A estrela do futebol que pode ser presidente do Peru 


Estrela aposentada do futebol, Forsyth lidera pesquisa da Ipsos no Peru há seis meses consecutivos

Por Brendan O'Boyle e Americas Quartely 
Atualização:

Goleiro. Empreendedor. Concorrente de reality show. Manchete de tabloides. Prefeito. Aos 38 anos, George Forsyth é conhecido por muitas coisas. Também será conhecido como presidente do Peru? A eleição só acontecerá em abril do ano que vem, mas, se as pesquisas podem prever o futuro, a resposta é sim.

A estrela aposentada do futebol, que conquistou quatro títulos nacionais e jogou em times da Alemanha e da Itália, lidera a pesquisa da Ipsos há seis meses consecutivos. Outra sondagem de abril o apontou como a única figura política importante que consegue ter uma imagem positiva – por uma ampla margem.

Forsyth entrou na política em 2010, como vereador da populosa região de La Victoria, em Lima. Mas, desde sua eleição para prefeito de La Victoria, em 2018 – com mais do dobro dos votos de seus adversários –, seu perfil político cresceu nacionalmente.

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Antes de se aposentar, Forsyth foi goleiro do Alianza Lima Foto: Mariana Bazo/Reuters

“Ele tem boas chances”, disse Paula Muñoz, professora de ciência política na Universidad del Pacífico, de Lima. Em meio a uma crise política que paralisou o governo nacional e uma pandemia que criou o pior índice de mortalidade per capita da América Latina, as condições do Peru podem favorecer alguém como Forsyth, disse Muñoz.

La Victoria é um distrito de mais de 200 mil habitantes, conhecido por seu comércio movimentado e de onde o prefeito anterior saiu sob alegações de corrupção. Autodenominado centrista, Forsyth se concentrou em questões locais, como a criminalidade, mas suas opiniões sobre grandes questões econômicas são menos claras.

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Como prefeito, ele adotou uma abordagem dura contra os muitos vendedores ambulantes informais do distrito, que entram em conflito com os moradores e as empresas formais. Ele também tem como alvo as redes criminosas que extorquem os vendedores – uma delas supostamente liderada pelo próprio prefeito que Forsyth substituiu.

A mensagem de Forsyth muitas vezes foi além da retórica. Minutos antes de tomar posse como prefeito, ele puxou a bandeira municipal de La Victoria e a lavou – um símbolo, disse seu gabinete, da missão de seu governo de eliminar a corrupção. Forsyth quase sempre aparece vestindo um colete à prova de balas em suas aparições públicas. Ele diz que é por causa das ameaças que recebe diariamente.

Prefeito de uma mini-Peru

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Suas políticas parecem estar funcionando. Os registros de criminalidade caíram significativamente no seu primeiro ano na prefeitura, mas os observadores dizem que é muito cedo para saber se isto reflete uma mudança de longo prazo. Ainda assim, a abordagem de Forsyth pode ser atraente para eleitores de outros lugares.

Afinal, os problemas enfrentados por La Victoria não são exclusivos do município, o qual Merybet Morales Espino, analista político que mora na cidade, chama de “mini-Peru”. Uma pesquisa da Ipsos, de julho, revelou que a corrupção e o crime foram a primeira e a terceira questões de maior preocupação para os peruanos, respectivamente. “Forsyth apela para um senso de ordem pública e respeito à lei”, disse Arturo Zuñiga, estudante de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Forsyth, cujo gabinete não respondeu aos pedidos de entrevista, não confirmou sua candidatura presidencial. Ainda assim, ele vem flertando abertamente com a possibilidade, sugerindo que criaria seu próprio partido para concorrer. “Seria muito mais interessante criar algo totalmente novo, que não estivesse contaminado, digamos, pelas velhas maneiras de fazer as coisas”, disse Forsyth, em entrevista para a TV, em janeiro. “Temos que renovar a política peruana.”

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Com 1,87 metro de altura, o prefeito, apelidado de “Ken” e “Gringo”, não passa despercebido na paisagem de La Victoria. Mas Forsyth, que se mudou para a cidade ainda adolescente, é só “um cara da vizinhança” que “nunca se viu como político”, disse ele em uma entrevista.

