Psiquiatria e sociedade

Opinião|Dinheiro nos faz egoístas - Mentes corrompidas, parte 4


Dinheiro traz corrupção? Não necessariamente, mas a sua presença nos faz mais individualistas, egoístas, menos inclinados ao próximo. Pode não ser suficiente para tornar alguém corrupto, mas que ajuda, ajuda.

Por Daniel Martins de Barros

Corrupção é praticamente sinônimo de desvio de dinheiro. A palavra até tem outros significados, mas o uso do dinheiro de forma imprópria para obtenção de alguma vantagem é tão forte que quando ouvimos a palavra corrupto, logo pensamos nele. E o dinheiro é de fato um dos mais fortes fatores de risco para a corrupção.

Vários estudos, em diversas culturas, apontam para o mesmo fenômeno: quando somos levados a pensar no conceito de dinheiro tornamo-nos mais individualistas, autossuficientes, menos altruístas e mais indiferentes ao outro. Em experimentos conduzidos com voluntários, aqueles lembrados do vil metal demoravam o dobro de tempo para pedir ajuda na realização de tarefas difíceis, por exemplo, e gastavam quase metade do tempo ajudando alguém. Quando lhes era dada oportunidade de contribuir financeiramente para uma causa, doavam 42% a menos do que os outros. Num dos testes mais curiosos o pesquisador derrubava uma caixa de lápis na frente dos sujeitos, e aqueles que estavam com dinheiro na cabeça recolheram 10% a menos de lápis. Não só isso: ao serem orientados a formarem duplas, eles se sentavam mais longe de seus pares, e mesmo quando atuar em grupo aliviaria a carga de trabalho, 83% escolhia trabalhar sozinho, contra 31% dos outros.

Cientistas de Singapura resolveram testar se esses efeitos também aconteceriam entre pessoas conhecidas, e não apenas entre estranhos como no caso das pesquisas americanas. Testaram alunos na Índia, onde ajudar os outros é um dever moral ainda por cima, e obtiveram resultados semelhantes. Alunos levados a pensar em dinheiro gastavam menos tempo ajudando o pesquisador, e sentiam menos responsabilidade moral de ajudar o próximo (a não ser sem situações graves, como doar sangue para alguém necessitando - nesse caso não houve diferenças). Os mesmos cientistas testaram, agora em americanos, se esses efeitos aconteceriam em casais. E - surpresa - quem teve o raciocínio desviado para cálculos financeiros sentia-se menos disposto a ajudar o parceiro romântico, e mais chateado se fosse obrigado a fazê-lo.

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Não conheço estudos dessa linha feito especificamente com dinheiro de corrupção, mas dá para suspeitar o cenário seja ainda pior. Se a mera ideia de dinheiro faz o que faz com voluntários normais, imagine o que malas cheias de notas ou dígitos cheios de zeros podem fazer pelos corruptos, que superaram suas barreiras moras e conseguiram se justificar para si mesmos.

A solução não pode ser abolir o dinheiro, obviamente. Mas pode ser pensar menos nele. Dar mais valor àquilo que não tem preço. Afinal, como já disse antes, quando ter se torna mais importante do que ser, passamos a tratar as coisas como se fossem pessoas. E vice-versa.

Corrupção é praticamente sinônimo de desvio de dinheiro. A palavra até tem outros significados, mas o uso do dinheiro de forma imprópria para obtenção de alguma vantagem é tão forte que quando ouvimos a palavra corrupto, logo pensamos nele. E o dinheiro é de fato um dos mais fortes fatores de risco para a corrupção.

