Psiquiatria e sociedade

Opinião|O real mistério do vestido é: por que raios fez tanto sucesso?


A sedução da ilusão de ótica, o instinto de manada e o gosto por polêmicas - receita perfeita para um vestido mobilizar a internet.

Por Daniel Martins de Barros

Fazia tempo que um assunto só não causava tanto barulho no mundo - esqueça Oscar, guerra, corrupção, o que dominou as atenções no planeta inteiro foi a bendita cor do vestido. Começou na internet e viralizou de tal maneira que emissoras de TV, rádio e jornais entraram na discussão. Mas por que tamanha repercussão?

Antes de mais nada, se você ainda não sabe, o vestido original é azul e preto mesmo. Mas a foto postada no tumblr, que rodou o mundo, tem uma luminosidade ambígua, dando margem para que o cérebro interprete as cores de forma diferente. Sim, porque a realidade é menos objetiva do que pensamos: as cores, sobretudo, não "existem", elas são uma interação entre a radiação luminosa, os objetos (que refletem diferentes comprimentos de onda de luz), nossa retina, que recebe esse reflexo e os transforma em impulsos elétricos, e nosso cérebro, que interpreta tais estímulos levando em conta diversas variáveis, como contexto, histórico de percepções anteriores etc. Assim, o cérebro de uns atribui uma determinada luminosidade à cena em torno do vestido, vendo-o de uma cor, mas com outras pessoas esse pressuposto do cérebro pode ser diferente.

Mas o mais interessante na história toda foi o volume de discussão que o assunto gerou. Creio que três motivos expliquem o fenômeno.

continua após a publicidade

Em primeiro, as ilusões de ótica tem um grande apelo para nós. Sermos desafiados em nossas percepções, dando-nos conta de que o mundo não é algo estático e objetivo, mas fluido e que pode enganar nossos sentidos é fascinante e assustador. Casos como o do vestido nos mostram que as coisas podem não ser o que parecem, que o mundo pode ser diferente do que imaginamos. Esse estranhamento é bastante sedutor.

Além disso, há o componente do instinto de manada. Nós somos seres sociais, temos necessidade de pertencer e fazer parte de grupos. Por isso, quando temos a sensação de que todo mundo está indo numa direção, fazendo algo ou falando de um tema, automaticamente somos tentados a nos juntar ao rebanho, ficando ansiosos e aflitos se não tomamos parte do grupo. Com isso, quanto mais os assuntos crescem nas redes sociais, mais tendem a crescer, chegando a extremos como o do vestido.

E por fim há o tempero da polêmica. Nós adoramos discutir: na hora em que alguém discorda de nós, automaticamente passamos a defender nosso ponto de vista, mesmo que não estejamos assim tão convictos. E esse instinto é reforçado quando vemos que temos aliados, passando a dividir o mundo entre "nós e eles". No caso do vestido, a divisão das pessoas entre as que viam azul e preto ou branco e dourado criou um ambiente perfeito para tais embates tão instintivos no ser humano.

continua após a publicidade

Mas a grande lição que fica, ao menos para mim, é que muitas vezes discutimos e nos colocamos em lados opostos quando, na verdade, estamos falando da mesma coisa. Uns vêem de um jeito, outros de outro, mas a realidade é a mesma, e a beleza (e o desafio) da vida é unirmos nossas visões diferentes para criar uma vida de complementariedade.

Fazia tempo que um assunto só não causava tanto barulho no mundo - esqueça Oscar, guerra, corrupção, o que dominou as atenções no planeta inteiro foi a bendita cor do vestido. Começou na internet e viralizou de tal maneira que emissoras de TV, rádio e jornais entraram na discussão. Mas por que tamanha repercussão?

Antes de mais nada, se você ainda não sabe, o vestido original é azul e preto mesmo. Mas a foto postada no tumblr, que rodou o mundo, tem uma luminosidade ambígua, dando margem para que o cérebro interprete as cores de forma diferente. Sim, porque a realidade é menos objetiva do que pensamos: as cores, sobretudo, não "existem", elas são uma interação entre a radiação luminosa, os objetos (que refletem diferentes comprimentos de onda de luz), nossa retina, que recebe esse reflexo e os transforma em impulsos elétricos, e nosso cérebro, que interpreta tais estímulos levando em conta diversas variáveis, como contexto, histórico de percepções anteriores etc. Assim, o cérebro de uns atribui uma determinada luminosidade à cena em torno do vestido, vendo-o de uma cor, mas com outras pessoas esse pressuposto do cérebro pode ser diferente.