A verdade, no entanto, é que Forsyth está na política há uma década e também tem raízes políticas. Ele nasceu em Caracas, na Venezuela, filho de pai diplomata – que tempos depois foi parlamentar e embaixador do Peru nos EUA e na China – e de mãe que foi Miss Chile. Apesar da formação privilegiada, a vitoriosa carreira de Forsyth como goleiro do Alianza Lima, um dos principais clubes do Peru, rendeu-lhe reconhecimento e admiração junto à classe trabalhadora de La Victoria, onde fica o estádio do time. “O Alianza Lima expôs Forsyth às pessoas comuns”, disse Muñoz. “Isso o aproximou desse mundo.”

Vereador e goleiro

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Forsyth continuou jogando futebol profissional depois de entrar na política como vereador de La Victoria, em 2010. Em 2014, sua carreira política ganhou impulso quando o então prefeito concorreu a um cargo mais alto, promovendo Forsyth a prefeito interino por várias semanas. Forsyth se aposentou do futebol antes de concorrer à prefeitura, em 2018, mas manteve o esporte no centro de sua imagem quando, em 2019, mudou o gabinete do prefeito para um complexo esportivo abandonado em uma região pobre.

Além de sua carreira na política local, Forsyth manteve um perfil nacional participando de programas televisivos como as versões peruanas de Dança dos Famosos e, mais recentemente, The Masked Singer. Pouco antes da corrida para prefeito de 2018, ele viveu um romance e um casamento turbulento com a atriz Vanessa Terkes que atraíram muita atenção da mídia. O relacionamento terminou meses depois, com acusações de que Forsyth abusara psicologicamente de Terkes, o que ele negou. Até agora, o escândalo não prejudicou suas perspectivas presidenciais.

Até aqui, o tempo de Forsyth na prefeitura oferece algumas, mas não muitas, pistas sobre que tipo de presidente ele seria. “Suas medidas para combater problemas como a informalidade têm sido claramente pró-mercado, ou pelo menos pró-negócios formais”, disse Zuñiga, que está escrevendo uma tese sobre as políticas públicas para a economia informal de La Victoria. “Ele teve o apoio do governo, da polícia e dos empresários”. “Ele é um cara pró-mercado”, ecoou Muñoz. “Certamente não é antimercado, mas não sabemos nada sobre suas posições políticas”. Forsyth evita rótulos de “direita” e “esquerda” e fala positivamente sobre o centro. Os especialistas dizem que ele não tem uma ideologia clara. 

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Dado o tamanho do município e seu papel comercial, a pandemia fez de La Victoria um ponto focal na luta do governo para conter o coronavírus. Isto poderia dar a Forsyth mais oportunidades de se conectar com os eleitores por meio de uma maior cobertura da mídia. Mas a eleição do Peru só acontecerá daqui a oito meses e as figuras mais estabelecidas podem ganhar impulso (na sexta-feira, o presidente atual, Martín Vizcarra, escapou do impeachment em votação no Congresso). Muito dependerá do partido pelo qual Forsyth concorrerá – se ele de fato concorrer.

Algumas pessoas estão céticas quanto à possibilidade de o reconhecimento de seu nome pela população ser suficiente para superar o que consideram um histórico limitado de Forsyth à frente do Executivo. “Minha sensação é que ele vai desaparecer nos próximos meses”, disse José Carlos Requena, analista político e jornalista. “Mas, na política peruana, tudo pode acontecer”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

*É EDITOR DA REVISTA ‘AMERICAS QUARTERLY’ E ESCREVE SOBRE POLÍTICA LATINO-AMERICANA 

Goleiro. Empreendedor. Concorrente de reality show. Manchete de tabloides. Prefeito. Aos 38 anos, George Forsyth é conhecido por muitas coisas. Também será conhecido como presidente do Peru? A eleição só acontecerá em abril do ano que vem, mas, se as pesquisas podem prever o futuro, a resposta é sim.

A estrela aposentada do futebol, que conquistou quatro títulos nacionais e jogou em times da Alemanha e da Itália, lidera a pesquisa da Ipsos há seis meses consecutivos. Outra sondagem de abril o apontou como a única figura política importante que consegue ter uma imagem positiva – por uma ampla margem.

Forsyth entrou na política em 2010, como vereador da populosa região de La Victoria, em Lima. Mas, desde sua eleição para prefeito de La Victoria, em 2018 – com mais do dobro dos votos de seus adversários –, seu perfil político cresceu nacionalmente.

