Psiquiatria e sociedade

Opinião|Rir dos políticos (e dos jogadores) é sempre um bom remédio


Só tem um jeito de uma figura proeminente deixar de ser piada. Deixar de ser proeminente.

Por Daniel Martins de Barros
 Foto: Estadão

"É fácil ser humorista quando você tem o governo inteiro trabalhando para você", já dizia o ator Will Rogers no começo do século passado.

Figuras proeminentes, afinal, são alvos privilegiados de sátira por diversos motivos: o público conhece os personagens e suas principais características, o que já facilita a vida do humorista. O fato de suas imagens serem públicas cria muitas oportunidades para a sátira, pois o riso se alimenta da incongruência e das ofensas. O sujeito que vende uma imagem que não corresponde à verdade está dando munição para os comediantes explorarem essa incongruência. Além do quê, como muitas vezes projetamos nessas figuras aspectos negativos como insatisfação, inveja e até raiva, a ofensa inerente ao humor também encontra terreno fértil.

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Dizem que o bobo da corte era o homem mais temido pelos reis. Não é à toa que os ditadores ficam apavorados diante das caricaturas e das charges, que vivem a censurar.  O exagero dessas piadas nos fazem refletir sobre alguns traços marcantes - e nem sempre dignos - dos poderosos. E eles morrem de medo de que o som das gargalhadas rompa a carapaça de autoridade que eles tanto se esforçam para criar e manter. No Brasil os políticos recentemente tentaram proibir que emissoras de rádio e TV fizessem troça com os candidatos nos três meses que antecedem as eleições. A constitucionalidade desse trecho do projeto de lei de reforma eleitoral de 2009 foi questionado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e na semana passada o STF decidiu por unanimidade liberar a zoeira. Para desespero dos políticos.

Mas nesses tempos de Copa do Mundo, em que tudo gravita em torno do esporte, podemos ver como o humor não persegue apenas políticos. A quantidade de piadas e memes produzidos por jogos é impressionante. Cada vez que o Neymar cai ele quase derruba junto a internet, tamanho o tráfego de montagens que surgem satirizando seu comportamento. Ouvi de fonte não segura que ele é muito preocupado com o que falam dele nas redes sociais, ao contrário de outros astros da bola. Uma das funções dos seus amigos seria justamente monitorar os memes e tentar rebater as críticas.

Sempre que temos que lidar com algo que nos incomoda podemos ter certeza que buscaremos alívio no riso. Por isso é tão inútil os políticos censurarem os comediantes como os parças do Neymar tentarem rebater os memes sobre o jogador. Pois seja diante da tensão com os jogos da seleção, seja pela incerteza com os rumos da política, nada como uma boa piada para nos fazer seguir em frente.

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Leitura mental

 Foto: Estadão
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Outra maneira de lidar com nossos medos é por meio da literatura. Os mitos surgiram e se perpetuaram na nossa história exatamente por nos ajudar a refletir - e lidar - com questões tão humanas que nos perturbam desde a antiguidade. O escritor Robert Graves compilou a principal mitologia da nossa cultura, a grega, numa forma narrativa que facilita a leitura enquanto mantém o rigor histórico. Lançada como um box de dois volumes, Os mitos gregos (Nova Fronteira, 2018), é uma obra de referência em português para quem quer conhecer melhor essas histórias que, falando de deuses e semideuses, dizem tanto a respeito de nós mesmos.

 Foto: Estadão

"É fácil ser humorista quando você tem o governo inteiro trabalhando para você", já dizia o ator Will Rogers no começo do século passado.

Figuras proeminentes, afinal, são alvos privilegiados de sátira por diversos motivos: o público conhece os personagens e suas principais características, o que já facilita a vida do humorista. O fato de suas imagens serem públicas cria muitas oportunidades para a sátira, pois o riso se alimenta da incongruência e das ofensas. O sujeito que vende uma imagem que não corresponde à verdade está dando munição para os comediantes explorarem essa incongruência. Além do quê, como muitas vezes projetamos nessas figuras aspectos negativos como insatisfação, inveja e até raiva, a ofensa inerente ao humor também encontra terreno fértil.

