Um blog de futebol-arte

E o caminho se faz ao andar


Por Luiz Zanin Oricchio

Como somos inconstantes! Bastou uma atuação impecável de Kaká contra a Nova Zelândia para que o jogador do Milan desbancasse o até então imbatível Ronaldinho Gaúcho na preferência do público. Ouvi, vi e li o deslumbramento de comentaristas, mas também entrei num site esportivo (Gazetaesportiva.net) e comprovei que os internautas passaram a ter Kaká como favorito (mais de 60%) para ser o melhor brasileiro da Copa da Alemanha. Que pode ser mesmo, não há nenhuma dúvida. Bastava ter acompanhado suas atuações pelo Milan na temporada para comprovar sua regularidade, poder de decisão e o sentido de equipe que os italianos tanto valorizam. Mas o que aconteceu no treino contra a Nova Zelândia? Por exemplo, Kaká entendeu antes dos outros que o jogo pelo meio estava congestionado demais e começou a cair pelas pontas. Foi assim que deu a assistência a Ronaldo para abrir a contagem. Essa capacidade de enxergar o jogo é apenas um detalhe, mas como o próprio gol, segundo o Parreira, também é um mero detalhe, deve ser levada em consideração. Será que foi essa visão tática do jogo que elevou a cotação de Kaká? Duvido. Aposto que o lance que o colocou na preferência do eleitorado foi aquele em que arrancou do meio do campo e foi levando a defesa adversária até marcar o seu próprio gol. Somos ainda muito dependentes dos efeitos especiais de uma jogada individual. Mas não são sempre elas que decidem uma partida, ou até o mesmo o destino de uma seleção num mundial. De resto, o que sabemos sobre o que vai acontecer nesta Copa já tão próxima? Quase nada. Cada competição e, dentro dela, cada equipe, irá construir a sua própria história, que começará ser contada a partir desta sexta-feira. Esse time brasileiro, formado por estrelas milionárias e mimadas como gatas de luxo, se converterá numa grande equipe de futebol, uma daquelas inesquecíveis, de antologia, para ser lembrada até depois do Juízo Final, como a de 1970? Não sei. Tem ingredientes para tanto, mas cabe a eles, e ao imponderável, decidirem entre a glória e o fiasco, porque não haverá meio termo possível. Inconstantes que somos, já passamos do mais risível otimismo ("favoritos absolutos", rosnava-se pelas esquinas) a um pessimismo cheio de pudor. Chegamos a dizer que tudo andava tão a nosso favor que só poderia resultar em desastre. Grandes jogadores no auge da forma, todos já realizados profissional e financeiramente, nenhuma contusão mais grave, nenhuma polêmica, bom estado de espírito, etc. e tal. Tudo isso só poderia acabar mal porque quando não se confia em um país e sua gente, como é o nosso caso, vento a favor só pode significar prenúncio de tempestade. Os supersticiosos ficaram mais aliviados quando houve um princípio de briga entre Adriano e Edmilson e, principalmente, quando este foi cortado por contusão. Agora são as bolhas de Ronaldo, e assim por diante. Já temos uma cota administrável de contratempos que nos tiram da confortável e incômoda posição anterior. Mas a história dessa seleção de 2006 ainda precisa ser escrita por seus atores principais. Eles devem mostrar serviço e numa Copa do Mundo, que é quando se separam as crianças dos adultos. Por isso não concordo com alguns colegas que dizem que a seleção ou Ronaldinho nada mais têm a provar. Como não? Têm tudo a provar, sim senhor. Se time e craques badalados e cantados como melhores do mundo e de todas as galáxias negarem fogo na hora agá, como levá-los a sério? Por isso, em minha opinião, ninguém se consagra ou cai em desgraça por antecipação. O jogo tem de ser jogado. Como dizia Antonio Machado, um dos meus poetas favoritos: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Ronaldinho, Kaká, Ronaldo, Adriano, Robinho e todos os outros têm de fazer o seu caminho. Construí-lo. Nada está predestinado. O resto é chute. E, em geral, chute fora.

