Análise: Revoltas econômicas se transformam em levantes políticos facilmente


Ainda não é possível dizer onde a onda de manifestações no país vai parar, mas a nova geração de descontentes parece estar determinada

Por Christian Caryl e W. POST

Não se viam protestos assim no Irã em quase uma década. Nos últimos seis dias, manifestações foram registradas em cidades, vilas remotas e bairros da classe operária de Teerã. Não há como saber onde isto vai parar. A nova geração de descontentes parece estar determinada. O Estado iraniano, porém, está equipado com um gigantesco aparelho repressivo capaz de esmagar até a mais ínfima dissidência.

Onda de protestos cresce e 9 pessoas morrem em madrugada violenta no Irã

Seja qual for o resultado, a agitação atual já é um marco na história do Irã. Muita gente tinha esperança de que o sistema teocrático pudesse ser mudado de dentro para fora. Pensaram que, ao votar por candidatos reformistas, poderiam criar um país mais aberto e democrático. Os manifestantes atuais abandonaram essa esperança. Por quê?

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A primeira razão tem a ver com o Movimento Verde, de 2009. Na época, milhares de iranianos tomaram as ruas em protesto contra a fraude eleitoral. Muitos haviam votado no reformista Mir Hossein Mousavi, mas a vitória foi do conservador Mahmoud Ahmadinejad - seus simpatizantes do clero teriam alterado o resultado final. Quando Ahmadinejad foi declarado vencedor, muitos opositores, principalmente os jovens de classe média, viram que a linha dura não permitiria reformas. Os manifestantes criticaram o regime e a repressão foi dura. Muitos foram mortos - provavelmente, nunca saberemos quantos com certeza. Milhares foram presos ou exilados.

Retrospectiva 2017: O mundo em 10 imagens

1 | 11

Retrospectiva 2017: O mundo em 10 imagens

Foto: AFP PHOTO / Brendan Smialowski
2 | 11

Posse de Trump

Foto: AFP PHOTO / DOMINICK REUTER
3 | 11

Crise climática

Foto: AFP PHOTO / Thomas B. Shea
4 | 11

Tragédia em Londres

Foto: REUTERS/Toby Melville
5 | 11

Acirramento das tensões na Venezuela

Foto: AFP PHOTO / RONALDO SCHEMIDT
6 | 11

Washington-Moscou

Foto: REUTERS/Carlos Barria
7 | 11

'Limpeza étnica' dos rohingyas

Foto: AFP PHOTO / K M ASAD
8 | 11

Tensão com Pyongyang

Foto: KCNA via REUTERS
9 | 11

Ataque em Las Vegas

Foto: REUTERS/Mike Blake
10 | 11

Crise política na Catalunha

Foto: AFP PHOTO / PAU BARRENA
11 | 11

Derrotas do EI

Foto: AFP PHOTO / AHMAD AL-RUBAYE

O segundo golpe no sonho de uma perestroika iraniana foi dado pelo atual presidente, Hassan Rohani, reeleito no ano passado. Apresentando-se como reformista, ele ganhou graças às promessas de mudança que nunca cumpriu. O acordo nuclear com o Ocidente, que aliviou as sanções, deveria ter inaugurado uma nova onda de prosperidade - que nunca veio. O próprio Rohani mostrou que o fracasso era culpa dos iranianos. 

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Ano passado, ele tentou dar transparência ao publicar detalhes do orçamento, mas foi um tiro n’água. Muitos iranianos ficaram irritados ao descobrir que bilhões de dólares iam parar na conta de obscuras fundações religiosas ou foram gastos em aventuras militares na Síria, Iraque e Líbano. Tudo isso em meio a uma economia em crise. Por isso, é fácil entender por que o aumento do preço de alguns alimentos, em dezembro, tenha desatado a revolta. Como já vimos em outras autocracias, os protestos economicamente motivados se transformam facilmente em políticos ao longo do tempo.

* É JORNALISTA

Não se viam protestos assim no Irã em quase uma década. Nos últimos seis dias, manifestações foram registradas em cidades, vilas remotas e bairros da classe operária de Teerã. Não há como saber onde isto vai parar. A nova geração de descontentes parece estar determinada. O Estado iraniano, porém, está equipado com um gigantesco aparelho repressivo capaz de esmagar até a mais ínfima dissidência.

Onda de protestos cresce e 9 pessoas morrem em madrugada violenta no Irã

Seja qual for o resultado, a agitação atual já é um marco na história do Irã. Muita gente tinha esperança de que o sistema teocrático pudesse ser mudado de dentro para fora. Pensaram que, ao votar por candidatos reformistas, poderiam criar um país mais aberto e democrático. Os manifestantes atuais abandonaram essa esperança. Por quê?

A primeira razão tem a ver com o Movimento Verde, de 2009. Na época, milhares de iranianos tomaram as ruas em protesto contra a fraude eleitoral. Muitos haviam votado no reformista Mir Hossein Mousavi, mas a vitória foi do conservador Mahmoud Ahmadinejad - seus simpatizantes do clero teriam alterado o resultado final. Quando Ahmadinejad foi declarado vencedor, muitos opositores, principalmente os jovens de classe média, viram que a linha dura não permitiria reformas. Os manifestantes criticaram o regime e a repressão foi dura. Muitos foram mortos - provavelmente, nunca saberemos quantos com certeza. Milhares foram presos ou exilados.

