A face do descaso e da impunidade em uma reportagem brilhante


Por adrianacarranca

Há muito tempo uma reportagem não me tocava tanto, a ponto de, ao terminar a leitura, eu querer sair correndo e fazer alguma coisa, qualquer coisa. Há muito tempo, eu não lia um texto do começo ao fim com olhos arregalados, não fechava as páginas do jornal com um arrepio na espinha. Foi assim ao ler

, do colega de casa

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Christian Carvalho Cruz

.

Conta um dia na vida do jovem Adriano da Fonseca Pereira, de 20 anos. Seu último dia, aliás. O dia da sua morte, atropelado estupidamente ao atravessar uma rua de São Paulo às 4h20. Foi surpreendido pelo produtor de eventos Fabio Melgar, de 29 anos, ao volante de um BMW que atravessou o farol vermelho em alta velocidade, atingiu Adriano em cheio e se foi, sem prestar socorro. Fugiu, deixando o corpo do jovem para trás, inerte em uma poça de sangue.

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Um taxista testemunhou a cena e seguiu o motorista. Fabio Melgar foi preso em flagrante. Pagou R$ 1.228,20 de fiança e saiu com rapidez maior do que o corpo de Adriano fora liberado do IML. Melgar responderá ao processo em liberdade.

O irmão do motorista, o advogado Douglas Pereira Melgar, disse ao repórter que "o fato só ganhou essa dimensão porque ele dirigia o BMW do sócio dele; se estivesse de Fusca não seria assim." Que tipo de comentário é esse? A vida de um jovem inocente foi perdida, cara. Poupe-nos de sua sociologia barata, por favor!

Mas, para não ser injusta, vá lá, talvez Douglas Melgar tenha razão. Primeiro, de fato, um Fusca não poderia atingir a velocidade do BMW ("fácil, fácil a uns 150km/hr", segundo o taxista e testemunha) e Adriano da Fonseca muito provavelmente ainda estaria vivo. Segundo, nesse país desigual, acredita-se que aquele com acesso a um carro de algumas centenas de milhares de reais tenha tido alcance à educação nas melhores escolas e à informação de qualidade, o suficiente para que tivesse se tornado um cidadão de bom caráter, portanto.

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*

Como repórter, queria eu mesma ter escrito aquele texto. Não é inveja, Christian. É admiração mesmo. Como cidadã, fico agradecida porque acho que é isso mesmo o que cabe a uma reportagem. Indignar, mexer com o leitor a ponto de ele se sentir motivado a fazer algo. Tive essa sensação boa, na semana passada, ao escrever sobre a

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. Dias depois, recebi uma linda carta de agradecimento da mãe de um jovem com transtornos mentais, personagem da reportagem, por ter tido uma vaga oferecida ao filho na clínica particular de uma psicóloga que, ao contrário dos Melgar, se comovera com a tragédia do outro. Melhor seria se o governador e o prefeito tivessem também se comovido e o acesso à saúde mental fosse estendido a todos os que precisam.

Há muito tempo uma reportagem não me tocava tanto, a ponto de, ao terminar a leitura, eu querer sair correndo e fazer alguma coisa, qualquer coisa. Há muito tempo, eu não lia um texto do começo ao fim com olhos arregalados, não fechava as páginas do jornal com um arrepio na espinha. Foi assim ao ler

, do colega de casa

Christian Carvalho Cruz

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Conta um dia na vida do jovem Adriano da Fonseca Pereira, de 20 anos. Seu último dia, aliás. O dia da sua morte, atropelado estupidamente ao atravessar uma rua de São Paulo às 4h20. Foi surpreendido pelo produtor de eventos Fabio Melgar, de 29 anos, ao volante de um BMW que atravessou o farol vermelho em alta velocidade, atingiu Adriano em cheio e se foi, sem prestar socorro. Fugiu, deixando o corpo do jovem para trás, inerte em uma poça de sangue.