30/6/2006

Como somos inconstantes! Bastou uma atuação impecável de Kaká contra a Nova Zelândia para que o jogador do Milan desbancasse o até então imbatível Ronaldinho Gaúcho na preferência do público. Ouvi, vi e li o deslumbramento de comentaristas, mas também entrei num site esportivo (Gazetaesportiva.net) e comprovei que os internautas passaram a ter Kaká como favorito (mais de 60%) para ser o melhor brasileiro da Copa da Alemanha. Que pode ser mesmo, não há nenhuma dúvida. Bastava ter acompanhado suas atuações pelo Milan na temporada para comprovar sua regularidade, poder de decisão e o sentido de equipe que os italianos tanto valorizam. Mas o que aconteceu no treino contra a Nova Zelândia? Por exemplo, Kaká entendeu antes dos outros que o jogo pelo meio estava congestionado demais e começou a cair pelas pontas. Foi assim que deu a assistência a Ronaldo para abrir a contagem. Essa capacidade de enxergar o jogo é apenas um detalhe, mas como o próprio gol, segundo o Parreira, também é um mero detalhe, deve ser levada em consideração. Será que foi essa visão tática do jogo que elevou a cotação de Kaká? Duvido. Aposto que o lance que o colocou na preferência do eleitorado foi aquele em que arrancou do meio do campo e foi levando a defesa adversária até marcar o seu próprio gol. Somos ainda muito dependentes dos efeitos especiais de uma jogada individual. Mas não são sempre elas que decidem uma partida, ou até o mesmo o destino de uma seleção num mundial. De resto, o que sabemos sobre o que vai acontecer nesta Copa já tão próxima? Quase nada. Cada competição e, dentro dela, cada equipe, irá construir a sua própria história, que começará ser contada a partir desta sexta-feira. Esse time brasileiro, formado por estrelas milionárias e mimadas como gatas de luxo, se converterá numa grande equipe de futebol, uma daquelas inesquecíveis, de antologia, para ser lembrada até depois do Juízo Final, como a de 1970? Não sei. Tem ingredientes para tanto, mas cabe a eles, e ao imponderável, decidirem entre a glória e o fiasco, porque não haverá meio termo possível. Inconstantes que somos, já passamos do mais risível otimismo ("favoritos absolutos", rosnava-se pelas esquinas) a um pessimismo cheio de pudor. Chegamos a dizer que tudo andava tão a nosso favor que só poderia resultar em desastre. Grandes jogadores no auge da forma, todos já realizados profissional e financeiramente, nenhuma contusão mais grave, nenhuma polêmica, bom estado de espírito, etc. e tal. Tudo isso só poderia acabar mal porque quando não se confia em um país e sua gente, como é o nosso caso, vento a favor só pode significar prenúncio de tempestade. Os supersticiosos ficaram mais aliviados quando houve um princípio de briga entre Adriano e Edmilson e, principalmente, quando este foi cortado por contusão. Agora são as bolhas de Ronaldo, e assim por diante. Já temos uma cota administrável de contratempos que nos tiram da confortável e incômoda posição anterior. Mas a história dessa seleção de 2006 ainda precisa ser escrita por seus atores principais. Eles devem mostrar serviço e numa Copa do Mundo, que é quando se separam as crianças dos adultos. Por isso não concordo com alguns colegas que dizem que a seleção ou Ronaldinho nada mais têm a provar. Como não? Têm tudo a provar, sim senhor. Se time e craques badalados e cantados como melhores do mundo e de todas as galáxias negarem fogo na hora agá, como levá-los a sério? Por isso, em minha opinião, ninguém se consagra ou cai em desgraça por antecipação. O jogo tem de ser jogado. Como dizia Antonio Machado, um dos meus poetas favoritos: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Ronaldinho, Kaká, Ronaldo, Adriano, Robinho e todos os outros têm de fazer o seu caminho. Construí-lo. Nada está predestinado. O resto é chute. E, em geral, chute fora.

