Astro santista resiste aos dólares


Por Agencia Estado

O futebol brasileiro sempre foi exportador de talentos, mas nos últimos anos, com a entrada em vigor da Lei Pelé, o êxodo aumentou. E os jogadores estão deixando o País rumo, principalmente, à Europa, cada vez mais novos. Fez sucesso, vai embora. Assim foi com Diego, Kaká, Carlos Alberto, Vágner Love, Nilmar... Apenas um jovem talento ficou: Robson de Souza, o Robinho. Não que não tenha tido chance. Equipes como a Fiorentina italiana e o Chelsea inglês, entre outras, já tentaram levar seus dribles e suas pedaladas. Robinho não foi. Ao contrário, prorrogou o contrato com o Santos até janeiro de 2008. "Não tenho pressa, sou novo ainda. E eu quero é ir à Copa do Mundo de 2006??, diz. Claro que Robinho quer jogar na Europa um dia. Mas está bem por aqui. É considerado o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Passou a jogar um futebol mais objetivo, mas encanta cada vez mais com seus dribles. E virou artilheiro (já fez 19 gols no Nacional). Está de bem com a vida. Mantém o jeito simples, o largo sorriso, a alegria dos tempos em que ia ao treino nas categorias de base do Santos de carona, sentado no cano da bicicleta do amigo Diego. Aos 20 anos, Robinho é uma estrela, mas mantém a espontaneidade do garoto criado no Parque Bitirana, na periferia de São Vicente, onde, aliás, volta sempre que pode. "Tenho muitos amigos por lá. E não vou esquecer minha origem??, disse à Agência Estado na sexta-feira, após o treino do Santos em um resort em Atibaia. Agência Estado - O Brasileiro ainda não acabou, mas muitos já o consideram o melhor jogador do campeonato. O que isso representa para você, um garoto de apenas 20 anos? Eu fico muito feliz, venho jogando bem e espero poder melhorar ainda mais. Mas o principal objetivo é o título. Vai ser importante se, ao final do campeonato, eu for considerado o melhor jogador do Brasil, mas eu quero é ficar marcado mais uma vez na história do Santos como campeão. AE - Mas há um detalhe: as principais revelações do futebol brasileiro nos últimos anos já estão na Europa. Só sobrou você. Sente-se como o último dos Moicanos? Não, acho que não. Tem vários jogadores bons no Brasil, é só analisar um pouquinho melhor. Tem no Cruzeiro (não citou nenhum), tem o Dagoberto (Atlético-PR), que é muito bom e é novo também. É que eu surgi ao mesmo tempo que vários outros, Kaká e Diego, por exemplo. Mas tem muito jogador aparecendo agora. AE - Você prorrogou seu contrato com o Santos até janeiro de 2008. Acha mesmo que fica no Brasil até lá? Não sei, apareceram propostas, mas nenhuma que pudesse me comover, que fosse tão boa para mim e para o Santos. Eu tenho o sonho de jogar na Europa, como todo mundo. Espero mostrar meu futebol para os europeus e fazer lá o sucesso que faço aqui, mas não tenho pressa em sair do Santos. É minha casa, me sinto bem aqui, ganho bem (comenta-se que R$ 200 mil mensais), o Santos paga em dia, jogo num time que é bom, tem um excelente treinador, o grupo é muito bom, enfim, não tenho pressa. AE - Sua intenção é ir para a Europa somente se for para um time de ponta? Sim, senão não compensa, mesmo porque ainda sou novo. Espero sair para um time bom da Itália, Espanha, Inglaterra ou Portugal, países em que eu possa mostrar meu futebol. Quero sair para um time grande, que dispute títulos como o Santos. AE - Você tem falado com o Diego? Robinho - Sempre, pelo telefone, por e-mail. Procuro saber como ele está se adaptando ao Porto e a Portugal. Ele fala que está bem. AE - Aproveita para saber como é trabalhar no futebol na Europa? Não converso com ele sobre isso. Quando eu for jogar lá, fico sabendo. AE - E a seleção? A briga por um lugar é acirrada? A gente sabe que tem vários jogadores bons disputando posição (no ataque). Tem jogadores que jogam na Europa, como Luís Fabiano, Adriano, Ronaldo e Vágner Love. Meu objetivo é estar na Copa de 2006 e para isso tenho de trabalhar bastante aqui no Santos. Espero continuar jogando bem até o ano da Copa. AE - Em sua curta carreira, a fase mais dura foi após o Pré-Olímpico. Como foi lidar com as críticas? Infelizmente não conseguimos classificar o Brasil para a Olimpíada de Atenas e as críticas vieram. Mas procurei lidar com tranqüilidade, mesmo porque sabia que não tinha perdido o meu futebol. Então, era só questão de ter tranqüilidade que a boa fase logo voltaria, e foi o que aconteceu. AE - Durante a "maré baixa", quem te deu força? Minha família, principalmente, meu pai (Gilvan), mãe (Marina), noiva (Vivian). E no Santos todos os meus companheiros, sem exceção (depois, citou Elano e Diego). E o Leão, que era o treinador, me deu apoio total. Isso me fez ter tranqüilidade para voltar a jogar meu futebol. AE - O que você aprendeu com aquele episódio no Chile (teve fotografada uma brincadeira em que abaixava o calção de Diego)? Fiz uma brincadeira diante dos jornalistas e acabaram colocando a brincadeira como motivo da nossa derrota. Nós perdemos porque tínhamos que perder, não jogamos bem e infelizmente não classificamos o Brasil para a Olimpíada. Errei em brincar diante da imprensa. Aprendi. Hoje, brinco em lugar fechado, com meus companheiros, porque sei que sou muito visado. Mas continuo o mesmo Robinho, não vou perder a alegria, a espontaneidade. AE - É uma maneira de se proteger... Eu sei que no futebol tudo se resume naquilo que você está apresentando em campo. Se você tiver tomado um copo de cachaça e ganhar o jogo, ninguém vai falar nada. Mas se você tiver tomado um copo de leite e