A Prefeitura de São Paulo apresentou na manhã desta quarta-feira o edital final da concessão do autódromo de Interlagos. A publicação do comunicado será no Diário Oficial desta quinta-feira. O objetivo da administração municipal é arrecadar cerca de R$ 992 milhões durante o período de 35 anos da concessão, com rendimentos vindos tanto pelo pagamento da outorga, como pelo recebimento de impostos e pela economia com a manutenção.
A concessão inclui tanto o autódromo José Carlos Pace como o kartódromo Ayrton Senna. A meta é modernizar a área, com a construção de hotel, shopping e galpões para exploração comercial, sem deixar de lado as competições automobilísticas. O edital também prevê a instalação de câmeras de monitoramento, reformas na parte elétrica e sanitária, fora exigir que o complexo reserve 80 dias por ano para a utilização da prefeitura para a realização de eventos.
Ao todo a área destinada para a concessão é de 900 mil m². Após a abertura do edital, os interessados terão 60 dias para apresentarem as propostas. A abertura dos envelopes com o resultado está prevista para 8 de janeiro. As mudanças na gestão de Interlagos fazem parte do pacote da prefeitura iniciado na gestão João Doria (2016 a 2018) para desestatizar grandes ativos, como foi o caso também do estádio do Pacaembu.
"Vamos publicar o edital de concessão de Interlagos nos próximos dias. O benefício financeiro para aquele espaço passa de R$ 1 bilhão, fora que a prefeitura vai poder cuidar daquilo que é sua atividade essencial: educação, saúde, segurança, transporte", disse o prefeito Bruno Covas. Ainda internado no hospital Sírio Libanês, ele gravou um depoimento em vídeo, que foi exibido no evento para o lançamento do edital.
Covas destacou também que o plano de concessão privada é fundamental para São Paulo conseguir renovar o contrato com a Fórmula 1. O acordo atual vai até 2020, mas há o plano de continuar com o GP do Brasil nos anos seguintes. Por outro lado, o Rio de Janeiro também sonha com a corrida e pretende realizá-la em um futuro autódromo a ser construído em Deodoro.
"Não tenho a menor dúvida de que a cidade vai ganhar com isso (com a concessão) e é mais um passo importante para a gente garantir a continuidade do Grande Prêmio aqui na cidade de São Paulo", afirmou Covas no vídeo. A capital paulista recebe o GP do Brasil de Fórmula 1 de forma ininterrupta desde 1990.
Análise - 'O desafio do investidor será criar um negócio atrativo ao público'
*Pedro Lira
O valor projetado de R$ 1 bilhão é até muito próximo do valor de retorno que a prefeitura vai ter com a concessão do Parque do Ibirapuera. Pelo tamanho do equipamento, pela escala, pela dimensão, é um valor possível. A prefeitura fez um Procedimento Preliminar de Manifestação de Interesse (PPMI), em que abre oportunidade para empresas darem suas contribuições, quatro grupos se interessaram em apresentar propostas. Acredito que a prefeitura já mediu o calor de mercado. Então, já ouviu interessados e tem um respaldo sobre essa viabilidade da concessão.
O núcleo comercial com shopping, hotel e galpão para lojas que está previsto para ser erguido no autódromo vai precisar ser bem formatado. Shopping já tem muitos na cidade e o autódromo fica em uma região que não tem uma população tão densa. Portanto, o desafio é criar um negócio atrativo, com um conceito diferente para poder atrair público.
A existência de uma reserva de 80 dias por ano para a prefeitura usar o espaço pode ser um inibidor para alguns possíveis interessados, mas é comum como contrapartidas nesse tipo de projeto. É preciso ter em conta dentro do modelo econômico como lidar com isso e pensar, por exemplo, em outras ações. Se o complexo terá de ficar fechado para utilização da prefeitura, o investidor pode lucrar com a exploração de serviços, como o estacionamento.
*Sócio-diretor da Natureza Urbana, escritório de arquitetura, urbanismo e design estratégico, especialista em projetos de grande escala e PPPs