religiosas, as pessoas podem não se sentir confortáveis e buscar ajuda. Essas pessoas podem muito bem procurar psicólogos, e os objetivos dessa terapia devem ser definidos entre o profissional e seu paciente. Nada impede que a pessoa não queira viver sua homossexualidade, quando então o tratamento pode se voltar para ajudá-la a lidar com o fardo de tal decisão.

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Isso é muito diferente, no entanto, de propalar alguma "cura" para os gays, como se fosse possível mudar o objeto de atração sexual.

Toda doença causa sofrimento, mas nem todo sofrimento pode ser chamado de doença. Isso não significa que as pessoas que sofrem por motivos não patológicos não precisem de atenção e mesmo de cuidados.

O projeto do deputado João Campos, do PSDB-GO, o famigerado projeto da "cura gay" que Marcos Feliciano pretende colocar em votação no próximo dia 8 de maio na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ignora essa diferença básica, misturando sofrimento e doença, e, principalmente, confundindo ciência e política. Explicando: o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu, desde 1999, que os psicólogos do país divulguem ser capazes de curar algum homossexual de sua orientação, bem como de se referir à homossexualidade como doença. A medida, há que se ressaltar, é muito mais para regulamentar o trabalho dos profissionais do que determinar o que é ou não patológico - a definição oficial do que é doença não se dá por uma decisão de um conselho de classe, seja qual for, mas passa por grandes grupos de estudo, seja da Organização Mundial da Saúde ao definir a Classificação Internacional de Doenças, seja da Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Estatístico e Diagnóstico, o DSM. Desde a segunda metade do século XX essas classificações foram excluindo progressivamente a orientação sexual de seus quadros, e hoje já não se associa, em qualquer diálogo em que haja seriedade, homossexualidade e doença. A decisão do CFP, portanto, está alinhada com o conhecimento científico atual, e contribuiu em muito para a redução do estigma que pesa sobre os homossexuais.

Levando em conta a distinção entre sofrimento e doença, contudo, fica claro como o argumento do projeto de Campos, de que a resolução do CFP impede a liberdade profissional é falacioso. As pessoas podem sofrer pelos mais variados motivos - podem sofrer por serem mais baixas do que a média, por exemplo, ou por não serem correspondidas no amor. E não é raro que homossexuais sofram por conta de sua orientação - seja por pressão da família, por inadequação ao contexto ou mesmo por crises religiosas, as pessoas podem não se sentir confortáveis e buscar ajuda. Essas pessoas podem muito bem procurar psicólogos, e os objetivos dessa terapia devem ser definidos entre o profissional e seu paciente. Nada impede que a pessoa não queira viver sua homossexualidade, quando então o tratamento pode se voltar para ajudá-la a lidar com o fardo de tal decisão.

Isso é muito diferente, no entanto, de propalar alguma "cura" para os gays, como se fosse possível mudar o objeto de atração sexual.

Toda doença causa sofrimento, mas nem todo sofrimento pode ser chamado de doença. Isso não significa que as pessoas que sofrem por motivos não patológicos não precisem de atenção e mesmo de cuidados.

O projeto do deputado João Campos, do PSDB-GO, o famigerado projeto da "cura gay" que Marcos Feliciano pretende colocar em votação no próximo dia 8 de maio na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ignora essa diferença básica, misturando sofrimento e doença, e, principalmente, confundindo ciência e política. Explicando: o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu, desde 1999, que os psicólogos do país divulguem ser capazes de curar algum homossexual de sua orientação, bem como de se referir à homossexualidade como doença. A medida, há que se ressaltar, é muito mais para regulamentar o trabalho dos profissionais do que determinar o que é ou não patológico - a definição oficial do que é doença não se dá por uma decisão de um conselho de classe, seja qual for, mas passa por grandes grupos de estudo, seja da Organização Mundial da Saúde ao definir a Classificação Internacional de Doenças, seja da Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Estatístico e Diagnóstico, o DSM. Desde a segunda metade do século XX essas classificações foram excluindo progressivamente a orientação sexual de seus quadros, e hoje já não se associa, em qualquer diálogo em que haja seriedade, homossexualidade e doença. A decisão do CFP, portanto, está alinhada com o conhecimento científico atual, e contribuiu em muito para a redução do estigma que pesa sobre os homossexuais.