perder, todo mundo vai falar. Sempre procuram culpados por causa da derrota. AE - Em que você evoluiu desde que subiu para o time principal do Santos? Acho que evolui bastante desde que comecei. No início, era um pouco diferente. Eu partia para cima dos adversários, buscando driblar, pois muitos não me conheciam, não sabiam qual seria a minha jogada. Aí, muitas vezes eu levava vantagem, por dar uma balançada (risos). Hoje, procuro tocar mais a bola e também usar minha habilidade numa tabela e driblando em progressão ao gol. Isso também me ajudou a fazer mais gols, também melhorei meu chute. AE - Foi um processo de amadurecimento... Foi. Acho que o drible é bonito, mas sempre com objetividade, mesmo porque os adversários não gostam e até estranham quando você dribla para menosprezar. AE - Recentemente, o Júnior Baiano ficou irritado com seus dribles e usou até um tom ameaçador para te criticar. Isso te incomoda? Não, até porque não desrespeito ninguém. Uso a habilidade para construir uma jogada em prol do meu time. Sempre driblei e vou continuar driblando. AE - O drible é algo que encanta, a torcida gosta. Por isso, às vezes você não sente vontade de driblar mais do que o necessário? Hoje eu não exagero mais nos dribles, até porque sei que, se perder a bola, a cobrança em cima de mim será grande. Sei que tenho habilidade por causa do futebol de salão, que joguei por muito tempo, e procuro usá-la para ajudar o grupo. Com um drible, você desestabiliza qualquer equipe, principalmente porque as equipes que vêm jogar contra o Santos exercem marcação individual. Um drible bem dado abre a marcação do adversário. AE - Como foi sua experiência como gandula do Santos? Isso foi quando eu jogava nas categorias de base, acho que no time sub 15. A gente ficava feliz de ver os profissionais jogando e surgiu a oportunidade de ser gandula na Vila. Ainda ganhava um dinheirinho, 10 ou 20 reais, não me lembro. A felicidade era grande. A gente ganhava um dinheiro e ainda ficava no meio dos profissionais, dos ídolos. Nessa época, o Deivid subiu para os profissionais. Hoje, ele brinca dizendo que eu fui gandula dele e agora quero dar bronca nele. AE - E hoje, você tem contato com a garotada que está nas categorias de base? Claro, falo com muitos deles. Alguns já me conhecem desde o tempo de juvenil. Às vezes eu dou chuteiras para eles, a garotada precisa e muitos não têm como comprar. Sempre que eu posso estou lá falando com eles. AE - Você ainda mantém contato com o pessoal lá do bairro onde foi criado? Eu não posso esquecer das minhas raízes. Eu nunca vou esquecer. Sempre que posso, vou lá no Parque Bitirana (em São Vicente). Na maioria das vezes, vou lá para cortar o cabelo, rever os amigos. Fiz algumas amizades muito boas e sinceras. Posso contar com essas pessoas até hoje, independentemente de estar bem no futebol ou não. Me sinto feliz quando estou com eles. E eles também se sentem felizes porque alguém que saiu de lá, de família humilde, venceu na vida. AE - Você corta o cabelo sempre com a mesma pessoa? O Pelé também faz isso, você sabia? Sabia. E faço o mesmo, mas é coincidência. Corto sempre com o Gilson, ele é meu cabeleireiro. Eu até o ajudei a fazer um salãozinho lá. É meu parceiro. Ele até brinca, diz que se eu for vendido, vou ter de levá-lo para cortar o cabelo. Eu gosto do jeito que ele corta. Passa a máquina direitinho. AE - O Pelé foi o primeiro a perceber seu talento. Você mantém contato com ele? Não, agora é meio difícil eu ter contato com o rei do futebol. Às vezes a gente se encontra num mesmo programa de TV. Mas não esqueço que ele me elogiou quando eu tinha 12, 13 anos. Disse que se eu tivesse humildade e a cabeça no lugar, poderia chegar ao time profissional. Segui os conselhos do nosso rei e consegui chegar ao meu objetivo, que era ser profissional. AE - Recentemente, Pelé criticou os jogadores, por se ligarem a empresários e por não serem unidos. Como você analisa estas críticas? Independente do que o rei falar, meu carinho por ele não vai mudar. Mas acho que há casos e casos. Meu empresário atual (Wagner Ribeiro) sempre me ajudou, nunca me atrapalhou em nada, nem quis ganhar dinheiro em cima de mim. Quando eu era garoto, 15 para 16 anos, ele me ajudava bastante, Às vezes, nas categorias de base, o salário não saia, ele ia lá e pagava, me ajudava bastante. Eu não tenho nada a reclamar, só a agradecer. AE - Você comprou um apartamento, está morando sozinho? Estou. Mas sempre que posso estou na casa da minha mãe comendo de graça lá (risos). AE - Além de disputar a Copa de 2006 e jogar na Europa, quais são os seus sonhos? Olha, o sonho que eu tinha quando criança era dar uma casa para a minha mãe. Já consegui e me sinto feliz. Agora, só tenho sonhos profissionais. Na vida pessoal, quero casar futuramente, ter meu filho e que ele tenha saúde. AE - Sua imagem está muito associada ao Santos. Você se vê vestindo a camisa de outro clube brasileiro? Não me vejo. Não digo que não jogaria em outro time, porque a gente não sabe o dia de amanhã. Posso até jogar e farei com muito prazer. Mas já me sinto realizado no Santos, um time grande, onde já jogou o rei do futebol. AE - E as coisas aconteceram rapidamente para você... Eu tinha um preparador físico que sempre me dizia que o sucesso acontece quando a oportunidade encontra a preparação. Eu me preparei para jogar no profissional e por isso tive sucesso. Mas não imaginava que seria tão rápido assim. Eu subi com 17 anos e fui campeão brasileiro com 18. Não posso reclamar, né (risos).

