Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Estamos todos doentes de capitalismo


Doentes de um sistema que nós mesmos alimentamos, como se o câncer pudesse produzir a cura

Por Renato Essenfelder
 

arte: renato essenfelder/sd

»Estamos doentes de capitalismo. Nós, as pessoas, mas também a natureza, animais, plantas; o planeta. Tudo ao nosso redor. Doentes de um sistema doentio, que nós mesmos alimentamos, como se o câncer pudesse, um dia, produzir a cura. Livrar o paciente da dor.

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Estamos doentes e apostamos na doença como salvação. Inoculamos não a vacina, o anticorpo revolucionário, mas, ao contrário, mais e mais doses da doença conhecida. Com o vírus reforçado, dobramos as apostas, confiantes de que mal com mal fará, afinal, o bem. Ilusões hipercalóricas. Mais esforço, mais sacrifício, mais exploração, mais precariedade, conduzirão ao paraíso da burguesia prometida.  

Mas não há salvação no capitalismo, não há salvação no liberalismo, não há salvação individual que possa redimir um povo. 

Somos, mesmo, um povo. O povo.  

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Não há esse negócio de indivíduo, apenas famílias, em todos os seus arranjos, e suas esferas. Não há esse negócio de sujeito atômico e atomizado, self-made qualquer coisa. O homem não é o lobo do homem, antes o contrário. Somos alcatéia. 

Aprendemos direitinho as coisas mais tortas. Aprendemos por insistência, por autoridade, por repetição, algo que a realidade diariamente contradiz. O bom senso, a rotina real, dia após dia, contraria os filósofos escravocratas, demole as ideologias idealistas que dominam as escolas. As promessas continuam, e continuam acreditando nelas aqueles que se refugiam em abstrações. Privatizações que barateiam serviços. Empresas com "missões" edificantes. Algoritmos que "geram" empregos. Impérios que nascem de garagens em subúrbios de classe média - o paraíso ali, no dobrar da esquina. Basta se esforçar, acordar às cinco da matina, batalhar. 

Batalhamos. Nas aulas do ensino básico, minha professora de geografia falava sobre extrativismo e efeito estufa. Imaginávamos que, tudo mantido, o mundo passaria por grandes crises climáticas e humanas dali a um século ou dois. Isso foi há menos de trinta anos.

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Tarde lamentamos. O que faremos agora, que o futuro chegou?«

 

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+redes sociais do autor+

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arte: renato essenfelder/sd

»Estamos doentes de capitalismo. Nós, as pessoas, mas também a natureza, animais, plantas; o planeta. Tudo ao nosso redor. Doentes de um sistema doentio, que nós mesmos alimentamos, como se o câncer pudesse, um dia, produzir a cura. Livrar o paciente da dor.

Estamos doentes e apostamos na doença como salvação. Inoculamos não a vacina, o anticorpo revolucionário, mas, ao contrário, mais e mais doses da doença conhecida. Com o vírus reforçado, dobramos as apostas, confiantes de que mal com mal fará, afinal, o bem. Ilusões hipercalóricas. Mais esforço, mais sacrifício, mais exploração, mais precariedade, conduzirão ao paraíso da burguesia prometida.  

Mas não há salvação no capitalismo, não há salvação no liberalismo, não há salvação individual que possa redimir um povo. 

Somos, mesmo, um povo. O povo.  

Não há esse negócio de indivíduo, apenas famílias, em todos os seus arranjos, e suas esferas. Não há esse negócio de sujeito atômico e atomizado, self-made qualquer coisa. O homem não é o lobo do homem, antes o contrário. Somos alcatéia. 

Aprendemos direitinho as coisas mais tortas. Aprendemos por insistência, por autoridade, por repetição, algo que a realidade diariamente contradiz. O bom senso, a rotina real, dia após dia, contraria os filósofos escravocratas, demole as ideologias idealistas que dominam as escolas. As promessas continuam, e continuam acreditando nelas aqueles que se refugiam em abstrações. Privatizações que barateiam serviços. Empresas com "missões" edificantes. Algoritmos que "geram" empregos. Impérios que nascem de garagens em subúrbios de classe média - o paraíso ali, no dobrar da esquina. Basta se esforçar, acordar às cinco da matina, batalhar. 

Batalhamos. Nas aulas do ensino básico, minha professora de geografia falava sobre extrativismo e efeito estufa. Imaginávamos que, tudo mantido, o mundo passaria por grandes crises climáticas e humanas dali a um século ou dois. Isso foi há menos de trinta anos.

