Um blog de futebol-arte

A torcida tem fome de beleza


Durante uma caminhada em Jaboatão dos Guararapes, vizinho do Recife, fiquei

Por Luiz Zanin Oricchio

impressionado com a quantidade de gente batendo bola na praia.Um jogo atrás

do outro, com seus golzinhos precários, às vezes feitos com cascas de cocos,

quilômetros a fio, a perder de vista.

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Semana passada estive em Belém do Pará e a cidade parecia vestida de azul.

Azul do Paysandu, que ocupa modesta posição na tabela e jogava no dia seguinte contra o São Caetano no Anacleto

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Campanella.Mas pelo ar de festa da cidade, parecia que ia disputar uma

final de campeonato.E, pelo que ouvi das pessoas, elas nem acreditavam

tanto no time.Perguntei a um vendedor de açaí no mercado de Ver-o-Peso o

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que ele achava do jogo: "Lá é ruim de ganhar, doutor." Ruim mesmo.

Tanto assim que o Papão acabou papado por 3 x 0.

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Nas areias de Jaboatão e nas ruas de Belém está a explicação para o Brasil ser uma potência mundial nesse

esporte da bola.Mas tratar o futebol como esporte é defini-lo por baixo.Acho que deve ser

visto como expressão cultural maior do povo brasileiro.Todo garoto

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brasileiro é obrigado, bem cedo, a escolher o manto sagrado sob o qual se

abrigará ao longo da existência.Decisão dura, de responsabilidade.O clube

para o qual se torce é uma dessas opções fundamentais, grave como a escolha

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de uma profissão ou da mulher que passará a acompanhar-nos na vida.Com a

diferença de que não se troca de time jamais, em nenhuma circunstância.

Todo menino brasileiro joga bola, disputa suas peladas.Os poucos que não

jogam são olhados de lado e com desconfiança.São discriminados, como se a

falta de paixão pela bola escondesse algum vício turvo.E fale com qualquer

pessoa - ela poderá contar a sua vida através do futebol.O que estava

fazendo quando o Brasil foi campeão do mundo em 1970?Ou quando perdemos no

Sarriá em 1982?Que jogo marcou sua vida?Qual a maior tristeza e a maior

alegria que seu time lhe deu?O jogo da bola acompanha nossa história

pessoal e coletiva.Está inscrito no nosso DNA de nação. É a nossa cara.

Por isso acho um crime de lesa-povo essa debandada dos nossos melhores

jogadores para o exterior.Não vamos nem entrar na discussão de se a culpa é

da Lei Pelé ou da incapacidade dos cartolas.Ou se o êxodo obedece à força

fria do capital.O fato é que essa expressão máxima da nossa identidade

futebolística, que é o craque, passou a considerar o Brasil uma etapa

transitória da sua carreira.O antigo clube do coração é agora uma vitrine.

Um chamado para a seleção, o trampolim que faltava para o empresário

negociá-lo com um clube europeu, essas multinacionais da bola.Me desculpem

a franqueza, mas acho isso o fim da picada.

Não é à-toa que os estádios andam vazios em boa parte do País.Não adianta

culpar a fórmula da disputa, ou a falta de infra-estrutura ou mesmo a

segurança precária.O público não vai porque, com raras exceções, o

espetáculo não vale a pena mesmo.E não vale a pena porque, sem craques,

futebol não dá pé, com perdão do trocadilho.Ninguém agüenta muito tempo um

time apenas esforçado.Vamos falar com sinceridade: o tal "futebol de

resultado" é chato de doer.O torcedor quer ver o seu time ganhar, claro.

Mas quer arte, acima de tudo. É a fome de beleza que o leva ao estádio.Faz

com que enfrente o preço caro do ingresso, o sol e a chuva, o cimento frio

da arquibancada, o banheiro imundo, a cerveja quente, a torcida organizada.

Faltando a beleza, faltará também a motivação para sair de casa.

Por isso, acho que devemos abrir uma ampla discussão em busca de meios para

manter os nossos craques no País.Essa é a grande questão do futebol

brasileiro atual.O resto é conversa.E conformismo.