Mas o mais interessante na história toda foi o volume de discussão que o assunto gerou. Creio que três motivos expliquem o fenômeno.

Em primeiro, as ilusões de ótica tem um grande apelo para nós. Sermos desafiados em nossas percepções, dando-nos conta de que o mundo não é algo estático e objetivo, mas fluido e que pode enganar nossos sentidos é fascinante e assustador. Casos como o do vestido nos mostram que as coisas podem não ser o que parecem, que o mundo pode ser diferente do que imaginamos. Esse estranhamento é bastante sedutor.

Além disso, há o componente do instinto de manada. Nós somos seres sociais, temos necessidade de pertencer e fazer parte de grupos. Por isso, quando temos a sensação de que todo mundo está indo numa direção, fazendo algo ou falando de um tema, automaticamente somos tentados a nos juntar ao rebanho, ficando ansiosos e aflitos se não tomamos parte do grupo. Com isso, quanto mais os assuntos crescem nas redes sociais, mais tendem a crescer, chegando a extremos como o do vestido.

E por fim há o tempero da polêmica. Nós adoramos discutir: na hora em que alguém discorda de nós, automaticamente passamos a defender nosso ponto de vista, mesmo que não estejamos assim tão convictos. E esse instinto é reforçado quando vemos que temos aliados, passando a dividir o mundo entre "nós e eles". No caso do vestido, a divisão das pessoas entre as que viam azul e preto ou branco e dourado criou um ambiente perfeito para tais embates tão instintivos no ser humano.

Mas a grande lição que fica, ao menos para mim, é que muitas vezes discutimos e nos colocamos em lados opostos quando, na verdade, estamos falando da mesma coisa. Uns vêem de um jeito, outros de outro, mas a realidade é a mesma, e a beleza (e o desafio) da vida é unirmos nossas visões diferentes para criar uma vida de complementariedade.

Fazia tempo que um assunto só não causava tanto barulho no mundo - esqueça Oscar, guerra, corrupção, o que dominou as atenções no planeta inteiro foi a bendita cor do vestido. Começou na internet e viralizou de tal maneira que emissoras de TV, rádio e jornais entraram na discussão. Mas por que tamanha repercussão?

Antes de mais nada, se você ainda não sabe, o vestido original é azul e preto mesmo. Mas a foto postada no tumblr, que rodou o mundo, tem uma luminosidade ambígua, dando margem para que o cérebro interprete as cores de forma diferente. Sim, porque a realidade é menos objetiva do que pensamos: as cores, sobretudo, não "existem", elas são uma interação entre a radiação luminosa, os objetos (que refletem diferentes comprimentos de onda de luz), nossa retina, que recebe esse reflexo e os transforma em impulsos elétricos, e nosso cérebro, que interpreta tais estímulos levando em conta diversas variáveis, como contexto, histórico de percepções anteriores etc. Assim, o cérebro de uns atribui uma determinada luminosidade à cena em torno do vestido, vendo-o de uma cor, mas com outras pessoas esse pressuposto do cérebro pode ser diferente.

Mas o mais interessante na história toda foi o volume de discussão que o assunto gerou. Creio que três motivos expliquem o fenômeno.

Em primeiro, as ilusões de ótica tem um grande apelo para nós. Sermos desafiados em nossas percepções, dando-nos conta de que o mundo não é algo estático e objetivo, mas fluido e que pode enganar nossos sentidos é fascinante e assustador. Casos como o do vestido nos mostram que as coisas podem não ser o que parecem, que o mundo pode ser diferente do que imaginamos. Esse estranhamento é bastante sedutor.

