Essa sensação paira no ar, com a decisão de apresentar-se o suposto autor do disparo do sinalizador que no meio da semana passada matou o boliviano Kevin Beltrán. Com direito a entrevista na tevê, o rapaz de 17 anos - portanto, menor de idade - assumirá responsabilidade pela tragédia ocorrida em Oruro.
O moço responderá pelo ato diante de autoridades brasileiras e vai submeter-se à legislação do país específica para os delitos cometidos por pessoas abaixo dos 18 anos de idade. Costuma-se sugerir penas alternativas e educadoras para os enquadrados nesses casos.
Com isso, se supõe, fica esclarecido o episódio chocante da quarta-feira e se escancara a porta para que se faça justiça. Ao mesmo tempo, abre-se caminho para que os 12 torcedores detidos na casa do vizinho sejam liberados, pois o culpado apareceu e o mistério se desfez.
O caso continuará a seguir os trâmites normais, mas com alguma mudança de rumo daqui em diante. Suspeitos e acusados precisam ter garantias de defesa ampla, como princípio básico de direito humano em qualquer parte do mundo. Mas a esperança é de que a atenção se concentre no adolescente que resolveu abrir o jogo. Espontaneamente, conforme afirmam os que lhe são próximos.
Continua a impressão de que a vida real se confunde com a imaginação de roteirista pouco criativo. Certo mesmo é que Kevin não era personagem de ficção, morreu estupidamente aos 14 anos e talvez se transforme apenas em mais um número na estatística das vítimas da violência no futebol. Fica a dúvida até se a memória dele será honrada - e isso vai bem além de uma faixa de solidariedade estendida num estádio.
Logo a rotina será retomada e todos, atores e público, estaremos à espera da nova tragédia. Real, e não fictícia.
*(Parte principal da minha crônica no Estado de hoje, segunda-feira, dia 25/2/2013.)