Nuzman: ´todas as obras vão ficar prontas a tempo´


Para o dirigentes, os atrasos e as dificuldades são normais

Por Agencia Estado

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Artur Nuzman, está no centro da tormenta que atinge a fase final de preparação dos Jogos Pan-americanos do Rio, marcados por excesso de gastos e escassez de tempo para aprontar todas as obras necessárias para a competição. A pouco mais de cinco meses da realização dos jogos, Nuzman procura demonstrar confiança e trata com naturalidade os percalços que vem enfrentando desde que foi tocado pela ambição de realizar uma competição em nível olímpico. Como presidente também do Comitê Organizador dos Jogos (CO-RIO), ele acredita que tudo estará resolvido a tempo e a hora, como aconteceu em outros países que organizaram competições similares. "Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com US$ 30 bilhões e chegaram a US$ 40 bilhões. Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um aumento de US$ 2 bilhões", argumenta Nuzman, ao ser questionado sobre a estimativa de que a edição brasileira do Pan chegue a custar R$ 5 bilhões, mais de dez vezes o orçamento inicial. Ele promete, inclusive, apresentar e justificar em reunião pública cada parcela dos recursos envolvidos nas obras realizadas para promover a competição. A sua convicção é de que o Brasil vai colher frutos que justificam o investimento contabilizado. A começar pelo chamado legado dos jogos em termos de equipamentos e instalações esportivas de alto nível, que podem beneficiar, inclusive, comunidades carentes da cidade do Rio. Cuidadoso, ele evitar abordar o objetivo político de viabilizar a candidatura olímpica do Brasil na esteira da realização do Pan. Resta o seu entusiasmo com a perspectiva de ser o anfitrião de jogos que podem se tornar recordistas em número de competições e atletas. A seguir, os principais trechos da entrevista. Portal Estadão - Depois do quarto lugar nos Jogos Pan-americanos de São Domingos, em 2003, o Brasil disputa a edição carioca com o objetivo de chegar à terceira posição entre os países competidores. Esta meta passou a ser uma obsessão? Carlos Artur Nuzman - Desde que presidi a Confederação Brasileira de Vôlei, aprendi que a primeira lição é não falar em títulos ou cor de medalhas. Ao mesmo tempo, temos de criar objetivos. Um exemplo é estabelecer a meta de ter uma equipe finalista, mas sem a necessidade de determinar qual lugar no pódio ela deva ocupar. No contexto geral dos jogos, era fundamental que fosse criado uma motivação diferente das edições anteriores. Disputar em casa é um estímulo a mais para nossos atletas se superarem. Mas não vamos conseguir melhores posições só pelo fato de atuarmos em casa, até porque Cuba e Canadá já nos informaram que vão lutar para impedir a nossa progressão para o terceiro lugar. Pela primeira vez o Brasil disputará um Pan-Americano com os benefícios da Lei Agnelo/Piva, o que possibilitou um investimento inédito de R$ 15 milhões na preparação dos atletas. Os resultados vão aparecer? Esse será o nosso primeiro ciclo olímpico, abrangendo o período de 2005 a 2008, em que receberemos integralmente os recursos proporcionados pela legislação, fundamentais em nossa preparação. Numa modalidade esportiva que não é desenvolvida em determinado país, os resultados levam de oito a doze anos para surgir, mesmo assim se o trabalho não for interrompido. Essa foi a experiência que tivemos no vôlei no Brasil. Mas é natural que alguns atletas possam despontar, até por causa de um treinamento especial, dedicação e superação. Qual a expectativa em relação aos Estados Unidos, que tradicionalmente ocupam o primeiro lugar no ranking das competições pan-americanas? Com certeza os americanos vão trazer a maior delegação esportiva da história. E digo isso em comparação a outras edições de jogos Pan-Americanos e Olimpíadas. Eles devem vir com 1.200 a 1.300 pessoas, com atletas de ponta. Até mesmo pelo fato de 13 modalidades esportivas do Pan valerem vagas aos Jogos Olímpicos de Pequim, criou-se um estímulo maior para os Estados Unidos trazerem a equipe principal. Os atrasos nas obras programadas para a realização das competições não podem comprometer o sucesso dos jogos no Brasil? Todas as obras vão ficar prontas e digo isso com muita tranqüilidade. As dificuldades são normais em organização de Jogos Pan-americanos e Olimpíadas. Muitos locais de competições ou áreas acabam no centro de conflitos que terminam na Justiça. Ainda temos problemas no Maracanãzinho, mas já estão praticamente resolvidos, assim como no caso do estádio João Havelange e da Marina da Glória. A reação dos ambientalistas não mostrou que o projeto de uma garagem na área tombada da Marina da Glória foi um erro? Não havia alternativas mais adequadas para as disputas da vela? Há 40 anos o Brasil não constrói instalações em nível olímpico. Tivemos os ginásios do Maracanãzinho e do Ibirapuera, em 50, e o Mineirinho, nos anos 60. O que se propôs foi dar como legado ao País uma marina olímpica. Não vejo isso como uma agressão a nada. É um benefício que se está se fazendo ao País. E estamos em uma cidade que vive de turismo. No Rio, não existe outro lugar onde se possa construir uma instalação desse tipo. Lembro ainda que Barcelona, quando fez a Olimpíada de 1992, ergueu uma marina dentro da cidade. Atenas também - e em local tombado. A China está fazendo uma cidade da vela....Hoje, o produto vela desenvolve a indústria turística. Os tombamentos são legítimos, importantes, mas entendo que tudo na vida tem que ser revisto. Não podemos estabelecer atitudes ou ações que sejam para o resto da vida. Ninguém quis ferir nenhuma questão ambiental. Outro problema crucial apresentado na organização dos jogos deste ano foi o estouro no orçamento inicial. Os custos estão próximos de R$ 5 bilhões e ainda podem aumentar. Como explicar esses valores? Fizemos um projeto de Pan-americano tendo por base uma competição em nível olímpico. Quando entramos na realidade efetiva das obras encontramos outros problemas. Veja o caso do buraco do metrô em São Paulo, em que poderiam ter sido feitos outros tipos de sustentações, mas que elevariam o custo. Temos também aumento de material e custos em geral. Por exemplo, o Estádio João Havelange saiu com um preço inicial que precisou ser elevado. Mas e os problemas que eles enfrentaram na obra? A mesma coisa acontece com a olimpíada. Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com U$ 30 bilhões e chegaram a U$ 40 bilhões. Em 2005, Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um acréscimo de US$ 2 bilhões nos custos. Infelizmente, os problemas existem e precisam ser superados. Não houve também um problema de gestão, na medida em que os custos foram dilatados e consumiu-se muito tempo para erguer as construções? Não. É só pensarmos que para se organizar uma olimpíada um país tem sete anos; uma copa do mundo, seis, e o pan-americano, apenas cinco. Este número é irreal. Além disso, o Brasil nunca tinha realizado um evento deste porte e nos faltava material humano. Por isso, vou propor que o prazo para a organização dos jogos Pan-americanos suba para sete anos. O problema é que se perde tempo com muita coisa. É preciso explicar tudo para os poderes públicos, que seguem um grande trâmite burocrático e exigem ainda mais demanda de tempo. Na questão financeira, o nosso sucesso é atestado porque até o momento não tivemos nenhum problema jurídico nessa área. O senhor costuma falar no legado dos jogos para o Rio e o Brasil. Pode citar um exemplo? O Estádio João Havelange foi construído no bairro do Engenho de Dentro, zona norte, que fica no coração do Rio, e não na Barra da Tijuca, zona oeste. Podemos comparar o preço que um imóvel valia lá e o preço de hoje. Observe quantos empreendimentos imobiliários estão para ser lançados naquela região. Além disso, o trabalho que está sendo realizado com a comunidade carente é extraordinário. Ao falarmos de comunidades carentes logo nos reportamos à questão das favelas e da criminalidade no Rio. Como o problema da segurança de todos os participantes será resolvido? O planejamento feito é magnífico. É nos moldes de Jogos Olímpicos e foi altamente elogiado pelos representantes de todos os países que aqui estiveram. Não tenho dúvidas de que será eficaz. Não posso dar a garantia de 100% mas asseguro que podemos confiar que o planejamento de Segurança dará tranqüilidade à população. Existem outras disputas importantes próximas ao Pan-Americano, o que pode representar um problema para os atletas na hora da escolha entre as competições. O número de competições internacionais que existe hoje no mundo é algo impressionante. As confederações internacionais descobriram que eventos como Ligas, Copas, Campeonatos e Grand Prix, que levem a chancela de mundial, vendem. Essas disputas passaram a ser uma moeda importante para os cofres dessas entidades. Não é uma crítica, mas uma constatação. Muitas estão fazendo maravilhosamente bem, mesmo em modalidades que não têm tanta popularidade. Mas essa busca por recursos pode prejudicar a parte esportiva? É a segunda parte da questão. Apenas demonstrei o que as confederações pensam e como os calendários ficaram complicados. Este cenário gerou um dever de casa para confederações e treinadores, para saber quais são os seus objetivos no ano e como vão preparar os seus atletas. Passou a ser um problema mundial. Onde vai parar, não sei. A globalização chegou ao esporte? Sim. Por exemplo, o que está acontecendo com atletas que trocam de nacionalidade? A maioria é pelo dinheiro, não é uma questão de ganhar medalhas. Acho que precisamos ter atenção com este ponto. Até para evitar problemas de calendário. Quando ganhamos a disputa para realizar os jogos, em agosto de 2002, mandamos cartas a todas as confederações informando o período que os jogos aconteceriam para não haver conflito de datas. Principalmente com a natação e o atletismo, que são as modalidades mais complicadas, porque os atletas precisam de uma preparação com um descanso maior. E tivemos sucesso. Vale lembrar que lutávamos contra o verão europeu, nos meses de julho e agosto. O modelo utilizado para o desenvolvimento do esporte nos países do antigo bloco comunista contava com uma presença estatal forte, enquanto os americanos sempre se basearam nas universidades para formar seus atletas de ponta. Qual o caminho que o Brasil vai seguir? Essa pergunta me lembra muito o questionamento que havia sobre a escola de vôlei que iríamos adotar. Na época, começamos com a escola asiática, que era a campeã olímpica. Hoje, temos a nossa maneira de jogar e os outros nos copiam. Também vamos criar uma maneira diferente de desenvolver o esporte. Esta escola está nascendo de uma parceira do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com as suas confederações. E ela aparece com os patrocínios, que surgiram da publicidade nas camisas dos times de vôlei. Depois veio a Lei Agnelo/Piva e, agora, a Lei de Incentivo Fiscal. Outro detalhe fundamental neste processo é uma estratégia também usada no voleibol, que é viajar e participar de muitas temporadas no exterior. Em seguida, trazer competições para o Brasil porque só com os campeonatos internacionais sendo disputados aqui é que atrairemos os jovens e criaremos ídolos. Mas este é um modelo baseado em recursos públicos? Diria que é baseado nas leis que abrangem o esporte brasileiro, que são muitas. E acrescento que a participação do Ministério do Esporte foi o braço que faltava. Tivemos no governo do presidente Fernando Henrique o Ministério do Esporte e Turismo. Hoje, temos um só nosso e ganhamos uma atenção diferenciada, o que nos facilitou.