Vários estudos, em diversas culturas, apontam para o mesmo fenômeno: quando somos levados a pensar no conceito de dinheiro tornamo-nos mais individualistas, autossuficientes, menos altruístas e mais indiferentes ao outro. Em experimentos conduzidos com voluntários, aqueles lembrados do vil metal demoravam o dobro de tempo para pedir ajuda na realização de tarefas difíceis, por exemplo, e gastavam quase metade do tempo ajudando alguém. Quando lhes era dada oportunidade de contribuir financeiramente para uma causa, doavam 42% a menos do que os outros. Num dos testes mais curiosos o pesquisador derrubava uma caixa de lápis na frente dos sujeitos, e aqueles que estavam com dinheiro na cabeça recolheram 10% a menos de lápis. Não só isso: ao serem orientados a formarem duplas, eles se sentavam mais longe de seus pares, e mesmo quando atuar em grupo aliviaria a carga de trabalho, 83% escolhia trabalhar sozinho, contra 31% dos outros.

Cientistas de Singapura resolveram testar se esses efeitos também aconteceriam entre pessoas conhecidas, e não apenas entre estranhos como no caso das pesquisas americanas. Testaram alunos na Índia, onde ajudar os outros é um dever moral ainda por cima, e obtiveram resultados semelhantes. Alunos levados a pensar em dinheiro gastavam menos tempo ajudando o pesquisador, e sentiam menos responsabilidade moral de ajudar o próximo (a não ser sem situações graves, como doar sangue para alguém necessitando - nesse caso não houve diferenças). Os mesmos cientistas testaram, agora em americanos, se esses efeitos aconteceriam em casais. E - surpresa - quem teve o raciocínio desviado para cálculos financeiros sentia-se menos disposto a ajudar o parceiro romântico, e mais chateado se fosse obrigado a fazê-lo.

Não conheço estudos dessa linha feito especificamente com dinheiro de corrupção, mas dá para suspeitar o cenário seja ainda pior. Se a mera ideia de dinheiro faz o que faz com voluntários normais, imagine o que malas cheias de notas ou dígitos cheios de zeros podem fazer pelos corruptos, que superaram suas barreiras moras e conseguiram se justificar para si mesmos.

A solução não pode ser abolir o dinheiro, obviamente. Mas pode ser pensar menos nele. Dar mais valor àquilo que não tem preço. Afinal, como já disse antes, quando ter se torna mais importante do que ser, passamos a tratar as coisas como se fossem pessoas. E vice-versa.

Corrupção é praticamente sinônimo de desvio de dinheiro. A palavra até tem outros significados, mas o uso do dinheiro de forma imprópria para obtenção de alguma vantagem é tão forte que quando ouvimos a palavra corrupto, logo pensamos nele. E o dinheiro é de fato um dos mais fortes fatores de risco para a corrupção.

Vários estudos, em diversas culturas, apontam para o mesmo fenômeno: quando somos levados a pensar no conceito de dinheiro tornamo-nos mais individualistas, autossuficientes, menos altruístas e mais indiferentes ao outro. Em experimentos conduzidos com voluntários, aqueles lembrados do vil metal demoravam o dobro de tempo para pedir ajuda na realização de tarefas difíceis, por exemplo, e gastavam quase metade do tempo ajudando alguém. Quando lhes era dada oportunidade de contribuir financeiramente para uma causa, doavam 42% a menos do que os outros. Num dos testes mais curiosos o pesquisador derrubava uma caixa de lápis na frente dos sujeitos, e aqueles que estavam com dinheiro na cabeça recolheram 10% a menos de lápis. Não só isso: ao serem orientados a formarem duplas, eles se sentavam mais longe de seus pares, e mesmo quando atuar em grupo aliviaria a carga de trabalho, 83% escolhia trabalhar sozinho, contra 31% dos outros.

Cientistas de Singapura resolveram testar se esses efeitos também aconteceriam entre pessoas conhecidas, e não apenas entre estranhos como no caso das pesquisas americanas. Testaram alunos na Índia, onde ajudar os outros é um dever moral ainda por cima, e obtiveram resultados semelhantes. Alunos levados a pensar em dinheiro gastavam menos tempo ajudando o pesquisador, e sentiam menos responsabilidade moral de ajudar o próximo (a não ser sem situações graves, como doar sangue para alguém necessitando - nesse caso não houve diferenças). Os mesmos cientistas testaram, agora em americanos, se esses efeitos aconteceriam em casais. E - surpresa - quem teve o raciocínio desviado para cálculos financeiros sentia-se menos disposto a ajudar o parceiro romântico, e mais chateado se fosse obrigado a fazê-lo.