Antes de se aposentar, Forsyth foi goleiro do Alianza Lima Foto: Mariana Bazo/Reuters

“Ele tem boas chances”, disse Paula Muñoz, professora de ciência política na Universidad del Pacífico, de Lima. Em meio a uma crise política que paralisou o governo nacional e uma pandemia que criou o pior índice de mortalidade per capita da América Latina, as condições do Peru podem favorecer alguém como Forsyth, disse Muñoz.

La Victoria é um distrito de mais de 200 mil habitantes, conhecido por seu comércio movimentado e de onde o prefeito anterior saiu sob alegações de corrupção. Autodenominado centrista, Forsyth se concentrou em questões locais, como a criminalidade, mas suas opiniões sobre grandes questões econômicas são menos claras.

Como prefeito, ele adotou uma abordagem dura contra os muitos vendedores ambulantes informais do distrito, que entram em conflito com os moradores e as empresas formais. Ele também tem como alvo as redes criminosas que extorquem os vendedores – uma delas supostamente liderada pelo próprio prefeito que Forsyth substituiu.

A mensagem de Forsyth muitas vezes foi além da retórica. Minutos antes de tomar posse como prefeito, ele puxou a bandeira municipal de La Victoria e a lavou – um símbolo, disse seu gabinete, da missão de seu governo de eliminar a corrupção. Forsyth quase sempre aparece vestindo um colete à prova de balas em suas aparições públicas. Ele diz que é por causa das ameaças que recebe diariamente.

Prefeito de uma mini-Peru

Suas políticas parecem estar funcionando. Os registros de criminalidade caíram significativamente no seu primeiro ano na prefeitura, mas os observadores dizem que é muito cedo para saber se isto reflete uma mudança de longo prazo. Ainda assim, a abordagem de Forsyth pode ser atraente para eleitores de outros lugares.

Afinal, os problemas enfrentados por La Victoria não são exclusivos do município, o qual Merybet Morales Espino, analista político que mora na cidade, chama de “mini-Peru”. Uma pesquisa da Ipsos, de julho, revelou que a corrupção e o crime foram a primeira e a terceira questões de maior preocupação para os peruanos, respectivamente. “Forsyth apela para um senso de ordem pública e respeito à lei”, disse Arturo Zuñiga, estudante de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Forsyth, cujo gabinete não respondeu aos pedidos de entrevista, não confirmou sua candidatura presidencial. Ainda assim, ele vem flertando abertamente com a possibilidade, sugerindo que criaria seu próprio partido para concorrer. “Seria muito mais interessante criar algo totalmente novo, que não estivesse contaminado, digamos, pelas velhas maneiras de fazer as coisas”, disse Forsyth, em entrevista para a TV, em janeiro. “Temos que renovar a política peruana.”

Com 1,87 metro de altura, o prefeito, apelidado de “Ken” e “Gringo”, não passa despercebido na paisagem de La Victoria. Mas Forsyth, que se mudou para a cidade ainda adolescente, é só “um cara da vizinhança” que “nunca se viu como político”, disse ele em uma entrevista.

A verdade, no entanto, é que Forsyth está na política há uma década e também tem raízes políticas. Ele nasceu em Caracas, na Venezuela, filho de pai diplomata – que tempos depois foi parlamentar e embaixador do Peru nos EUA e na China – e de mãe que foi Miss Chile. Apesar da formação privilegiada, a vitoriosa carreira de Forsyth como goleiro do Alianza Lima, um dos principais clubes do Peru, rendeu-lhe reconhecimento e admiração junto à classe trabalhadora de La Victoria, onde fica o estádio do time. “O Alianza Lima expôs Forsyth às pessoas comuns”, disse Muñoz. “Isso o aproximou desse mundo.”

Vereador e goleiro

Forsyth continuou jogando futebol profissional depois de entrar na política como vereador de La Victoria, em 2010. Em 2014, sua carreira política ganhou impulso quando o então prefeito concorreu a um cargo mais alto, promovendo Forsyth a prefeito interino por várias semanas. Forsyth se aposentou do futebol antes de concorrer à prefeitura, em 2018, mas manteve o esporte no centro de sua imagem quando, em 2019, mudou o gabinete do prefeito para um complexo esportivo abandonado em uma região pobre.

