Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Receita para uma resolução de Ano Novo


O primeiro dia do ano cai no primeiro dia da semana. Ano, mês e semana se alinharam para que pudéssemos recomeçar.

Por Renato Essenfelder
arte: loro verz  Foto: Estadão

»Não sei se as resoluções de Ano Novo saíram de moda. Talvez. Alguns conceitos fundamentais, necessários aos melhores votos, parecem ter saído. Reflexão, caligrafia, aprimoramento pessoal. Minha resolução de Ano Novo começa com uma meditação sobre ela própria. Pra quê?

continua após a publicidade

Vejo pelos meus próprios alunos: o espaço de reflexão encolheu - ou talvez tenha ficado tão demodê quanto topetes laqueados. Somos o tempo todo acionados pelas coisas que nos cercam. Coisas mesmo, raramente pessoas. De algum modo, isso nos torna importantes. Que chefe não se vangloria de ter milhares de e-mails não lidos? Que colega não fala com afetação dos seus grupos de Whats App e redes sociais?

Mas a ilusão de importância cobra seu preço. Parece que ninguém mais para para pensar em nada - e, se questionado, diz que não tem tempo: pede para mandar um e-mail, quer o resumo em um tweet. (O Twitter, aliás, hoje está cheio de convites a resumir o ano em 140 caracteres ou em um gif. É divertido, mas não faz realmente pensar.) Não que seja preciso pensar o tempo inteiro, isso ninguém aguenta. Mas também não dá para passar a vida de tela em tela, ao sabor dos likes - a ditadura da maioria, de todas as pessoas, menos você. A vida é mais do que isso, e se 2017 cabe em um tweet, ele não aconteceu.

continua após a publicidade

Fuja para um canto, ao menos nas próximas horas, e pegue papel e caneta para pensar. Sem distrações. Não conte a ninguém, apenas ache um canto para iniciar sua meditação. E sua resolução.

continua após a publicidade

Preste atenção no segundo ingrediente do bom final de ano: a caligrafia. Escreva com calma e capricho, tente lembrar das suas primeiras aulas de caligrafia, naquelas folhas pautadas em que as maiúsculas atingiam a linha de cima, mas sem a ultrapassar, e as minúsculas se enquadravam no quadrante mais baixo. As letras mais caprichadas ganhavam uma estrela dourada. Procure a estrela dourada. Não pela estrela, claro, mas porque a estrela exige capricho, e o capricho desacelera a escrita, e desacelerar, para quem está num estado meditativo tão importante, é preciso. Acho que, para escrever bonito, além de tudo, é preciso ainda pensar bonito. Então, pense bonito e manifeste isso no papel.

Isso o quê? Enfim, ela: sua resolução.Resolução de quê? Convém aqui evitar a armadilha das notícias sobre a Mega Sena acumulada em trezentos milhões de reais. Não se trata do que comprar, de onde gastar, mas sim do que ser, como ser. Como se aprimorar. Mudar alguma coisa em si todo mundo quer, e dizem que a mudança começa de dentro para fora - ao menos, isso é tudo o que você (razoavelmente) controla. Então, por que não arriscar?

continua após a publicidade

Por fim, acho que a boa resolução, que não diga respeito a nada comprável, que seja bem pensada e bem escrita, bem focada naquilo que nos compete (o aprimoramento pessoal) como seres humanos. Não se preocupe demasiadamente em como chegar lá. O importante é manter os olhos no horizonte desejado, e as coisas vão acontecer.

continua após a publicidade

O primeiro dia do ano cai no primeiro dia da semana (é, domingo não conta). Ano, mês e semana se alinharam para que pudéssemos recomeçar. Lembre das suas resoluções e: ao trabalho. Com sorte, 2018 não caberá, daqui a 12 meses, em um tweet.«_____________________________________________ Chegou até aqui? Aproveite e siga Males Crônicos no Facebook. (ah, não esqueça de clicar em "obter notificações", lá na página) Atualizações todas as semanas. E me segue no Twitter: http://twitter.com/essenfelder ______________________________________________

arte: loro verz  Foto: Estadão

»Não sei se as resoluções de Ano Novo saíram de moda. Talvez. Alguns conceitos fundamentais, necessários aos melhores votos, parecem ter saído. Reflexão, caligrafia, aprimoramento pessoal. Minha resolução de Ano Novo começa com uma meditação sobre ela própria. Pra quê?

Vejo pelos meus próprios alunos: o espaço de reflexão encolheu - ou talvez tenha ficado tão demodê quanto topetes laqueados. Somos o tempo todo acionados pelas coisas que nos cercam. Coisas mesmo, raramente pessoas. De algum modo, isso nos torna importantes. Que chefe não se vangloria de ter milhares de e-mails não lidos? Que colega não fala com afetação dos seus grupos de Whats App e redes sociais?