Não conheço estudos dessa linha feito especificamente com dinheiro de corrupção, mas dá para suspeitar o cenário seja ainda pior. Se a mera ideia de dinheiro faz o que faz com voluntários normais, imagine o que malas cheias de notas ou dígitos cheios de zeros podem fazer pelos corruptos, que superaram suas barreiras moras e conseguiram se justificar para si mesmos.

A solução não pode ser abolir o dinheiro, obviamente. Mas pode ser pensar menos nele. Dar mais valor àquilo que não tem preço. Afinal, como já disse antes, quando ter se torna mais importante do que ser, passamos a tratar as coisas como se fossem pessoas. E vice-versa.

Corrupção é praticamente sinônimo de desvio de dinheiro. A palavra até tem outros significados, mas o uso do dinheiro de forma imprópria para obtenção de alguma vantagem é tão forte que quando ouvimos a palavra corrupto, logo pensamos nele. E o dinheiro é de fato um dos mais fortes fatores de risco para a corrupção.

Vários estudos, em diversas culturas, apontam para o mesmo fenômeno: quando somos levados a pensar no conceito de dinheiro tornamo-nos mais individualistas, autossuficientes, menos altruístas e mais indiferentes ao outro. Em experimentos conduzidos com voluntários, aqueles lembrados do vil metal demoravam o dobro de tempo para pedir ajuda na realização de tarefas difíceis, por exemplo, e gastavam quase metade do tempo ajudando alguém. Quando lhes era dada oportunidade de contribuir financeiramente para uma causa, doavam 42% a menos do que os outros. Num dos testes mais curiosos o pesquisador derrubava uma caixa de lápis na frente dos sujeitos, e aqueles que estavam com dinheiro na cabeça recolheram 10% a menos de lápis. Não só isso: ao serem orientados a formarem duplas, eles se sentavam mais longe de seus pares, e mesmo quando atuar em grupo aliviaria a carga de trabalho, 83% escolhia trabalhar sozinho, contra 31% dos outros.

Cientistas de Singapura resolveram testar se esses efeitos também aconteceriam entre pessoas conhecidas, e não apenas entre estranhos como no caso das pesquisas americanas. Testaram alunos na Índia, onde ajudar os outros é um dever moral ainda por cima, e obtiveram resultados semelhantes. Alunos levados a pensar em dinheiro gastavam menos tempo ajudando o pesquisador, e sentiam menos responsabilidade moral de ajudar o próximo (a não ser sem situações graves, como doar sangue para alguém necessitando - nesse caso não houve diferenças). Os mesmos cientistas testaram, agora em americanos, se esses efeitos aconteceriam em casais. E - surpresa - quem teve o raciocínio desviado para cálculos financeiros sentia-se menos disposto a ajudar o parceiro romântico, e mais chateado se fosse obrigado a fazê-lo.

Não conheço estudos dessa linha feito especificamente com dinheiro de corrupção, mas dá para suspeitar o cenário seja ainda pior. Se a mera ideia de dinheiro faz o que faz com voluntários normais, imagine o que malas cheias de notas ou dígitos cheios de zeros podem fazer pelos corruptos, que superaram suas barreiras moras e conseguiram se justificar para si mesmos.

A solução não pode ser abolir o dinheiro, obviamente. Mas pode ser pensar menos nele. Dar mais valor àquilo que não tem preço. Afinal, como já disse antes, quando ter se torna mais importante do que ser, passamos a tratar as coisas como se fossem pessoas. E vice-versa.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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