Análise: Trump é incapaz de tratar o nacionalismo branco como um mal


Com suas mensagens, o presidente americano nos lembra que não consegue criticar o supremacismo, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

Por Jennifer Rubin

No primeiro aniversário da violência em Charlottesville, Virgínia, com a morte de Heather Heyer, uma manifestante antinazista supostamente atropelada por um nacionalista branco, o presidente o presidente Donald Trump nos lembrou de que é incapaz de tratar o nacionalismo branco como um mal, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

+ Atos antirracistas abafam marchas de supremacistas brancos nos EUA

Jason Kessler, líder dos supremacistas brancos, marcha em manifestaçãoem Washington. Foto: Jim Urquhart/ Reuters
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Trump provocou uma reação furiosa um ano atrás quando deixou todo mundo de queixo caído ao entrar no terreno da equivalência moral para afirmar que “existe gente boa dos dois lados” (referindo-se a simpatizantes do nazismo e manifestantes antinazistas). Em seguida, acrescentou que “os dois lados têm culpa”. Neste sábado, ele deu outra picadela para seu público branco ao afirmar no Twitter que “os distúrbios de um ano atrás resultaram numa morte estúpida e em divisão. Precisamos nos unir como nação. Condeno todo tipo de racismo e atos de violência. Paz a todos os americanos”.

Vejamos o que está errado nisso. Os “distúrbios” – um termo meio indefinido – não “resultaram” em “morte e divisão” – outros dois termos meio indefinidos. Um nacionalista branco supostamente matou uma manifestante antinazista. Ponto. Mas Trump não poderia dizer essas palavras porque com elas confirmaria que falhou um ano atrás – e, pior, irritaria sua base branca, que se julga vítima de racismo. Como informou The Washington Post, “no tuíte de sábado, sua primeira menção pública ao aniversário de Charlottesville, Trump não chamou o evento de manifestação de supremacistas brancos ou especificou que foi um dos participantes que jogou seu carro contra uma multidão de antimanifestantes, matando um”. (A propósito, em sua fala no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no ano passado ele omitiu a palavra “judeu”.)

“Precisamos nos unir como nação” é demais, vindo do presidente que fomentou mais o ódio racista e anti-imigrante que qualquer outro presidente americano da era moderna. Na verdade, divisão racial –por exemplo, entrar em atrito com atletas afro-americanos; afirmar que afro-americanos têm “QI baixo”; referir-se à maioria dos países de população predominantemente não branca como “buracos de merda”; comparar inocentes “dreamers” a bandidos da Mara Salvatrucha; e deter imigrantes ilegais que não cometeram crimes sérios – é um ponto central na presidência de Trump. Ele volta sistematicamente ao tema, especialmente para diluir manchetes sobre outros assuntos contrárias a ele.

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Trump, claro, também divide o país em questões de gênero (por exemplo, insinuando que a senadora Kirten Gillibrand trocou sexo por donativos de campanha; atacando a inteligência das mulheres, mas raramente, ou nunca, a dos homens; debochando do movimento #MeToo; e congratulando-se com o suposto espancador de esposa Rob Porter).

Desde o começo de sua campanha presidencial ele dividiu os americanos (nativos ou não) segundo o local de nascimento; de acordo com a religião (demonizando os muçulmanos); pela condição médica (zombando de um repórter do New York Times por deficiência física); por região (ignorando ou minimizando a miséria em Porto Rico); por profissão (a imprensa é inimiga do povo); e por diferentes expressões de patriotismo (se você se ajoelha durante o hino nacional, não ama os Estados Unidos).

Trump se sente compelido a condenar “todo tipo de racismo” para garantir que a “boa gente”, entre a qual, neonazistas, não se sinta excluída. Ele não consegue dizer simplesmente “condeno o racismo e atos de violência”. E, finalmente, seus votos de “paz” são difíceis de engolir, dado seu hábito de incitar multidões a se engajar em violência.