Dizem que o bobo da corte era o homem mais temido pelos reis. Não é à toa que os ditadores ficam apavorados diante das caricaturas e das charges, que vivem a censurar.  O exagero dessas piadas nos fazem refletir sobre alguns traços marcantes - e nem sempre dignos - dos poderosos. E eles morrem de medo de que o som das gargalhadas rompa a carapaça de autoridade que eles tanto se esforçam para criar e manter. No Brasil os políticos recentemente tentaram proibir que emissoras de rádio e TV fizessem troça com os candidatos nos três meses que antecedem as eleições. A constitucionalidade desse trecho do projeto de lei de reforma eleitoral de 2009 foi questionado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e na semana passada o STF decidiu por unanimidade liberar a zoeira. Para desespero dos políticos.

Mas nesses tempos de Copa do Mundo, em que tudo gravita em torno do esporte, podemos ver como o humor não persegue apenas políticos. A quantidade de piadas e memes produzidos por jogos é impressionante. Cada vez que o Neymar cai ele quase derruba junto a internet, tamanho o tráfego de montagens que surgem satirizando seu comportamento. Ouvi de fonte não segura que ele é muito preocupado com o que falam dele nas redes sociais, ao contrário de outros astros da bola. Uma das funções dos seus amigos seria justamente monitorar os memes e tentar rebater as críticas.

Sempre que temos que lidar com algo que nos incomoda podemos ter certeza que buscaremos alívio no riso. Por isso é tão inútil os políticos censurarem os comediantes como os parças do Neymar tentarem rebater os memes sobre o jogador. Pois seja diante da tensão com os jogos da seleção, seja pela incerteza com os rumos da política, nada como uma boa piada para nos fazer seguir em frente.

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Outra maneira de lidar com nossos medos é por meio da literatura. Os mitos surgiram e se perpetuaram na nossa história exatamente por nos ajudar a refletir - e lidar - com questões tão humanas que nos perturbam desde a antiguidade. O escritor Robert Graves compilou a principal mitologia da nossa cultura, a grega, numa forma narrativa que facilita a leitura enquanto mantém o rigor histórico. Lançada como um box de dois volumes, Os mitos gregos (Nova Fronteira, 2018), é uma obra de referência em português para quem quer conhecer melhor essas histórias que, falando de deuses e semideuses, dizem tanto a respeito de nós mesmos.

 Foto: Estadão

"É fácil ser humorista quando você tem o governo inteiro trabalhando para você", já dizia o ator Will Rogers no começo do século passado.

Figuras proeminentes, afinal, são alvos privilegiados de sátira por diversos motivos: o público conhece os personagens e suas principais características, o que já facilita a vida do humorista. O fato de suas imagens serem públicas cria muitas oportunidades para a sátira, pois o riso se alimenta da incongruência e das ofensas. O sujeito que vende uma imagem que não corresponde à verdade está dando munição para os comediantes explorarem essa incongruência. Além do quê, como muitas vezes projetamos nessas figuras aspectos negativos como insatisfação, inveja e até raiva, a ofensa inerente ao humor também encontra terreno fértil.

Dizem que o bobo da corte era o homem mais temido pelos reis. Não é à toa que os ditadores ficam apavorados diante das caricaturas e das charges, que vivem a censurar.  O exagero dessas piadas nos fazem refletir sobre alguns traços marcantes - e nem sempre dignos - dos poderosos. E eles morrem de medo de que o som das gargalhadas rompa a carapaça de autoridade que eles tanto se esforçam para criar e manter. No Brasil os políticos recentemente tentaram proibir que emissoras de rádio e TV fizessem troça com os candidatos nos três meses que antecedem as eleições. A constitucionalidade desse trecho do projeto de lei de reforma eleitoral de 2009 foi questionado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e na semana passada o STF decidiu por unanimidade liberar a zoeira. Para desespero dos políticos.

Mas nesses tempos de Copa do Mundo, em que tudo gravita em torno do esporte, podemos ver como o humor não persegue apenas políticos. A quantidade de piadas e memes produzidos por jogos é impressionante. Cada vez que o Neymar cai ele quase derruba junto a internet, tamanho o tráfego de montagens que surgem satirizando seu comportamento. Ouvi de fonte não segura que ele é muito preocupado com o que falam dele nas redes sociais, ao contrário de outros astros da bola. Uma das funções dos seus amigos seria justamente monitorar os memes e tentar rebater as críticas.