Além disso, há o componente do instinto de manada. Nós somos seres sociais, temos necessidade de pertencer e fazer parte de grupos. Por isso, quando temos a sensação de que todo mundo está indo numa direção, fazendo algo ou falando de um tema, automaticamente somos tentados a nos juntar ao rebanho, ficando ansiosos e aflitos se não tomamos parte do grupo. Com isso, quanto mais os assuntos crescem nas redes sociais, mais tendem a crescer, chegando a extremos como o do vestido.

E por fim há o tempero da polêmica. Nós adoramos discutir: na hora em que alguém discorda de nós, automaticamente passamos a defender nosso ponto de vista, mesmo que não estejamos assim tão convictos. E esse instinto é reforçado quando vemos que temos aliados, passando a dividir o mundo entre "nós e eles". No caso do vestido, a divisão das pessoas entre as que viam azul e preto ou branco e dourado criou um ambiente perfeito para tais embates tão instintivos no ser humano.

Mas a grande lição que fica, ao menos para mim, é que muitas vezes discutimos e nos colocamos em lados opostos quando, na verdade, estamos falando da mesma coisa. Uns vêem de um jeito, outros de outro, mas a realidade é a mesma, e a beleza (e o desafio) da vida é unirmos nossas visões diferentes para criar uma vida de complementariedade.

Fazia tempo que um assunto só não causava tanto barulho no mundo - esqueça Oscar, guerra, corrupção, o que dominou as atenções no planeta inteiro foi a bendita cor do vestido. Começou na internet e viralizou de tal maneira que emissoras de TV, rádio e jornais entraram na discussão. Mas por que tamanha repercussão?

Antes de mais nada, se você ainda não sabe, o vestido original é azul e preto mesmo. Mas a foto postada no tumblr, que rodou o mundo, tem uma luminosidade ambígua, dando margem para que o cérebro interprete as cores de forma diferente. Sim, porque a realidade é menos objetiva do que pensamos: as cores, sobretudo, não "existem", elas são uma interação entre a radiação luminosa, os objetos (que refletem diferentes comprimentos de onda de luz), nossa retina, que recebe esse reflexo e os transforma em impulsos elétricos, e nosso cérebro, que interpreta tais estímulos levando em conta diversas variáveis, como contexto, histórico de percepções anteriores etc. Assim, o cérebro de uns atribui uma determinada luminosidade à cena em torno do vestido, vendo-o de uma cor, mas com outras pessoas esse pressuposto do cérebro pode ser diferente.

Mas o mais interessante na história toda foi o volume de discussão que o assunto gerou. Creio que três motivos expliquem o fenômeno.

Em primeiro, as ilusões de ótica tem um grande apelo para nós. Sermos desafiados em nossas percepções, dando-nos conta de que o mundo não é algo estático e objetivo, mas fluido e que pode enganar nossos sentidos é fascinante e assustador. Casos como o do vestido nos mostram que as coisas podem não ser o que parecem, que o mundo pode ser diferente do que imaginamos. Esse estranhamento é bastante sedutor.

Além disso, há o componente do instinto de manada. Nós somos seres sociais, temos necessidade de pertencer e fazer parte de grupos. Por isso, quando temos a sensação de que todo mundo está indo numa direção, fazendo algo ou falando de um tema, automaticamente somos tentados a nos juntar ao rebanho, ficando ansiosos e aflitos se não tomamos parte do grupo. Com isso, quanto mais os assuntos crescem nas redes sociais, mais tendem a crescer, chegando a extremos como o do vestido.

E por fim há o tempero da polêmica. Nós adoramos discutir: na hora em que alguém discorda de nós, automaticamente passamos a defender nosso ponto de vista, mesmo que não estejamos assim tão convictos. E esse instinto é reforçado quando vemos que temos aliados, passando a dividir o mundo entre "nós e eles". No caso do vestido, a divisão das pessoas entre as que viam azul e preto ou branco e dourado criou um ambiente perfeito para tais embates tão instintivos no ser humano.

Mas a grande lição que fica, ao menos para mim, é que muitas vezes discutimos e nos colocamos em lados opostos quando, na verdade, estamos falando da mesma coisa. Uns vêem de um jeito, outros de outro, mas a realidade é a mesma, e a beleza (e o desafio) da vida é unirmos nossas visões diferentes para criar uma vida de complementariedade.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.