O futebol brasileiro sempre foi exportador de talentos, mas nos últimos anos, com a entrada em vigor da Lei Pelé, o êxodo aumentou. E os jogadores estão deixando o País rumo, principalmente, à Europa, cada vez mais novos. Fez sucesso, vai embora. Assim foi com Diego, Kaká, Carlos Alberto, Vágner Love, Nilmar... Apenas um jovem talento ficou: Robson de Souza, o Robinho. Não que não tenha tido chance. Equipes como a Fiorentina italiana e o Chelsea inglês, entre outras, já tentaram levar seus dribles e suas pedaladas. Robinho não foi. Ao contrário, prorrogou o contrato com o Santos até janeiro de 2008. "Não tenho pressa, sou novo ainda. E eu quero é ir à Copa do Mundo de 2006??, diz. Claro que Robinho quer jogar na Europa um dia. Mas está bem por aqui. É considerado o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Passou a jogar um futebol mais objetivo, mas encanta cada vez mais com seus dribles. E virou artilheiro (já fez 19 gols no Nacional). Está de bem com a vida. Mantém o jeito simples, o largo sorriso, a alegria dos tempos em que ia ao treino nas categorias de base do Santos de carona, sentado no cano da bicicleta do amigo Diego. Aos 20 anos, Robinho é uma estrela, mas mantém a espontaneidade do garoto criado no Parque Bitirana, na periferia de São Vicente, onde, aliás, volta sempre que pode. "Tenho muitos amigos por lá. E não vou esquecer minha origem??, disse à Agência Estado na sexta-feira, após o treino do Santos em um resort em Atibaia. Agência Estado - O Brasileiro ainda não acabou, mas muitos já o consideram o melhor jogador do campeonato. O que isso representa para você, um garoto de apenas 20 anos? Eu fico muito feliz, venho jogando bem e espero poder melhorar ainda mais. Mas o principal objetivo é o título. Vai ser importante se, ao final do campeonato, eu for considerado o melhor jogador do Brasil, mas eu quero é ficar marcado mais uma vez na história do Santos como campeão. AE - Mas há um detalhe: as principais revelações do futebol brasileiro nos últimos anos já estão na Europa. Só sobrou você. Sente-se como o último dos Moicanos? Não, acho que não. Tem vários jogadores bons no Brasil, é só analisar um pouquinho melhor. Tem no Cruzeiro (não citou nenhum), tem o Dagoberto (Atlético-PR), que é muito bom e é novo também. É que eu surgi ao mesmo tempo que vários outros, Kaká e Diego, por exemplo. Mas tem muito jogador aparecendo agora. AE - Você prorrogou seu contrato com o Santos até janeiro de 2008. Acha mesmo que fica no Brasil até lá? Não sei, apareceram propostas, mas nenhuma que pudesse me comover, que fosse tão boa para mim e para o Santos. Eu tenho o sonho de jogar na Europa, como todo mundo. Espero mostrar meu futebol para os europeus e fazer lá o sucesso que faço aqui, mas não tenho pressa em sair do Santos. É minha casa, me sinto bem aqui, ganho bem (comenta-se que R$ 200 mil mensais), o Santos paga em dia, jogo num time que é bom, tem um excelente treinador, o grupo é muito bom, enfim, não tenho pressa. AE - Sua intenção é ir para a Europa somente se for para um time de ponta? Sim, senão não compensa, mesmo porque ainda sou novo. Espero sair para um time bom da Itália, Espanha, Inglaterra ou Portugal, países em que eu possa mostrar meu futebol. Quero sair para um time grande, que dispute títulos como o Santos. AE - Você tem falado com o Diego? Robinho - Sempre, pelo telefone, por e-mail. Procuro saber como ele está se adaptando ao Porto e a Portugal. Ele fala que está bem. AE - Aproveita para saber como é trabalhar no futebol na Europa? Não converso com ele sobre isso. Quando eu for jogar lá, fico sabendo. AE - E a seleção? A briga por um lugar é acirrada? A gente sabe que tem vários jogadores bons disputando posição (no ataque). Tem jogadores que jogam na Europa, como Luís Fabiano, Adriano, Ronaldo e Vágner Love. Meu objetivo é estar na Copa de 2006 e para isso tenho de trabalhar bastante aqui no Santos. Espero continuar jogando bem até o ano da Copa. AE - Em sua curta carreira, a fase mais dura foi após o Pré-Olímpico. Como foi lidar com as críticas? Infelizmente não conseguimos classificar o Brasil para a Olimpíada de Atenas e as críticas vieram. Mas procurei lidar com tranqüilidade, mesmo porque sabia que não tinha perdido o meu futebol. Então, era só questão de ter tranqüilidade que a boa fase logo voltaria, e foi o que aconteceu. AE - Durante a "maré baixa", quem te deu força? Minha família, principalmente, meu pai (Gilvan), mãe (Marina), noiva (Vivian). E no Santos todos os meus companheiros, sem exceção (depois, citou Elano e Diego). E o Leão, que era o treinador, me deu apoio total. Isso me fez ter tranqüilidade para voltar a jogar meu futebol. AE - O que você aprendeu com aquele episódio no Chile (teve fotografada uma brincadeira em que abaixava o calção de Diego)? Fiz uma brincadeira diante dos jornalistas e acabaram colocando a brincadeira como motivo da nossa derrota. Nós perdemos porque tínhamos que perder, não jogamos bem e infelizmente não classificamos o Brasil para a Olimpíada. Errei em brincar diante da imprensa. Aprendi. Hoje, brinco em lugar fechado, com meus companheiros, porque sei que sou muito visado. Mas continuo o mesmo Robinho, não vou perder a alegria, a espontaneidade. AE - É uma maneira de se proteger... Eu sei que no futebol tudo se resume naquilo que você está apresentando em campo. Se você tiver tomado um copo de cachaça e ganhar o jogo, ninguém vai falar nada. Mas se você tiver tomado um copo de leite e perder, todo mundo vai