Projeto social de caratê une famílias em torno da paixão pela arte marcial


'Horto Shotokan', fundado no ano passado, na zona norte de São Paulo, reforça a integração entre os alunos, oferece oportunidades de crescimento pessoal e lições de respeito entre os mais jovens

Por Murillo César Alves

Reunir e reencontrar velhos amigos praticantes de caratê. Com esse objetivo, foi criado no ano passado na zona norte da cidade de São Paulo o Projeto de Karatê “Horto Shotokan”. A iniciativa, porém, acabou indo muito além: hoje, o projeto se orgulha de ter se transformado em uma maneira de integração para a comunidade do Jardim Peri. Fábio Brito, sensei e faixa preta na modalidade, está à frente do trabalho desde sua criação. Ele conta que, inicialmente, buscava uma forma de voltar a treinar, reencontrar companheiros e se reaproximar do filho. Durante a pandemia, o sensei percebeu que seu primogênito se fechou para a vida social, como muitas outras crianças, e para a realização das atividades físicas.

Sulany e Carlos Eduardo com o filho Luis participam de aula noprojeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão
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“Era importante buscar uma atividade para fazer com meu filho. Sentia a necessidade de estreitar esse laço com ele e desenvolver princípios importantes que estavam sendo perdidos para a vida online por causa da pandemia”, relata. Brito destaca ainda alguns valores do caratê, como respeito, comprometimento, esforço, foco, perdidos pelas crianças durante a pandemia.

O despertar para o início do projeto foi a covid-19. Em 2021, o sensei contraiu a doença. Diz que esteve muito próximo da morte. A necessidade de se recuperar, tanto física quanto mentalmente, das complicações de saúde o fez perceber a importância de voltar à prática esportiva de forma regular.

Inicialmente com a presença de amigos, depois dos filhos, o projeto logo se tornou aberto a todos da comunidade, e de forma gratuita. Com exceção dos exames para subir de faixa, todos os gastos das aulas são custeados pelo próprio Karatê Horto Shotokan. “Eu pago para poder dar aula”, brinca o sensei. “É uma entrega que faço à sociedade.” Os equipamentos, como o kimono, são, em alguns casos, comprados por meio de “vaquinhas” entre os próprios alunos. Todos se ajudam.

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O sucesso de “público” e o engajamento criaram um ambiente de acolhimento no tatame, repleto de crianças e adultos dispostos a aprender novas lições com o sensei. Com o apoio do Instituto Sensei Divino e da Federação Paulista de Karatê, o organizador conseguiu os meios para alocar os treinamentos, realizar os exames de faixa e levar seus alunos para competições oficiais.

“Ter esse apoio da Federação e de terceiros foi fundamental para o sucesso do projeto, para trazer mais interessados em participar das aulas e dos treinamentos’’, diz Brito. Entre cada luta, os alunos dividem experiências e auxiliam uns aos outros com os movimentos da arte marcial. “Um ensinamento que nós temos aqui é o de passar o conhecimento a frente, como uma corrente do bem. Eles fazem isso, de ensinar uns aos outros, por amor ao colega. Seja adulto ou criança, sempre vai ter alguém para ajudar.”

PROGRAMA FAMÍLIA 

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Com a expansão do projeto, diversos casos de famílias treinando juntas foram surgindo. Há muitos jovens, mas não é raro observar a presença de adultos e idosos com a faixa branca iniciando seus treinos aos fins de semana. Hoje, o projeto conta com cerca de 40 alunos, que se encontram aos sábados e domingos.

Carlos Eduardo de Haro e seu filho Natan durante aula no projeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

Essa “corrente do bem” é observada no perfil demográfico no Instituto Sensei Divino. Ao longo dos últimos meses, Brito relata que as crianças, encantadas com as aulas, foram chamando os coleguinhas para se juntar ao caratê. Novas famílias passaram a participar do esporte.

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Carlos e Sulany, de 40 e 42 anos, pais do Luís, de 8, formam uma destas famílias. Para “liberar a adrenalina” acumulada pelo isolamento social, eles decidiram colocar seu filho no esporte. Primeiro na natação, mas sem sucesso. Depois no caratê. Deu tão certo que os dois decidiram se juntar aos treinos. “Eu via meu filho treinando e achava tudo muito bonito. Foi então que chamei meu marido e o forcei a se juntar a nós. Para mim, o caratê foi paixão à primeira vista”, diz Sulany.

