Um blog de pai para filha

Debaixo da cama


Olha debaixo da cama pra ver se não esqueceu alguma coisa.” Essa frase. Existem outras, como: Colocar meia, tênis, calça, cinto. Abotoar camisa. Dirigir. Parar no farol vermelho e esperar ninguém passar. Bater cartão. Mas essa frase, “olha debaixo da cama...”, com ela é oficial: fim de férias.

Por Victor Sá
 Foto: Estadão

Arte: André Bonani

"Olha debaixo da cama pra ver se não esqueceu alguma coisa." Essa frase.

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Existem outras, como:

Colocar meia, tênis, calça, cinto.

Abotoar camisa.

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Dirigir. Parar no farol vermelho e esperar ninguém passar.

Bater cartão.

Mas essa frase, "olha debaixo da cama...", com ela é oficial: o fim das férias.

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Não tem pra onde fugir. Estamos indo de volta pra casa.

Trilha sugerida:

 

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Fosse só isso, ok, seria tolerável. Mas é voltar ao trabalho, ao desespero das contas pra pagar, das contas que não fecham. Voltar ao vazio e à certeza de que o tempo tá passando rápido demais, principalmente se comparado às conquistas tão poucas.

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Ao olhar debaixo da cama, estamos dando adeus ao mar e tudo o que ele representa.

Iremos pagar pedágio e em pouco recolheremos os jornais acumulados em frente à porta. Neles, as piores notícias que ignoramos ao longo desses dias. Quem lê tanta notícia?

Tchau mar, feliz 2017, você disse.

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Para piorar a equação, as aulas não voltaram. Só os adultos rodaram nessa. E rodaram duplamente, pois começa a gincana de "com quem te deixar", já que todos estão trabalhando.

Você chorou tanto quando parti para o trabalho. Queria chorar junto, minha pequena. Mas brinquei de ser adulto (não que houvesse opção):

Coloquei meia, tênis, calça e cinto.

Abotoei camisa.

Dirigi. E nesse momento descobri que os Pin Ups estão no Spotify. Coloquei aquele som que amava a valer quando pivete e há séculos não ouvia. Uma onda nostálgica de coisas que vivi no passado me preencheu.

Ao parar no farol vermelho e esperar ninguém passar notei uma melancolia bem bonita.

Tirei a camisa e abri a janela.

Sem trânsito nenhum, com um ventinho massa batendo e a música rolando, eu entendi. Agora pensava nas coisas em que vivemos na praia, minha pitanguinha.

Lembrava de você comigo na piscina mágica (apelido que deu ao mar). Das milhões de vezes em que ouvimos Caetano. Do leãozinho, da preta-preta-pretinha e do dançando lambada.

Das suas infinitas interrupções quando eu tentava ler.

Das boinhas, dos jacarés, dos castelos, dos baldinhos, da estrela do mar que supostamente salvamos. De correr, pular, nadar e voar. De te pintar de gatinha com o protetor solar.

E assim, me apegando a tudo que construímos no passado recente, consegui construir o presente.

E com a cidade vazia, parei o carro na melhor vaga.

Falamos novamente quando for sua vez de voltar às aulas.

Beijos ensolarados,

papai.

12.01.17

 Foto: Estadão

Arte: André Bonani

"Olha debaixo da cama pra ver se não esqueceu alguma coisa." Essa frase.

Existem outras, como:

Colocar meia, tênis, calça, cinto.

Abotoar camisa.

Dirigir. Parar no farol vermelho e esperar ninguém passar.

Bater cartão.

Mas essa frase, "olha debaixo da cama...", com ela é oficial: o fim das férias.

Não tem pra onde fugir. Estamos indo de volta pra casa.

Trilha sugerida:

 

 

Fosse só isso, ok, seria tolerável. Mas é voltar ao trabalho, ao desespero das contas pra pagar, das contas que não fecham. Voltar ao vazio e à certeza de que o tempo tá passando rápido demais, principalmente se comparado às conquistas tão poucas.

Ao olhar debaixo da cama, estamos dando adeus ao mar e tudo o que ele representa.

Iremos pagar pedágio e em pouco recolheremos os jornais acumulados em frente à porta. Neles, as piores notícias que ignoramos ao longo desses dias. Quem lê tanta notícia?

Tchau mar, feliz 2017, você disse.

Para piorar a equação, as aulas não voltaram. Só os adultos rodaram nessa. E rodaram duplamente, pois começa a gincana de "com quem te deixar", já que todos estão trabalhando.

Você chorou tanto quando parti para o trabalho. Queria chorar junto, minha pequena. Mas brinquei de ser adulto (não que houvesse opção):

Coloquei meia, tênis, calça e cinto.

Abotoei camisa.

Dirigi. E nesse momento descobri que os Pin Ups estão no Spotify. Coloquei aquele som que amava a valer quando pivete e há séculos não ouvia. Uma onda nostálgica de coisas que vivi no passado me preencheu.

Ao parar no farol vermelho e esperar ninguém passar notei uma melancolia bem bonita.

Tirei a camisa e abri a janela.

Sem trânsito nenhum, com um ventinho massa batendo e a música rolando, eu entendi. Agora pensava nas coisas em que vivemos na praia, minha pitanguinha.

Lembrava de você comigo na piscina mágica (apelido que deu ao mar). Das milhões de vezes em que ouvimos Caetano. Do leãozinho, da preta-preta-pretinha e do dançando lambada.

Das suas infinitas interrupções quando eu tentava ler.

Das boinhas, dos jacarés, dos castelos, dos baldinhos, da estrela do mar que supostamente salvamos. De correr, pular, nadar e voar. De te pintar de gatinha com o protetor solar.

