Males crônicos - crônicas sobre neuroses contemporâneas

Opinião|Todos querem se meter entre você e a sua barba


Antigamente a decisão era mais fácil, mas hoje há uma miríade de questões a considerar. Comprimento, espessura, tez, desenho. Cremes, loções, sabonetes, xampus, condicionadores, navalhas. Eis a receita de um pesadelo matinal.

Por Renato Essenfelder
 arte: loro verz Foto: Estadão

» Até há pouco tempo era uma questão absolutamente de foro íntimo. Ninguém se intrometia muito entre você e a sua barba. Talvez um pai, na puberdade, talvez uma namorada ou um patrão exigentes, na vida adulta, mas nada muito além disso. Com as luzes estroboscópicas da modernidade, contudo, a questão chega à arena pública com ares solenes. Enquetes, reportagens, fotografias, tutoriais, listas, testes: todos querem se meter entre você e a sua barba.

David Beckham lançou a moda metrossexual. O homem supervaidoso, de barba curta e cuidada, músculos definidos, ternos bem cortados e sorriso milionário, era o paradigma inalcançável da vez. Todos queriam ser David Beckham. Alguns pelo futebol, outros pelo dinheiro, outros pelo visual. Subitamente, todos nos tornamos desleixados, em comparação. Nossas barbas naturalmente cultivadas, desordenadas, um pouco longas demais (a regra eram o que? três milímetros?) ou curtas demais, em nossos rostos cansados, eram completamente reprováveis.

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A moda passa, mas a indústria fica. Depois do metrossexual começaram a soprar, recentemente, a onda do lumbersexual. Em suma, o cara que mesmo sem nunca ter rachado uma pilha de lenha na vida de alguma maneira evoca a figura rústica dos lenhadores. É igualmente vaidoso, meticuloso com a aparência, com a diferença de que se esmera para passar a imagem de algum desleixo e, principalmente, cultiva barba. Farta barba. De David Beckham ao modelo da Trivago, esse tipo de lenhador hollywoodiano, com mãos sem calos, com todos os dentes articulados em perfeitos sorrisos de revista.

A indústria dos barbeadores não aprova a nova moda - e também se mete, sugestivamente, entre pele e pelo. Dia desses, inclusive, uma pesquisa afirmou que as barbas dos homens eram tão sujas que poderiam ser comparadas a vasos sanitários. Quem quer beijar um vaso sanitário? A informação circulou desenfreadamente até que questionaram a metodologia capenga do estudo, que só agradou a indústria antibarba.

Antigamente a decisão era mais fácil, mas hoje há uma miríade de questões a considerar: comprimento, espessura, tez, desenho.  Para quem quer e inutilmente acha que pode seguir a moda, então, é um pesadelo. Em paralelo, a indústria lança em profusão cremes, loções, sabonetes, xampus, condicionadores, navalhas. Eis a receita de um pesadelo matinal.

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Para muitos homens o dia começa inevitavelmente pela barba, e, nesse sentido, começa já complicado. A barba, no entanto, só quer ser deixada em paz (ocasionalmente, de molho). Crescer livremente, sem que a podem como a um bonsai raro, sem que a tornem objeto de culto ou reprimenda. Aceita aparadas ocasionais ou diárias, não se importa, desde que não haja muita pressão sobre o que pode ser e o que será.

Afinal, uma barba é só uma barba, e há muito mais com que se preocupar. «

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» Até há pouco tempo era uma questão absolutamente de foro íntimo. Ninguém se intrometia muito entre você e a sua barba. Talvez um pai, na puberdade, talvez uma namorada ou um patrão exigentes, na vida adulta, mas nada muito além disso. Com as luzes estroboscópicas da modernidade, contudo, a questão chega à arena pública com ares solenes. Enquetes, reportagens, fotografias, tutoriais, listas, testes: todos querem se meter entre você e a sua barba.

David Beckham lançou a moda metrossexual. O homem supervaidoso, de barba curta e cuidada, músculos definidos, ternos bem cortados e sorriso milionário, era o paradigma inalcançável da vez. Todos queriam ser David Beckham. Alguns pelo futebol, outros pelo dinheiro, outros pelo visual. Subitamente, todos nos tornamos desleixados, em comparação. Nossas barbas naturalmente cultivadas, desordenadas, um pouco longas demais (a regra eram o que? três milímetros?) ou curtas demais, em nossos rostos cansados, eram completamente reprováveis.

A moda passa, mas a indústria fica. Depois do metrossexual começaram a soprar, recentemente, a onda do lumbersexual. Em suma, o cara que mesmo sem nunca ter rachado uma pilha de lenha na vida de alguma maneira evoca a figura rústica dos lenhadores. É igualmente vaidoso, meticuloso com a aparência, com a diferença de que se esmera para passar a imagem de algum desleixo e, principalmente, cultiva barba. Farta barba. De David Beckham ao modelo da Trivago, esse tipo de lenhador hollywoodiano, com mãos sem calos, com todos os dentes articulados em perfeitos sorrisos de revista.

A indústria dos barbeadores não aprova a nova moda - e também se mete, sugestivamente, entre pele e pelo. Dia desses, inclusive, uma pesquisa afirmou que as barbas dos homens eram tão sujas que poderiam ser comparadas a vasos sanitários. Quem quer beijar um vaso sanitário? A informação circulou desenfreadamente até que questionaram a metodologia capenga do estudo, que só agradou a indústria antibarba.

Antigamente a decisão era mais fácil, mas hoje há uma miríade de questões a considerar: comprimento, espessura, tez, desenho.  Para quem quer e inutilmente acha que pode seguir a moda, então, é um pesadelo. Em paralelo, a indústria lança em profusão cremes, loções, sabonetes, xampus, condicionadores, navalhas. Eis a receita de um pesadelo matinal.