Carlos tinha uma história regressa no caratê, mas que lhe causava traumas. Quando pequeno, seu pai o forçava a treinar, mesmo contra sua vontade. Agora, ao lado da mulher e do filho, ele finalmente segue o caminho das artes marciais por vontade própria. “Cheguei até a faixa laranja quando era jovem, mas não sentia prazer no caratê. Hoje, por incentivo do meu filho, consegui me encontrar na modalidade e esquecer do meu passado”, afirma.

Luzenir e Richard, de 47 e 9 anos, avó e neto, formam outro caso de família unida em torno do caratê. “Comecei levando-o para os treinos, mas me empolguei e tive de ir junto”, brinca. Há seis meses no esporte, Luzenir enxerga uma melhora em sua saúde física. “Fui fumante por um longo tempo, mas hoje, com o caratê, consegui voltar a ter uma boa qualidade de vida, com a pressão equilibrada.”

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Para Richard e outras crianças, o caratê também é uma diversão. “Eu falei para minha avó (Luzenir) que (o caratê) quebra todo o corpo, mas era só para assustá-la”, brinca. Natan, de 5 anos, é o mais jovem no tatame do projeto e todas as sextas-feiras ele pergunta ao seu pai, Carlos Eduardo, de 47 anos, se “amanhã é dia de caratê”. “Aos sábados, ele brinca, se diverte e extravasa suas energias. Me ajuda a cuidar dele durante a semana também”, conta o pai, faixa roxa de caratê.

O projeto, além de unir famílias, tem impacto direto no desenvolvimento social das crianças. Um desses casos é o de Júlio César, de 41, que durante a pandemia percebeu dificuldades de seu filho Vinícius, de 8 anos, no aprendizado e em se socializar na escola. “Depois de uma conversa com a professora e uma psicóloga, foi sugerido que ele (Vinícius) praticasse algum esporte para que seu desenvolvimento social não fosse prejudicado”, conta.

A partir de um amigo, que pratica judô no Instituto, Júlio trouxe seu filho às aulas do projeto e brinca que “não conseguiu ficar só assistindo”. “Eu já gostava do caratê, mas o Vinícius foi quem me despertou para o esporte.”

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Hoje, ele enxerga em seu filho, e em seus alunos, muito mais disposição e interação entre as crianças de sua idade. Sensei Brito conta que essa história não é um fato isolado em suas aulas. “São diversos casos de crianças que, depois de três meses vindo ao Instituto, melhoraram suas habilidades sociais.”

Reunir e reencontrar velhos amigos praticantes de caratê. Com esse objetivo, foi criado no ano passado na zona norte da cidade de São Paulo o Projeto de Karatê “Horto Shotokan”. A iniciativa, porém, acabou indo muito além: hoje, o projeto se orgulha de ter se transformado em uma maneira de integração para a comunidade do Jardim Peri. Fábio Brito, sensei e faixa preta na modalidade, está à frente do trabalho desde sua criação. Ele conta que, inicialmente, buscava uma forma de voltar a treinar, reencontrar companheiros e se reaproximar do filho. Durante a pandemia, o sensei percebeu que seu primogênito se fechou para a vida social, como muitas outras crianças, e para a realização das atividades físicas.

Sulany e Carlos Eduardo com o filho Luis participam de aula noprojeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

“Era importante buscar uma atividade para fazer com meu filho. Sentia a necessidade de estreitar esse laço com ele e desenvolver princípios importantes que estavam sendo perdidos para a vida online por causa da pandemia”, relata. Brito destaca ainda alguns valores do caratê, como respeito, comprometimento, esforço, foco, perdidos pelas crianças durante a pandemia.

O despertar para o início do projeto foi a covid-19. Em 2021, o sensei contraiu a doença. Diz que esteve muito próximo da morte. A necessidade de se recuperar, tanto física quanto mentalmente, das complicações de saúde o fez perceber a importância de voltar à prática esportiva de forma regular.

Inicialmente com a presença de amigos, depois dos filhos, o projeto logo se tornou aberto a todos da comunidade, e de forma gratuita. Com exceção dos exames para subir de faixa, todos os gastos das aulas são custeados pelo próprio Karatê Horto Shotokan. “Eu pago para poder dar aula”, brinca o sensei. “É uma entrega que faço à sociedade.” Os equipamentos, como o kimono, são, em alguns casos, comprados por meio de “vaquinhas” entre os próprios alunos. Todos se ajudam.