Levando em conta a distinção entre sofrimento e doença, contudo, fica claro como o argumento do projeto de Campos, de que a resolução do CFP impede a liberdade profissional é falacioso. As pessoas podem sofrer pelos mais variados motivos - podem sofrer por serem mais baixas do que a média, por exemplo, ou por não serem correspondidas no amor. E não é raro que homossexuais sofram por conta de sua orientação - seja por pressão da família, por inadequação ao contexto ou mesmo por crises religiosas, as pessoas podem não se sentir confortáveis e buscar ajuda. Essas pessoas podem muito bem procurar psicólogos, e os objetivos dessa terapia devem ser definidos entre o profissional e seu paciente. Nada impede que a pessoa não queira viver sua homossexualidade, quando então o tratamento pode se voltar para ajudá-la a lidar com o fardo de tal decisão.

Isso é muito diferente, no entanto, de propalar alguma "cura" para os gays, como se fosse possível mudar o objeto de atração sexual.

Toda doença causa sofrimento, mas nem todo sofrimento pode ser chamado de doença. Isso não significa que as pessoas que sofrem por motivos não patológicos não precisem de atenção e mesmo de cuidados.

O projeto do deputado João Campos, do PSDB-GO, o famigerado projeto da "cura gay" que Marcos Feliciano pretende colocar em votação no próximo dia 8 de maio na Comissão de Direitos Humanos e Minorias, ignora essa diferença básica, misturando sofrimento e doença, e, principalmente, confundindo ciência e política. Explicando: o Conselho Federal de Psicologia (CFP) proibiu, desde 1999, que os psicólogos do país divulguem ser capazes de curar algum homossexual de sua orientação, bem como de se referir à homossexualidade como doença. A medida, há que se ressaltar, é muito mais para regulamentar o trabalho dos profissionais do que determinar o que é ou não patológico - a definição oficial do que é doença não se dá por uma decisão de um conselho de classe, seja qual for, mas passa por grandes grupos de estudo, seja da Organização Mundial da Saúde ao definir a Classificação Internacional de Doenças, seja da Associação Americana de Psiquiatria no seu Manual Estatístico e Diagnóstico, o DSM. Desde a segunda metade do século XX essas classificações foram excluindo progressivamente a orientação sexual de seus quadros, e hoje já não se associa, em qualquer diálogo em que haja seriedade, homossexualidade e doença. A decisão do CFP, portanto, está alinhada com o conhecimento científico atual, e contribuiu em muito para a redução do estigma que pesa sobre os homossexuais.

Levando em conta a distinção entre sofrimento e doença, contudo, fica claro como o argumento do projeto de Campos, de que a resolução do CFP impede a liberdade profissional é falacioso. As pessoas podem sofrer pelos mais variados motivos - podem sofrer por serem mais baixas do que a média, por exemplo, ou por não serem correspondidas no amor. E não é raro que homossexuais sofram por conta de sua orientação - seja por pressão da família, por inadequação ao contexto ou mesmo por crises religiosas, as pessoas podem não se sentir confortáveis e buscar ajuda. Essas pessoas podem muito bem procurar psicólogos, e os objetivos dessa terapia devem ser definidos entre o profissional e seu paciente. Nada impede que a pessoa não queira viver sua homossexualidade, quando então o tratamento pode se voltar para ajudá-la a lidar com o fardo de tal decisão.

Isso é muito diferente, no entanto, de propalar alguma "cura" para os gays, como se fosse possível mudar o objeto de atração sexual.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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