Análise: A antidemocracia trumpista e o Brasil


Escolhas do governo brasileiro em apostar tudo no lado derrotado da história aumentarão distanciamento entre Brasília e Washington

Por Hussein Kalout

O presidente da República perdeu uma tremenda oportunidade de se posicionar em favor da democracia americana. Se a relação com o futuro presidente dos EUA, Joe Biden, prometia ser tensa, agora há certeza de que será. No melhor dos cenários, Brasil e EUA terão, ao menos até o final de 2022, uma relação gélida e distante. O mundo de Biden é diferente do de Trump – este igual ao de Bolsonaro.

Em diversas ocasiões, o presidente brasileiro enfatizou o desejo de buscar uma relação próxima e próspera com os EUA; no entanto, suas atitudes não refletem essa ambição. No fundo, a relação bilateral tornou-se mais Bolsonaro-Trump do que Brasil-EUA.

A explicação para o distanciamento que pode marcar o diálogo Brasília-Washington encontra-se na forma e nas escolhas feitas pelo governo brasileiro. Os últimos episódios demonstram que existe um fosso enorme e que somente se aprofundou com a equivocada conduta do governo brasileiro.

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O Brasil escolheu um lado na disputa pela Casa Branca, atacou abertamente a integridade do processo eleitoral americano, subtraiu a legitimidade do presidente eleito ao endossar a estapafúrdia tese de fraude, se imiscuiu sem titubeios em assuntos internos de outro país e, por fim, endossou o discurso de Trump que incitava os ataques ao Capitólio.

Explosão causada por uma munição policial é vista enquanto apoiadores de Donald Trump se reúnem em frente ao Capitólio dos EUA Foto: Leah Millis/ Reuters

O fato é que o governo brasileiro apostou tudo no lado derrotado da história e não construiu nada com o novo governo. Se tivesse apostado em uma relação orientada estritamente pelo interesse nacional, e não em uma política externa altamente ideológica, o resultado teria sido possivelmente menos ruim. Um posicionamento equilibrado ao longo de todo o processo eleitoral americano teria, enfim, resguardado o futuro da relação bilateral e preservado uma ponte de diálogo com a nova administração nos EUA.

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Como a relação foi estruturada por uma profunda aproximação ideológica, e não com base naquilo que melhor traduz os interesses estratégicos do Estado brasileiro, sairemos de um extremo para outro. De um alinhamento automático - que, na sequência, se converteu numa subordinação sumária de interesses à Casa Branca - para um isolamento autoimposto.

A oscilação na relação bilateral pode ser perigosa não apenas naquilo que norteia, por exemplo, as relações comerciais, mas também no encolhimento da atuação do Brasil até em tabuleiros mais periféricos das relações internacionais. Como a ideologia é o que rege por excelência as prioridades da atual política externa brasileira, Biden e sua administração podem vir a ser instrumentalizados como foco de antagonismo e fricções, com vistas a nutrir a base de apoio do bolsonarismo.

Se errar na dose, o governo será arrastado a um confronto diplomático desnecessário e prejudicial aos interesses brasileiros. Como, nas relações internacionais, negócios são negócios e amizades ficam à parte, Joe Biden, apesar de sua aparente aversão ao presidente brasileiro, terá, no pragmatismo, o fio condutor de sua diplomacia no tocante ao “portfólio Brasil” – apesar dos graves equívocos da diplomacia brasileira.

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Não obstante, cabe ressaltar que a relação com Washington caminhará, a partir do dia 20 de janeiro, no fio da navalha. Pois o governo brasileiro não terá a chance de vacilar novamente sem consequências para os interesses do Estado brasileiro. O Planalto e o Itamaraty estão diante de um teste de fogo. Ambos precisam comprovar que a relação é mantida com os Estados Unidos, e não apenas com o trumpismo.

HUSSEIN KALOUT –– é Cientista Político, Professor de Relações Internacionais e Pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2016-2018). Escreve semanalmente, às segundas-feiras.

O presidente da República perdeu uma tremenda oportunidade de se posicionar em favor da democracia americana. Se a relação com o futuro presidente dos EUA, Joe Biden, prometia ser tensa, agora há certeza de que será. No melhor dos cenários, Brasil e EUA terão, ao menos até o final de 2022, uma relação gélida e distante. O mundo de Biden é diferente do de Trump – este igual ao de Bolsonaro.

Em diversas ocasiões, o presidente brasileiro enfatizou o desejo de buscar uma relação próxima e próspera com os EUA; no entanto, suas atitudes não refletem essa ambição. No fundo, a relação bilateral tornou-se mais Bolsonaro-Trump do que Brasil-EUA.

A explicação para o distanciamento que pode marcar o diálogo Brasília-Washington encontra-se na forma e nas escolhas feitas pelo governo brasileiro. Os últimos episódios demonstram que existe um fosso enorme e que somente se aprofundou com a equivocada conduta do governo brasileiro.