falar. Sempre procuram culpados por causa da derrota. AE - Em que você evoluiu desde que subiu para o time principal do Santos? Acho que evolui bastante desde que comecei. No início, era um pouco diferente. Eu partia para cima dos adversários, buscando driblar, pois muitos não me conheciam, não sabiam qual seria a minha jogada. Aí, muitas vezes eu levava vantagem, por dar uma balançada (risos). Hoje, procuro tocar mais a bola e também usar minha habilidade numa tabela e driblando em progressão ao gol. Isso também me ajudou a fazer mais gols, também melhorei meu chute. AE - Foi um processo de amadurecimento... Foi. Acho que o drible é bonito, mas sempre com objetividade, mesmo porque os adversários não gostam e até estranham quando você dribla para menosprezar. AE - Recentemente, o Júnior Baiano ficou irritado com seus dribles e usou até um tom ameaçador para te criticar. Isso te incomoda? Não, até porque não desrespeito ninguém. Uso a habilidade para construir uma jogada em prol do meu time. Sempre driblei e vou continuar driblando. AE - O drible é algo que encanta, a torcida gosta. Por isso, às vezes você não sente vontade de driblar mais do que o necessário? Hoje eu não exagero mais nos dribles, até porque sei que, se perder a bola, a cobrança em cima de mim será grande. Sei que tenho habilidade por causa do futebol de salão, que joguei por muito tempo, e procuro usá-la para ajudar o grupo. Com um drible, você desestabiliza qualquer equipe, principalmente porque as equipes que vêm jogar contra o Santos exercem marcação individual. Um drible bem dado abre a marcação do adversário. AE - Como foi sua experiência como gandula do Santos? Isso foi quando eu jogava nas categorias de base, acho que no time sub 15. A gente ficava feliz de ver os profissionais jogando e surgiu a oportunidade de ser gandula na Vila. Ainda ganhava um dinheirinho, 10 ou 20 reais, não me lembro. A felicidade era grande. A gente ganhava um dinheiro e ainda ficava no meio dos profissionais, dos ídolos. Nessa época, o Deivid subiu para os profissionais. Hoje, ele brinca dizendo que eu fui gandula dele e agora quero dar bronca nele. AE - E hoje, você tem contato com a garotada que está nas categorias de base? Claro, falo com muitos deles. Alguns já me conhecem desde o tempo de juvenil. Às vezes eu dou chuteiras para eles, a garotada precisa e muitos não têm como comprar. Sempre que eu posso estou lá falando com eles. AE - Você ainda mantém contato com o pessoal lá do bairro onde foi criado? Eu não posso esquecer das minhas raízes. Eu nunca vou esquecer. Sempre que posso, vou lá no Parque Bitirana (em São Vicente). Na maioria das vezes, vou lá para cortar o cabelo, rever os amigos. Fiz algumas amizades muito boas e sinceras. Posso contar com essas pessoas até hoje, independentemente de estar bem no futebol ou não. Me sinto feliz quando estou com eles. E eles também se sentem felizes porque alguém que saiu de lá, de família humilde, venceu na vida. AE - Você corta o cabelo sempre com a mesma pessoa? O Pelé também faz isso, você sabia? Sabia. E faço o mesmo, mas é coincidência. Corto sempre com o Gilson, ele é meu cabeleireiro. Eu até o ajudei a fazer um salãozinho lá. É meu parceiro. Ele até brinca, diz que se eu for vendido, vou ter de levá-lo para cortar o cabelo. Eu gosto do jeito que ele corta. Passa a máquina direitinho. AE - O Pelé foi o primeiro a perceber seu talento. Você mantém contato com ele? Não, agora é meio difícil eu ter contato com o rei do futebol. Às vezes a gente se encontra num mesmo programa de TV. Mas não esqueço que ele me elogiou quando eu tinha 12, 13 anos. Disse que se eu tivesse humildade e a cabeça no lugar, poderia chegar ao time profissional. Segui os conselhos do nosso rei e consegui chegar ao meu objetivo, que era ser profissional. AE - Recentemente, Pelé criticou os jogadores, por se ligarem a empresários e por não serem unidos. Como você analisa estas críticas? Independente do que o rei falar, meu carinho por ele não vai mudar. Mas acho que há casos e casos. Meu empresário atual (Wagner Ribeiro) sempre me ajudou, nunca me atrapalhou em nada, nem quis ganhar dinheiro em cima de mim. Quando eu era garoto, 15 para 16 anos, ele me ajudava bastante, Às vezes, nas categorias de base, o salário não saia, ele ia lá e pagava, me ajudava bastante. Eu não tenho nada a reclamar, só a agradecer. AE - Você comprou um apartamento, está morando sozinho? Estou. Mas sempre que posso estou na casa da minha mãe comendo de graça lá (risos). AE - Além de disputar a Copa de 2006 e jogar na Europa, quais são os seus sonhos? Olha, o sonho que eu tinha quando criança era dar uma casa para a minha mãe. Já consegui e me sinto feliz. Agora, só tenho sonhos profissionais. Na vida pessoal, quero casar futuramente, ter meu filho e que ele tenha saúde. AE - Sua imagem está muito associada ao Santos. Você se vê vestindo a camisa de outro clube brasileiro? Não me vejo. Não digo que não jogaria em outro time, porque a gente não sabe o dia de amanhã. Posso até jogar e farei com muito prazer. Mas já me sinto realizado no Santos, um time grande, onde já jogou o rei do futebol. AE - E as coisas aconteceram rapidamente para você... Eu tinha um preparador físico que sempre me dizia que o sucesso acontece quando a oportunidade encontra a preparação. Eu me preparei para jogar no profissional e por isso tive sucesso. Mas não imaginava que seria tão rápido assim. Eu subi com 17 anos e fui campeão brasileiro com 18. Não posso reclamar, né (risos).

