DAMASCO - A batalha na região de Alepo, ao norte da Síria, tem como objetivo "cortar a rota entre Alepo e Turquia", e não retomar o controle da segunda maior cidade do país, afirmou o presidente sírio, Bashar Assad, em entrevista exclusiva concedida na quinta-feira à agência de notícias France-Presse. Esta foi a primeira vez em que o líder conversou com um veículo de comunicação desde o fracasso, em janeiro, das negociações de paz em Genebra e o lançamento por seu exército de uma ampla ofensiva militar em Alepo, com o apoio da aviação russa.
A importância de cortar esta rota é que ela constitui "a principal via de abastecimento dos terroristas", declarou. Em seu gabinete em Damasco, Assad se manifestou disposto a negociar com a oposição, enquanto continua a guerra contra os insurgentes armados.
"Desde o início da crise, acreditamos totalmente nas negociações e na ação política. Contudo, negociar não significa que vamos parar de combater o terrorismo. As duas vertentes são indispensáveis na Síria (...). A primeira é independente da segunda."
O regime do país qualifica de “terroristas” todos os opositores armados, tanto os moderados quanto os jihadistas. A guerra no território sírio já causou a morte de mais de 260 mil pessoas em quase 5 anos e deixou milhões exiladas. Muitas delas seguem para a Turquia em busca de um refúgio.
Assad disse estar determinado a levar adiante o controle de toda a Síria, mas previu que o combate aos rebeldes, que busca derrotar há quase cinco anos, pode ser longo. "Não é lógico dizer que há uma parte do nosso território à qual nós renunciamos", destacou o líder de 50 anos de idade.
O presidente afirmou que existe o risco de uma intervenção militar turca e saudita no país, mas que suas forças "vão enfrentar" qualquer ação.
"É uma possibilidade que eu não posso excluir pela simples razão que (o presidente turco Recep Tayyip) Erdogan é alguém intolerante, radical, pró-Irmandade Muçulmana e que vive o sonho otomano (...). E o mesmo acontece com a Arábia Saudita. De qualquer forma, tal ação não seria fácil para eles e nós com certeza vamos enfrentar", garantiu Assad.
Com relação às acusações de crime de guerra, o presidente sírio nega categoricamente as alegações da ONU de que seu regime é responsável por vários deles, afirmando que as instituições das Nações Unidas são "dominadas pelas potências ocidentais", e que "a maior parte de seus relatórios são politizados".
"O que refuta as declarações ou relatórios dessas organizações, primeiro é que não trazem evidências", afirmou. "É por isso que eu não temo nem ameaças nem essas alegações", ressaltou ao ser perguntado se não tinha medo de prestar contas a um tribunal internacional.
Em relação à crise dos refugiados, o líder sírio afirmou que a Europa deve criar condições para ajudar no retorno das pessoas a seus países. "Eu vou pedir aos governos europeus que contribuíram diretamente para o êxodo (dos refugiados sírios), proporcionando uma cobertura aos terroristas e impondo o embargo contra a Síria, que ajudem no retorno deles às suas casas", afirmou. /AFP