Psiquiatria e sociedade

Opinião|Testes genéticos e depressão


Testes genéticos podem auxiliar no tratamento da depressão. Mas é só um auxílio.

Por Daniel Martins de Barros
 Foto: Estadão

É sempre digno de comemoração quando uma figura pública assume fazer tratamento psiquiátrico, seja por ansiedade, depressão, transtorno alimentar ou o que for. Isso colabora com a redução do estigma que ainda cerca a psiquiatria e os transtornos mentais, ajudando tanto a aliviar o preconceito contra os pacientes como a reduzir as barreiras daqueles que resistem a buscar tratamento. Quando alguém como o repórter Jorge Pontual afirma que sofre de depressão há 40 anos, portanto, só posso agradecer por sua coragem de assumir publicamente esse fato. Para quem não viu, há uma semana ele participou de uma reportagem para o programa Bem Estar, contando um pouco de sua história e apresentando um teste genético pedido por seu médico para ajudar na escolha dos seus remédios.

A promessa da farmacogenética não é nova. Ela remonta aos anos 1990, quando começaram a ganhar notoriedade entre os pesquisadores os estudos mostrando que as variações genéticas entre os pacientes influenciavam na forma como seus organismos lidavam com as medicações. A maioria dos remédios é metabolizada no fígado, em diferentes etapas e com participação de diferentes enzimas. Uma parte dos medicamentos utilizados nos tratamentos psiquiátricos, como os antidepressivos, precisam passar por essa metabolização para se tornar eficazes, mas a velocidade do processo, os estudos mostravam, variava entre as pessoas. Os metabolizadores rápidos, por exemplo, tinham algumas enzimas tão velozes que elas acabavam inativando os medicamentos antes que eles fizessem efeito. Imaginou-se então que logo os médicos poderiam pedir testes para todos os pacientes, prevendo o que funcionaria para quem.

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Na prática, contudo, não é apenas a velocidade de metabolização que determina a eficácia de um medicamento. Para ficar em apenas alguns, a utilização de outros remédios ao mesmo tempo, o índice de massa corporal, o gênero, a idade, o tipo de dieta, uso de álcool, tabaco, presença de outras doenças clínicas e até o horário de administração da droga influenciam sua distribuição pelo corpo e consequente eficácia. Por isso os estudos recomendam que, se forem usados testes genéticos, eles sejam interpretados à luz do monitoramento da resposta terapêutica. Ou seja, se o teste diz que um remédio tem um perfil genético adequado para um sujeito mas ele não melhora com aquela droga, obviamente ela tem que ser trocada, não importando o teste. Por outro lado, quando o medicamento funciona sem grandes efeitos colaterais, em princípio não há necessidade de exames.

Finalmente, é fácil imaginar que a melhora de problemas tão complexos como os transtornos mentais não podem ser explicados apenas pela bioquímica básica. Sim, os remédios na maioria das vezes são indispensáveis, mas desde a confiança nos profissionais de saúde até mudanças em hábitos de vida, passando pela presença de suporte familiar e psicológico, são fundamentais para o sucesso de qualquer tratamento.

Nada disso é para retirar a importância dos avanços científicos. Mas no final das contas o objetivo do tratamento psiquiátrico é nos fazer sentir melhor. E até hoje não há teste que nos substitua quando a pergunta é como estamos nos sentindo.

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Crettol S, de Leon J, Hiemke C, Eap CB. Pharmacogenomics in psychiatry: from therapeutic drug monitoring to genomic medicine. Clin Pharmacol Ther. 2014 Mar;95(3):254-7.

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Leitura mental

 Foto: Estadão

Se já importante que pessoas públicas assumam quando fazem tratamento psiquiátrico, imagine a relevância de mulheres famosas que enfrentaram transtornos alimentares contarem sua experiência. Dois lançamentos no Brasil dão voz a quem viu seus corpos sofrerem as consequências de traumas pessoais somados a pressões sociais. Em Fazendo as pazes com o corpo (editora Sextante), a jornalista e ex-repórter da Globo Daiana Garbin conta como demorou a perceber que tinha um transtorno alimentar, narrando as dificuldades para superá-lo numa sociedade em que a magreza é vista como um valor essencial. Já em Fome (editora Globo), a aclamada escritora Roxane Gay adota um tom mais mordaz, e menos feliz, para contar como desenvolveu compulsão alimentar depois de sofrer um estupro coletivo, e como isso a levou a uma jornada de transformação de sua relação com seu corpo, a muito custo resgatada. Dois livros que, se diferem no tom e no enfoque, são essenciais por trazer à luz o drama dos transtornos alimentares, nessa eterna batalha contra o estigma e o preconceito.