O futebol brasileiro sempre foi exportador de talentos, mas nos últimos anos, com a entrada em vigor da Lei Pelé, o êxodo aumentou. E os jogadores estão deixando o País rumo, principalmente, à Europa, cada vez mais novos. Fez sucesso, vai embora. Assim foi com Diego, Kaká, Carlos Alberto, Vágner Love, Nilmar... Apenas um jovem talento ficou: Robson de Souza, o Robinho. Não que não tenha tido chance. Equipes como a Fiorentina italiana e o Chelsea inglês, entre outras, já tentaram levar seus dribles e suas pedaladas. Robinho não foi. Ao contrário, prorrogou o contrato com o Santos até janeiro de 2008. "Não tenho pressa, sou novo ainda. E eu quero é ir à Copa do Mundo de 2006??, diz. Claro que Robinho quer jogar na Europa um dia. Mas está bem por aqui. É considerado o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Passou a jogar um futebol mais objetivo, mas encanta cada vez mais com seus dribles. E virou artilheiro (já fez 19 gols no Nacional). Está de bem com a vida. Mantém o jeito simples, o largo sorriso, a alegria dos tempos em que ia ao treino nas categorias de base do Santos de carona, sentado no cano da bicicleta do amigo Diego. Aos 20 anos, Robinho é uma estrela, mas mantém a espontaneidade do garoto criado no Parque Bitirana, na periferia de São Vicente, onde, aliás, volta sempre que pode. "Tenho muitos amigos por lá. E não vou esquecer minha origem??, disse à Agência Estado na sexta-feira, após o treino do Santos em um resort em Atibaia. Agência Estado - O Brasileiro ainda não acabou, mas muitos já o consideram o melhor jogador do campeonato. O que isso representa para você, um garoto de apenas 20 anos? Eu fico muito feliz, venho jogando bem e espero poder melhorar ainda mais. Mas o principal objetivo é o título. Vai ser importante se, ao final do campeonato, eu for considerado o melhor jogador do Brasil, mas eu quero é ficar marcado mais uma vez na história do Santos como campeão. AE - Mas há um detalhe: as principais revelações do futebol brasileiro nos últimos anos já estão na Europa. Só sobrou você. Sente-se como o último dos Moicanos? Não, acho que não. Tem vários jogadores bons no Brasil, é só analisar um pouquinho melhor. Tem no Cruzeiro (não citou nenhum), tem o Dagoberto (Atlético-PR), que é muito bom e é novo também. É que eu surgi ao mesmo tempo que vários outros, Kaká e Diego, por exemplo. Mas tem muito jogador aparecendo agora. AE - Você prorrogou seu contrato com o Santos até janeiro de 2008. Acha mesmo que fica no Brasil até lá? Não sei, apareceram propostas, mas nenhuma que pudesse me comover, que fosse tão boa para mim e para o Santos. Eu tenho o sonho de jogar na Europa, como todo mundo. Espero mostrar meu futebol para os europeus e fazer lá o sucesso que faço aqui, mas não tenho pressa em sair do Santos. É minha casa, me sinto bem aqui, ganho bem (comenta-se que R$ 200 mil mensais), o Santos paga em dia, jogo num time que é bom, tem um excelente treinador, o grupo é muito bom, enfim, não tenho pressa. AE - Sua intenção é ir para a Europa somente se for para um time de ponta? Sim, senão não compensa, mesmo porque ainda sou novo. Espero sair para um time bom da Itália, Espanha, Inglaterra ou Portugal, países em que eu possa mostrar meu futebol. Quero sair para um time grande, que dispute títulos como o Santos. AE - Você tem falado com o Diego? Robinho - Sempre, pelo telefone, por e-mail. Procuro saber como ele está se adaptando ao Porto e a Portugal. Ele fala que está bem. AE - Aproveita para saber como é trabalhar no futebol na Europa? Não converso com ele sobre isso. Quando eu for jogar lá, fico sabendo. AE - E a seleção? A briga por um lugar é acirrada? A gente sabe que tem vários jogadores bons disputando posição (no ataque). Tem jogadores que jogam na Europa, como Luís Fabiano, Adriano, Ronaldo e Vágner Love. Meu objetivo é estar na Copa de 2006 e para isso tenho de trabalhar bastante aqui no Santos. Espero continuar jogando bem até o ano da Copa. AE - Em sua curta carreira, a fase mais dura foi após o Pré-Olímpico. Como foi lidar com as críticas? Infelizmente não conseguimos classificar o Brasil para a Olimpíada de Atenas e as críticas vieram. Mas procurei lidar com tranqüilidade, mesmo porque sabia que não tinha perdido o meu futebol. Então, era só questão de ter tranqüilidade que a boa fase logo voltaria, e foi o que aconteceu. AE - Durante a "maré baixa", quem te deu força? Minha família, principalmente, meu pai (Gilvan), mãe (Marina), noiva (Vivian). E no Santos todos os meus companheiros, sem exceção (depois, citou Elano e Diego). E o Leão, que era o treinador, me deu apoio total. Isso me fez ter tranqüilidade para voltar a jogar meu futebol. AE - O que você aprendeu com aquele episódio no Chile (teve fotografada uma brincadeira em que abaixava o calção de Diego)? Fiz uma brincadeira diante dos jornalistas e acabaram colocando a brincadeira como motivo da nossa derrota. Nós perdemos porque tínhamos que perder, não jogamos bem e infelizmente não classificamos o Brasil para a Olimpíada. Errei em brincar diante da imprensa. Aprendi. Hoje, brinco em lugar fechado, com meus companheiros, porque sei que sou muito visado. Mas continuo o mesmo Robinho, não vou perder a alegria, a espontaneidade. AE - É uma maneira de se proteger... Eu sei que no futebol tudo se resume naquilo que você está apresentando em campo. Se você tiver tomado um copo de cachaça e ganhar o jogo, ninguém vai falar nada. Mas se você tiver tomado um copo de leite e perder, todo mundo vai