Além de sua carreira na política local, Forsyth manteve um perfil nacional participando de programas televisivos como as versões peruanas de Dança dos Famosos e, mais recentemente, The Masked Singer. Pouco antes da corrida para prefeito de 2018, ele viveu um romance e um casamento turbulento com a atriz Vanessa Terkes que atraíram muita atenção da mídia. O relacionamento terminou meses depois, com acusações de que Forsyth abusara psicologicamente de Terkes, o que ele negou. Até agora, o escândalo não prejudicou suas perspectivas presidenciais.

Até aqui, o tempo de Forsyth na prefeitura oferece algumas, mas não muitas, pistas sobre que tipo de presidente ele seria. “Suas medidas para combater problemas como a informalidade têm sido claramente pró-mercado, ou pelo menos pró-negócios formais”, disse Zuñiga, que está escrevendo uma tese sobre as políticas públicas para a economia informal de La Victoria. “Ele teve o apoio do governo, da polícia e dos empresários”. “Ele é um cara pró-mercado”, ecoou Muñoz. “Certamente não é antimercado, mas não sabemos nada sobre suas posições políticas”. Forsyth evita rótulos de “direita” e “esquerda” e fala positivamente sobre o centro. Os especialistas dizem que ele não tem uma ideologia clara. 

Dado o tamanho do município e seu papel comercial, a pandemia fez de La Victoria um ponto focal na luta do governo para conter o coronavírus. Isto poderia dar a Forsyth mais oportunidades de se conectar com os eleitores por meio de uma maior cobertura da mídia. Mas a eleição do Peru só acontecerá daqui a oito meses e as figuras mais estabelecidas podem ganhar impulso (na sexta-feira, o presidente atual, Martín Vizcarra, escapou do impeachment em votação no Congresso). Muito dependerá do partido pelo qual Forsyth concorrerá – se ele de fato concorrer.

Algumas pessoas estão céticas quanto à possibilidade de o reconhecimento de seu nome pela população ser suficiente para superar o que consideram um histórico limitado de Forsyth à frente do Executivo. “Minha sensação é que ele vai desaparecer nos próximos meses”, disse José Carlos Requena, analista político e jornalista. “Mas, na política peruana, tudo pode acontecer”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

*É EDITOR DA REVISTA ‘AMERICAS QUARTERLY’ E ESCREVE SOBRE POLÍTICA LATINO-AMERICANA 

Goleiro. Empreendedor. Concorrente de reality show. Manchete de tabloides. Prefeito. Aos 38 anos, George Forsyth é conhecido por muitas coisas. Também será conhecido como presidente do Peru? A eleição só acontecerá em abril do ano que vem, mas, se as pesquisas podem prever o futuro, a resposta é sim.

A estrela aposentada do futebol, que conquistou quatro títulos nacionais e jogou em times da Alemanha e da Itália, lidera a pesquisa da Ipsos há seis meses consecutivos. Outra sondagem de abril o apontou como a única figura política importante que consegue ter uma imagem positiva – por uma ampla margem.

Forsyth entrou na política em 2010, como vereador da populosa região de La Victoria, em Lima. Mas, desde sua eleição para prefeito de La Victoria, em 2018 – com mais do dobro dos votos de seus adversários –, seu perfil político cresceu nacionalmente.

Antes de se aposentar, Forsyth foi goleiro do Alianza Lima Foto: Mariana Bazo/Reuters

“Ele tem boas chances”, disse Paula Muñoz, professora de ciência política na Universidad del Pacífico, de Lima. Em meio a uma crise política que paralisou o governo nacional e uma pandemia que criou o pior índice de mortalidade per capita da América Latina, as condições do Peru podem favorecer alguém como Forsyth, disse Muñoz.

La Victoria é um distrito de mais de 200 mil habitantes, conhecido por seu comércio movimentado e de onde o prefeito anterior saiu sob alegações de corrupção. Autodenominado centrista, Forsyth se concentrou em questões locais, como a criminalidade, mas suas opiniões sobre grandes questões econômicas são menos claras.

Como prefeito, ele adotou uma abordagem dura contra os muitos vendedores ambulantes informais do distrito, que entram em conflito com os moradores e as empresas formais. Ele também tem como alvo as redes criminosas que extorquem os vendedores – uma delas supostamente liderada pelo próprio prefeito que Forsyth substituiu.