O sucesso de “público” e o engajamento criaram um ambiente de acolhimento no tatame, repleto de crianças e adultos dispostos a aprender novas lições com o sensei. Com o apoio do Instituto Sensei Divino e da Federação Paulista de Karatê, o organizador conseguiu os meios para alocar os treinamentos, realizar os exames de faixa e levar seus alunos para competições oficiais.

“Ter esse apoio da Federação e de terceiros foi fundamental para o sucesso do projeto, para trazer mais interessados em participar das aulas e dos treinamentos’’, diz Brito. Entre cada luta, os alunos dividem experiências e auxiliam uns aos outros com os movimentos da arte marcial. “Um ensinamento que nós temos aqui é o de passar o conhecimento a frente, como uma corrente do bem. Eles fazem isso, de ensinar uns aos outros, por amor ao colega. Seja adulto ou criança, sempre vai ter alguém para ajudar.”

PROGRAMA FAMÍLIA 

Com a expansão do projeto, diversos casos de famílias treinando juntas foram surgindo. Há muitos jovens, mas não é raro observar a presença de adultos e idosos com a faixa branca iniciando seus treinos aos fins de semana. Hoje, o projeto conta com cerca de 40 alunos, que se encontram aos sábados e domingos.

Carlos Eduardo de Haro e seu filho Natan durante aula no projeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

Essa “corrente do bem” é observada no perfil demográfico no Instituto Sensei Divino. Ao longo dos últimos meses, Brito relata que as crianças, encantadas com as aulas, foram chamando os coleguinhas para se juntar ao caratê. Novas famílias passaram a participar do esporte.

Carlos e Sulany, de 40 e 42 anos, pais do Luís, de 8, formam uma destas famílias. Para “liberar a adrenalina” acumulada pelo isolamento social, eles decidiram colocar seu filho no esporte. Primeiro na natação, mas sem sucesso. Depois no caratê. Deu tão certo que os dois decidiram se juntar aos treinos. “Eu via meu filho treinando e achava tudo muito bonito. Foi então que chamei meu marido e o forcei a se juntar a nós. Para mim, o caratê foi paixão à primeira vista”, diz Sulany.

Carlos tinha uma história regressa no caratê, mas que lhe causava traumas. Quando pequeno, seu pai o forçava a treinar, mesmo contra sua vontade. Agora, ao lado da mulher e do filho, ele finalmente segue o caminho das artes marciais por vontade própria. “Cheguei até a faixa laranja quando era jovem, mas não sentia prazer no caratê. Hoje, por incentivo do meu filho, consegui me encontrar na modalidade e esquecer do meu passado”, afirma.

Luzenir e Richard, de 47 e 9 anos, avó e neto, formam outro caso de família unida em torno do caratê. “Comecei levando-o para os treinos, mas me empolguei e tive de ir junto”, brinca. Há seis meses no esporte, Luzenir enxerga uma melhora em sua saúde física. “Fui fumante por um longo tempo, mas hoje, com o caratê, consegui voltar a ter uma boa qualidade de vida, com a pressão equilibrada.”

Para Richard e outras crianças, o caratê também é uma diversão. “Eu falei para minha avó (Luzenir) que (o caratê) quebra todo o corpo, mas era só para assustá-la”, brinca. Natan, de 5 anos, é o mais jovem no tatame do projeto e todas as sextas-feiras ele pergunta ao seu pai, Carlos Eduardo, de 47 anos, se “amanhã é dia de caratê”. “Aos sábados, ele brinca, se diverte e extravasa suas energias. Me ajuda a cuidar dele durante a semana também”, conta o pai, faixa roxa de caratê.

O projeto, além de unir famílias, tem impacto direto no desenvolvimento social das crianças. Um desses casos é o de Júlio César, de 41, que durante a pandemia percebeu dificuldades de seu filho Vinícius, de 8 anos, no aprendizado e em se socializar na escola. “Depois de uma conversa com a professora e uma psicóloga, foi sugerido que ele (Vinícius) praticasse algum esporte para que seu desenvolvimento social não fosse prejudicado”, conta.

A partir de um amigo, que pratica judô no Instituto, Júlio trouxe seu filho às aulas do projeto e brinca que “não conseguiu ficar só assistindo”. “Eu já gostava do caratê, mas o Vinícius foi quem me despertou para o esporte.”

Hoje, ele enxerga em seu filho, e em seus alunos, muito mais disposição e interação entre as crianças de sua idade. Sensei Brito conta que essa história não é um fato isolado em suas aulas. “São diversos casos de crianças que, depois de três meses vindo ao Instituto, melhoraram suas habilidades sociais.”