Mas a ilusão de importância cobra seu preço. Parece que ninguém mais para para pensar em nada - e, se questionado, diz que não tem tempo: pede para mandar um e-mail, quer o resumo em um tweet. (O Twitter, aliás, hoje está cheio de convites a resumir o ano em 140 caracteres ou em um gif. É divertido, mas não faz realmente pensar.) Não que seja preciso pensar o tempo inteiro, isso ninguém aguenta. Mas também não dá para passar a vida de tela em tela, ao sabor dos likes - a ditadura da maioria, de todas as pessoas, menos você. A vida é mais do que isso, e se 2017 cabe em um tweet, ele não aconteceu.

Fuja para um canto, ao menos nas próximas horas, e pegue papel e caneta para pensar. Sem distrações. Não conte a ninguém, apenas ache um canto para iniciar sua meditação. E sua resolução.

Preste atenção no segundo ingrediente do bom final de ano: a caligrafia. Escreva com calma e capricho, tente lembrar das suas primeiras aulas de caligrafia, naquelas folhas pautadas em que as maiúsculas atingiam a linha de cima, mas sem a ultrapassar, e as minúsculas se enquadravam no quadrante mais baixo. As letras mais caprichadas ganhavam uma estrela dourada. Procure a estrela dourada. Não pela estrela, claro, mas porque a estrela exige capricho, e o capricho desacelera a escrita, e desacelerar, para quem está num estado meditativo tão importante, é preciso. Acho que, para escrever bonito, além de tudo, é preciso ainda pensar bonito. Então, pense bonito e manifeste isso no papel.

Isso o quê? Enfim, ela: sua resolução.Resolução de quê? Convém aqui evitar a armadilha das notícias sobre a Mega Sena acumulada em trezentos milhões de reais. Não se trata do que comprar, de onde gastar, mas sim do que ser, como ser. Como se aprimorar. Mudar alguma coisa em si todo mundo quer, e dizem que a mudança começa de dentro para fora - ao menos, isso é tudo o que você (razoavelmente) controla. Então, por que não arriscar?

Por fim, acho que a boa resolução, que não diga respeito a nada comprável, que seja bem pensada e bem escrita, bem focada naquilo que nos compete (o aprimoramento pessoal) como seres humanos. Não se preocupe demasiadamente em como chegar lá. O importante é manter os olhos no horizonte desejado, e as coisas vão acontecer.

O primeiro dia do ano cai no primeiro dia da semana (é, domingo não conta). Ano, mês e semana se alinharam para que pudéssemos recomeçar. Lembre das suas resoluções e: ao trabalho. Com sorte, 2018 não caberá, daqui a 12 meses, em um tweet.«_____________________________________________ Chegou até aqui? Aproveite e siga Males Crônicos no Facebook. (ah, não esqueça de clicar em "obter notificações", lá na página) Atualizações todas as semanas. E me segue no Twitter: http://twitter.com/essenfelder ______________________________________________

arte: loro verz  Foto: Estadão

»Não sei se as resoluções de Ano Novo saíram de moda. Talvez. Alguns conceitos fundamentais, necessários aos melhores votos, parecem ter saído. Reflexão, caligrafia, aprimoramento pessoal. Minha resolução de Ano Novo começa com uma meditação sobre ela própria. Pra quê?

Vejo pelos meus próprios alunos: o espaço de reflexão encolheu - ou talvez tenha ficado tão demodê quanto topetes laqueados. Somos o tempo todo acionados pelas coisas que nos cercam. Coisas mesmo, raramente pessoas. De algum modo, isso nos torna importantes. Que chefe não se vangloria de ter milhares de e-mails não lidos? Que colega não fala com afetação dos seus grupos de Whats App e redes sociais?

Mas a ilusão de importância cobra seu preço. Parece que ninguém mais para para pensar em nada - e, se questionado, diz que não tem tempo: pede para mandar um e-mail, quer o resumo em um tweet. (O Twitter, aliás, hoje está cheio de convites a resumir o ano em 140 caracteres ou em um gif. É divertido, mas não faz realmente pensar.) Não que seja preciso pensar o tempo inteiro, isso ninguém aguenta. Mas também não dá para passar a vida de tela em tela, ao sabor dos likes - a ditadura da maioria, de todas as pessoas, menos você. A vida é mais do que isso, e se 2017 cabe em um tweet, ele não aconteceu.

Fuja para um canto, ao menos nas próximas horas, e pegue papel e caneta para pensar. Sem distrações. Não conte a ninguém, apenas ache um canto para iniciar sua meditação. E sua resolução.

Preste atenção no segundo ingrediente do bom final de ano: a caligrafia. Escreva com calma e capricho, tente lembrar das suas primeiras aulas de caligrafia, naquelas folhas pautadas em que as maiúsculas atingiam a linha de cima, mas sem a ultrapassar, e as minúsculas se enquadravam no quadrante mais baixo. As letras mais caprichadas ganhavam uma estrela dourada. Procure a estrela dourada. Não pela estrela, claro, mas porque a estrela exige capricho, e o capricho desacelera a escrita, e desacelerar, para quem está num estado meditativo tão importante, é preciso. Acho que, para escrever bonito, além de tudo, é preciso ainda pensar bonito. Então, pense bonito e manifeste isso no papel.

