A revista francesa Charlie Hebdo lançou no sábado 5 uma edição especial em homenagem aos quatro anos do ataque terrorista à sede da publicação, deixando 12 mortos em 7 de janeiro de 2015.
Com a chamada "O retorno dos obscurantistas", a capa apresenta a ilustração de um bispo e de um ímã apagando a chama de uma vela. O desenho traz também sobre uma mesa a edição histórica pós-atentado, de 14 de janeiro de 2015, cuja manchete foi "Tudo está perdoado".
"Não são somente as nossas histórias pessoais (que são esquecidas), mas também o que significou o que aconteceu. Temos a impressão de que damos respaldo a isso, mas em nossa opinião esses fenômenos de reações retrógradas seguem presentes, ainda mais depois de quatro anos", disse à AFP o diretor de redação da revista e autor do desenho de capa, Riss.
Há quatro anos, dois radicais islâmicos invadiram a sede da Charlie Hebdo, em Paris, e mataram a tiros de AK-47 os jornalistas e chargistas presentes, incluindo o ex-diretor de redação, Charb. Conheça as vítimas do atentado.
Nesta segunda-feira, 7, o ministro do Interior da França, Christophe Castaner, foi à sede da revista com outros integrantes do governo e prestou homenagem às vítimas, escrevendo em rede social que se tratou de "um atentado à liberdade de expressão". Pessoas deixaram flores em frente ao prédio da revista.
A Charlie Hebdo publica capas com ilustrações de tom satírico crítico a religiões, incluindo o Islã. Na comunidade muçulmana, no entanto, a representação gráfica do líder Maomé é considerada uma ofensa pelos religiosos e a publicação já havia sido alvo de ataques por satirizar o Islã.
As charges mais polêmicas da revista Charlie Hebdo
No editorial da edição especial desta semana, o cartunista Riss afirma que "há quatro anos a situação com o totalitarismo islâmico se degradou". "Tudo agora é blasfêmia", escreveu.
Em página dupla, um desenho mostra os "obscurantistas" comemorando o aniversário do atentado: o Papa Francisco, a líder de extrema direita da França, Marine Le Pen, e o presidente Donald Trump, dentre outros.
"O último a sair apaga as luzes, ainda que não veja nada", escreveu o jornalista Philippe Lançon, premiado em 2018 pelo livro que faz a reconstrução do atentado. "Os irmãos K. (Kouchi, autores do atentado e mortos pela polícia francesa) tentaram apagar as luzes, com e sem maiúscula, ao entrar e sair. Quase conseguiram, mas esqueceram algumas lâmpadas", continua.
Em dezembro de 2018, um homem suspeito de envolvimento com o ataque foi preso. A investigação judicial do caso está encerrada e o julgamento é previsto para 2020. / COM INFORMAÇÕES DA AFP