Reunir e reencontrar velhos amigos praticantes de caratê. Com esse objetivo, foi criado no ano passado na zona norte da cidade de São Paulo o Projeto de Karatê “Horto Shotokan”. A iniciativa, porém, acabou indo muito além: hoje, o projeto se orgulha de ter se transformado em uma maneira de integração para a comunidade do Jardim Peri. Fábio Brito, sensei e faixa preta na modalidade, está à frente do trabalho desde sua criação. Ele conta que, inicialmente, buscava uma forma de voltar a treinar, reencontrar companheiros e se reaproximar do filho. Durante a pandemia, o sensei percebeu que seu primogênito se fechou para a vida social, como muitas outras crianças, e para a realização das atividades físicas.

Sulany e Carlos Eduardo com o filho Luis participam de aula noprojeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

“Era importante buscar uma atividade para fazer com meu filho. Sentia a necessidade de estreitar esse laço com ele e desenvolver princípios importantes que estavam sendo perdidos para a vida online por causa da pandemia”, relata. Brito destaca ainda alguns valores do caratê, como respeito, comprometimento, esforço, foco, perdidos pelas crianças durante a pandemia.

O despertar para o início do projeto foi a covid-19. Em 2021, o sensei contraiu a doença. Diz que esteve muito próximo da morte. A necessidade de se recuperar, tanto física quanto mentalmente, das complicações de saúde o fez perceber a importância de voltar à prática esportiva de forma regular.

Inicialmente com a presença de amigos, depois dos filhos, o projeto logo se tornou aberto a todos da comunidade, e de forma gratuita. Com exceção dos exames para subir de faixa, todos os gastos das aulas são custeados pelo próprio Karatê Horto Shotokan. “Eu pago para poder dar aula”, brinca o sensei. “É uma entrega que faço à sociedade.” Os equipamentos, como o kimono, são, em alguns casos, comprados por meio de “vaquinhas” entre os próprios alunos. Todos se ajudam.

O sucesso de “público” e o engajamento criaram um ambiente de acolhimento no tatame, repleto de crianças e adultos dispostos a aprender novas lições com o sensei. Com o apoio do Instituto Sensei Divino e da Federação Paulista de Karatê, o organizador conseguiu os meios para alocar os treinamentos, realizar os exames de faixa e levar seus alunos para competições oficiais.

“Ter esse apoio da Federação e de terceiros foi fundamental para o sucesso do projeto, para trazer mais interessados em participar das aulas e dos treinamentos’’, diz Brito. Entre cada luta, os alunos dividem experiências e auxiliam uns aos outros com os movimentos da arte marcial. “Um ensinamento que nós temos aqui é o de passar o conhecimento a frente, como uma corrente do bem. Eles fazem isso, de ensinar uns aos outros, por amor ao colega. Seja adulto ou criança, sempre vai ter alguém para ajudar.”

PROGRAMA FAMÍLIA 

Com a expansão do projeto, diversos casos de famílias treinando juntas foram surgindo. Há muitos jovens, mas não é raro observar a presença de adultos e idosos com a faixa branca iniciando seus treinos aos fins de semana. Hoje, o projeto conta com cerca de 40 alunos, que se encontram aos sábados e domingos.

Carlos Eduardo de Haro e seu filho Natan durante aula no projeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

Essa “corrente do bem” é observada no perfil demográfico no Instituto Sensei Divino. Ao longo dos últimos meses, Brito relata que as crianças, encantadas com as aulas, foram chamando os coleguinhas para se juntar ao caratê. Novas famílias passaram a participar do esporte.

Carlos e Sulany, de 40 e 42 anos, pais do Luís, de 8, formam uma destas famílias. Para “liberar a adrenalina” acumulada pelo isolamento social, eles decidiram colocar seu filho no esporte. Primeiro na natação, mas sem sucesso. Depois no caratê. Deu tão certo que os dois decidiram se juntar aos treinos. “Eu via meu filho treinando e achava tudo muito bonito. Foi então que chamei meu marido e o forcei a se juntar a nós. Para mim, o caratê foi paixão à primeira vista”, diz Sulany.