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Artur Nuzman, está no centro da tormenta que atinge a fase final de preparação dos Jogos Pan-americanos do Rio, marcados por excesso de gastos e escassez de tempo para aprontar todas as obras necessárias para a competição. A pouco mais de cinco meses da realização dos jogos, Nuzman procura demonstrar confiança e trata com naturalidade os percalços que vem enfrentando desde que foi tocado pela ambição de realizar uma competição em nível olímpico. Como presidente também do Comitê Organizador dos Jogos (CO-RIO), ele acredita que tudo estará resolvido a tempo e a hora, como aconteceu em outros países que organizaram competições similares. "Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com US$ 30 bilhões e chegaram a US$ 40 bilhões. Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um aumento de US$ 2 bilhões", argumenta Nuzman, ao ser questionado sobre a estimativa de que a edição brasileira do Pan chegue a custar R$ 5 bilhões, mais de dez vezes o orçamento inicial. Ele promete, inclusive, apresentar e justificar em reunião pública cada parcela dos recursos envolvidos nas obras realizadas para promover a competição. A sua convicção é de que o Brasil vai colher frutos que justificam o investimento contabilizado. A começar pelo chamado legado dos jogos em termos de equipamentos e instalações esportivas de alto nível, que podem beneficiar, inclusive, comunidades carentes da cidade do Rio. Cuidadoso, ele evitar abordar o objetivo político de viabilizar a candidatura olímpica do Brasil na esteira da realização do Pan. Resta o seu entusiasmo com a perspectiva de ser o anfitrião de jogos que podem se tornar recordistas em número de competições e atletas. A seguir, os principais trechos da entrevista. Portal Estadão - Depois do quarto lugar nos Jogos Pan-americanos de São Domingos, em 2003, o Brasil disputa a edição carioca com o objetivo de chegar à terceira posição entre os países competidores. Esta meta passou a ser uma obsessão? Carlos Artur Nuzman - Desde que presidi a Confederação Brasileira de Vôlei, aprendi que a primeira lição é não falar em títulos ou cor de medalhas. Ao mesmo tempo, temos de criar objetivos. Um exemplo é estabelecer a meta de ter uma equipe finalista, mas sem a necessidade de determinar qual lugar no pódio ela deva ocupar. No contexto geral dos jogos, era fundamental que fosse criado uma motivação diferente das edições anteriores. Disputar em casa é um estímulo a mais para nossos atletas se superarem. Mas não vamos conseguir melhores posições só pelo fato de atuarmos em casa, até porque Cuba e Canadá já nos informaram que vão lutar para impedir a nossa progressão para o terceiro lugar. Pela primeira vez o Brasil disputará um Pan-Americano com os benefícios da Lei Agnelo/Piva, o que possibilitou um investimento inédito de R$ 15 milhões na preparação dos atletas. Os resultados vão aparecer? Esse será o nosso primeiro ciclo olímpico, abrangendo o período de 2005 a 2008, em que receberemos integralmente os recursos proporcionados pela legislação, fundamentais em nossa preparação. Numa modalidade esportiva que não é desenvolvida em determinado país, os resultados levam de oito a doze anos para surgir, mesmo assim se o trabalho não for interrompido. Essa foi a experiência que tivemos no vôlei no Brasil. Mas é natural que alguns atletas possam despontar, até por causa de um treinamento especial, dedicação e superação. Qual a expectativa em relação aos Estados Unidos, que tradicionalmente ocupam o primeiro lugar no ranking das competições pan-americanas? Com certeza os americanos vão trazer a maior delegação esportiva da história. E digo isso em comparação a outras edições de jogos Pan-Americanos e Olimpíadas. Eles devem vir com 1.200 a 1.300 pessoas, com atletas de ponta. Até mesmo pelo fato de 13 modalidades esportivas do Pan valerem vagas aos Jogos Olímpicos de Pequim, criou-se um estímulo maior para os Estados Unidos trazerem a equipe principal. Os atrasos nas obras programadas para a realização das competições não podem comprometer o sucesso dos jogos no Brasil? Todas as obras vão ficar prontas e digo isso com muita tranqüilidade. As dificuldades são normais em organização de Jogos Pan-americanos e Olimpíadas. Muitos locais de competições ou áreas acabam no centro de conflitos que terminam na Justiça. Ainda temos problemas no Maracanãzinho, mas já estão praticamente resolvidos, assim como no caso do estádio João Havelange e da Marina da Glória. A reação dos ambientalistas não mostrou que o projeto de uma garagem na área tombada da Marina da Glória foi um erro? Não havia alternativas mais adequadas para as disputas da vela? Há 40 anos o Brasil não constrói instalações em nível olímpico. Tivemos os ginásios do Maracanãzinho e do Ibirapuera, em 50, e o Mineirinho, nos anos 60. O que se propôs foi dar como legado ao País uma marina olímpica. Não vejo isso como uma agressão a nada. É um benefício que se está se fazendo ao País. E estamos em uma cidade que vive de turismo. No Rio, não existe outro lugar onde se possa construir uma instalação desse tipo. Lembro ainda que Barcelona, quando fez a Olimpíada de 1992, ergueu uma marina dentro da cidade. Atenas também - e em local tombado. A China está fazendo uma cidade da vela....Hoje, o produto vela desenvolve a indústria turística. Os tombamentos são legítimos, importantes, mas entendo que tudo na vida tem que ser revisto. Não podemos estabelecer atitudes ou ações que sejam para o resto da vida. Ninguém quis ferir nenhuma questão ambiental. Outro problema crucial apresentado na organização dos jogos deste ano foi o estouro no orçamento inicial. Os custos estão próximos de R$ 5 bilhões e ainda podem aumentar. Como explicar esses valores? Fizemos um projeto de Pan-americano tendo por base uma competição em nível olímpico. Quando entramos na realidade efetiva das obras encontramos outros problemas. Veja o caso do buraco do metrô em São Paulo, em que poderiam ter sido feitos outros tipos de sustentações, mas que elevariam o custo. Temos também aumento de material e custos em geral. Por exemplo, o Estádio João Havelange saiu com um preço inicial que precisou ser elevado. Mas e os problemas que eles enfrentaram na obra? A mesma coisa acontece com a olimpíada. Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com U$ 30 bilhões e chegaram a U$ 40 bilhões. Em 2005, Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um acréscimo de US$ 2 bilhões nos custos. Infelizmente, os problemas existem e precisam ser superados. Não houve também um problema de gestão, na medida em que os custos foram dilatados e consumiu-se muito tempo para erguer as construções? Não. É só pensarmos que para se organizar uma olimpíada um país tem sete anos; uma copa do mundo, seis, e o pan-americano, apenas cinco. Este número é irreal. Além disso, o Brasil nunca tinha realizado um evento deste porte e nos faltava material humano. Por isso, vou propor que o prazo para a organização dos jogos Pan-americanos suba para sete anos. O problema é que se perde tempo com muita coisa. É preciso explicar tudo para os poderes públicos, que seguem um grande trâmite burocrático e exigem ainda mais demanda de tempo. Na questão financeira, o nosso sucesso é atestado porque até o momento não tivemos nenhum problema jurídico nessa área. O senhor costuma falar no legado dos jogos para o Rio e o Brasil. Pode citar um exemplo? O Estádio João Havelange foi construído no bairro do Engenho de Dentro, zona norte, que fica no coração do Rio, e não na Barra da Tijuca, zona oeste. Podemos comparar o preço que um imóvel valia lá e o preço de hoje. Observe quantos empreendimentos imobiliários estão para ser lançados naquela região. Além disso, o trabalho que está sendo realizado com a comunidade carente é extraordinário. Ao falarmos de comunidades carentes logo nos reportamos à questão das favelas e da criminalidade no Rio. Como o problema da segurança de todos os participantes será resolvido? O planejamento feito é magnífico. É nos moldes de Jogos Olímpicos e foi altamente elogiado pelos representantes de todos os países que aqui estiveram. Não tenho dúvidas de que será eficaz. Não posso dar a garantia de 100% mas asseguro que podemos confiar que o planejamento de Segurança dará tranqüilidade à população. Existem outras disputas importantes próximas ao Pan-Americano, o que pode representar um problema para os atletas na hora da escolha entre as competições. O número de competições internacionais que existe hoje no mundo é algo impressionante. As confederações internacionais descobriram que eventos como Ligas, Copas, Campeonatos e Grand Prix, que levem a chancela de mundial, vendem. Essas disputas passaram a ser uma moeda importante para os cofres dessas entidades. Não é uma crítica, mas uma constatação. Muitas estão fazendo maravilhosamente bem, mesmo em modalidades que não têm tanta popularidade. Mas essa busca por recursos pode prejudicar a parte esportiva? É a segunda parte da questão. Apenas demonstrei o que as confederações pensam e como os calendários ficaram complicados. Este cenário gerou um dever de casa para confederações e treinadores, para saber quais são os seus objetivos no ano e como vão preparar os seus atletas. Passou a ser um problema mundial. Onde vai parar, não sei. A globalização chegou ao esporte? Sim. Por exemplo, o que está acontecendo com atletas que trocam de nacionalidade? A maioria é pelo dinheiro, não é uma questão de ganhar medalhas. Acho que precisamos ter atenção com este ponto. Até para evitar problemas de calendário. Quando ganhamos a disputa para realizar os jogos, em agosto de 2002, mandamos cartas a todas as confederações informando o período que os jogos aconteceriam para não haver conflito de datas. Principalmente com a natação e o atletismo, que são as modalidades mais complicadas, porque os atletas precisam de uma preparação com um descanso maior. E tivemos sucesso. Vale lembrar que lutávamos contra o verão europeu, nos meses de julho e agosto. O modelo utilizado para o desenvolvimento do esporte nos países do antigo bloco comunista contava com uma presença estatal forte, enquanto os americanos sempre se basearam nas universidades para formar seus atletas de ponta. Qual o caminho que o Brasil vai seguir? Essa pergunta me lembra muito o questionamento que havia sobre a escola de vôlei que iríamos adotar. Na época, começamos com a escola asiática, que era a campeã olímpica. Hoje, temos a nossa maneira de jogar e os outros nos copiam. Também vamos criar uma maneira diferente de desenvolver o esporte. Esta escola está nascendo de uma parceira do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com as suas confederações. E ela aparece com os patrocínios, que surgiram da publicidade nas camisas dos times de vôlei. Depois veio a Lei Agnelo/Piva e, agora, a Lei de Incentivo Fiscal. Outro detalhe fundamental neste processo é uma estratégia também usada no voleibol, que é viajar e participar de muitas temporadas no exterior. Em seguida, trazer competições para o Brasil porque só com os campeonatos internacionais sendo disputados aqui é que atrairemos os jovens e criaremos ídolos. Mas este é um modelo baseado em recursos públicos? Diria que é baseado nas leis que abrangem o esporte brasileiro, que são muitas. E acrescento que a participação do Ministério do Esporte foi o braço que faltava. Tivemos no governo do presidente Fernando Henrique o Ministério do Esporte e Turismo. Hoje, temos um só nosso e ganhamos uma atenção diferenciada, o que nos facilitou.