A mensagem de Forsyth muitas vezes foi além da retórica. Minutos antes de tomar posse como prefeito, ele puxou a bandeira municipal de La Victoria e a lavou – um símbolo, disse seu gabinete, da missão de seu governo de eliminar a corrupção. Forsyth quase sempre aparece vestindo um colete à prova de balas em suas aparições públicas. Ele diz que é por causa das ameaças que recebe diariamente.

Prefeito de uma mini-Peru

Suas políticas parecem estar funcionando. Os registros de criminalidade caíram significativamente no seu primeiro ano na prefeitura, mas os observadores dizem que é muito cedo para saber se isto reflete uma mudança de longo prazo. Ainda assim, a abordagem de Forsyth pode ser atraente para eleitores de outros lugares.

Afinal, os problemas enfrentados por La Victoria não são exclusivos do município, o qual Merybet Morales Espino, analista político que mora na cidade, chama de “mini-Peru”. Uma pesquisa da Ipsos, de julho, revelou que a corrupção e o crime foram a primeira e a terceira questões de maior preocupação para os peruanos, respectivamente. “Forsyth apela para um senso de ordem pública e respeito à lei”, disse Arturo Zuñiga, estudante de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Forsyth, cujo gabinete não respondeu aos pedidos de entrevista, não confirmou sua candidatura presidencial. Ainda assim, ele vem flertando abertamente com a possibilidade, sugerindo que criaria seu próprio partido para concorrer. “Seria muito mais interessante criar algo totalmente novo, que não estivesse contaminado, digamos, pelas velhas maneiras de fazer as coisas”, disse Forsyth, em entrevista para a TV, em janeiro. “Temos que renovar a política peruana.”

Com 1,87 metro de altura, o prefeito, apelidado de “Ken” e “Gringo”, não passa despercebido na paisagem de La Victoria. Mas Forsyth, que se mudou para a cidade ainda adolescente, é só “um cara da vizinhança” que “nunca se viu como político”, disse ele em uma entrevista.

A verdade, no entanto, é que Forsyth está na política há uma década e também tem raízes políticas. Ele nasceu em Caracas, na Venezuela, filho de pai diplomata – que tempos depois foi parlamentar e embaixador do Peru nos EUA e na China – e de mãe que foi Miss Chile. Apesar da formação privilegiada, a vitoriosa carreira de Forsyth como goleiro do Alianza Lima, um dos principais clubes do Peru, rendeu-lhe reconhecimento e admiração junto à classe trabalhadora de La Victoria, onde fica o estádio do time. “O Alianza Lima expôs Forsyth às pessoas comuns”, disse Muñoz. “Isso o aproximou desse mundo.”

Vereador e goleiro

Forsyth continuou jogando futebol profissional depois de entrar na política como vereador de La Victoria, em 2010. Em 2014, sua carreira política ganhou impulso quando o então prefeito concorreu a um cargo mais alto, promovendo Forsyth a prefeito interino por várias semanas. Forsyth se aposentou do futebol antes de concorrer à prefeitura, em 2018, mas manteve o esporte no centro de sua imagem quando, em 2019, mudou o gabinete do prefeito para um complexo esportivo abandonado em uma região pobre.

Além de sua carreira na política local, Forsyth manteve um perfil nacional participando de programas televisivos como as versões peruanas de Dança dos Famosos e, mais recentemente, The Masked Singer. Pouco antes da corrida para prefeito de 2018, ele viveu um romance e um casamento turbulento com a atriz Vanessa Terkes que atraíram muita atenção da mídia. O relacionamento terminou meses depois, com acusações de que Forsyth abusara psicologicamente de Terkes, o que ele negou. Até agora, o escândalo não prejudicou suas perspectivas presidenciais.

Até aqui, o tempo de Forsyth na prefeitura oferece algumas, mas não muitas, pistas sobre que tipo de presidente ele seria. “Suas medidas para combater problemas como a informalidade têm sido claramente pró-mercado, ou pelo menos pró-negócios formais”, disse Zuñiga, que está escrevendo uma tese sobre as políticas públicas para a economia informal de La Victoria. “Ele teve o apoio do governo, da polícia e dos empresários”. “Ele é um cara pró-mercado”, ecoou Muñoz. “Certamente não é antimercado, mas não sabemos nada sobre suas posições políticas”. Forsyth evita rótulos de “direita” e “esquerda” e fala positivamente sobre o centro. Os especialistas dizem que ele não tem uma ideologia clara. 

