Apesar da vontade de ver futebol, a torcida não estará presente nos estádios caso os jogos sejam remarcados para o segundo semestre de maio. Enquanto a população não for infectada em quase sua totalidade - os especialistas dizem 70% -, não será seguro sair de casa e se aglomerar numa arena. A Federação Paulista de Futebol desenha a retomada do ponto de vista da saúde dos jogadores com número reduzido de pessoas no trabalho. E será assim por mais tempo do que todos nós imaginamos e queremos. Ainda há muitas dúvidas sobre a doença, apesar dos quilos de informações despejados diariamente pela mídia. Há dúvidas e bastante receio.
O coronavírus veio para o Brasil de avião, ou seja, na bagagem dos mais ricos e letrados, de modo a serem esses os mais preocupados com a doença. Esse mesmo público é quem tomou os estádios de assalto depois da Copa do Mundo, com a construção de algumas arenas e a reforma de outras. Tirando a turma das uniformizadas, a classe média é quem tem condições de pagar pelos ingressos dos jogos, na casa dos R$ 100 em média, em alguns lugares menos. Os mais pobres, de menos posses, cujo dinheiro é mais justo, são minoria nos estádios de futebol, salvo raras exceções, principalmente em praças menos favorecidas no Nordeste e Norte do País.
Então, penso que vai demorar para que os estádios voltem a ficar cheios como antes. O mundo deu uma freada. Há ainda muita insegurança no ar. Todos os torneios pelo mundo que estão ensaiando a retomada não pretendem abrir seus portões ao público, nem mesmo os alemães, que parecem ter o controle da situação do novo coronavírus mais na mão. O torcedor não fará parte desse primeiro passo. Mas não é somente por isso.
Uma semana antes de paralisar as competições no Brasil, o futebol fazia partidas com casa cheia em jogos do Flamengo e São Paulo, por exemplo. Isso talvez tenha interferido diretamente no número de contaminados no País. Foi um grande erro permitir essas partidas. Agora, a determinação da volta, quando ela acontecer, não vai contemplar os torcedores. Isso significa que as rendas vão demorar a vir. Especialistas dizem que a retomada do futebol vai acontecer de forma lenta e de muita desconfiança. Essa desconfiança não vai acabar com um decreto. Duvido. As pessoas ainda vão se segurar, continuar se protegendo, esperar para sair de casa, ressabiado ainda.