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Foto: AFP PHOTO / AHMAD AL-RUBAYE

O segundo golpe no sonho de uma perestroika iraniana foi dado pelo atual presidente, Hassan Rohani, reeleito no ano passado. Apresentando-se como reformista, ele ganhou graças às promessas de mudança que nunca cumpriu. O acordo nuclear com o Ocidente, que aliviou as sanções, deveria ter inaugurado uma nova onda de prosperidade - que nunca veio. O próprio Rohani mostrou que o fracasso era culpa dos iranianos. 

Ano passado, ele tentou dar transparência ao publicar detalhes do orçamento, mas foi um tiro n’água. Muitos iranianos ficaram irritados ao descobrir que bilhões de dólares iam parar na conta de obscuras fundações religiosas ou foram gastos em aventuras militares na Síria, Iraque e Líbano. Tudo isso em meio a uma economia em crise. Por isso, é fácil entender por que o aumento do preço de alguns alimentos, em dezembro, tenha desatado a revolta. Como já vimos em outras autocracias, os protestos economicamente motivados se transformam facilmente em políticos ao longo do tempo.

* É JORNALISTA

Não se viam protestos assim no Irã em quase uma década. Nos últimos seis dias, manifestações foram registradas em cidades, vilas remotas e bairros da classe operária de Teerã. Não há como saber onde isto vai parar. A nova geração de descontentes parece estar determinada. O Estado iraniano, porém, está equipado com um gigantesco aparelho repressivo capaz de esmagar até a mais ínfima dissidência.

Onda de protestos cresce e 9 pessoas morrem em madrugada violenta no Irã

Seja qual for o resultado, a agitação atual já é um marco na história do Irã. Muita gente tinha esperança de que o sistema teocrático pudesse ser mudado de dentro para fora. Pensaram que, ao votar por candidatos reformistas, poderiam criar um país mais aberto e democrático. Os manifestantes atuais abandonaram essa esperança. Por quê?

A primeira razão tem a ver com o Movimento Verde, de 2009. Na época, milhares de iranianos tomaram as ruas em protesto contra a fraude eleitoral. Muitos haviam votado no reformista Mir Hossein Mousavi, mas a vitória foi do conservador Mahmoud Ahmadinejad - seus simpatizantes do clero teriam alterado o resultado final. Quando Ahmadinejad foi declarado vencedor, muitos opositores, principalmente os jovens de classe média, viram que a linha dura não permitiria reformas. Os manifestantes criticaram o regime e a repressão foi dura. Muitos foram mortos - provavelmente, nunca saberemos quantos com certeza. Milhares foram presos ou exilados.

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O segundo golpe no sonho de uma perestroika iraniana foi dado pelo atual presidente, Hassan Rohani, reeleito no ano passado. Apresentando-se como reformista, ele ganhou graças às promessas de mudança que nunca cumpriu. O acordo nuclear com o Ocidente, que aliviou as sanções, deveria ter inaugurado uma nova onda de prosperidade - que nunca veio. O próprio Rohani mostrou que o fracasso era culpa dos iranianos. 

Ano passado, ele tentou dar transparência ao publicar detalhes do orçamento, mas foi um tiro n’água. Muitos iranianos ficaram irritados ao descobrir que bilhões de dólares iam parar na conta de obscuras fundações religiosas ou foram gastos em aventuras militares na Síria, Iraque e Líbano. Tudo isso em meio a uma economia em crise. Por isso, é fácil entender por que o aumento do preço de alguns alimentos, em dezembro, tenha desatado a revolta. Como já vimos em outras autocracias, os protestos economicamente motivados se transformam facilmente em políticos ao longo do tempo.

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Não se viam protestos assim no Irã em quase uma década. Nos últimos seis dias, manifestações foram registradas em cidades, vilas remotas e bairros da classe operária de Teerã. Não há como saber onde isto vai parar. A nova geração de descontentes parece estar determinada. O Estado iraniano, porém, está equipado com um gigantesco aparelho repressivo capaz de esmagar até a mais ínfima dissidência.

Onda de protestos cresce e 9 pessoas morrem em madrugada violenta no Irã

Seja qual for o resultado, a agitação atual já é um marco na história do Irã. Muita gente tinha esperança de que o sistema teocrático pudesse ser mudado de dentro para fora. Pensaram que, ao votar por candidatos reformistas, poderiam criar um país mais aberto e democrático. Os manifestantes atuais abandonaram essa esperança. Por quê?

A primeira razão tem a ver com o Movimento Verde, de 2009. Na época, milhares de iranianos tomaram as ruas em protesto contra a fraude eleitoral. Muitos haviam votado no reformista Mir Hossein Mousavi, mas a vitória foi do conservador Mahmoud Ahmadinejad - seus simpatizantes do clero teriam alterado o resultado final. Quando Ahmadinejad foi declarado vencedor, muitos opositores, principalmente os jovens de classe média, viram que a linha dura não permitiria reformas. Os manifestantes criticaram o regime e a repressão foi dura. Muitos foram mortos - provavelmente, nunca saberemos quantos com certeza. Milhares foram presos ou exilados.

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Ano passado, ele tentou dar transparência ao publicar detalhes do orçamento, mas foi um tiro n’água. Muitos iranianos ficaram irritados ao descobrir que bilhões de dólares iam parar na conta de obscuras fundações religiosas ou foram gastos em aventuras militares na Síria, Iraque e Líbano. Tudo isso em meio a uma economia em crise. Por isso, é fácil entender por que o aumento do preço de alguns alimentos, em dezembro, tenha desatado a revolta. Como já vimos em outras autocracias, os protestos economicamente motivados se transformam facilmente em políticos ao longo do tempo.

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