O Brasil escolheu um lado na disputa pela Casa Branca, atacou abertamente a integridade do processo eleitoral americano, subtraiu a legitimidade do presidente eleito ao endossar a estapafúrdia tese de fraude, se imiscuiu sem titubeios em assuntos internos de outro país e, por fim, endossou o discurso de Trump que incitava os ataques ao Capitólio.

Explosão causada por uma munição policial é vista enquanto apoiadores de Donald Trump se reúnem em frente ao Capitólio dos EUA Foto: Leah Millis/ Reuters

O fato é que o governo brasileiro apostou tudo no lado derrotado da história e não construiu nada com o novo governo. Se tivesse apostado em uma relação orientada estritamente pelo interesse nacional, e não em uma política externa altamente ideológica, o resultado teria sido possivelmente menos ruim. Um posicionamento equilibrado ao longo de todo o processo eleitoral americano teria, enfim, resguardado o futuro da relação bilateral e preservado uma ponte de diálogo com a nova administração nos EUA.

Como a relação foi estruturada por uma profunda aproximação ideológica, e não com base naquilo que melhor traduz os interesses estratégicos do Estado brasileiro, sairemos de um extremo para outro. De um alinhamento automático - que, na sequência, se converteu numa subordinação sumária de interesses à Casa Branca - para um isolamento autoimposto.

A oscilação na relação bilateral pode ser perigosa não apenas naquilo que norteia, por exemplo, as relações comerciais, mas também no encolhimento da atuação do Brasil até em tabuleiros mais periféricos das relações internacionais. Como a ideologia é o que rege por excelência as prioridades da atual política externa brasileira, Biden e sua administração podem vir a ser instrumentalizados como foco de antagonismo e fricções, com vistas a nutrir a base de apoio do bolsonarismo.

Se errar na dose, o governo será arrastado a um confronto diplomático desnecessário e prejudicial aos interesses brasileiros. Como, nas relações internacionais, negócios são negócios e amizades ficam à parte, Joe Biden, apesar de sua aparente aversão ao presidente brasileiro, terá, no pragmatismo, o fio condutor de sua diplomacia no tocante ao “portfólio Brasil” – apesar dos graves equívocos da diplomacia brasileira.

Não obstante, cabe ressaltar que a relação com Washington caminhará, a partir do dia 20 de janeiro, no fio da navalha. Pois o governo brasileiro não terá a chance de vacilar novamente sem consequências para os interesses do Estado brasileiro. O Planalto e o Itamaraty estão diante de um teste de fogo. Ambos precisam comprovar que a relação é mantida com os Estados Unidos, e não apenas com o trumpismo.

HUSSEIN KALOUT –– é Cientista Político, Professor de Relações Internacionais e Pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2016-2018). Escreve semanalmente, às segundas-feiras.

O presidente da República perdeu uma tremenda oportunidade de se posicionar em favor da democracia americana. Se a relação com o futuro presidente dos EUA, Joe Biden, prometia ser tensa, agora há certeza de que será. No melhor dos cenários, Brasil e EUA terão, ao menos até o final de 2022, uma relação gélida e distante. O mundo de Biden é diferente do de Trump – este igual ao de Bolsonaro.

Em diversas ocasiões, o presidente brasileiro enfatizou o desejo de buscar uma relação próxima e próspera com os EUA; no entanto, suas atitudes não refletem essa ambição. No fundo, a relação bilateral tornou-se mais Bolsonaro-Trump do que Brasil-EUA.

A explicação para o distanciamento que pode marcar o diálogo Brasília-Washington encontra-se na forma e nas escolhas feitas pelo governo brasileiro. Os últimos episódios demonstram que existe um fosso enorme e que somente se aprofundou com a equivocada conduta do governo brasileiro.

O Brasil escolheu um lado na disputa pela Casa Branca, atacou abertamente a integridade do processo eleitoral americano, subtraiu a legitimidade do presidente eleito ao endossar a estapafúrdia tese de fraude, se imiscuiu sem titubeios em assuntos internos de outro país e, por fim, endossou o discurso de Trump que incitava os ataques ao Capitólio.

Explosão causada por uma munição policial é vista enquanto apoiadores de Donald Trump se reúnem em frente ao Capitólio dos EUA Foto: Leah Millis/ Reuters

O fato é que o governo brasileiro apostou tudo no lado derrotado da história e não construiu nada com o novo governo. Se tivesse apostado em uma relação orientada estritamente pelo interesse nacional, e não em uma política externa altamente ideológica, o resultado teria sido possivelmente menos ruim. Um posicionamento equilibrado ao longo de todo o processo eleitoral americano teria, enfim, resguardado o futuro da relação bilateral e preservado uma ponte de diálogo com a nova administração nos EUA.

Como a relação foi estruturada por uma profunda aproximação ideológica, e não com base naquilo que melhor traduz os interesses estratégicos do Estado brasileiro, sairemos de um extremo para outro. De um alinhamento automático - que, na sequência, se converteu numa subordinação sumária de interesses à Casa Branca - para um isolamento autoimposto.