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Artur Nuzman, está no centro da tormenta que atinge a fase final de preparação dos Jogos Pan-americanos do Rio, marcados por excesso de gastos e escassez de tempo para aprontar todas as obras necessárias para a competição. A pouco mais de cinco meses da realização dos jogos, Nuzman procura demonstrar confiança e trata com naturalidade os percalços que vem enfrentando desde que foi tocado pela ambição de realizar uma competição em nível olímpico. Como presidente também do Comitê Organizador dos Jogos (CO-RIO), ele acredita que tudo estará resolvido a tempo e a hora, como aconteceu em outros países que organizaram competições similares. "Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com US$ 30 bilhões e chegaram a US$ 40 bilhões. Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um aumento de US$ 2 bilhões", argumenta Nuzman, ao ser questionado sobre a estimativa de que a edição brasileira do Pan chegue a custar R$ 5 bilhões, mais de dez vezes o orçamento inicial. Ele promete, inclusive, apresentar e justificar em reunião pública cada parcela dos recursos envolvidos nas obras realizadas para promover a competição. A sua convicção é de que o Brasil vai colher frutos que justificam o investimento contabilizado. A começar pelo chamado legado dos jogos em termos de equipamentos e instalações esportivas de alto nível, que podem beneficiar, inclusive, comunidades carentes da cidade do Rio. Cuidadoso, ele evitar abordar o objetivo político de viabilizar a candidatura olímpica do Brasil na esteira da realização do Pan. Resta o seu entusiasmo com a perspectiva de ser o anfitrião de jogos que podem se tornar recordistas em número de competições e atletas. A seguir, os principais trechos da entrevista. Portal Estadão - Depois do quarto lugar nos Jogos Pan-americanos de São Domingos, em 2003, o Brasil disputa a edição carioca com o objetivo de chegar à terceira posição entre os países competidores. Esta meta passou a ser uma obsessão? Carlos Artur Nuzman - Desde que presidi a Confederação Brasileira de Vôlei, aprendi que a primeira lição é não falar em títulos ou cor de medalhas. Ao mesmo tempo, temos de criar objetivos. Um exemplo é estabelecer a meta de ter uma equipe finalista, mas sem a necessidade de determinar qual lugar no pódio ela deva ocupar. No contexto geral dos jogos, era fundamental que fosse criado uma motivação diferente das edições anteriores. Disputar em casa é um estímulo a mais para nossos atletas se superarem. Mas não vamos conseguir melhores posições só pelo fato de atuarmos em casa, até porque Cuba e Canadá já nos informaram que vão lutar para impedir a nossa progressão para o terceiro lugar. Pela primeira vez o Brasil disputará um Pan-Americano com os benefícios da Lei Agnelo/Piva, o que possibilitou um investimento inédito de R$ 15 milhões na preparação dos atletas. Os resultados vão aparecer? Esse será o nosso primeiro ciclo olímpico, abrangendo o período de 2005 a 2008, em que receberemos integralmente os recursos proporcionados pela legislação, fundamentais em nossa preparação. Numa modalidade esportiva que não é desenvolvida em determinado país, os resultados levam de oito a doze anos para surgir, mesmo assim se o trabalho não for interrompido. Essa foi a experiência que tivemos no vôlei no Brasil. Mas é natural que alguns atletas possam despontar, até por causa de um treinamento especial, dedicação e superação. Qual a expectativa em relação aos Estados Unidos, que tradicionalmente ocupam o primeiro lugar no ranking das competições pan-americanas? Com certeza os americanos vão trazer a maior delegação esportiva da história. E digo isso em comparação a outras edições de jogos Pan-Americanos e Olimpíadas. Eles devem vir com 1.200 a 1.300 pessoas, com atletas de ponta. Até mesmo pelo fato de 13 modalidades esportivas do Pan valerem vagas aos Jogos Olímpicos de Pequim, criou-se um estímulo maior para os Estados Unidos trazerem a equipe principal. Os atrasos nas obras programadas para a realização das competições não podem comprometer o sucesso dos jogos no Brasil? Todas as obras vão ficar prontas e digo isso com muita tranqüilidade. As dificuldades são normais em organização de Jogos Pan-americanos e Olimpíadas. Muitos locais de competições ou áreas acabam no centro de conflitos que terminam na Justiça. Ainda temos problemas no Maracanãzinho, mas já estão praticamente resolvidos, assim como no caso do estádio João Havelange e da Marina da Glória. A reação dos ambientalistas não mostrou que o projeto de uma garagem na área tombada da Marina da Glória foi um erro? Não havia alternativas mais adequadas para as disputas da vela? Há 40 anos o Brasil não constrói instalações em nível olímpico. Tivemos os ginásios do Maracanãzinho e do Ibirapuera, em 50, e o Mineirinho, nos anos 60. O que se propôs foi dar como legado ao País uma marina olímpica. Não vejo isso como uma agressão a nada. É um benefício que se está se fazendo ao País. E estamos em uma cidade que vive de turismo. No Rio, não existe outro lugar onde se possa construir uma instalação desse tipo. Lembro ainda que Barcelona, quando fez a Olimpíada de 1992, ergueu uma marina dentro da cidade. Atenas também - e em local tombado. A China está fazendo uma cidade da vela....Hoje, o produto vela desenvolve a indústria turística. Os tombamentos são legítimos, importantes, mas entendo que tudo na vida tem que ser revisto. Não podemos estabelecer atitudes ou ações que sejam para o resto da vida. Ninguém quis ferir nenhuma questão ambiental. Outro problema crucial apresentado na organização dos jogos deste ano foi o estouro no orçamento inicial. Os custos estão próximos de R$ 5 bilhões e ainda podem aumentar. Como explicar esses valores? Fizemos um projeto de Pan-americano tendo por base uma competição em nível olímpico. Quando entramos na realidade efetiva das obras encontramos outros problemas. Veja o caso do buraco do metrô em São Paulo, em que poderiam ter sido feitos outros tipos de sustentações, mas que elevariam o custo. Temos também aumento de material e custos em geral. Por exemplo, o Estádio João Havelange saiu com um preço inicial que precisou ser elevado. Mas e os problemas que eles enfrentaram na obra? A mesma coisa acontece com a olimpíada. Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com U$ 30 bilhões e chegaram a U$ 40 bilhões. Em 2005, Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um acréscimo de US$ 2 bilhões nos custos. Infelizmente, os problemas existem e precisam ser superados. Não houve também um problema de gestão, na medida em que os custos foram dilatados e consumiu-se muito tempo para erguer as construções? Não. É só pensarmos que para se organizar uma olimpíada um país tem sete anos; uma copa do mundo, seis, e o pan-americano, apenas cinco. Este número é irreal. Além disso, o Brasil nunca tinha realizado um evento deste porte e nos faltava material humano. Por isso, vou propor que o prazo para a organização dos jogos Pan-americanos suba para sete anos. O problema é que se perde tempo com muita coisa. É preciso explicar tudo para os poderes públicos, que seguem um grande trâmite burocrático e exigem ainda mais demanda de tempo. Na questão financeira, o nosso sucesso é atestado porque até o momento não tivemos nenhum problema jurídico nessa área. O senhor costuma falar no legado dos jogos para o Rio e o Brasil. Pode citar um exemplo? O Estádio João Havelange foi construído no bairro do Engenho de Dentro, zona norte, que fica no coração do Rio, e não na Barra da Tijuca, zona oeste. Podemos comparar o preço que um imóvel valia lá e o preço de hoje. Observe quantos empreendimentos imobiliários estão para ser lançados naquela região. Além disso, o trabalho que está sendo realizado com a comunidade carente é extraordinário. Ao falarmos de comunidades carentes logo nos reportamos à questão das favelas e da criminalidade no Rio. Como o problema da segurança de todos os participantes será resolvido? O planejamento feito é magnífico. É nos moldes de Jogos Olímpicos e foi altamente elogiado pelos representantes de todos os países que aqui estiveram. Não tenho dúvidas de que será eficaz. Não posso dar a garantia de 100% mas asseguro que podemos confiar que o planejamento de Segurança dará tranqüilidade à população. Existem outras disputas importantes próximas ao Pan-Americano, o que pode representar um problema para os atletas na hora da escolha entre as competições. O número de competições internacionais que existe hoje no mundo é algo impressionante. As confederações internacionais descobriram que eventos como Ligas, Copas, Campeonatos e Grand Prix, que levem a chancela de mundial, vendem. Essas disputas passaram a ser uma moeda importante para os cofres dessas entidades. Não é uma crítica, mas uma constatação. Muitas estão fazendo maravilhosamente bem, mesmo em modalidades que não têm tanta popularidade. Mas essa busca por recursos pode prejudicar a parte esportiva? É a segunda parte da questão. Apenas demonstrei o que as confederações pensam e como os calendários ficaram complicados. Este cenário gerou um dever de casa para confederações e treinadores, para saber quais são os seus objetivos no ano e como vão preparar os seus atletas. Passou a ser um problema mundial. Onde vai parar, não sei. A globalização chegou ao esporte? Sim. Por exemplo, o que está acontecendo com atletas que trocam de nacionalidade? A maioria é pelo dinheiro, não é uma questão de ganhar medalhas. Acho que precisamos ter atenção com este ponto. Até para evitar problemas de calendário. Quando ganhamos a disputa para realizar os jogos, em agosto de 2002, mandamos cartas a todas as confederações informando o período que os jogos aconteceriam para não haver conflito de datas. Principalmente com a natação e o atletismo, que são as modalidades mais complicadas, porque os atletas precisam de uma preparação com um descanso maior. E tivemos sucesso. Vale lembrar que lutávamos contra o verão europeu, nos meses de julho e agosto. O modelo utilizado para o desenvolvimento do esporte nos países do antigo bloco comunista contava com uma presença estatal forte, enquanto os americanos sempre se basearam nas universidades para formar seus atletas de ponta. Qual o caminho que o Brasil vai seguir? Essa pergunta me lembra muito o questionamento que havia sobre a escola de vôlei que iríamos adotar. Na época, começamos com a escola asiática, que era a campeã olímpica. Hoje, temos a nossa maneira de jogar e os outros nos copiam. Também vamos criar uma maneira diferente de desenvolver o esporte. Esta escola está nascendo de uma parceira do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com as suas confederações. E ela aparece com os patrocínios, que surgiram da publicidade nas camisas dos times de vôlei. Depois veio a Lei Agnelo/Piva e, agora, a Lei de Incentivo Fiscal. Outro detalhe fundamental neste processo é uma estratégia também usada no voleibol, que é viajar e participar de muitas temporadas no exterior. Em seguida, trazer competições para o Brasil porque só com os campeonatos internacionais sendo disputados aqui é que atrairemos os jovens e criaremos ídolos. Mas este é um modelo baseado em recursos públicos? Diria que é baseado nas leis que abrangem o esporte brasileiro, que são muitas. E acrescento que a participação do Ministério do Esporte foi o braço que faltava. Tivemos no governo do presidente Fernando Henrique o Ministério do Esporte e Turismo. Hoje, temos um só nosso e ganhamos uma atenção diferenciada, o que nos facilitou.