30/6/2006

Como somos inconstantes! Bastou uma atuação impecável de Kaká contra a Nova Zelândia para que o jogador do Milan desbancasse o até então imbatível Ronaldinho Gaúcho na preferência do público. Ouvi, vi e li o deslumbramento de comentaristas, mas também entrei num site esportivo (Gazetaesportiva.net) e comprovei que os internautas passaram a ter Kaká como favorito (mais de 60%) para ser o melhor brasileiro da Copa da Alemanha. Que pode ser mesmo, não há nenhuma dúvida. Bastava ter acompanhado suas atuações pelo Milan na temporada para comprovar sua regularidade, poder de decisão e o sentido de equipe que os italianos tanto valorizam. Mas o que aconteceu no treino contra a Nova Zelândia? Por exemplo, Kaká entendeu antes dos outros que o jogo pelo meio estava congestionado demais e começou a cair pelas pontas. Foi assim que deu a assistência a Ronaldo para abrir a contagem. Essa capacidade de enxergar o jogo é apenas um detalhe, mas como o próprio gol, segundo o Parreira, também é um mero detalhe, deve ser levada em consideração. Será que foi essa visão tática do jogo que elevou a cotação de Kaká? Duvido. Aposto que o lance que o colocou na preferência do eleitorado foi aquele em que arrancou do meio do campo e foi levando a defesa adversária até marcar o seu próprio gol. Somos ainda muito dependentes dos efeitos especiais de uma jogada individual. Mas não são sempre elas que decidem uma partida, ou até o mesmo o destino de uma seleção num mundial. De resto, o que sabemos sobre o que vai acontecer nesta Copa já tão próxima? Quase nada. Cada competição e, dentro dela, cada equipe, irá construir a sua própria história, que começará ser contada a partir desta sexta-feira. Esse time brasileiro, formado por estrelas milionárias e mimadas como gatas de luxo, se converterá numa grande equipe de futebol, uma daquelas inesquecíveis, de antologia, para ser lembrada até depois do Juízo Final, como a de 1970? Não sei. Tem ingredientes para tanto, mas cabe a eles, e ao imponderável, decidirem entre a glória e o fiasco, porque não haverá meio termo possível. Inconstantes que somos, já passamos do mais risível otimismo ("favoritos absolutos", rosnava-se pelas esquinas) a um pessimismo cheio de pudor. Chegamos a dizer que tudo andava tão a nosso favor que só poderia resultar em desastre. Grandes jogadores no auge da forma, todos já realizados profissional e financeiramente, nenhuma contusão mais grave, nenhuma polêmica, bom estado de espírito, etc. e tal. Tudo isso só poderia acabar mal porque quando não se confia em um país e sua gente, como é o nosso caso, vento a favor só pode significar prenúncio de tempestade. Os supersticiosos ficaram mais aliviados quando houve um princípio de briga entre Adriano e Edmilson e, principalmente, quando este foi cortado por contusão. Agora são as bolhas de Ronaldo, e assim por diante. Já temos uma cota administrável de contratempos que nos tiram da confortável e incômoda posição anterior. Mas a história dessa seleção de 2006 ainda precisa ser escrita por seus atores principais. Eles devem mostrar serviço e numa Copa do Mundo, que é quando se separam as crianças dos adultos. Por isso não concordo com alguns colegas que dizem que a seleção ou Ronaldinho nada mais têm a provar. Como não? Têm tudo a provar, sim senhor. Se time e craques badalados e cantados como melhores do mundo e de todas as galáxias negarem fogo na hora agá, como levá-los a sério? Por isso, em minha opinião, ninguém se consagra ou cai em desgraça por antecipação. O jogo tem de ser jogado. Como dizia Antonio Machado, um dos meus poetas favoritos: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Ronaldinho, Kaká, Ronaldo, Adriano, Robinho e todos os outros têm de fazer o seu caminho. Construí-lo. Nada está predestinado. O resto é chute. E, em geral, chute fora.