21/10/2004

(Obs: esta é a primeira coluna da série Boleiros)

impressionado com a quantidade de gente batendo bola na praia.Um jogo atrás

do outro, com seus golzinhos precários, às vezes feitos com cascas de cocos,

quilômetros a fio, a perder de vista.

Semana passada estive em Belém do Pará e a cidade parecia vestida de azul.

Azul do Paysandu, que ocupa modesta posição na tabela e jogava no dia seguinte contra o São Caetano no Anacleto

Campanella.Mas pelo ar de festa da cidade, parecia que ia disputar uma

final de campeonato.E, pelo que ouvi das pessoas, elas nem acreditavam

tanto no time.Perguntei a um vendedor de açaí no mercado de Ver-o-Peso o

que ele achava do jogo: "Lá é ruim de ganhar, doutor." Ruim mesmo.

Tanto assim que o Papão acabou papado por 3 x 0.

Nas areias de Jaboatão e nas ruas de Belém está a explicação para o Brasil ser uma potência mundial nesse

esporte da bola.Mas tratar o futebol como esporte é defini-lo por baixo.Acho que deve ser

visto como expressão cultural maior do povo brasileiro.Todo garoto

brasileiro é obrigado, bem cedo, a escolher o manto sagrado sob o qual se

abrigará ao longo da existência.Decisão dura, de responsabilidade.O clube

para o qual se torce é uma dessas opções fundamentais, grave como a escolha

de uma profissão ou da mulher que passará a acompanhar-nos na vida.Com a

diferença de que não se troca de time jamais, em nenhuma circunstância.

Todo menino brasileiro joga bola, disputa suas peladas.Os poucos que não

jogam são olhados de lado e com desconfiança.São discriminados, como se a

falta de paixão pela bola escondesse algum vício turvo.E fale com qualquer

pessoa - ela poderá contar a sua vida através do futebol.O que estava

fazendo quando o Brasil foi campeão do mundo em 1970?Ou quando perdemos no

Sarriá em 1982?Que jogo marcou sua vida?Qual a maior tristeza e a maior

alegria que seu time lhe deu?O jogo da bola acompanha nossa história

pessoal e coletiva.Está inscrito no nosso DNA de nação. É a nossa cara.

Por isso acho um crime de lesa-povo essa debandada dos nossos melhores

jogadores para o exterior.Não vamos nem entrar na discussão de se a culpa é

da Lei Pelé ou da incapacidade dos cartolas.Ou se o êxodo obedece à força

fria do capital.O fato é que essa expressão máxima da nossa identidade

futebolística, que é o craque, passou a considerar o Brasil uma etapa

transitória da sua carreira.O antigo clube do coração é agora uma vitrine.

Um chamado para a seleção, o trampolim que faltava para o empresário

negociá-lo com um clube europeu, essas multinacionais da bola.Me desculpem

a franqueza, mas acho isso o fim da picada.

Não é à-toa que os estádios andam vazios em boa parte do País.Não adianta

culpar a fórmula da disputa, ou a falta de infra-estrutura ou mesmo a

segurança precária.O público não vai porque, com raras exceções, o

espetáculo não vale a pena mesmo.E não vale a pena porque, sem craques,

futebol não dá pé, com perdão do trocadilho.Ninguém agüenta muito tempo um

time apenas esforçado.Vamos falar com sinceridade: o tal "futebol de

resultado" é chato de doer.O torcedor quer ver o seu time ganhar, claro.

Mas quer arte, acima de tudo. É a fome de beleza que o leva ao estádio.Faz

com que enfrente o preço caro do ingresso, o sol e a chuva, o cimento frio

da arquibancada, o banheiro imundo, a cerveja quente, a torcida organizada.

Faltando a beleza, faltará também a motivação para sair de casa.

Por isso, acho que devemos abrir uma ampla discussão em busca de meios para

manter os nossos craques no País.Essa é a grande questão do futebol

brasileiro atual.O resto é conversa.E conformismo.