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 Foto: Estadão

É sempre digno de comemoração quando uma figura pública assume fazer tratamento psiquiátrico, seja por ansiedade, depressão, transtorno alimentar ou o que for. Isso colabora com a redução do estigma que ainda cerca a psiquiatria e os transtornos mentais, ajudando tanto a aliviar o preconceito contra os pacientes como a reduzir as barreiras daqueles que resistem a buscar tratamento. Quando alguém como o repórter Jorge Pontual afirma que sofre de depressão há 40 anos, portanto, só posso agradecer por sua coragem de assumir publicamente esse fato. Para quem não viu, há uma semana ele participou de uma reportagem para o programa Bem Estar, contando um pouco de sua história e apresentando um teste genético pedido por seu médico para ajudar na escolha dos seus remédios.

A promessa da farmacogenética não é nova. Ela remonta aos anos 1990, quando começaram a ganhar notoriedade entre os pesquisadores os estudos mostrando que as variações genéticas entre os pacientes influenciavam na forma como seus organismos lidavam com as medicações. A maioria dos remédios é metabolizada no fígado, em diferentes etapas e com participação de diferentes enzimas. Uma parte dos medicamentos utilizados nos tratamentos psiquiátricos, como os antidepressivos, precisam passar por essa metabolização para se tornar eficazes, mas a velocidade do processo, os estudos mostravam, variava entre as pessoas. Os metabolizadores rápidos, por exemplo, tinham algumas enzimas tão velozes que elas acabavam inativando os medicamentos antes que eles fizessem efeito. Imaginou-se então que logo os médicos poderiam pedir testes para todos os pacientes, prevendo o que funcionaria para quem.

Na prática, contudo, não é apenas a velocidade de metabolização que determina a eficácia de um medicamento. Para ficar em apenas alguns, a utilização de outros remédios ao mesmo tempo, o índice de massa corporal, o gênero, a idade, o tipo de dieta, uso de álcool, tabaco, presença de outras doenças clínicas e até o horário de administração da droga influenciam sua distribuição pelo corpo e consequente eficácia. Por isso os estudos recomendam que, se forem usados testes genéticos, eles sejam interpretados à luz do monitoramento da resposta terapêutica. Ou seja, se o teste diz que um remédio tem um perfil genético adequado para um sujeito mas ele não melhora com aquela droga, obviamente ela tem que ser trocada, não importando o teste. Por outro lado, quando o medicamento funciona sem grandes efeitos colaterais, em princípio não há necessidade de exames.

Finalmente, é fácil imaginar que a melhora de problemas tão complexos como os transtornos mentais não podem ser explicados apenas pela bioquímica básica. Sim, os remédios na maioria das vezes são indispensáveis, mas desde a confiança nos profissionais de saúde até mudanças em hábitos de vida, passando pela presença de suporte familiar e psicológico, são fundamentais para o sucesso de qualquer tratamento.

Nada disso é para retirar a importância dos avanços científicos. Mas no final das contas o objetivo do tratamento psiquiátrico é nos fazer sentir melhor. E até hoje não há teste que nos substitua quando a pergunta é como estamos nos sentindo.

 

Crettol S, de Leon J, Hiemke C, Eap CB. Pharmacogenomics in psychiatry: from therapeutic drug monitoring to genomic medicine. Clin Pharmacol Ther. 2014 Mar;95(3):254-7.

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Leitura mental

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Se já importante que pessoas públicas assumam quando fazem tratamento psiquiátrico, imagine a relevância de mulheres famosas que enfrentaram transtornos alimentares contarem sua experiência. Dois lançamentos no Brasil dão voz a quem viu seus corpos sofrerem as consequências de traumas pessoais somados a pressões sociais. Em Fazendo as pazes com o corpo (editora Sextante), a jornalista e ex-repórter da Globo Daiana Garbin conta como demorou a perceber que tinha um transtorno alimentar, narrando as dificuldades para superá-lo numa sociedade em que a magreza é vista como um valor essencial. Já em Fome (editora Globo), a aclamada escritora Roxane Gay adota um tom mais mordaz, e menos feliz, para contar como desenvolveu compulsão alimentar depois de sofrer um estupro coletivo, e como isso a levou a uma jornada de transformação de sua relação com seu corpo, a muito custo resgatada. Dois livros que, se diferem no tom e no enfoque, são essenciais por trazer à luz o drama dos transtornos alimentares, nessa eterna batalha contra o estigma e o preconceito.