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Manifestação de supremacistas brancos termina em confronto e morte

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Foto: Ryan M. Kelly/The Daily Progress via AP)
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A grande maioria dos americanos concorda – como não poderia? – que Trump tem prejudicado as relações entre raças. Uma pesquisa Morning Consult constatou que “55% dos eleitores acham que as relações raciais pioraram com Trump, para 16% que acham que melhoraram. Outros 18% dizem que as relações continuam as mesmas desde que Trump se tornou presidente, no ano passado. Entre os eleitores brancos, 51% acham que as relações raciais pioraram sob Trump , enquanto uma ampla maioria de eleitores afro-americanos (79%) e hispânicos (60%) acham que pioraram”.

Em suma, Trump perdeu a autoridade para governar por vários motivos, dos quais o menor não é o fato de a divisão racial ser parte do que atrai sua base. Se ele quiser mesmo unir a nação, é melhor que encontre líderes comprometidos com esse princípio – e não nos separar uns dos outros como tática para permanecer no poder. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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Quando consultado sobre o motivo pelo qual esperou até a segunda-feira para condenar explicitamente os grupos de ódio e racistas presentes em Charlottesville no fim de semana, Trump disse que quis ser cuidadoso para não dar uma "declaração apressada" sem o conhecimento de todos os fatos.

No primeiro aniversário da violência em Charlottesville, Virgínia, com a morte de Heather Heyer, uma manifestante antinazista supostamente atropelada por um nacionalista branco, o presidente o presidente Donald Trump nos lembrou de que é incapaz de tratar o nacionalismo branco como um mal, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

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Jason Kessler, líder dos supremacistas brancos, marcha em manifestaçãoem Washington. Foto: Jim Urquhart/ Reuters

Trump provocou uma reação furiosa um ano atrás quando deixou todo mundo de queixo caído ao entrar no terreno da equivalência moral para afirmar que “existe gente boa dos dois lados” (referindo-se a simpatizantes do nazismo e manifestantes antinazistas). Em seguida, acrescentou que “os dois lados têm culpa”. Neste sábado, ele deu outra picadela para seu público branco ao afirmar no Twitter que “os distúrbios de um ano atrás resultaram numa morte estúpida e em divisão. Precisamos nos unir como nação. Condeno todo tipo de racismo e atos de violência. Paz a todos os americanos”.

Vejamos o que está errado nisso. Os “distúrbios” – um termo meio indefinido – não “resultaram” em “morte e divisão” – outros dois termos meio indefinidos. Um nacionalista branco supostamente matou uma manifestante antinazista. Ponto. Mas Trump não poderia dizer essas palavras porque com elas confirmaria que falhou um ano atrás – e, pior, irritaria sua base branca, que se julga vítima de racismo. Como informou The Washington Post, “no tuíte de sábado, sua primeira menção pública ao aniversário de Charlottesville, Trump não chamou o evento de manifestação de supremacistas brancos ou especificou que foi um dos participantes que jogou seu carro contra uma multidão de antimanifestantes, matando um”. (A propósito, em sua fala no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no ano passado ele omitiu a palavra “judeu”.)

“Precisamos nos unir como nação” é demais, vindo do presidente que fomentou mais o ódio racista e anti-imigrante que qualquer outro presidente americano da era moderna. Na verdade, divisão racial –por exemplo, entrar em atrito com atletas afro-americanos; afirmar que afro-americanos têm “QI baixo”; referir-se à maioria dos países de população predominantemente não branca como “buracos de merda”; comparar inocentes “dreamers” a bandidos da Mara Salvatrucha; e deter imigrantes ilegais que não cometeram crimes sérios – é um ponto central na presidência de Trump. Ele volta sistematicamente ao tema, especialmente para diluir manchetes sobre outros assuntos contrárias a ele.