21/10/2004

(Obs: esta é a primeira coluna da série Boleiros)

impressionado com a quantidade de gente batendo bola na praia.Um jogo atrás

do outro, com seus golzinhos precários, às vezes feitos com cascas de cocos,

quilômetros a fio, a perder de vista.

Semana passada estive em Belém do Pará e a cidade parecia vestida de azul.

Azul do Paysandu, que ocupa modesta posição na tabela e jogava no dia seguinte contra o São Caetano no Anacleto

Campanella.Mas pelo ar de festa da cidade, parecia que ia disputar uma

final de campeonato.E, pelo que ouvi das pessoas, elas nem acreditavam

tanto no time.Perguntei a um vendedor de açaí no mercado de Ver-o-Peso o

que ele achava do jogo: "Lá é ruim de ganhar, doutor." Ruim mesmo.

Tanto assim que o Papão acabou papado por 3 x 0.

Nas areias de Jaboatão e nas ruas de Belém está a explicação para o Brasil ser uma potência mundial nesse

esporte da bola.Mas tratar o futebol como esporte é defini-lo por baixo.Acho que deve ser

visto como expressão cultural maior do povo brasileiro.Todo garoto

brasileiro é obrigado, bem cedo, a escolher o manto sagrado sob o qual se

abrigará ao longo da existência.Decisão dura, de responsabilidade.O clube

para o qual se torce é uma dessas opções fundamentais, grave como a escolha

de uma profissão ou da mulher que passará a acompanhar-nos na vida.Com a

diferença de que não se troca de time jamais, em nenhuma circunstância.

Todo menino brasileiro joga bola, disputa suas peladas.Os poucos que não

jogam são olhados de lado e com desconfiança.São discriminados, como se a

falta de paixão pela bola escondesse algum vício turvo.E fale com qualquer

pessoa - ela poderá contar a sua vida através do futebol.O que estava

fazendo quando o Brasil foi campeão do mundo em 1970?Ou quando perdemos no

Sarriá em 1982?Que jogo marcou sua vida?Qual a maior tristeza e a maior

alegria que seu time lhe deu?O jogo da bola acompanha nossa história

pessoal e coletiva.Está inscrito no nosso DNA de nação. É a nossa cara.

Por isso acho um crime de lesa-povo essa debandada dos nossos melhores

jogadores para o exterior.Não vamos nem entrar na discussão de se a culpa é

da Lei Pelé ou da incapacidade dos cartolas.Ou se o êxodo obedece à força

fria do capital.O fato é que essa expressão máxima da nossa identidade

futebolística, que é o craque, passou a considerar o Brasil uma etapa

transitória da sua carreira.O antigo clube do coração é agora uma vitrine.

Um chamado para a seleção, o trampolim que faltava para o empresário

negociá-lo com um clube europeu, essas multinacionais da bola.Me desculpem

a franqueza, mas acho isso o fim da picada.

Não é à-toa que os estádios andam vazios em boa parte do País.Não adianta

culpar a fórmula da disputa, ou a falta de infra-estrutura ou mesmo a

segurança precária.O público não vai porque, com raras exceções, o

espetáculo não vale a pena mesmo.E não vale a pena porque, sem craques,

futebol não dá pé, com perdão do trocadilho.Ninguém agüenta muito tempo um

time apenas esforçado.Vamos falar com sinceridade: o tal "futebol de

resultado" é chato de doer.O torcedor quer ver o seu time ganhar, claro.

Mas quer arte, acima de tudo. É a fome de beleza que o leva ao estádio.Faz

com que enfrente o preço caro do ingresso, o sol e a chuva, o cimento frio

da arquibancada, o banheiro imundo, a cerveja quente, a torcida organizada.

Faltando a beleza, faltará também a motivação para sair de casa.

Por isso, acho que devemos abrir uma ampla discussão em busca de meios para

manter os nossos craques no País.Essa é a grande questão do futebol

brasileiro atual.O resto é conversa.E conformismo.