A oscilação na relação bilateral pode ser perigosa não apenas naquilo que norteia, por exemplo, as relações comerciais, mas também no encolhimento da atuação do Brasil até em tabuleiros mais periféricos das relações internacionais. Como a ideologia é o que rege por excelência as prioridades da atual política externa brasileira, Biden e sua administração podem vir a ser instrumentalizados como foco de antagonismo e fricções, com vistas a nutrir a base de apoio do bolsonarismo.

Se errar na dose, o governo será arrastado a um confronto diplomático desnecessário e prejudicial aos interesses brasileiros. Como, nas relações internacionais, negócios são negócios e amizades ficam à parte, Joe Biden, apesar de sua aparente aversão ao presidente brasileiro, terá, no pragmatismo, o fio condutor de sua diplomacia no tocante ao “portfólio Brasil” – apesar dos graves equívocos da diplomacia brasileira.

Não obstante, cabe ressaltar que a relação com Washington caminhará, a partir do dia 20 de janeiro, no fio da navalha. Pois o governo brasileiro não terá a chance de vacilar novamente sem consequências para os interesses do Estado brasileiro. O Planalto e o Itamaraty estão diante de um teste de fogo. Ambos precisam comprovar que a relação é mantida com os Estados Unidos, e não apenas com o trumpismo.

HUSSEIN KALOUT –– é Cientista Político, Professor de Relações Internacionais e Pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2016-2018). Escreve semanalmente, às segundas-feiras.

O presidente da República perdeu uma tremenda oportunidade de se posicionar em favor da democracia americana. Se a relação com o futuro presidente dos EUA, Joe Biden, prometia ser tensa, agora há certeza de que será. No melhor dos cenários, Brasil e EUA terão, ao menos até o final de 2022, uma relação gélida e distante. O mundo de Biden é diferente do de Trump – este igual ao de Bolsonaro.

Em diversas ocasiões, o presidente brasileiro enfatizou o desejo de buscar uma relação próxima e próspera com os EUA; no entanto, suas atitudes não refletem essa ambição. No fundo, a relação bilateral tornou-se mais Bolsonaro-Trump do que Brasil-EUA.

A explicação para o distanciamento que pode marcar o diálogo Brasília-Washington encontra-se na forma e nas escolhas feitas pelo governo brasileiro. Os últimos episódios demonstram que existe um fosso enorme e que somente se aprofundou com a equivocada conduta do governo brasileiro.

O Brasil escolheu um lado na disputa pela Casa Branca, atacou abertamente a integridade do processo eleitoral americano, subtraiu a legitimidade do presidente eleito ao endossar a estapafúrdia tese de fraude, se imiscuiu sem titubeios em assuntos internos de outro país e, por fim, endossou o discurso de Trump que incitava os ataques ao Capitólio.

Explosão causada por uma munição policial é vista enquanto apoiadores de Donald Trump se reúnem em frente ao Capitólio dos EUA Foto: Leah Millis/ Reuters

O fato é que o governo brasileiro apostou tudo no lado derrotado da história e não construiu nada com o novo governo. Se tivesse apostado em uma relação orientada estritamente pelo interesse nacional, e não em uma política externa altamente ideológica, o resultado teria sido possivelmente menos ruim. Um posicionamento equilibrado ao longo de todo o processo eleitoral americano teria, enfim, resguardado o futuro da relação bilateral e preservado uma ponte de diálogo com a nova administração nos EUA.

Como a relação foi estruturada por uma profunda aproximação ideológica, e não com base naquilo que melhor traduz os interesses estratégicos do Estado brasileiro, sairemos de um extremo para outro. De um alinhamento automático - que, na sequência, se converteu numa subordinação sumária de interesses à Casa Branca - para um isolamento autoimposto.

A oscilação na relação bilateral pode ser perigosa não apenas naquilo que norteia, por exemplo, as relações comerciais, mas também no encolhimento da atuação do Brasil até em tabuleiros mais periféricos das relações internacionais. Como a ideologia é o que rege por excelência as prioridades da atual política externa brasileira, Biden e sua administração podem vir a ser instrumentalizados como foco de antagonismo e fricções, com vistas a nutrir a base de apoio do bolsonarismo.

Se errar na dose, o governo será arrastado a um confronto diplomático desnecessário e prejudicial aos interesses brasileiros. Como, nas relações internacionais, negócios são negócios e amizades ficam à parte, Joe Biden, apesar de sua aparente aversão ao presidente brasileiro, terá, no pragmatismo, o fio condutor de sua diplomacia no tocante ao “portfólio Brasil” – apesar dos graves equívocos da diplomacia brasileira.

Não obstante, cabe ressaltar que a relação com Washington caminhará, a partir do dia 20 de janeiro, no fio da navalha. Pois o governo brasileiro não terá a chance de vacilar novamente sem consequências para os interesses do Estado brasileiro. O Planalto e o Itamaraty estão diante de um teste de fogo. Ambos precisam comprovar que a relação é mantida com os Estados Unidos, e não apenas com o trumpismo.

HUSSEIN KALOUT –– é Cientista Político, Professor de Relações Internacionais e Pesquisador da Universidade Harvard. Foi Secretário Especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (2016-2018). Escreve semanalmente, às segundas-feiras.

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