Trump, claro, também divide o país em questões de gênero (por exemplo, insinuando que a senadora Kirten Gillibrand trocou sexo por donativos de campanha; atacando a inteligência das mulheres, mas raramente, ou nunca, a dos homens; debochando do movimento #MeToo; e congratulando-se com o suposto espancador de esposa Rob Porter).

Desde o começo de sua campanha presidencial ele dividiu os americanos (nativos ou não) segundo o local de nascimento; de acordo com a religião (demonizando os muçulmanos); pela condição médica (zombando de um repórter do New York Times por deficiência física); por região (ignorando ou minimizando a miséria em Porto Rico); por profissão (a imprensa é inimiga do povo); e por diferentes expressões de patriotismo (se você se ajoelha durante o hino nacional, não ama os Estados Unidos).

Trump se sente compelido a condenar “todo tipo de racismo” para garantir que a “boa gente”, entre a qual, neonazistas, não se sinta excluída. Ele não consegue dizer simplesmente “condeno o racismo e atos de violência”. E, finalmente, seus votos de “paz” são difíceis de engolir, dado seu hábito de incitar multidões a se engajar em violência.

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A grande maioria dos americanos concorda – como não poderia? – que Trump tem prejudicado as relações entre raças. Uma pesquisa Morning Consult constatou que “55% dos eleitores acham que as relações raciais pioraram com Trump, para 16% que acham que melhoraram. Outros 18% dizem que as relações continuam as mesmas desde que Trump se tornou presidente, no ano passado. Entre os eleitores brancos, 51% acham que as relações raciais pioraram sob Trump , enquanto uma ampla maioria de eleitores afro-americanos (79%) e hispânicos (60%) acham que pioraram”.

Em suma, Trump perdeu a autoridade para governar por vários motivos, dos quais o menor não é o fato de a divisão racial ser parte do que atrai sua base. Se ele quiser mesmo unir a nação, é melhor que encontre líderes comprometidos com esse princípio – e não nos separar uns dos outros como tática para permanecer no poder. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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Quando consultado sobre o motivo pelo qual esperou até a segunda-feira para condenar explicitamente os grupos de ódio e racistas presentes em Charlottesville no fim de semana, Trump disse que quis ser cuidadoso para não dar uma "declaração apressada" sem o conhecimento de todos os fatos.

No primeiro aniversário da violência em Charlottesville, Virgínia, com a morte de Heather Heyer, uma manifestante antinazista supostamente atropelada por um nacionalista branco, o presidente o presidente Donald Trump nos lembrou de que é incapaz de tratar o nacionalismo branco como um mal, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

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Jason Kessler, líder dos supremacistas brancos, marcha em manifestaçãoem Washington. Foto: Jim Urquhart/ Reuters

Trump provocou uma reação furiosa um ano atrás quando deixou todo mundo de queixo caído ao entrar no terreno da equivalência moral para afirmar que “existe gente boa dos dois lados” (referindo-se a simpatizantes do nazismo e manifestantes antinazistas). Em seguida, acrescentou que “os dois lados têm culpa”. Neste sábado, ele deu outra picadela para seu público branco ao afirmar no Twitter que “os distúrbios de um ano atrás resultaram numa morte estúpida e em divisão. Precisamos nos unir como nação. Condeno todo tipo de racismo e atos de violência. Paz a todos os americanos”.

Vejamos o que está errado nisso. Os “distúrbios” – um termo meio indefinido – não “resultaram” em “morte e divisão” – outros dois termos meio indefinidos. Um nacionalista branco supostamente matou uma manifestante antinazista. Ponto. Mas Trump não poderia dizer essas palavras porque com elas confirmaria que falhou um ano atrás – e, pior, irritaria sua base branca, que se julga vítima de racismo. Como informou The Washington Post, “no tuíte de sábado, sua primeira menção pública ao aniversário de Charlottesville, Trump não chamou o evento de manifestação de supremacistas brancos ou especificou que foi um dos participantes que jogou seu carro contra uma multidão de antimanifestantes, matando um”. (A propósito, em sua fala no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no ano passado ele omitiu a palavra “judeu”.)