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Artur Nuzman, está no centro da tormenta que atinge a fase final de preparação dos Jogos Pan-americanos do Rio, marcados por excesso de gastos e escassez de tempo para aprontar todas as obras necessárias para a competição. A pouco mais de cinco meses da realização dos jogos, Nuzman procura demonstrar confiança e trata com naturalidade os percalços que vem enfrentando desde que foi tocado pela ambição de realizar uma competição em nível olímpico. Como presidente também do Comitê Organizador dos Jogos (CO-RIO), ele acredita que tudo estará resolvido a tempo e a hora, como aconteceu em outros países que organizaram competições similares. "Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com US$ 30 bilhões e chegaram a US$ 40 bilhões. Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um aumento de US$ 2 bilhões", argumenta Nuzman, ao ser questionado sobre a estimativa de que a edição brasileira do Pan chegue a custar R$ 5 bilhões, mais de dez vezes o orçamento inicial. Ele promete, inclusive, apresentar e justificar em reunião pública cada parcela dos recursos envolvidos nas obras realizadas para promover a competição. A sua convicção é de que o Brasil vai colher frutos que justificam o investimento contabilizado. A começar pelo chamado legado dos jogos em termos de equipamentos e instalações esportivas de alto nível, que podem beneficiar, inclusive, comunidades carentes da cidade do Rio. Cuidadoso, ele evitar abordar o objetivo político de viabilizar a candidatura olímpica do Brasil na esteira da realização do Pan. Resta o seu entusiasmo com a perspectiva de ser o anfitrião de jogos que podem se tornar recordistas em número de competições e atletas. A seguir, os principais trechos da entrevista. Portal Estadão - Depois do quarto lugar nos Jogos Pan-americanos de São Domingos, em 2003, o Brasil disputa a edição carioca com o objetivo de chegar à terceira posição entre os países competidores. Esta meta passou a ser uma obsessão? Carlos Artur Nuzman - Desde que presidi a Confederação Brasileira de Vôlei, aprendi que a primeira lição é não falar em títulos ou cor de medalhas. Ao mesmo tempo, temos de criar objetivos. Um exemplo é estabelecer a meta de ter uma equipe finalista, mas sem a necessidade de determinar qual lugar no pódio ela deva ocupar. No contexto geral dos jogos, era fundamental que fosse criado uma motivação diferente das edições anteriores. Disputar em casa é um estímulo a mais para nossos atletas se superarem. Mas não vamos conseguir melhores posições só pelo fato de atuarmos em casa, até porque Cuba e Canadá já nos informaram que vão lutar para impedir a nossa progressão para o terceiro lugar. Pela primeira vez o Brasil disputará um Pan-Americano com os benefícios da Lei Agnelo/Piva, o que possibilitou um investimento inédito de R$ 15 milhões na preparação dos atletas. Os resultados vão aparecer? Esse será o nosso primeiro ciclo olímpico, abrangendo o período de 2005 a 2008, em que receberemos integralmente os recursos proporcionados pela legislação, fundamentais em nossa preparação. Numa modalidade esportiva que não é desenvolvida em determinado país, os resultados levam de oito a doze anos para surgir, mesmo assim se o trabalho não for interrompido. Essa foi a experiência que tivemos no vôlei no Brasil. Mas é natural que alguns atletas possam despontar, até por causa de um treinamento especial, dedicação e superação. Qual a expectativa em relação aos Estados Unidos, que tradicionalmente ocupam o primeiro lugar no ranking das competições pan-americanas? Com certeza os americanos vão trazer a maior delegação esportiva da história. E digo isso em comparação a outras edições de jogos Pan-Americanos e Olimpíadas. Eles devem vir com 1.200 a 1.300 pessoas, com atletas de ponta. Até mesmo pelo fato de 13 modalidades esportivas do Pan valerem vagas aos Jogos Olímpicos de Pequim, criou-se um estímulo maior para os Estados Unidos trazerem a equipe principal. Os atrasos nas obras programadas para a realização das competições não podem comprometer o sucesso dos jogos no Brasil? Todas as obras vão ficar prontas e digo isso com muita tranqüilidade. As dificuldades são normais em organização de Jogos Pan-americanos e Olimpíadas. Muitos locais de competições ou áreas acabam no centro de conflitos que terminam na Justiça. Ainda temos problemas no Maracanãzinho, mas já estão praticamente resolvidos, assim como no caso do estádio João Havelange e da Marina da Glória. A reação dos ambientalistas não mostrou que o projeto de uma garagem na área tombada da Marina da Glória foi um erro? Não havia alternativas mais adequadas para as disputas da vela? Há 40 anos o Brasil não constrói instalações em nível olímpico. Tivemos os ginásios do Maracanãzinho e do Ibirapuera, em 50, e o Mineirinho, nos anos 60. O que se propôs foi dar como legado ao País uma marina olímpica. Não vejo isso como uma agressão a nada. É um benefício que se está se fazendo ao País. E estamos em uma cidade que vive de turismo. No Rio, não existe outro lugar onde se possa construir uma instalação desse tipo. Lembro ainda que Barcelona, quando fez a Olimpíada de 1992, ergueu uma marina dentro da cidade. Atenas também - e em local tombado. A China está fazendo uma cidade da vela....Hoje, o produto vela desenvolve a indústria turística. Os tombamentos são legítimos, importantes, mas entendo que tudo na vida tem que ser revisto. Não podemos estabelecer atitudes ou ações que sejam para o resto da vida. Ninguém quis ferir nenhuma questão ambiental. Outro problema crucial apresentado na organização dos jogos deste ano foi o estouro no orçamento inicial. Os custos estão próximos de R$ 5 bilhões e ainda podem aumentar. Como explicar esses valores? Fizemos um projeto de Pan-americano tendo por base uma competição em nível