Para muitos homens o dia começa inevitavelmente pela barba, e, nesse sentido, começa já complicado. A barba, no entanto, só quer ser deixada em paz (ocasionalmente, de molho). Crescer livremente, sem que a podem como a um bonsai raro, sem que a tornem objeto de culto ou reprimenda. Aceita aparadas ocasionais ou diárias, não se importa, desde que não haja muita pressão sobre o que pode ser e o que será.

Afinal, uma barba é só uma barba, e há muito mais com que se preocupar. «

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David Beckham lançou a moda metrossexual. O homem supervaidoso, de barba curta e cuidada, músculos definidos, ternos bem cortados e sorriso milionário, era o paradigma inalcançável da vez. Todos queriam ser David Beckham. Alguns pelo futebol, outros pelo dinheiro, outros pelo visual. Subitamente, todos nos tornamos desleixados, em comparação. Nossas barbas naturalmente cultivadas, desordenadas, um pouco longas demais (a regra eram o que? três milímetros?) ou curtas demais, em nossos rostos cansados, eram completamente reprováveis.

A moda passa, mas a indústria fica. Depois do metrossexual começaram a soprar, recentemente, a onda do lumbersexual. Em suma, o cara que mesmo sem nunca ter rachado uma pilha de lenha na vida de alguma maneira evoca a figura rústica dos lenhadores. É igualmente vaidoso, meticuloso com a aparência, com a diferença de que se esmera para passar a imagem de algum desleixo e, principalmente, cultiva barba. Farta barba. De David Beckham ao modelo da Trivago, esse tipo de lenhador hollywoodiano, com mãos sem calos, com todos os dentes articulados em perfeitos sorrisos de revista.

A indústria dos barbeadores não aprova a nova moda - e também se mete, sugestivamente, entre pele e pelo. Dia desses, inclusive, uma pesquisa afirmou que as barbas dos homens eram tão sujas que poderiam ser comparadas a vasos sanitários. Quem quer beijar um vaso sanitário? A informação circulou desenfreadamente até que questionaram a metodologia capenga do estudo, que só agradou a indústria antibarba.

Antigamente a decisão era mais fácil, mas hoje há uma miríade de questões a considerar: comprimento, espessura, tez, desenho.  Para quem quer e inutilmente acha que pode seguir a moda, então, é um pesadelo. Em paralelo, a indústria lança em profusão cremes, loções, sabonetes, xampus, condicionadores, navalhas. Eis a receita de um pesadelo matinal.

Para muitos homens o dia começa inevitavelmente pela barba, e, nesse sentido, começa já complicado. A barba, no entanto, só quer ser deixada em paz (ocasionalmente, de molho). Crescer livremente, sem que a podem como a um bonsai raro, sem que a tornem objeto de culto ou reprimenda. Aceita aparadas ocasionais ou diárias, não se importa, desde que não haja muita pressão sobre o que pode ser e o que será.

Afinal, uma barba é só uma barba, e há muito mais com que se preocupar. «

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David Beckham lançou a moda metrossexual. O homem supervaidoso, de barba curta e cuidada, músculos definidos, ternos bem cortados e sorriso milionário, era o paradigma inalcançável da vez. Todos queriam ser David Beckham. Alguns pelo futebol, outros pelo dinheiro, outros pelo visual. Subitamente, todos nos tornamos desleixados, em comparação. Nossas barbas naturalmente cultivadas, desordenadas, um pouco longas demais (a regra eram o que? três milímetros?) ou curtas demais, em nossos rostos cansados, eram completamente reprováveis.

A moda passa, mas a indústria fica. Depois do metrossexual começaram a soprar, recentemente, a onda do lumbersexual. Em suma, o cara que mesmo sem nunca ter rachado uma pilha de lenha na vida de alguma maneira evoca a figura rústica dos lenhadores. É igualmente vaidoso, meticuloso com a aparência, com a diferença de que se esmera para passar a imagem de algum desleixo e, principalmente, cultiva barba. Farta barba. De David Beckham ao modelo da Trivago, esse tipo de lenhador hollywoodiano, com mãos sem calos, com todos os dentes articulados em perfeitos sorrisos de revista.

A indústria dos barbeadores não aprova a nova moda - e também se mete, sugestivamente, entre pele e pelo. Dia desses, inclusive, uma pesquisa afirmou que as barbas dos homens eram tão sujas que poderiam ser comparadas a vasos sanitários. Quem quer beijar um vaso sanitário? A informação circulou desenfreadamente até que questionaram a metodologia capenga do estudo, que só agradou a indústria antibarba.

Antigamente a decisão era mais fácil, mas hoje há uma miríade de questões a considerar: comprimento, espessura, tez, desenho.  Para quem quer e inutilmente acha que pode seguir a moda, então, é um pesadelo. Em paralelo, a indústria lança em profusão cremes, loções, sabonetes, xampus, condicionadores, navalhas. Eis a receita de um pesadelo matinal.

Para muitos homens o dia começa inevitavelmente pela barba, e, nesse sentido, começa já complicado. A barba, no entanto, só quer ser deixada em paz (ocasionalmente, de molho). Crescer livremente, sem que a podem como a um bonsai raro, sem que a tornem objeto de culto ou reprimenda. Aceita aparadas ocasionais ou diárias, não se importa, desde que não haja muita pressão sobre o que pode ser e o que será.

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Opinião por Renato Essenfelder

Escritor e professor universitário, com um pé no Brasil e outro em Portugal. Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e autor de Febre (2013), As Moiras (2014) e Ninguém Mais Diz Adeus (2020). Docente e pesquisador nas áreas de storytelling e escrita criativa, escreve crônicas de cultura e comportamento no Estadão desde 2013.

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