“Precisamos nos unir como nação” é demais, vindo do presidente que fomentou mais o ódio racista e anti-imigrante que qualquer outro presidente americano da era moderna. Na verdade, divisão racial –por exemplo, entrar em atrito com atletas afro-americanos; afirmar que afro-americanos têm “QI baixo”; referir-se à maioria dos países de população predominantemente não branca como “buracos de merda”; comparar inocentes “dreamers” a bandidos da Mara Salvatrucha; e deter imigrantes ilegais que não cometeram crimes sérios – é um ponto central na presidência de Trump. Ele volta sistematicamente ao tema, especialmente para diluir manchetes sobre outros assuntos contrárias a ele.

Trump, claro, também divide o país em questões de gênero (por exemplo, insinuando que a senadora Kirten Gillibrand trocou sexo por donativos de campanha; atacando a inteligência das mulheres, mas raramente, ou nunca, a dos homens; debochando do movimento #MeToo; e congratulando-se com o suposto espancador de esposa Rob Porter).

Desde o começo de sua campanha presidencial ele dividiu os americanos (nativos ou não) segundo o local de nascimento; de acordo com a religião (demonizando os muçulmanos); pela condição médica (zombando de um repórter do New York Times por deficiência física); por região (ignorando ou minimizando a miséria em Porto Rico); por profissão (a imprensa é inimiga do povo); e por diferentes expressões de patriotismo (se você se ajoelha durante o hino nacional, não ama os Estados Unidos).

Trump se sente compelido a condenar “todo tipo de racismo” para garantir que a “boa gente”, entre a qual, neonazistas, não se sinta excluída. Ele não consegue dizer simplesmente “condeno o racismo e atos de violência”. E, finalmente, seus votos de “paz” são difíceis de engolir, dado seu hábito de incitar multidões a se engajar em violência.

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A grande maioria dos americanos concorda – como não poderia? – que Trump tem prejudicado as relações entre raças. Uma pesquisa Morning Consult constatou que “55% dos eleitores acham que as relações raciais pioraram com Trump, para 16% que acham que melhoraram. Outros 18% dizem que as relações continuam as mesmas desde que Trump se tornou presidente, no ano passado. Entre os eleitores brancos, 51% acham que as relações raciais pioraram sob Trump , enquanto uma ampla maioria de eleitores afro-americanos (79%) e hispânicos (60%) acham que pioraram”.

Em suma, Trump perdeu a autoridade para governar por vários motivos, dos quais o menor não é o fato de a divisão racial ser parte do que atrai sua base. Se ele quiser mesmo unir a nação, é melhor que encontre líderes comprometidos com esse princípio – e não nos separar uns dos outros como tática para permanecer no poder. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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Quando consultado sobre o motivo pelo qual esperou até a segunda-feira para condenar explicitamente os grupos de ódio e racistas presentes em Charlottesville no fim de semana, Trump disse que quis ser cuidadoso para não dar uma "declaração apressada" sem o conhecimento de todos os fatos.

No primeiro aniversário da violência em Charlottesville, Virgínia, com a morte de Heather Heyer, uma manifestante antinazista supostamente atropelada por um nacionalista branco, o presidente o presidente Donald Trump nos lembrou de que é incapaz de tratar o nacionalismo branco como um mal, talvez para não melindrar sua rancorosa base branca.

+ Atos antirracistas abafam marchas de supremacistas brancos nos EUA

Jason Kessler, líder dos supremacistas brancos, marcha em manifestaçãoem Washington. Foto: Jim Urquhart/ Reuters

Trump provocou uma reação furiosa um ano atrás quando deixou todo mundo de queixo caído ao entrar no terreno da equivalência moral para afirmar que “existe gente boa dos dois lados” (referindo-se a simpatizantes do nazismo e manifestantes antinazistas). Em seguida, acrescentou que “os dois lados têm culpa”. Neste sábado, ele deu outra picadela para seu público branco ao afirmar no Twitter que “os distúrbios de um ano atrás resultaram numa morte estúpida e em divisão. Precisamos nos unir como nação. Condeno todo tipo de racismo e atos de violência. Paz a todos os americanos”.