falar. Sempre procuram culpados por causa da derrota. AE - Em que você evoluiu desde que subiu para o time principal do Santos? Acho que evolui bastante desde que comecei. No início, era um pouco diferente. Eu partia para cima dos adversários, buscando driblar, pois muitos não me conheciam, não sabiam qual seria a minha jogada. Aí, muitas vezes eu levava vantagem, por dar uma balançada (risos). Hoje, procuro tocar mais a bola e também usar minha habilidade numa tabela e driblando em progressão ao gol. Isso também me ajudou a fazer mais gols, também melhorei meu chute. AE - Foi um processo de amadurecimento... Foi. Acho que o drible é bonito, mas sempre com objetividade, mesmo porque os adversários não gostam e até estranham quando você dribla para menosprezar. AE - Recentemente, o Júnior Baiano ficou irritado com seus dribles e usou até um tom ameaçador para te criticar. Isso te incomoda? Não, até porque não desrespeito ninguém. Uso a habilidade para construir uma jogada em prol do meu time. Sempre driblei e vou continuar driblando. AE - O drible é algo que encanta, a torcida gosta. Por isso, às vezes você não sente vontade de driblar mais do que o necessário? Hoje eu não exagero mais nos dribles, até porque sei que, se perder a bola, a cobrança em cima de mim será grande. Sei que tenho habilidade por causa do futebol de salão, que joguei por muito tempo, e procuro usá-la para ajudar o grupo. Com um drible, você desestabiliza qualquer equipe, principalmente porque as equipes que vêm jogar contra o Santos exercem marcação individual. Um drible bem dado abre a marcação do adversário. AE - Como foi sua experiência como gandula do Santos? Isso foi quando eu jogava nas categorias de base, acho que no time sub 15. A gente ficava feliz de ver os profissionais jogando e surgiu a oportunidade de ser gandula na Vila. Ainda ganhava um dinheirinho, 10 ou 20 reais, não me lembro. A felicidade era grande. A gente ganhava um dinheiro e ainda ficava no meio dos profissionais, dos ídolos. Nessa época, o Deivid subiu para os profissionais. Hoje, ele brinca dizendo que eu fui gandula dele e agora quero dar bronca nele. AE - E hoje, você tem contato com a garotada que está nas categorias de base? Claro, falo com muitos deles. Alguns já me conhecem desde o tempo de juvenil. Às vezes eu dou chuteiras para eles, a garotada precisa e muitos não têm como comprar. Sempre que eu posso estou lá falando com eles. AE - Você ainda mantém contato com o pessoal lá do bairro onde foi criado? Eu não posso esquecer das minhas raízes. Eu nunca vou esquecer. Sempre que posso, vou lá no Parque Bitirana (em São Vicente). Na maioria das vezes, vou lá para cortar o cabelo, rever os amigos. Fiz algumas amizades muito boas e sinceras. Posso contar com essas pessoas até hoje, independentemente de estar bem no futebol ou não. Me sinto feliz quando estou com eles. E eles também se sentem felizes porque alguém que saiu de lá, de família humilde, venceu na vida. AE - Você corta o cabelo sempre com a mesma pessoa? O Pelé também faz isso, você sabia? Sabia. E faço o mesmo, mas é coincidência. Corto sempre com o Gilson, ele é meu cabeleireiro. Eu até o ajudei a fazer um salãozinho lá. É meu parceiro. Ele até brinca, diz que se eu for vendido, vou ter de levá-lo para cortar o cabelo. Eu gosto do jeito que ele corta. Passa a máquina direitinho. AE - O Pelé foi o primeiro a perceber seu talento. Você mantém contato com ele? Não, agora é meio difícil eu ter contato com o rei do futebol. Às vezes a gente se encontra num mesmo programa de TV. Mas não esqueço que ele me elogiou quando eu tinha 12, 13 anos. Disse que se eu tivesse humildade e a cabeça no lugar, poderia chegar ao time profissional. Segui os conselhos do nosso rei e consegui chegar ao meu objetivo, que era ser profissional. AE - Recentemente, Pelé criticou os jogadores, por se ligarem a empresários e por não serem unidos. Como você analisa estas críticas? Independente do que o rei falar, meu carinho por ele não vai mudar. Mas acho que há casos e casos. Meu empresário atual (Wagner Ribeiro) sempre me ajudou, nunca me atrapalhou em nada, nem quis ganhar dinheiro em cima de mim. Quando eu era garoto, 15 para 16 anos, ele me ajudava bastante, Às vezes, nas categorias de base, o salário não saia, ele ia lá e pagava, me ajudava bastante. Eu não tenho nada a reclamar, só a agradecer. AE - Você comprou um apartamento, está morando sozinho? Estou. Mas sempre que posso estou na casa da minha mãe comendo de graça lá (risos). AE - Além de disputar a Copa de 2006 e jogar na Europa, quais são os seus sonhos? Olha, o sonho que eu tinha quando criança era dar uma casa para a minha mãe. Já consegui e me sinto feliz. Agora, só tenho sonhos profissionais. Na vida pessoal, quero casar futuramente, ter meu filho e que ele tenha saúde. AE - Sua imagem está muito associada ao Santos. Você se vê vestindo a camisa de outro clube brasileiro? Não me vejo. Não digo que não jogaria em outro time, porque a gente não sabe o dia de amanhã. Posso até jogar e farei com muito prazer. Mas já me sinto realizado no Santos, um time grande, onde já jogou o rei do futebol. AE - E as coisas aconteceram rapidamente para você... Eu tinha um preparador físico que sempre me dizia que o sucesso acontece quando a oportunidade encontra a preparação. Eu me preparei para jogar no profissional e por isso tive sucesso. Mas não imaginava que seria tão rápido assim. Eu subi com 17 anos e fui campeão brasileiro com 18. Não posso reclamar, né (risos).