Carlos tinha uma história regressa no caratê, mas que lhe causava traumas. Quando pequeno, seu pai o forçava a treinar, mesmo contra sua vontade. Agora, ao lado da mulher e do filho, ele finalmente segue o caminho das artes marciais por vontade própria. “Cheguei até a faixa laranja quando era jovem, mas não sentia prazer no caratê. Hoje, por incentivo do meu filho, consegui me encontrar na modalidade e esquecer do meu passado”, afirma.

Luzenir e Richard, de 47 e 9 anos, avó e neto, formam outro caso de família unida em torno do caratê. “Comecei levando-o para os treinos, mas me empolguei e tive de ir junto”, brinca. Há seis meses no esporte, Luzenir enxerga uma melhora em sua saúde física. “Fui fumante por um longo tempo, mas hoje, com o caratê, consegui voltar a ter uma boa qualidade de vida, com a pressão equilibrada.”

Para Richard e outras crianças, o caratê também é uma diversão. “Eu falei para minha avó (Luzenir) que (o caratê) quebra todo o corpo, mas era só para assustá-la”, brinca. Natan, de 5 anos, é o mais jovem no tatame do projeto e todas as sextas-feiras ele pergunta ao seu pai, Carlos Eduardo, de 47 anos, se “amanhã é dia de caratê”. “Aos sábados, ele brinca, se diverte e extravasa suas energias. Me ajuda a cuidar dele durante a semana também”, conta o pai, faixa roxa de caratê.

O projeto, além de unir famílias, tem impacto direto no desenvolvimento social das crianças. Um desses casos é o de Júlio César, de 41, que durante a pandemia percebeu dificuldades de seu filho Vinícius, de 8 anos, no aprendizado e em se socializar na escola. “Depois de uma conversa com a professora e uma psicóloga, foi sugerido que ele (Vinícius) praticasse algum esporte para que seu desenvolvimento social não fosse prejudicado”, conta.

A partir de um amigo, que pratica judô no Instituto, Júlio trouxe seu filho às aulas do projeto e brinca que “não conseguiu ficar só assistindo”. “Eu já gostava do caratê, mas o Vinícius foi quem me despertou para o esporte.”

Hoje, ele enxerga em seu filho, e em seus alunos, muito mais disposição e interação entre as crianças de sua idade. Sensei Brito conta que essa história não é um fato isolado em suas aulas. “São diversos casos de crianças que, depois de três meses vindo ao Instituto, melhoraram suas habilidades sociais.”

Reunir e reencontrar velhos amigos praticantes de caratê. Com esse objetivo, foi criado no ano passado na zona norte da cidade de São Paulo o Projeto de Karatê “Horto Shotokan”. A iniciativa, porém, acabou indo muito além: hoje, o projeto se orgulha de ter se transformado em uma maneira de integração para a comunidade do Jardim Peri. Fábio Brito, sensei e faixa preta na modalidade, está à frente do trabalho desde sua criação. Ele conta que, inicialmente, buscava uma forma de voltar a treinar, reencontrar companheiros e se reaproximar do filho. Durante a pandemia, o sensei percebeu que seu primogênito se fechou para a vida social, como muitas outras crianças, e para a realização das atividades físicas.

Sulany e Carlos Eduardo com o filho Luis participam de aula noprojeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

“Era importante buscar uma atividade para fazer com meu filho. Sentia a necessidade de estreitar esse laço com ele e desenvolver princípios importantes que estavam sendo perdidos para a vida online por causa da pandemia”, relata. Brito destaca ainda alguns valores do caratê, como respeito, comprometimento, esforço, foco, perdidos pelas crianças durante a pandemia.

O despertar para o início do projeto foi a covid-19. Em 2021, o sensei contraiu a doença. Diz que esteve muito próximo da morte. A necessidade de se recuperar, tanto física quanto mentalmente, das complicações de saúde o fez perceber a importância de voltar à prática esportiva de forma regular.

Inicialmente com a presença de amigos, depois dos filhos, o projeto logo se tornou aberto a todos da comunidade, e de forma gratuita. Com exceção dos exames para subir de faixa, todos os gastos das aulas são custeados pelo próprio Karatê Horto Shotokan. “Eu pago para poder dar aula”, brinca o sensei. “É uma entrega que faço à sociedade.” Os equipamentos, como o kimono, são, em alguns casos, comprados por meio de “vaquinhas” entre os próprios alunos. Todos se ajudam.

O sucesso de “público” e o engajamento criaram um ambiente de acolhimento no tatame, repleto de crianças e adultos dispostos a aprender novas lições com o sensei. Com o apoio do Instituto Sensei Divino e da Federação Paulista de Karatê, o organizador conseguiu os meios para alocar os treinamentos, realizar os exames de faixa e levar seus alunos para competições oficiais.

