Se não, vejamos: os vices de Dominguez são da Colômbia (Ramon Jesurún) e da Venezuela (Laureano González). Há uma vice-presidência vaga, mas o lugar já está destinado a um boliviano - que substituirá outro boliviano.
Mas o sinal de que o moral brasileiro está lá embaixo foi o poder dado ao argentino Luis Segura, aliás um cartola das antigas (se é que você entende este blogueiro). Ele foi eleito para o Comitê Executivo da Fifa, na condição de representante sul-americano. Outro representante é o próprio Dominguez, na vaga deixada pelo hoje preso Juan Angel Napout - a quem Dominguez substitui na Conmebol, pois foi eleito para concluir o mandado de Napout, que iria até 2019.
Pode-se alegar que o Brasil tem um integrante no Comitê Executivo da Fifa, numa alusão a Fernando Sarney. Mas o filho do ex-presidente da República já estava no cargo, nomeado que foi por Marco Polo del Nero, o presidente licenciado da CBF.
Tivesse o Brasil cartolas de peso e ganharia lugar pelo menos nas vice-presidências. Mas hoje o País não tem. Exemplo disso foi que poucos cartolas sul-americanos conheciam até segunda-feira o atual presidente da CBF, o coronel Antonio Nunes. Diga-se que a recíproca é verdadeira, pois Nunes deixou claro em entrevistas que não sabia quem Alejandro Dominguez era. Isso apesar de ter votado nele - o paraguaio foi eleito por unanimidade, até porque foi candidato único, uma vez que o uruguaio Wilmar Valdez retirou sua candidatura.
Aí, vale notar alguns detalhes:
Nunes votou em Dominguez - amigo de Napout e do ex-presidente da Conmebol e igualmente enrascado com a Justiça Nicolas Leoz - porque Del Nero mandou. Votaria na Barbie se o presidente licenciado na CBF assim determinasse.
Segura ganhou prestígio e poder porque foi ele quem articulou a candidatura de Dominguez e depois a desistência de Valdez - que só teria o apoio de três das 10 federações do continente e passou a ser malvisto depois que, como presidente interino, começou a falar em modernização e em apuração de malfeitos. Por isso, o argentino vai parar na Fifa e também vai botar as cartas na mesa naConmebol, pois está colocando seus tentáculos na secretaria geral.
Não muito tempo atrás, a cartolagem abaixava a cabeça para Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero.Sabe-se agora, por meio das denúncias, delações e investigações que esse "abaixar de cabeça'' talvez não acontecesse por simples devoção ou respeito. Mas é fato que o Brasil tinha voz ativa na Conmebol e na Fifa, a ponto de em três eliminatórias seguidas a seleção fazer os dois últimos jogos contra Bolívia e Venezuela, ou seja, se estivesse precisando de pontos para ir a uma Copa, conseguiria sem problemas. Eram tempos em que o futebol brasileiro dava as cartas na Conmebol - e também na Fifa, a quem em última instância cabe definir a tabela das eliminatórias.
Hoje a situação é bem diferente e nada indica que o quadro mudará no curto prazo. No entanto, um outro dirigente brasileiro poderá, com o passar do tempo, crescer na Conmebol: Reinaldo Carneiro Bastos, atual presidente da Federação Paulista de Futebol.
Enquanto isso, o Brasil viverá na entidade sul-americana do coronel Nunes - Fernando Sarney dá seus pitacos, mas não anda disposto a se expor muito. Péssimo para o País e ótimo para o militar da reserva,que como membro do Comitê Executivo (cargo que ocupa por ser o presidente interino da CBF) abocanhará US$ 20 mil mensais. Fora os R$ 180 mil que leva da CBF.