Vejamos o que está errado nisso. Os “distúrbios” – um termo meio indefinido – não “resultaram” em “morte e divisão” – outros dois termos meio indefinidos. Um nacionalista branco supostamente matou uma manifestante antinazista. Ponto. Mas Trump não poderia dizer essas palavras porque com elas confirmaria que falhou um ano atrás – e, pior, irritaria sua base branca, que se julga vítima de racismo. Como informou The Washington Post, “no tuíte de sábado, sua primeira menção pública ao aniversário de Charlottesville, Trump não chamou o evento de manifestação de supremacistas brancos ou especificou que foi um dos participantes que jogou seu carro contra uma multidão de antimanifestantes, matando um”. (A propósito, em sua fala no Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto no ano passado ele omitiu a palavra “judeu”.)

“Precisamos nos unir como nação” é demais, vindo do presidente que fomentou mais o ódio racista e anti-imigrante que qualquer outro presidente americano da era moderna. Na verdade, divisão racial –por exemplo, entrar em atrito com atletas afro-americanos; afirmar que afro-americanos têm “QI baixo”; referir-se à maioria dos países de população predominantemente não branca como “buracos de merda”; comparar inocentes “dreamers” a bandidos da Mara Salvatrucha; e deter imigrantes ilegais que não cometeram crimes sérios – é um ponto central na presidência de Trump. Ele volta sistematicamente ao tema, especialmente para diluir manchetes sobre outros assuntos contrárias a ele.

Trump, claro, também divide o país em questões de gênero (por exemplo, insinuando que a senadora Kirten Gillibrand trocou sexo por donativos de campanha; atacando a inteligência das mulheres, mas raramente, ou nunca, a dos homens; debochando do movimento #MeToo; e congratulando-se com o suposto espancador de esposa Rob Porter).

Desde o começo de sua campanha presidencial ele dividiu os americanos (nativos ou não) segundo o local de nascimento; de acordo com a religião (demonizando os muçulmanos); pela condição médica (zombando de um repórter do New York Times por deficiência física); por região (ignorando ou minimizando a miséria em Porto Rico); por profissão (a imprensa é inimiga do povo); e por diferentes expressões de patriotismo (se você se ajoelha durante o hino nacional, não ama os Estados Unidos).

Trump se sente compelido a condenar “todo tipo de racismo” para garantir que a “boa gente”, entre a qual, neonazistas, não se sinta excluída. Ele não consegue dizer simplesmente “condeno o racismo e atos de violência”. E, finalmente, seus votos de “paz” são difíceis de engolir, dado seu hábito de incitar multidões a se engajar em violência.

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A grande maioria dos americanos concorda – como não poderia? – que Trump tem prejudicado as relações entre raças. Uma pesquisa Morning Consult constatou que “55% dos eleitores acham que as relações raciais pioraram com Trump, para 16% que acham que melhoraram. Outros 18% dizem que as relações continuam as mesmas desde que Trump se tornou presidente, no ano passado. Entre os eleitores brancos, 51% acham que as relações raciais pioraram sob Trump , enquanto uma ampla maioria de eleitores afro-americanos (79%) e hispânicos (60%) acham que pioraram”.

Em suma, Trump perdeu a autoridade para governar por vários motivos, dos quais o menor não é o fato de a divisão racial ser parte do que atrai sua base. Se ele quiser mesmo unir a nação, é melhor que encontre líderes comprometidos com esse princípio – e não nos separar uns dos outros como tática para permanecer no poder. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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