A eclosão da pandemia do coronavírus afetou diretamente a rotina de todos os atletas, incluindo os que se preparam para os Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021. Com os torneios paralisados e os centros de treinamento fechados durante meses, os atletas tiveram que se reinventar e mudaram sua programação de treinos para que não ficassem tão prejudicados.
Os competidores de elite precisaram refazer agenda e alterar viagens diante das mudanças no calendário internacional. Vários treinaram em casa, com suporte de seus clubes e treinadores e usaram a criatividade para minimizar os problemas, adaptando as suas rotinas à quarentena.
Foi isso o que fizeram Hugo Calderano, que levou a mesa de sua modalidade esportiva, o tênis de mesa, para dentro de seu apartamento na pequena cidade alemã de Ochsenhausen, de cerca de 8 mil habitantes, e Nathalie Moellhausen, da esgrima. Ela, que foi campeã mundial no ano passado, em Budapeste, na Hungria, mora em Paris e treinou em sua residência antes de poder retomar as atividades presenciais. Darlan Romani, atual recordista sul-americano no arremesso de peso e candidato a um lugar no pódio nos Jogos de Tóquio chegou a montar uma academia na garagem de sua casa, em Bragança Paulista.
Os clubes e centros de treinamento estão sendo abertos aos poucos no Brasil. No final de julho, na semana em que seriam realizados os Jogos de Tóquio, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) reabriu o Centro de Treinamento Time Brasil, no Parque Olímpico da Barra, no Rio, e iniciou a retomada gradual das atividades no local, seguindo protocolos de prevenção à covid-19.
O Centro Nacional de Desenvolvimento do Atletismo (CNDA), localizado em Bragança Paulista, também foi reaberto no início de agosto, após idas e vindas, e já recebendo atletas, mas persiste o temor com o recrudescimento dos casos de coronavírus na região. Na primeira semana após a reabertura, somente 28 pessoas puderam usar as instalações.
No entanto, como os números de casos de coronavírus e mortes pela doença ainda não atingiram uma queda considerável no País, a solução foi enviar atletas para fora. De olho na Olimpíada de Tóquio, o COB criou a Missão Europa e vai enviar, ao todo, 207 atletas de 15 diferentes modalidades para Portugal, onde eles vão se preparar para o megaevento. O programa, que custará cerca de R$ 15 milhões aos cofres da entidade, teve início em julho e será estendido até dezembro.
Fizeram parte da primeira leva, em julho, as equipes de boxe, ginástica, judô, nado artístico e natação. Na Europa, os competidores terão mais segurança e tranquilidade para a preparação, visto que a situação epidemiológica lá está melhor e a doença já está controlada em boa parte dos países europeus. Antes de viajar, toda a delegação passa por exames de coronavírus. Após a chegada em solo lusitano, mais exames são feitos e todos permanecem isolados até a divulgação dos resultados e liberação para as atividades.
A seleção brasileira feminina de tênis de mesa também faz parte do Missão Europa e viajou nesta sexta-feira, 21, para Portugal, onde estará reunida por mais de um mês. A grande preocupação da comissão técnica, neste primeiro momento, é evitar um desgaste excessivo, com atletas se lesionando após cinco meses de treinos improvisados.
Hugo Hoyama, técnico do tênis de mesa
"Veio numa hora muito importante, nenhuma atleta aguentava mais ficar em casa e ficar só fazendo exercícios. Teremos oportunidade de treinar no ginásio por quase 35 dias. Temos que ser muito inteligentes, fazendo treinos passo a passo, para depois chegarmos ao ritmo normal. Para mim, é a maior preocupação. É conversar bastante, as atletas precisam sinalizar quando estiverem sentido alguma coisa. Tomara que possamos aproveitar bem esse período", analisou o técnico Hugo Hoyama. O ex-jogador de tênis de mesa participou de quatro edições dos Jogos Olímpicos.
Há outros competidores retomando a rotina presencial que moram fora do Brasil, como Thiago Braz e Núbia Soares, do atletismo, Bruno Fratus, da natação, e Tati Weston Webb, do surfe.
Incerteza
Embora boa parte dos atletas esteja conseguindo treinar, permanece a preocupação com o calendário, espremido em razão da covid-19. A seleção brasileira feminina de vôlei, por exemplo, vive sob muita incerteza pois ainda aguarda a definição da data oficial da Superliga Feminina. Quanto mais tarde o torneio for iniciado, o que poderia ser um auxílio para evitar a propagação do novo coronavírus, mais curta será a preparação da seleção para a Olimpíada em 21.
A pandemia atingiu diretamente a equipe nacional. Torneios foram cancelados - as disputas entre as seleções costumam ocorrer de abril a outubro - e atletas ficaram parados por meses, com as temporadas dos clubes sendo encurtadas.
O técnico José Roberto Guimarães planejava reunir as jogadoras para atividades no CT da CBV, em Saquarema, mas os planos tiveram de ser adiados. O treinador divide as atenções entre a seleção e o São Paulo/Barueri, do qual também é técnico. Ele busca investidores para o time, mas ao mesmo tempo não pode se esquecer da seleção, com foco em Tóquio.