Um taxista testemunhou a cena e seguiu o motorista. Fabio Melgar foi preso em flagrante. Pagou R$ 1.228,20 de fiança e saiu com rapidez maior do que o corpo de Adriano fora liberado do IML. Melgar responderá ao processo em liberdade.

O irmão do motorista, o advogado Douglas Pereira Melgar, disse ao repórter que "o fato só ganhou essa dimensão porque ele dirigia o BMW do sócio dele; se estivesse de Fusca não seria assim." Que tipo de comentário é esse? A vida de um jovem inocente foi perdida, cara. Poupe-nos de sua sociologia barata, por favor!

Mas, para não ser injusta, vá lá, talvez Douglas Melgar tenha razão. Primeiro, de fato, um Fusca não poderia atingir a velocidade do BMW ("fácil, fácil a uns 150km/hr", segundo o taxista e testemunha) e Adriano da Fonseca muito provavelmente ainda estaria vivo. Segundo, nesse país desigual, acredita-se que aquele com acesso a um carro de algumas centenas de milhares de reais tenha tido alcance à educação nas melhores escolas e à informação de qualidade, o suficiente para que tivesse se tornado um cidadão de bom caráter, portanto.

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Como repórter, queria eu mesma ter escrito aquele texto. Não é inveja, Christian. É admiração mesmo. Como cidadã, fico agradecida porque acho que é isso mesmo o que cabe a uma reportagem. Indignar, mexer com o leitor a ponto de ele se sentir motivado a fazer algo. Tive essa sensação boa, na semana passada, ao escrever sobre a

. Dias depois, recebi uma linda carta de agradecimento da mãe de um jovem com transtornos mentais, personagem da reportagem, por ter tido uma vaga oferecida ao filho na clínica particular de uma psicóloga que, ao contrário dos Melgar, se comovera com a tragédia do outro. Melhor seria se o governador e o prefeito tivessem também se comovido e o acesso à saúde mental fosse estendido a todos os que precisam.

Há muito tempo uma reportagem não me tocava tanto, a ponto de, ao terminar a leitura, eu querer sair correndo e fazer alguma coisa, qualquer coisa. Há muito tempo, eu não lia um texto do começo ao fim com olhos arregalados, não fechava as páginas do jornal com um arrepio na espinha. Foi assim ao ler

, do colega de casa

Christian Carvalho Cruz

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Conta um dia na vida do jovem Adriano da Fonseca Pereira, de 20 anos. Seu último dia, aliás. O dia da sua morte, atropelado estupidamente ao atravessar uma rua de São Paulo às 4h20. Foi surpreendido pelo produtor de eventos Fabio Melgar, de 29 anos, ao volante de um BMW que atravessou o farol vermelho em alta velocidade, atingiu Adriano em cheio e se foi, sem prestar socorro. Fugiu, deixando o corpo do jovem para trás, inerte em uma poça de sangue.

Um taxista testemunhou a cena e seguiu o motorista. Fabio Melgar foi preso em flagrante. Pagou R$ 1.228,20 de fiança e saiu com rapidez maior do que o corpo de Adriano fora liberado do IML. Melgar responderá ao processo em liberdade.

O irmão do motorista, o advogado Douglas Pereira Melgar, disse ao repórter que "o fato só ganhou essa dimensão porque ele dirigia o BMW do sócio dele; se estivesse de Fusca não seria assim." Que tipo de comentário é esse? A vida de um jovem inocente foi perdida, cara. Poupe-nos de sua sociologia barata, por favor!

Mas, para não ser injusta, vá lá, talvez Douglas Melgar tenha razão. Primeiro, de fato, um Fusca não poderia atingir a velocidade do BMW ("fácil, fácil a uns 150km/hr", segundo o taxista e testemunha) e Adriano da Fonseca muito provavelmente ainda estaria vivo. Segundo, nesse país desigual, acredita-se que aquele com acesso a um carro de algumas centenas de milhares de reais tenha tido alcance à educação nas melhores escolas e à informação de qualidade, o suficiente para que tivesse se tornado um cidadão de bom caráter, portanto.