Isso o quê? Enfim, ela: sua resolução.Resolução de quê? Convém aqui evitar a armadilha das notícias sobre a Mega Sena acumulada em trezentos milhões de reais. Não se trata do que comprar, de onde gastar, mas sim do que ser, como ser. Como se aprimorar. Mudar alguma coisa em si todo mundo quer, e dizem que a mudança começa de dentro para fora - ao menos, isso é tudo o que você (razoavelmente) controla. Então, por que não arriscar?

Por fim, acho que a boa resolução, que não diga respeito a nada comprável, que seja bem pensada e bem escrita, bem focada naquilo que nos compete (o aprimoramento pessoal) como seres humanos. Não se preocupe demasiadamente em como chegar lá. O importante é manter os olhos no horizonte desejado, e as coisas vão acontecer.

O primeiro dia do ano cai no primeiro dia da semana (é, domingo não conta). Ano, mês e semana se alinharam para que pudéssemos recomeçar. Lembre das suas resoluções e: ao trabalho. Com sorte, 2018 não caberá, daqui a 12 meses, em um tweet.«_____________________________________________ Chegou até aqui? Aproveite e siga Males Crônicos no Facebook. (ah, não esqueça de clicar em "obter notificações", lá na página) Atualizações todas as semanas. E me segue no Twitter: http://twitter.com/essenfelder ______________________________________________

arte: loro verz  Foto: Estadão

»Não sei se as resoluções de Ano Novo saíram de moda. Talvez. Alguns conceitos fundamentais, necessários aos melhores votos, parecem ter saído. Reflexão, caligrafia, aprimoramento pessoal. Minha resolução de Ano Novo começa com uma meditação sobre ela própria. Pra quê?

Vejo pelos meus próprios alunos: o espaço de reflexão encolheu - ou talvez tenha ficado tão demodê quanto topetes laqueados. Somos o tempo todo acionados pelas coisas que nos cercam. Coisas mesmo, raramente pessoas. De algum modo, isso nos torna importantes. Que chefe não se vangloria de ter milhares de e-mails não lidos? Que colega não fala com afetação dos seus grupos de Whats App e redes sociais?

Mas a ilusão de importância cobra seu preço. Parece que ninguém mais para para pensar em nada - e, se questionado, diz que não tem tempo: pede para mandar um e-mail, quer o resumo em um tweet. (O Twitter, aliás, hoje está cheio de convites a resumir o ano em 140 caracteres ou em um gif. É divertido, mas não faz realmente pensar.) Não que seja preciso pensar o tempo inteiro, isso ninguém aguenta. Mas também não dá para passar a vida de tela em tela, ao sabor dos likes - a ditadura da maioria, de todas as pessoas, menos você. A vida é mais do que isso, e se 2017 cabe em um tweet, ele não aconteceu.

Fuja para um canto, ao menos nas próximas horas, e pegue papel e caneta para pensar. Sem distrações. Não conte a ninguém, apenas ache um canto para iniciar sua meditação. E sua resolução.

Preste atenção no segundo ingrediente do bom final de ano: a caligrafia. Escreva com calma e capricho, tente lembrar das suas primeiras aulas de caligrafia, naquelas folhas pautadas em que as maiúsculas atingiam a linha de cima, mas sem a ultrapassar, e as minúsculas se enquadravam no quadrante mais baixo. As letras mais caprichadas ganhavam uma estrela dourada. Procure a estrela dourada. Não pela estrela, claro, mas porque a estrela exige capricho, e o capricho desacelera a escrita, e desacelerar, para quem está num estado meditativo tão importante, é preciso. Acho que, para escrever bonito, além de tudo, é preciso ainda pensar bonito. Então, pense bonito e manifeste isso no papel.

Isso o quê? Enfim, ela: sua resolução.Resolução de quê? Convém aqui evitar a armadilha das notícias sobre a Mega Sena acumulada em trezentos milhões de reais. Não se trata do que comprar, de onde gastar, mas sim do que ser, como ser. Como se aprimorar. Mudar alguma coisa em si todo mundo quer, e dizem que a mudança começa de dentro para fora - ao menos, isso é tudo o que você (razoavelmente) controla. Então, por que não arriscar?

Por fim, acho que a boa resolução, que não diga respeito a nada comprável, que seja bem pensada e bem escrita, bem focada naquilo que nos compete (o aprimoramento pessoal) como seres humanos. Não se preocupe demasiadamente em como chegar lá. O importante é manter os olhos no horizonte desejado, e as coisas vão acontecer.

O primeiro dia do ano cai no primeiro dia da semana (é, domingo não conta). Ano, mês e semana se alinharam para que pudéssemos recomeçar. Lembre das suas resoluções e: ao trabalho. Com sorte, 2018 não caberá, daqui a 12 meses, em um tweet.«_____________________________________________ Chegou até aqui? Aproveite e siga Males Crônicos no Facebook. (ah, não esqueça de clicar em "obter notificações", lá na página) Atualizações todas as semanas. E me segue no Twitter: http://twitter.com/essenfelder ______________________________________________

Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.