 

 

 Foto: Estadão

É sempre digno de comemoração quando uma figura pública assume fazer tratamento psiquiátrico, seja por ansiedade, depressão, transtorno alimentar ou o que for. Isso colabora com a redução do estigma que ainda cerca a psiquiatria e os transtornos mentais, ajudando tanto a aliviar o preconceito contra os pacientes como a reduzir as barreiras daqueles que resistem a buscar tratamento. Quando alguém como o repórter Jorge Pontual afirma que sofre de depressão há 40 anos, portanto, só posso agradecer por sua coragem de assumir publicamente esse fato. Para quem não viu, há uma semana ele participou de uma reportagem para o programa Bem Estar, contando um pouco de sua história e apresentando um teste genético pedido por seu médico para ajudar na escolha dos seus remédios.

A promessa da farmacogenética não é nova. Ela remonta aos anos 1990, quando começaram a ganhar notoriedade entre os pesquisadores os estudos mostrando que as variações genéticas entre os pacientes influenciavam na forma como seus organismos lidavam com as medicações. A maioria dos remédios é metabolizada no fígado, em diferentes etapas e com participação de diferentes enzimas. Uma parte dos medicamentos utilizados nos tratamentos psiquiátricos, como os antidepressivos, precisam passar por essa metabolização para se tornar eficazes, mas a velocidade do processo, os estudos mostravam, variava entre as pessoas. Os metabolizadores rápidos, por exemplo, tinham algumas enzimas tão velozes que elas acabavam inativando os medicamentos antes que eles fizessem efeito. Imaginou-se então que logo os médicos poderiam pedir testes para todos os pacientes, prevendo o que funcionaria para quem.

Na prática, contudo, não é apenas a velocidade de metabolização que determina a eficácia de um medicamento. Para ficar em apenas alguns, a utilização de outros remédios ao mesmo tempo, o índice de massa corporal, o gênero, a idade, o tipo de dieta, uso de álcool, tabaco, presença de outras doenças clínicas e até o horário de administração da droga influenciam sua distribuição pelo corpo e consequente eficácia. Por isso os estudos recomendam que, se forem usados testes genéticos, eles sejam interpretados à luz do monitoramento da resposta terapêutica. Ou seja, se o teste diz que um remédio tem um perfil genético adequado para um sujeito mas ele não melhora com aquela droga, obviamente ela tem que ser trocada, não importando o teste. Por outro lado, quando o medicamento funciona sem grandes efeitos colaterais, em princípio não há necessidade de exames.

Finalmente, é fácil imaginar que a melhora de problemas tão complexos como os transtornos mentais não podem ser explicados apenas pela bioquímica básica. Sim, os remédios na maioria das vezes são indispensáveis, mas desde a confiança nos profissionais de saúde até mudanças em hábitos de vida, passando pela presença de suporte familiar e psicológico, são fundamentais para o sucesso de qualquer tratamento.

Nada disso é para retirar a importância dos avanços científicos. Mas no final das contas o objetivo do tratamento psiquiátrico é nos fazer sentir melhor. E até hoje não há teste que nos substitua quando a pergunta é como estamos nos sentindo.

 

Crettol S, de Leon J, Hiemke C, Eap CB. Pharmacogenomics in psychiatry: from therapeutic drug monitoring to genomic medicine. Clin Pharmacol Ther. 2014 Mar;95(3):254-7.

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Se já importante que pessoas públicas assumam quando fazem tratamento psiquiátrico, imagine a relevância de mulheres famosas que enfrentaram transtornos alimentares contarem sua experiência. Dois lançamentos no Brasil dão voz a quem viu seus corpos sofrerem as consequências de traumas pessoais somados a pressões sociais. Em Fazendo as pazes com o corpo (editora Sextante), a jornalista e ex-repórter da Globo Daiana Garbin conta como demorou a perceber que tinha um transtorno alimentar, narrando as dificuldades para superá-lo numa sociedade em que a magreza é vista como um valor essencial. Já em Fome (editora Globo), a aclamada escritora Roxane Gay adota um tom mais mordaz, e menos feliz, para contar como desenvolveu compulsão alimentar depois de sofrer um estupro coletivo, e como isso a levou a uma jornada de transformação de sua relação com seu corpo, a muito custo resgatada. Dois livros que, se diferem no tom e no enfoque, são essenciais por trazer à luz o drama dos transtornos alimentares, nessa eterna batalha contra o estigma e o preconceito.