“Ter esse apoio da Federação e de terceiros foi fundamental para o sucesso do projeto, para trazer mais interessados em participar das aulas e dos treinamentos’’, diz Brito. Entre cada luta, os alunos dividem experiências e auxiliam uns aos outros com os movimentos da arte marcial. “Um ensinamento que nós temos aqui é o de passar o conhecimento a frente, como uma corrente do bem. Eles fazem isso, de ensinar uns aos outros, por amor ao colega. Seja adulto ou criança, sempre vai ter alguém para ajudar.”

PROGRAMA FAMÍLIA 

Com a expansão do projeto, diversos casos de famílias treinando juntas foram surgindo. Há muitos jovens, mas não é raro observar a presença de adultos e idosos com a faixa branca iniciando seus treinos aos fins de semana. Hoje, o projeto conta com cerca de 40 alunos, que se encontram aos sábados e domingos.

Carlos Eduardo de Haro e seu filho Natan durante aula no projeto de caratê “Horto Shotokan” Foto: Taba Benedicto / Estadão

Essa “corrente do bem” é observada no perfil demográfico no Instituto Sensei Divino. Ao longo dos últimos meses, Brito relata que as crianças, encantadas com as aulas, foram chamando os coleguinhas para se juntar ao caratê. Novas famílias passaram a participar do esporte.

Carlos e Sulany, de 40 e 42 anos, pais do Luís, de 8, formam uma destas famílias. Para “liberar a adrenalina” acumulada pelo isolamento social, eles decidiram colocar seu filho no esporte. Primeiro na natação, mas sem sucesso. Depois no caratê. Deu tão certo que os dois decidiram se juntar aos treinos. “Eu via meu filho treinando e achava tudo muito bonito. Foi então que chamei meu marido e o forcei a se juntar a nós. Para mim, o caratê foi paixão à primeira vista”, diz Sulany.

Carlos tinha uma história regressa no caratê, mas que lhe causava traumas. Quando pequeno, seu pai o forçava a treinar, mesmo contra sua vontade. Agora, ao lado da mulher e do filho, ele finalmente segue o caminho das artes marciais por vontade própria. “Cheguei até a faixa laranja quando era jovem, mas não sentia prazer no caratê. Hoje, por incentivo do meu filho, consegui me encontrar na modalidade e esquecer do meu passado”, afirma.

Luzenir e Richard, de 47 e 9 anos, avó e neto, formam outro caso de família unida em torno do caratê. “Comecei levando-o para os treinos, mas me empolguei e tive de ir junto”, brinca. Há seis meses no esporte, Luzenir enxerga uma melhora em sua saúde física. “Fui fumante por um longo tempo, mas hoje, com o caratê, consegui voltar a ter uma boa qualidade de vida, com a pressão equilibrada.”

Para Richard e outras crianças, o caratê também é uma diversão. “Eu falei para minha avó (Luzenir) que (o caratê) quebra todo o corpo, mas era só para assustá-la”, brinca. Natan, de 5 anos, é o mais jovem no tatame do projeto e todas as sextas-feiras ele pergunta ao seu pai, Carlos Eduardo, de 47 anos, se “amanhã é dia de caratê”. “Aos sábados, ele brinca, se diverte e extravasa suas energias. Me ajuda a cuidar dele durante a semana também”, conta o pai, faixa roxa de caratê.

O projeto, além de unir famílias, tem impacto direto no desenvolvimento social das crianças. Um desses casos é o de Júlio César, de 41, que durante a pandemia percebeu dificuldades de seu filho Vinícius, de 8 anos, no aprendizado e em se socializar na escola. “Depois de uma conversa com a professora e uma psicóloga, foi sugerido que ele (Vinícius) praticasse algum esporte para que seu desenvolvimento social não fosse prejudicado”, conta.

A partir de um amigo, que pratica judô no Instituto, Júlio trouxe seu filho às aulas do projeto e brinca que “não conseguiu ficar só assistindo”. “Eu já gostava do caratê, mas o Vinícius foi quem me despertou para o esporte.”

Hoje, ele enxerga em seu filho, e em seus alunos, muito mais disposição e interação entre as crianças de sua idade. Sensei Brito conta que essa história não é um fato isolado em suas aulas. “São diversos casos de crianças que, depois de três meses vindo ao Instituto, melhoraram suas habilidades sociais.”

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