olímpico. Quando entramos na realidade efetiva das obras encontramos outros problemas. Veja o caso do buraco do metrô em São Paulo, em que poderiam ter sido feitos outros tipos de sustentações, mas que elevariam o custo. Temos também aumento de material e custos em geral. Por exemplo, o Estádio João Havelange saiu com um preço inicial que precisou ser elevado. Mas e os problemas que eles enfrentaram na obra? A mesma coisa acontece com a olimpíada. Que país cumpriu um orçamento inicial? A China sofreu um aumento de 30% nos custos de Pequim, começaram com U$ 30 bilhões e chegaram a U$ 40 bilhões. Em 2005, Londres ganhou o direito de fazer os Jogos de 2012 e já contabilizou um acréscimo de US$ 2 bilhões nos custos. Infelizmente, os problemas existem e precisam ser superados. Não houve também um problema de gestão, na medida em que os custos foram dilatados e consumiu-se muito tempo para erguer as construções? Não. É só pensarmos que para se organizar uma olimpíada um país tem sete anos; uma copa do mundo, seis, e o pan-americano, apenas cinco. Este número é irreal. Além disso, o Brasil nunca tinha realizado um evento deste porte e nos faltava material humano. Por isso, vou propor que o prazo para a organização dos jogos Pan-americanos suba para sete anos. O problema é que se perde tempo com muita coisa. É preciso explicar tudo para os poderes públicos, que seguem um grande trâmite burocrático e exigem ainda mais demanda de tempo. Na questão financeira, o nosso sucesso é atestado porque até o momento não tivemos nenhum problema jurídico nessa área. O senhor costuma falar no legado dos jogos para o Rio e o Brasil. Pode citar um exemplo? O Estádio João Havelange foi construído no bairro do Engenho de Dentro, zona norte, que fica no coração do Rio, e não na Barra da Tijuca, zona oeste. Podemos comparar o preço que um imóvel valia lá e o preço de hoje. Observe quantos empreendimentos imobiliários estão para ser lançados naquela região. Além disso, o trabalho que está sendo realizado com a comunidade carente é extraordinário. Ao falarmos de comunidades carentes logo nos reportamos à questão das favelas e da criminalidade no Rio. Como o problema da segurança de todos os participantes será resolvido? O planejamento feito é magnífico. É nos moldes de Jogos Olímpicos e foi altamente elogiado pelos representantes de todos os países que aqui estiveram. Não tenho dúvidas de que será eficaz. Não posso dar a garantia de 100% mas asseguro que podemos confiar que o planejamento de Segurança dará tranqüilidade à população. Existem outras disputas importantes próximas ao Pan-Americano, o que pode representar um problema para os atletas na hora da escolha entre as competições. O número de competições internacionais que existe hoje no mundo é algo impressionante. As confederações internacionais descobriram que eventos como Ligas, Copas, Campeonatos e Grand Prix, que levem a chancela de mundial, vendem. Essas disputas passaram a ser uma moeda importante para os cofres dessas entidades. Não é uma crítica, mas uma constatação. Muitas estão fazendo maravilhosamente bem, mesmo em modalidades que não têm tanta popularidade. Mas essa busca por recursos pode prejudicar a parte esportiva? É a segunda parte da questão. Apenas demonstrei o que as confederações pensam e como os calendários ficaram complicados. Este cenário gerou um dever de casa para confederações e treinadores, para saber quais são os seus objetivos no ano e como vão preparar os seus atletas. Passou a ser um problema mundial. Onde vai parar, não sei. A globalização chegou ao esporte? Sim. Por exemplo, o que está acontecendo com atletas que trocam de nacionalidade? A maioria é pelo dinheiro, não é uma questão de ganhar medalhas. Acho que precisamos ter atenção com este ponto. Até para evitar problemas de calendário. Quando ganhamos a disputa para realizar os jogos, em agosto de 2002, mandamos cartas a todas as confederações informando o período que os jogos aconteceriam para não haver conflito de datas. Principalmente com a natação e o atletismo, que são as modalidades mais complicadas, porque os atletas precisam de uma preparação com um descanso maior. E tivemos sucesso. Vale lembrar que lutávamos contra o verão europeu, nos meses de julho e agosto. O modelo utilizado para o desenvolvimento do esporte nos países do antigo bloco comunista contava com uma presença estatal forte, enquanto os americanos sempre se basearam nas universidades para formar seus atletas de ponta. Qual o caminho que o Brasil vai seguir? Essa pergunta me lembra muito o questionamento que havia sobre a escola de vôlei que iríamos adotar. Na época, começamos com a escola asiática, que era a campeã olímpica. Hoje, temos a nossa maneira de jogar e os outros nos copiam. Também vamos criar uma maneira diferente de desenvolver o esporte. Esta escola está nascendo de uma parceira do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) com as suas confederações. E ela aparece com os patrocínios, que surgiram da publicidade nas camisas dos times de vôlei. Depois veio a Lei Agnelo/Piva e, agora, a Lei de Incentivo Fiscal. Outro detalhe fundamental neste processo é uma estratégia também usada no voleibol, que é viajar e participar de muitas temporadas no exterior. Em seguida, trazer competições para o Brasil porque só com os campeonatos internacionais sendo disputados aqui é que atrairemos os jovens e criaremos ídolos. Mas este é um modelo baseado em recursos públicos? Diria que é baseado nas leis que abrangem o esporte brasileiro, que são muitas. E acrescento que a participação do Ministério do Esporte foi o braço que faltava. Tivemos no governo do presidente Fernando Henrique o Ministério do Esporte e Turismo. Hoje, temos um só nosso e ganhamos uma atenção diferenciada, o que nos facilitou.

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