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Como repórter, queria eu mesma ter escrito aquele texto. Não é inveja, Christian. É admiração mesmo. Como cidadã, fico agradecida porque acho que é isso mesmo o que cabe a uma reportagem. Indignar, mexer com o leitor a ponto de ele se sentir motivado a fazer algo. Tive essa sensação boa, na semana passada, ao escrever sobre a

. Dias depois, recebi uma linda carta de agradecimento da mãe de um jovem com transtornos mentais, personagem da reportagem, por ter tido uma vaga oferecida ao filho na clínica particular de uma psicóloga que, ao contrário dos Melgar, se comovera com a tragédia do outro. Melhor seria se o governador e o prefeito tivessem também se comovido e o acesso à saúde mental fosse estendido a todos os que precisam.

Há muito tempo uma reportagem não me tocava tanto, a ponto de, ao terminar a leitura, eu querer sair correndo e fazer alguma coisa, qualquer coisa. Há muito tempo, eu não lia um texto do começo ao fim com olhos arregalados, não fechava as páginas do jornal com um arrepio na espinha. Foi assim ao ler

, do colega de casa

Christian Carvalho Cruz

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Conta um dia na vida do jovem Adriano da Fonseca Pereira, de 20 anos. Seu último dia, aliás. O dia da sua morte, atropelado estupidamente ao atravessar uma rua de São Paulo às 4h20. Foi surpreendido pelo produtor de eventos Fabio Melgar, de 29 anos, ao volante de um BMW que atravessou o farol vermelho em alta velocidade, atingiu Adriano em cheio e se foi, sem prestar socorro. Fugiu, deixando o corpo do jovem para trás, inerte em uma poça de sangue.

Um taxista testemunhou a cena e seguiu o motorista. Fabio Melgar foi preso em flagrante. Pagou R$ 1.228,20 de fiança e saiu com rapidez maior do que o corpo de Adriano fora liberado do IML. Melgar responderá ao processo em liberdade.

O irmão do motorista, o advogado Douglas Pereira Melgar, disse ao repórter que "o fato só ganhou essa dimensão porque ele dirigia o BMW do sócio dele; se estivesse de Fusca não seria assim." Que tipo de comentário é esse? A vida de um jovem inocente foi perdida, cara. Poupe-nos de sua sociologia barata, por favor!

Mas, para não ser injusta, vá lá, talvez Douglas Melgar tenha razão. Primeiro, de fato, um Fusca não poderia atingir a velocidade do BMW ("fácil, fácil a uns 150km/hr", segundo o taxista e testemunha) e Adriano da Fonseca muito provavelmente ainda estaria vivo. Segundo, nesse país desigual, acredita-se que aquele com acesso a um carro de algumas centenas de milhares de reais tenha tido alcance à educação nas melhores escolas e à informação de qualidade, o suficiente para que tivesse se tornado um cidadão de bom caráter, portanto.

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Como repórter, queria eu mesma ter escrito aquele texto. Não é inveja, Christian. É admiração mesmo. Como cidadã, fico agradecida porque acho que é isso mesmo o que cabe a uma reportagem. Indignar, mexer com o leitor a ponto de ele se sentir motivado a fazer algo. Tive essa sensação boa, na semana passada, ao escrever sobre a

. Dias depois, recebi uma linda carta de agradecimento da mãe de um jovem com transtornos mentais, personagem da reportagem, por ter tido uma vaga oferecida ao filho na clínica particular de uma psicóloga que, ao contrário dos Melgar, se comovera com a tragédia do outro. Melhor seria se o governador e o prefeito tivessem também se comovido e o acesso à saúde mental fosse estendido a todos os que precisam.

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