Dado o tamanho do município e seu papel comercial, a pandemia fez de La Victoria um ponto focal na luta do governo para conter o coronavírus. Isto poderia dar a Forsyth mais oportunidades de se conectar com os eleitores por meio de uma maior cobertura da mídia. Mas a eleição do Peru só acontecerá daqui a oito meses e as figuras mais estabelecidas podem ganhar impulso (na sexta-feira, o presidente atual, Martín Vizcarra, escapou do impeachment em votação no Congresso). Muito dependerá do partido pelo qual Forsyth concorrerá – se ele de fato concorrer.

Algumas pessoas estão céticas quanto à possibilidade de o reconhecimento de seu nome pela população ser suficiente para superar o que consideram um histórico limitado de Forsyth à frente do Executivo. “Minha sensação é que ele vai desaparecer nos próximos meses”, disse José Carlos Requena, analista político e jornalista. “Mas, na política peruana, tudo pode acontecer”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

*É EDITOR DA REVISTA ‘AMERICAS QUARTERLY’ E ESCREVE SOBRE POLÍTICA LATINO-AMERICANA 

Goleiro. Empreendedor. Concorrente de reality show. Manchete de tabloides. Prefeito. Aos 38 anos, George Forsyth é conhecido por muitas coisas. Também será conhecido como presidente do Peru? A eleição só acontecerá em abril do ano que vem, mas, se as pesquisas podem prever o futuro, a resposta é sim.

A estrela aposentada do futebol, que conquistou quatro títulos nacionais e jogou em times da Alemanha e da Itália, lidera a pesquisa da Ipsos há seis meses consecutivos. Outra sondagem de abril o apontou como a única figura política importante que consegue ter uma imagem positiva – por uma ampla margem.

Forsyth entrou na política em 2010, como vereador da populosa região de La Victoria, em Lima. Mas, desde sua eleição para prefeito de La Victoria, em 2018 – com mais do dobro dos votos de seus adversários –, seu perfil político cresceu nacionalmente.

Antes de se aposentar, Forsyth foi goleiro do Alianza Lima Foto: Mariana Bazo/Reuters

“Ele tem boas chances”, disse Paula Muñoz, professora de ciência política na Universidad del Pacífico, de Lima. Em meio a uma crise política que paralisou o governo nacional e uma pandemia que criou o pior índice de mortalidade per capita da América Latina, as condições do Peru podem favorecer alguém como Forsyth, disse Muñoz.

La Victoria é um distrito de mais de 200 mil habitantes, conhecido por seu comércio movimentado e de onde o prefeito anterior saiu sob alegações de corrupção. Autodenominado centrista, Forsyth se concentrou em questões locais, como a criminalidade, mas suas opiniões sobre grandes questões econômicas são menos claras.

Como prefeito, ele adotou uma abordagem dura contra os muitos vendedores ambulantes informais do distrito, que entram em conflito com os moradores e as empresas formais. Ele também tem como alvo as redes criminosas que extorquem os vendedores – uma delas supostamente liderada pelo próprio prefeito que Forsyth substituiu.

A mensagem de Forsyth muitas vezes foi além da retórica. Minutos antes de tomar posse como prefeito, ele puxou a bandeira municipal de La Victoria e a lavou – um símbolo, disse seu gabinete, da missão de seu governo de eliminar a corrupção. Forsyth quase sempre aparece vestindo um colete à prova de balas em suas aparições públicas. Ele diz que é por causa das ameaças que recebe diariamente.

Prefeito de uma mini-Peru

Suas políticas parecem estar funcionando. Os registros de criminalidade caíram significativamente no seu primeiro ano na prefeitura, mas os observadores dizem que é muito cedo para saber se isto reflete uma mudança de longo prazo. Ainda assim, a abordagem de Forsyth pode ser atraente para eleitores de outros lugares.