Sempre que temos que lidar com algo que nos incomoda podemos ter certeza que buscaremos alívio no riso. Por isso é tão inútil os políticos censurarem os comediantes como os parças do Neymar tentarem rebater os memes sobre o jogador. Pois seja diante da tensão com os jogos da seleção, seja pela incerteza com os rumos da política, nada como uma boa piada para nos fazer seguir em frente.

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Outra maneira de lidar com nossos medos é por meio da literatura. Os mitos surgiram e se perpetuaram na nossa história exatamente por nos ajudar a refletir - e lidar - com questões tão humanas que nos perturbam desde a antiguidade. O escritor Robert Graves compilou a principal mitologia da nossa cultura, a grega, numa forma narrativa que facilita a leitura enquanto mantém o rigor histórico. Lançada como um box de dois volumes, Os mitos gregos (Nova Fronteira, 2018), é uma obra de referência em português para quem quer conhecer melhor essas histórias que, falando de deuses e semideuses, dizem tanto a respeito de nós mesmos.

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"É fácil ser humorista quando você tem o governo inteiro trabalhando para você", já dizia o ator Will Rogers no começo do século passado.

Figuras proeminentes, afinal, são alvos privilegiados de sátira por diversos motivos: o público conhece os personagens e suas principais características, o que já facilita a vida do humorista. O fato de suas imagens serem públicas cria muitas oportunidades para a sátira, pois o riso se alimenta da incongruência e das ofensas. O sujeito que vende uma imagem que não corresponde à verdade está dando munição para os comediantes explorarem essa incongruência. Além do quê, como muitas vezes projetamos nessas figuras aspectos negativos como insatisfação, inveja e até raiva, a ofensa inerente ao humor também encontra terreno fértil.

Dizem que o bobo da corte era o homem mais temido pelos reis. Não é à toa que os ditadores ficam apavorados diante das caricaturas e das charges, que vivem a censurar.  O exagero dessas piadas nos fazem refletir sobre alguns traços marcantes - e nem sempre dignos - dos poderosos. E eles morrem de medo de que o som das gargalhadas rompa a carapaça de autoridade que eles tanto se esforçam para criar e manter. No Brasil os políticos recentemente tentaram proibir que emissoras de rádio e TV fizessem troça com os candidatos nos três meses que antecedem as eleições. A constitucionalidade desse trecho do projeto de lei de reforma eleitoral de 2009 foi questionado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert) e na semana passada o STF decidiu por unanimidade liberar a zoeira. Para desespero dos políticos.

Mas nesses tempos de Copa do Mundo, em que tudo gravita em torno do esporte, podemos ver como o humor não persegue apenas políticos. A quantidade de piadas e memes produzidos por jogos é impressionante. Cada vez que o Neymar cai ele quase derruba junto a internet, tamanho o tráfego de montagens que surgem satirizando seu comportamento. Ouvi de fonte não segura que ele é muito preocupado com o que falam dele nas redes sociais, ao contrário de outros astros da bola. Uma das funções dos seus amigos seria justamente monitorar os memes e tentar rebater as críticas.

Sempre que temos que lidar com algo que nos incomoda podemos ter certeza que buscaremos alívio no riso. Por isso é tão inútil os políticos censurarem os comediantes como os parças do Neymar tentarem rebater os memes sobre o jogador. Pois seja diante da tensão com os jogos da seleção, seja pela incerteza com os rumos da política, nada como uma boa piada para nos fazer seguir em frente.

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Outra maneira de lidar com nossos medos é por meio da literatura. Os mitos surgiram e se perpetuaram na nossa história exatamente por nos ajudar a refletir - e lidar - com questões tão humanas que nos perturbam desde a antiguidade. O escritor Robert Graves compilou a principal mitologia da nossa cultura, a grega, numa forma narrativa que facilita a leitura enquanto mantém o rigor histórico. Lançada como um box de dois volumes, Os mitos gregos (Nova Fronteira, 2018), é uma obra de referência em português para quem quer conhecer melhor essas histórias que, falando de deuses e semideuses, dizem tanto a respeito de nós mesmos.

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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