 

 

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É sempre digno de comemoração quando uma figura pública assume fazer tratamento psiquiátrico, seja por ansiedade, depressão, transtorno alimentar ou o que for. Isso colabora com a redução do estigma que ainda cerca a psiquiatria e os transtornos mentais, ajudando tanto a aliviar o preconceito contra os pacientes como a reduzir as barreiras daqueles que resistem a buscar tratamento. Quando alguém como o repórter Jorge Pontual afirma que sofre de depressão há 40 anos, portanto, só posso agradecer por sua coragem de assumir publicamente esse fato. Para quem não viu, há uma semana ele participou de uma reportagem para o programa Bem Estar, contando um pouco de sua história e apresentando um teste genético pedido por seu médico para ajudar na escolha dos seus remédios.

A promessa da farmacogenética não é nova. Ela remonta aos anos 1990, quando começaram a ganhar notoriedade entre os pesquisadores os estudos mostrando que as variações genéticas entre os pacientes influenciavam na forma como seus organismos lidavam com as medicações. A maioria dos remédios é metabolizada no fígado, em diferentes etapas e com participação de diferentes enzimas. Uma parte dos medicamentos utilizados nos tratamentos psiquiátricos, como os antidepressivos, precisam passar por essa metabolização para se tornar eficazes, mas a velocidade do processo, os estudos mostravam, variava entre as pessoas. Os metabolizadores rápidos, por exemplo, tinham algumas enzimas tão velozes que elas acabavam inativando os medicamentos antes que eles fizessem efeito. Imaginou-se então que logo os médicos poderiam pedir testes para todos os pacientes, prevendo o que funcionaria para quem.

Na prática, contudo, não é apenas a velocidade de metabolização que determina a eficácia de um medicamento. Para ficar em apenas alguns, a utilização de outros remédios ao mesmo tempo, o índice de massa corporal, o gênero, a idade, o tipo de dieta, uso de álcool, tabaco, presença de outras doenças clínicas e até o horário de administração da droga influenciam sua distribuição pelo corpo e consequente eficácia. Por isso os estudos recomendam que, se forem usados testes genéticos, eles sejam interpretados à luz do monitoramento da resposta terapêutica. Ou seja, se o teste diz que um remédio tem um perfil genético adequado para um sujeito mas ele não melhora com aquela droga, obviamente ela tem que ser trocada, não importando o teste. Por outro lado, quando o medicamento funciona sem grandes efeitos colaterais, em princípio não há necessidade de exames.

Finalmente, é fácil imaginar que a melhora de problemas tão complexos como os transtornos mentais não podem ser explicados apenas pela bioquímica básica. Sim, os remédios na maioria das vezes são indispensáveis, mas desde a confiança nos profissionais de saúde até mudanças em hábitos de vida, passando pela presença de suporte familiar e psicológico, são fundamentais para o sucesso de qualquer tratamento.

Nada disso é para retirar a importância dos avanços científicos. Mas no final das contas o objetivo do tratamento psiquiátrico é nos fazer sentir melhor. E até hoje não há teste que nos substitua quando a pergunta é como estamos nos sentindo.

 

Crettol S, de Leon J, Hiemke C, Eap CB. Pharmacogenomics in psychiatry: from therapeutic drug monitoring to genomic medicine. Clin Pharmacol Ther. 2014 Mar;95(3):254-7.

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Leitura mental

 Foto: Estadão

Se já importante que pessoas públicas assumam quando fazem tratamento psiquiátrico, imagine a relevância de mulheres famosas que enfrentaram transtornos alimentares contarem sua experiência. Dois lançamentos no Brasil dão voz a quem viu seus corpos sofrerem as consequências de traumas pessoais somados a pressões sociais. Em Fazendo as pazes com o corpo (editora Sextante), a jornalista e ex-repórter da Globo Daiana Garbin conta como demorou a perceber que tinha um transtorno alimentar, narrando as dificuldades para superá-lo numa sociedade em que a magreza é vista como um valor essencial. Já em Fome (editora Globo), a aclamada escritora Roxane Gay adota um tom mais mordaz, e menos feliz, para contar como desenvolveu compulsão alimentar depois de sofrer um estupro coletivo, e como isso a levou a uma jornada de transformação de sua relação com seu corpo, a muito custo resgatada. Dois livros que, se diferem no tom e no enfoque, são essenciais por trazer à luz o drama dos transtornos alimentares, nessa eterna batalha contra o estigma e o preconceito.

 

 

Opinião por Daniel Martins de Barros

Professor colaborador do Dep. de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Autor do livro 'Rir é Preciso'

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