Afinal, os problemas enfrentados por La Victoria não são exclusivos do município, o qual Merybet Morales Espino, analista político que mora na cidade, chama de “mini-Peru”. Uma pesquisa da Ipsos, de julho, revelou que a corrupção e o crime foram a primeira e a terceira questões de maior preocupação para os peruanos, respectivamente. “Forsyth apela para um senso de ordem pública e respeito à lei”, disse Arturo Zuñiga, estudante de ciências políticas da Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Forsyth, cujo gabinete não respondeu aos pedidos de entrevista, não confirmou sua candidatura presidencial. Ainda assim, ele vem flertando abertamente com a possibilidade, sugerindo que criaria seu próprio partido para concorrer. “Seria muito mais interessante criar algo totalmente novo, que não estivesse contaminado, digamos, pelas velhas maneiras de fazer as coisas”, disse Forsyth, em entrevista para a TV, em janeiro. “Temos que renovar a política peruana.”

Com 1,87 metro de altura, o prefeito, apelidado de “Ken” e “Gringo”, não passa despercebido na paisagem de La Victoria. Mas Forsyth, que se mudou para a cidade ainda adolescente, é só “um cara da vizinhança” que “nunca se viu como político”, disse ele em uma entrevista.

A verdade, no entanto, é que Forsyth está na política há uma década e também tem raízes políticas. Ele nasceu em Caracas, na Venezuela, filho de pai diplomata – que tempos depois foi parlamentar e embaixador do Peru nos EUA e na China – e de mãe que foi Miss Chile. Apesar da formação privilegiada, a vitoriosa carreira de Forsyth como goleiro do Alianza Lima, um dos principais clubes do Peru, rendeu-lhe reconhecimento e admiração junto à classe trabalhadora de La Victoria, onde fica o estádio do time. “O Alianza Lima expôs Forsyth às pessoas comuns”, disse Muñoz. “Isso o aproximou desse mundo.”

Vereador e goleiro

Forsyth continuou jogando futebol profissional depois de entrar na política como vereador de La Victoria, em 2010. Em 2014, sua carreira política ganhou impulso quando o então prefeito concorreu a um cargo mais alto, promovendo Forsyth a prefeito interino por várias semanas. Forsyth se aposentou do futebol antes de concorrer à prefeitura, em 2018, mas manteve o esporte no centro de sua imagem quando, em 2019, mudou o gabinete do prefeito para um complexo esportivo abandonado em uma região pobre.

Além de sua carreira na política local, Forsyth manteve um perfil nacional participando de programas televisivos como as versões peruanas de Dança dos Famosos e, mais recentemente, The Masked Singer. Pouco antes da corrida para prefeito de 2018, ele viveu um romance e um casamento turbulento com a atriz Vanessa Terkes que atraíram muita atenção da mídia. O relacionamento terminou meses depois, com acusações de que Forsyth abusara psicologicamente de Terkes, o que ele negou. Até agora, o escândalo não prejudicou suas perspectivas presidenciais.

Até aqui, o tempo de Forsyth na prefeitura oferece algumas, mas não muitas, pistas sobre que tipo de presidente ele seria. “Suas medidas para combater problemas como a informalidade têm sido claramente pró-mercado, ou pelo menos pró-negócios formais”, disse Zuñiga, que está escrevendo uma tese sobre as políticas públicas para a economia informal de La Victoria. “Ele teve o apoio do governo, da polícia e dos empresários”. “Ele é um cara pró-mercado”, ecoou Muñoz. “Certamente não é antimercado, mas não sabemos nada sobre suas posições políticas”. Forsyth evita rótulos de “direita” e “esquerda” e fala positivamente sobre o centro. Os especialistas dizem que ele não tem uma ideologia clara. 

Dado o tamanho do município e seu papel comercial, a pandemia fez de La Victoria um ponto focal na luta do governo para conter o coronavírus. Isto poderia dar a Forsyth mais oportunidades de se conectar com os eleitores por meio de uma maior cobertura da mídia. Mas a eleição do Peru só acontecerá daqui a oito meses e as figuras mais estabelecidas podem ganhar impulso (na sexta-feira, o presidente atual, Martín Vizcarra, escapou do impeachment em votação no Congresso). Muito dependerá do partido pelo qual Forsyth concorrerá – se ele de fato concorrer.

Algumas pessoas estão céticas quanto à possibilidade de o reconhecimento de seu nome pela população ser suficiente para superar o que consideram um histórico limitado de Forsyth à frente do Executivo. “Minha sensação é que ele vai desaparecer nos próximos meses”, disse José Carlos Requena, analista político e jornalista. “Mas, na política peruana, tudo pode acontecer”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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