O futebol brasileiro sempre foi exportador de talentos, mas nos últimos anos, com a entrada em vigor da Lei Pelé, o êxodo aumentou. E os jogadores estão deixando o País rumo, principalmente, à Europa, cada vez mais novos. Fez sucesso, vai embora. Assim foi com Diego, Kaká, Carlos Alberto, Vágner Love, Nilmar... Apenas um jovem talento ficou: Robson de Souza, o Robinho. Não que não tenha tido chance. Equipes como a Fiorentina italiana e o Chelsea inglês, entre outras, já tentaram levar seus dribles e suas pedaladas. Robinho não foi. Ao contrário, prorrogou o contrato com o Santos até janeiro de 2008. "Não tenho pressa, sou novo ainda. E eu quero é ir à Copa do Mundo de 2006??, diz. Claro que Robinho quer jogar na Europa um dia. Mas está bem por aqui. É considerado o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. Passou a jogar um futebol mais objetivo, mas encanta cada vez mais com seus dribles. E virou artilheiro (já fez 19 gols no Nacional). Está de bem com a vida. Mantém o jeito simples, o largo sorriso, a alegria dos tempos em que ia ao treino nas categorias de base do Santos de carona, sentado no cano da bicicleta do amigo Diego. Aos 20 anos, Robinho é uma estrela, mas mantém a espontaneidade do garoto criado no Parque Bitirana, na periferia de São Vicente, onde, aliás, volta sempre que pode. "Tenho muitos amigos por lá. E não vou esquecer minha origem??, disse à Agência Estado na sexta-feira, após o treino do Santos em um resort em Atibaia. Agência Estado - O Brasileiro ainda não acabou, mas muitos já o consideram o melhor jogador do campeonato. O que isso representa para você, um garoto de apenas 20 anos? Eu fico muito feliz, venho jogando bem e espero poder melhorar ainda mais. Mas o principal objetivo é o título. Vai ser importante se, ao final do campeonato, eu for considerado o melhor jogador do Brasil, mas eu quero é ficar marcado mais uma vez na história do Santos como campeão. AE - Mas há um detalhe: as principais revelações do futebol brasileiro nos últimos anos já estão na Europa. Só sobrou você. Sente-se como o último dos Moicanos? Não, acho que não. Tem vários jogadores bons no Brasil, é só analisar um pouquinho melhor. Tem no Cruzeiro (não citou nenhum), tem o Dagoberto (Atlético-PR), que é muito bom e é novo também. É que eu surgi ao mesmo tempo que vários outros, Kaká e Diego, por exemplo. Mas tem muito jogador aparecendo agora. AE - Você prorrogou seu contrato com o Santos até janeiro de 2008. Acha mesmo que fica no Brasil até lá? Não sei, apareceram propostas, mas nenhuma que pudesse me comover, que fosse tão boa para mim e para o Santos. Eu tenho o sonho de jogar na Europa, como todo mundo. Espero mostrar meu futebol para os europeus e fazer lá o sucesso que faço aqui, mas não tenho pressa em sair do Santos. É minha casa, me sinto bem aqui, ganho bem (comenta-se que R$ 200 mil mensais), o Santos paga em dia, jogo num time que é bom, tem um excelente treinador, o grupo é muito bom, enfim, não tenho pressa. AE - Sua intenção é ir para a Europa somente se for para um time de ponta? Sim, senão não compensa, mesmo porque ainda sou novo. Espero sair para um time bom da Itália, Espanha, Inglaterra ou Portugal, países em que eu possa mostrar meu futebol. Quero sair para um time grande, que dispute títulos como o Santos. AE - Você tem falado com o Diego? Robinho - Sempre, pelo telefone, por e-mail. Procuro saber como ele está se adaptando ao Porto e a Portugal. Ele fala que está bem. AE - Aproveita para saber como é trabalhar no futebol na Europa? Não converso com ele sobre isso. Quando eu for jogar lá, fico sabendo. AE - E a seleção? A briga por um lugar é acirrada? A gente sabe que tem vários jogadores bons disputando posição (no ataque). Tem jogadores que jogam na Europa, como Luís Fabiano, Adriano, Ronaldo e Vágner Love. Meu objetivo é estar na Copa de 2006 e para isso tenho de trabalhar bastante aqui no Santos. Espero continuar jogando bem até o ano da Copa. AE - Em sua curta carreira, a fase mais dura foi após o Pré-Olímpico. Como foi lidar com as críticas? Infelizmente não conseguimos classificar o Brasil para a Olimpíada de Atenas e as críticas vieram. Mas procurei lidar com tranqüilidade, mesmo porque sabia que não tinha perdido o meu futebol. Então, era só questão de ter tranqüilidade que a boa fase logo voltaria, e foi o que aconteceu. AE - Durante a "maré baixa", quem te deu força? Minha família, principalmente, meu pai (Gilvan), mãe (Marina), noiva (Vivian). E no Santos todos os meus companheiros, sem exceção (depois, citou Elano e Diego). E o Leão, que era o treinador, me deu apoio total. Isso me fez ter tranqüilidade para voltar a jogar meu futebol. AE - O que você aprendeu com aquele episódio no Chile (teve fotografada uma brincadeira em que abaixava o calção de Diego)? Fiz uma brincadeira diante dos jornalistas e acabaram colocando a brincadeira como motivo da nossa derrota. Nós perdemos porque tínhamos que perder, não jogamos bem e infelizmente não classificamos o Brasil para a Olimpíada. Errei em brincar diante da imprensa. Aprendi. Hoje, brinco em lugar fechado, com meus companheiros, porque sei que sou muito visado. Mas continuo o mesmo Robinho, não vou perder a alegria, a espontaneidade. AE - É uma maneira de se proteger... Eu sei que no futebol tudo se resume naquilo que você está apresentando em campo. Se você tiver tomado um copo de cachaça e ganhar o jogo, ninguém vai falar nada. Mas se você tiver tomado um copo de leite e perder, todo mundo vai falar. Sempre procuram culpados