SÃO PAULO - Presos desde o dia 5 de agosto em uma mina de ouro e cobre no deserto do Atacama, no norte do Chile, 33 mineiros chilenos têm em um pequeno duto de 16 centímetros de diâmetro seu único contato com o exterior. E esse canal é fundamental para amenizar os efeitos de estresse e ansiedade causados pelo soterramento. De acordo com o supervisor do programa de ansiedade do Instituto de Psiquiatria do HC/USP, doutor Luiz Vicente Figueira de Mello, o fato de eles estarem em um lugar fechado é um complicador, mas uma situação de isolamento seria pior. "Quando o indivíduo se sente apoiado socialmente, diminui o nível de estresse. Como somos animais sociais, quando você fica isolado em uma gruta sem ter contato com o exterior, seu estresse é muito maior", explica. Pelo duto, os mineiros recebem água, alimentos e notícias do mundo exterior. Até vídeos de futebol, com cenas de jogos de Pelé e Maradona, serão enviados aos mineiros, além de cartas das famílias. "O apoio familiar, principalmente, é importante e diminui bastante o nível de estresse", acrescenta o médico. Outro fator relevante, segundo Figueira de Mello, é a consciência de que algo está sendo feito para o fim dessa situação. O resgate pode durar até quatro meses. Após a descoberta de que os mineiros estavam vivos, as autoridades chilenas evitaram informá-los de que o resgate seria longo. Ao decorrer da semana, eles ficaram cientes de que a operação levaria pelo menos mais de um mês. A existência de um líder também colabora para evitar crises no comportamento do grupo. O mineiro Luís Urzua é o chefe dos trabalhadores e estabeleceu funções e tarefas, além do racionamento de alimentos, que os permitiu sobreviver até entrar em contato com o mundo exterior. "A convivência entre eles também ajuda. O grupo sempre vai ajudar, mas algumas pessoas podem atrapalhar, dependendo da reação delas aí dentro". Segundo o governo chileno, cinco dos 33 trabalhadores têm sinais de depressão. Para o médico do IPQ, sob um estresse prolongado, em caso de meses, a probabilidade de desencadear uma depressão decorrente da circunstância é muito grande. Com o fim do soterramento, o maior risco psicológico para os mineiros é o de estresse pós-traumático. "De 8% a 10% das pessoas que sofreram esses traumas podem sofrer do problema, que só vai aparecer depois de quatro ou cinco semanas de estresse", conclui.
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