E assim, me apegando a tudo que construímos no passado recente, consegui construir o presente.

E com a cidade vazia, parei o carro na melhor vaga.

Falamos novamente quando for sua vez de voltar às aulas.

Beijos ensolarados,

papai.

12.01.17

 Foto: Estadão

Arte: André Bonani

"Olha debaixo da cama pra ver se não esqueceu alguma coisa." Essa frase.

Existem outras, como:

Colocar meia, tênis, calça, cinto.

Abotoar camisa.

Dirigir. Parar no farol vermelho e esperar ninguém passar.

Bater cartão.

Mas essa frase, "olha debaixo da cama...", com ela é oficial: o fim das férias.

Não tem pra onde fugir. Estamos indo de volta pra casa.

Trilha sugerida:

 

 

Fosse só isso, ok, seria tolerável. Mas é voltar ao trabalho, ao desespero das contas pra pagar, das contas que não fecham. Voltar ao vazio e à certeza de que o tempo tá passando rápido demais, principalmente se comparado às conquistas tão poucas.

Ao olhar debaixo da cama, estamos dando adeus ao mar e tudo o que ele representa.

Iremos pagar pedágio e em pouco recolheremos os jornais acumulados em frente à porta. Neles, as piores notícias que ignoramos ao longo desses dias. Quem lê tanta notícia?

Tchau mar, feliz 2017, você disse.

Para piorar a equação, as aulas não voltaram. Só os adultos rodaram nessa. E rodaram duplamente, pois começa a gincana de "com quem te deixar", já que todos estão trabalhando.

Você chorou tanto quando parti para o trabalho. Queria chorar junto, minha pequena. Mas brinquei de ser adulto (não que houvesse opção):

Coloquei meia, tênis, calça e cinto.

Abotoei camisa.

Dirigi. E nesse momento descobri que os Pin Ups estão no Spotify. Coloquei aquele som que amava a valer quando pivete e há séculos não ouvia. Uma onda nostálgica de coisas que vivi no passado me preencheu.

Ao parar no farol vermelho e esperar ninguém passar notei uma melancolia bem bonita.

Tirei a camisa e abri a janela.

Sem trânsito nenhum, com um ventinho massa batendo e a música rolando, eu entendi. Agora pensava nas coisas em que vivemos na praia, minha pitanguinha.

Lembrava de você comigo na piscina mágica (apelido que deu ao mar). Das milhões de vezes em que ouvimos Caetano. Do leãozinho, da preta-preta-pretinha e do dançando lambada.

Das suas infinitas interrupções quando eu tentava ler.

Das boinhas, dos jacarés, dos castelos, dos baldinhos, da estrela do mar que supostamente salvamos. De correr, pular, nadar e voar. De te pintar de gatinha com o protetor solar.

E assim, me apegando a tudo que construímos no passado recente, consegui construir o presente.

E com a cidade vazia, parei o carro na melhor vaga.

Falamos novamente quando for sua vez de voltar às aulas.

Beijos ensolarados,

papai.

12.01.17

 Foto: Estadão

Arte: André Bonani

"Olha debaixo da cama pra ver se não esqueceu alguma coisa." Essa frase.

Existem outras, como:

Colocar meia, tênis, calça, cinto.

Abotoar camisa.

Dirigir. Parar no farol vermelho e esperar ninguém passar.

Bater cartão.

Mas essa frase, "olha debaixo da cama...", com ela é oficial: o fim das férias.

Não tem pra onde fugir. Estamos indo de volta pra casa.

Trilha sugerida:

 

 

Fosse só isso, ok, seria tolerável. Mas é voltar ao trabalho, ao desespero das contas pra pagar, das contas que não fecham. Voltar ao vazio e à certeza de que o tempo tá passando rápido demais, principalmente se comparado às conquistas tão poucas.

Ao olhar debaixo da cama, estamos dando adeus ao mar e tudo o que ele representa.

Iremos pagar pedágio e em pouco recolheremos os jornais acumulados em frente à porta. Neles, as piores notícias que ignoramos ao longo desses dias. Quem lê tanta notícia?

Tchau mar, feliz 2017, você disse.

Para piorar a equação, as aulas não voltaram. Só os adultos rodaram nessa. E rodaram duplamente, pois começa a gincana de "com quem te deixar", já que todos estão trabalhando.

Você chorou tanto quando parti para o trabalho. Queria chorar junto, minha pequena. Mas brinquei de ser adulto (não que houvesse opção):

Coloquei meia, tênis, calça e cinto.

Abotoei camisa.

Dirigi. E nesse momento descobri que os Pin Ups estão no Spotify. Coloquei aquele som que amava a valer quando pivete e há séculos não ouvia. Uma onda nostálgica de coisas que vivi no passado me preencheu.

Ao parar no farol vermelho e esperar ninguém passar notei uma melancolia bem bonita.

Tirei a camisa e abri a janela.

Sem trânsito nenhum, com um ventinho massa batendo e a música rolando, eu entendi. Agora pensava nas coisas em que vivemos na praia, minha pitanguinha.

Lembrava de você comigo na piscina mágica (apelido que deu ao mar). Das milhões de vezes em que ouvimos Caetano. Do leãozinho, da preta-preta-pretinha e do dançando lambada.

Das suas infinitas interrupções quando eu tentava ler.

Das boinhas, dos jacarés, dos castelos, dos baldinhos, da estrela do mar que supostamente salvamos. De correr, pular, nadar e voar. De te pintar de gatinha com o protetor solar.

E assim, me apegando a tudo que construímos no passado recente, consegui construir o presente.

E com a cidade vazia, parei o carro na melhor vaga.

Falamos novamente quando for sua vez de voltar às aulas.

Beijos ensolarados,

papai.

12.01.17

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