por causa da derrota. AE - Em que você evoluiu desde que subiu para o time principal do Santos? Acho que evolui bastante desde que comecei. No início, era um pouco diferente. Eu partia para cima dos adversários, buscando driblar, pois muitos não me conheciam, não sabiam qual seria a minha jogada. Aí, muitas vezes eu levava vantagem, por dar uma balançada (risos). Hoje, procuro tocar mais a bola e também usar minha habilidade numa tabela e driblando em progressão ao gol. Isso também me ajudou a fazer mais gols, também melhorei meu chute. AE - Foi um processo de amadurecimento... Foi. Acho que o drible é bonito, mas sempre com objetividade, mesmo porque os adversários não gostam e até estranham quando você dribla para menosprezar. AE - Recentemente, o Júnior Baiano ficou irritado com seus dribles e usou até um tom ameaçador para te criticar. Isso te incomoda? Não, até porque não desrespeito ninguém. Uso a habilidade para construir uma jogada em prol do meu time. Sempre driblei e vou continuar driblando. AE - O drible é algo que encanta, a torcida gosta. Por isso, às vezes você não sente vontade de driblar mais do que o necessário? Hoje eu não exagero mais nos dribles, até porque sei que, se perder a bola, a cobrança em cima de mim será grande. Sei que tenho habilidade por causa do futebol de salão, que joguei por muito tempo, e procuro usá-la para ajudar o grupo. Com um drible, você desestabiliza qualquer equipe, principalmente porque as equipes que vêm jogar contra o Santos exercem marcação individual. Um drible bem dado abre a marcação do adversário. AE - Como foi sua experiência como gandula do Santos? Isso foi quando eu jogava nas categorias de base, acho que no time sub 15. A gente ficava feliz de ver os profissionais jogando e surgiu a oportunidade de ser gandula na Vila. Ainda ganhava um dinheirinho, 10 ou 20 reais, não me lembro. A felicidade era grande. A gente ganhava um dinheiro e ainda ficava no meio dos profissionais, dos ídolos. Nessa época, o Deivid subiu para os profissionais. Hoje, ele brinca dizendo que eu fui gandula dele e agora quero dar bronca nele. AE - E hoje, você tem contato com a garotada que está nas categorias de base? Claro, falo com muitos deles. Alguns já me conhecem desde o tempo de juvenil. Às vezes eu dou chuteiras para eles, a garotada precisa e muitos não têm como comprar. Sempre que eu posso estou lá falando com eles. AE - Você ainda mantém contato com o pessoal lá do bairro onde foi criado? Eu não posso esquecer das minhas raízes. Eu nunca vou esquecer. Sempre que posso, vou lá no Parque Bitirana (em São Vicente). Na maioria das vezes, vou lá para cortar o cabelo, rever os amigos. Fiz algumas amizades muito boas e sinceras. Posso contar com essas pessoas até hoje, independentemente de estar bem no futebol ou não. Me sinto feliz quando estou com eles. E eles também se sentem felizes porque alguém que saiu de lá, de família humilde, venceu na vida. AE - Você corta o cabelo sempre com a mesma pessoa? O Pelé também faz isso, você sabia? Sabia. E faço o mesmo, mas é coincidência. Corto sempre com o Gilson, ele é meu cabeleireiro. Eu até o ajudei a fazer um salãozinho lá. É meu parceiro. Ele até brinca, diz que se eu for vendido, vou ter de levá-lo para cortar o cabelo. Eu gosto do jeito que ele corta. Passa a máquina direitinho. AE - O Pelé foi o primeiro a perceber seu talento. Você mantém contato com ele? Não, agora é meio difícil eu ter contato com o rei do futebol. Às vezes a gente se encontra num mesmo programa de TV. Mas não esqueço que ele me elogiou quando eu tinha 12, 13 anos. Disse que se eu tivesse humildade e a cabeça no lugar, poderia chegar ao time profissional. Segui os conselhos do nosso rei e consegui chegar ao meu objetivo, que era ser profissional. AE - Recentemente, Pelé criticou os jogadores, por se ligarem a empresários e por não serem unidos. Como você analisa estas críticas? Independente do que o rei falar, meu carinho por ele não vai mudar. Mas acho que há casos e casos. Meu empresário atual (Wagner Ribeiro) sempre me ajudou, nunca me atrapalhou em nada, nem quis ganhar dinheiro em cima de mim. Quando eu era garoto, 15 para 16 anos, ele me ajudava bastante, Às vezes, nas categorias de base, o salário não saia, ele ia lá e pagava, me ajudava bastante. Eu não tenho nada a reclamar, só a agradecer. AE - Você comprou um apartamento, está morando sozinho? Estou. Mas sempre que posso estou na casa da minha mãe comendo de graça lá (risos). AE - Além de disputar a Copa de 2006 e jogar na Europa, quais são os seus sonhos? Olha, o sonho que eu tinha quando criança era dar uma casa para a minha mãe. Já consegui e me sinto feliz. Agora, só tenho sonhos profissionais. Na vida pessoal, quero casar futuramente, ter meu filho e que ele tenha saúde. AE - Sua imagem está muito associada ao Santos. Você se vê vestindo a camisa de outro clube brasileiro? Não me vejo. Não digo que não jogaria em outro time, porque a gente não sabe o dia de amanhã. Posso até jogar e farei com muito prazer. Mas já me sinto realizado no Santos, um time grande, onde já jogou o rei do futebol. AE - E as coisas aconteceram rapidamente para você... Eu tinha um preparador físico que sempre me dizia que o sucesso acontece quando a oportunidade encontra a preparação. Eu me preparei para jogar no profissional e por isso tive sucesso. Mas não imaginava que seria tão rápido assim. Eu subi com 17 anos e fui campeão brasileiro com 18. Não posso reclamar, né (risos).

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