30/6/2006

Como somos inconstantes! Bastou uma atuação impecável de Kaká contra a Nova Zelândia para que o jogador do Milan desbancasse o até então imbatível Ronaldinho Gaúcho na preferência do público. Ouvi, vi e li o deslumbramento de comentaristas, mas também entrei num site esportivo (Gazetaesportiva.net) e comprovei que os internautas passaram a ter Kaká como favorito (mais de 60%) para ser o melhor brasileiro da Copa da Alemanha. Que pode ser mesmo, não há nenhuma dúvida. Bastava ter acompanhado suas atuações pelo Milan na temporada para comprovar sua regularidade, poder de decisão e o sentido de equipe que os italianos tanto valorizam. Mas o que aconteceu no treino contra a Nova Zelândia? Por exemplo, Kaká entendeu antes dos outros que o jogo pelo meio estava congestionado demais e começou a cair pelas pontas. Foi assim que deu a assistência a Ronaldo para abrir a contagem. Essa capacidade de enxergar o jogo é apenas um detalhe, mas como o próprio gol, segundo o Parreira, também é um mero detalhe, deve ser levada em consideração. Será que foi essa visão tática do jogo que elevou a cotação de Kaká? Duvido. Aposto que o lance que o colocou na preferência do eleitorado foi aquele em que arrancou do meio do campo e foi levando a defesa adversária até marcar o seu próprio gol. Somos ainda muito dependentes dos efeitos especiais de uma jogada individual. Mas não são sempre elas que decidem uma partida, ou até o mesmo o destino de uma seleção num mundial. De resto, o que sabemos sobre o que vai acontecer nesta Copa já tão próxima? Quase nada. Cada competição e, dentro dela, cada equipe, irá construir a sua própria história, que começará ser contada a partir desta sexta-feira. Esse time brasileiro, formado por estrelas milionárias e mimadas como gatas de luxo, se converterá numa grande equipe de futebol, uma daquelas inesquecíveis, de antologia, para ser lembrada até depois do Juízo Final, como a de 1970? Não sei. Tem ingredientes para tanto, mas cabe a eles, e ao imponderável, decidirem entre a glória e o fiasco, porque não haverá meio termo possível. Inconstantes que somos, já passamos do mais risível otimismo ("favoritos absolutos", rosnava-se pelas esquinas) a um pessimismo cheio de pudor. Chegamos a dizer que tudo andava tão a nosso favor que só poderia resultar em desastre. Grandes jogadores no auge da forma, todos já realizados profissional e financeiramente, nenhuma contusão mais grave, nenhuma polêmica, bom estado de espírito, etc. e tal. Tudo isso só poderia acabar mal porque quando não se confia em um país e sua gente, como é o nosso caso, vento a favor só pode significar prenúncio de tempestade. Os supersticiosos ficaram mais aliviados quando houve um princípio de briga entre Adriano e Edmilson e, principalmente, quando este foi cortado por contusão. Agora são as bolhas de Ronaldo, e assim por diante. Já temos uma cota administrável de contratempos que nos tiram da confortável e incômoda posição anterior. Mas a história dessa seleção de 2006 ainda precisa ser escrita por seus atores principais. Eles devem mostrar serviço e numa Copa do Mundo, que é quando se separam as crianças dos adultos. Por isso não concordo com alguns colegas que dizem que a seleção ou Ronaldinho nada mais têm a provar. Como não? Têm tudo a provar, sim senhor. Se time e craques badalados e cantados como melhores do mundo e de todas as galáxias negarem fogo na hora agá, como levá-los a sério? Por isso, em minha opinião, ninguém se consagra ou cai em desgraça por antecipação. O jogo tem de ser jogado. Como dizia Antonio Machado, um dos meus poetas favoritos: "Caminante, no hay camino, se hace camino al andar." Ronaldinho, Kaká, Ronaldo, Adriano, Robinho e todos os outros têm de fazer o seu caminho. Construí-lo. Nada está predestinado. O resto é chute. E, em geral, chute fora.

30/6/2006

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