21/10/2004

(Obs: esta é a primeira coluna da série Boleiros)

impressionado com a quantidade de gente batendo bola na praia.Um jogo atrás

do outro, com seus golzinhos precários, às vezes feitos com cascas de cocos,

quilômetros a fio, a perder de vista.

Semana passada estive em Belém do Pará e a cidade parecia vestida de azul.

Azul do Paysandu, que ocupa modesta posição na tabela e jogava no dia seguinte contra o São Caetano no Anacleto

Campanella.Mas pelo ar de festa da cidade, parecia que ia disputar uma

final de campeonato.E, pelo que ouvi das pessoas, elas nem acreditavam

tanto no time.Perguntei a um vendedor de açaí no mercado de Ver-o-Peso o

que ele achava do jogo: "Lá é ruim de ganhar, doutor." Ruim mesmo.

Tanto assim que o Papão acabou papado por 3 x 0.

Nas areias de Jaboatão e nas ruas de Belém está a explicação para o Brasil ser uma potência mundial nesse

esporte da bola.Mas tratar o futebol como esporte é defini-lo por baixo.Acho que deve ser

visto como expressão cultural maior do povo brasileiro.Todo garoto

brasileiro é obrigado, bem cedo, a escolher o manto sagrado sob o qual se

abrigará ao longo da existência.Decisão dura, de responsabilidade.O clube

para o qual se torce é uma dessas opções fundamentais, grave como a escolha

de uma profissão ou da mulher que passará a acompanhar-nos na vida.Com a

diferença de que não se troca de time jamais, em nenhuma circunstância.

Todo menino brasileiro joga bola, disputa suas peladas.Os poucos que não

jogam são olhados de lado e com desconfiança.São discriminados, como se a

falta de paixão pela bola escondesse algum vício turvo.E fale com qualquer

pessoa - ela poderá contar a sua vida através do futebol.O que estava

fazendo quando o Brasil foi campeão do mundo em 1970?Ou quando perdemos no

Sarriá em 1982?Que jogo marcou sua vida?Qual a maior tristeza e a maior

alegria que seu time lhe deu?O jogo da bola acompanha nossa história

pessoal e coletiva.Está inscrito no nosso DNA de nação. É a nossa cara.

Por isso acho um crime de lesa-povo essa debandada dos nossos melhores

jogadores para o exterior.Não vamos nem entrar na discussão de se a culpa é

da Lei Pelé ou da incapacidade dos cartolas.Ou se o êxodo obedece à força

fria do capital.O fato é que essa expressão máxima da nossa identidade

futebolística, que é o craque, passou a considerar o Brasil uma etapa

transitória da sua carreira.O antigo clube do coração é agora uma vitrine.

Um chamado para a seleção, o trampolim que faltava para o empresário

negociá-lo com um clube europeu, essas multinacionais da bola.Me desculpem

a franqueza, mas acho isso o fim da picada.

Não é à-toa que os estádios andam vazios em boa parte do País.Não adianta

culpar a fórmula da disputa, ou a falta de infra-estrutura ou mesmo a

segurança precária.O público não vai porque, com raras exceções, o

espetáculo não vale a pena mesmo.E não vale a pena porque, sem craques,

futebol não dá pé, com perdão do trocadilho.Ninguém agüenta muito tempo um

time apenas esforçado.Vamos falar com sinceridade: o tal "futebol de

resultado" é chato de doer.O torcedor quer ver o seu time ganhar, claro.

Mas quer arte, acima de tudo. É a fome de beleza que o leva ao estádio.Faz

com que enfrente o preço caro do ingresso, o sol e a chuva, o cimento frio

da arquibancada, o banheiro imundo, a cerveja quente, a torcida organizada.

Faltando a beleza, faltará também a motivação para sair de casa.

Por isso, acho que devemos abrir uma ampla discussão em busca de meios para

manter os nossos craques no País.Essa é a grande questão do futebol

brasileiro atual.O resto é conversa.E conformismo.

21/10/2004

(Obs: esta é a primeira coluna da série Boleiros)

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