Tarde lamentamos. O que faremos agora, que o futuro chegou?«

 

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arte: renato essenfelder/sd

»Estamos doentes de capitalismo. Nós, as pessoas, mas também a natureza, animais, plantas; o planeta. Tudo ao nosso redor. Doentes de um sistema doentio, que nós mesmos alimentamos, como se o câncer pudesse, um dia, produzir a cura. Livrar o paciente da dor.

Estamos doentes e apostamos na doença como salvação. Inoculamos não a vacina, o anticorpo revolucionário, mas, ao contrário, mais e mais doses da doença conhecida. Com o vírus reforçado, dobramos as apostas, confiantes de que mal com mal fará, afinal, o bem. Ilusões hipercalóricas. Mais esforço, mais sacrifício, mais exploração, mais precariedade, conduzirão ao paraíso da burguesia prometida.  

Mas não há salvação no capitalismo, não há salvação no liberalismo, não há salvação individual que possa redimir um povo. 

Somos, mesmo, um povo. O povo.  

Não há esse negócio de indivíduo, apenas famílias, em todos os seus arranjos, e suas esferas. Não há esse negócio de sujeito atômico e atomizado, self-made qualquer coisa. O homem não é o lobo do homem, antes o contrário. Somos alcatéia. 

Aprendemos direitinho as coisas mais tortas. Aprendemos por insistência, por autoridade, por repetição, algo que a realidade diariamente contradiz. O bom senso, a rotina real, dia após dia, contraria os filósofos escravocratas, demole as ideologias idealistas que dominam as escolas. As promessas continuam, e continuam acreditando nelas aqueles que se refugiam em abstrações. Privatizações que barateiam serviços. Empresas com "missões" edificantes. Algoritmos que "geram" empregos. Impérios que nascem de garagens em subúrbios de classe média - o paraíso ali, no dobrar da esquina. Basta se esforçar, acordar às cinco da matina, batalhar. 

Batalhamos. Nas aulas do ensino básico, minha professora de geografia falava sobre extrativismo e efeito estufa. Imaginávamos que, tudo mantido, o mundo passaria por grandes crises climáticas e humanas dali a um século ou dois. Isso foi há menos de trinta anos.

Tarde lamentamos. O que faremos agora, que o futuro chegou?«

 

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»Estamos doentes de capitalismo. Nós, as pessoas, mas também a natureza, animais, plantas; o planeta. Tudo ao nosso redor. Doentes de um sistema doentio, que nós mesmos alimentamos, como se o câncer pudesse, um dia, produzir a cura. Livrar o paciente da dor.

Estamos doentes e apostamos na doença como salvação. Inoculamos não a vacina, o anticorpo revolucionário, mas, ao contrário, mais e mais doses da doença conhecida. Com o vírus reforçado, dobramos as apostas, confiantes de que mal com mal fará, afinal, o bem. Ilusões hipercalóricas. Mais esforço, mais sacrifício, mais exploração, mais precariedade, conduzirão ao paraíso da burguesia prometida.  

Mas não há salvação no capitalismo, não há salvação no liberalismo, não há salvação individual que possa redimir um povo. 

Somos, mesmo, um povo. O povo.  

Não há esse negócio de indivíduo, apenas famílias, em todos os seus arranjos, e suas esferas. Não há esse negócio de sujeito atômico e atomizado, self-made qualquer coisa. O homem não é o lobo do homem, antes o contrário. Somos alcatéia. 

Aprendemos direitinho as coisas mais tortas. Aprendemos por insistência, por autoridade, por repetição, algo que a realidade diariamente contradiz. O bom senso, a rotina real, dia após dia, contraria os filósofos escravocratas, demole as ideologias idealistas que dominam as escolas. As promessas continuam, e continuam acreditando nelas aqueles que se refugiam em abstrações. Privatizações que barateiam serviços. Empresas com "missões" edificantes. Algoritmos que "geram" empregos. Impérios que nascem de garagens em subúrbios de classe média - o paraíso ali, no dobrar da esquina. Basta se esforçar, acordar às cinco da matina, batalhar. 

Batalhamos. Nas aulas do ensino básico, minha professora de geografia falava sobre extrativismo e efeito estufa. Imaginávamos que, tudo mantido, o mundo passaria por grandes crises climáticas e humanas dali a um século ou dois. Isso foi há menos de trinta anos.

Tarde lamentamos. O que faremos agora, que o futuro chegou?«

 

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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