Dois dias após a entrada em vigor da política de deportações da União Europeia (UE) e da Turquia, o número de pessoas que chegam à Grécia continuava a superar o volume de estrangeiros que deixam o país em direção ao território turco.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) estima que, no total, 172 mil pessoas cruzaram o mar em direção à Europa em 2016 e nem mesmo depois que o acordo foi fechado entre Bruxelas e Ancara o fluxo foi freado completamente. A média de 1,5 mil desembarques na Grécia por dia caiu para cerca de 300 chegadas diárias.
Em todos os dias da última semana, os desembarques superaram o volume planejado de deportação para esta semana. No dia 1º, 555 pessoas chegaram às ilhas, em comparação com 216 no dia 2 e 262 no dia 3.
Outra preocupação da ONU é com um eventual aumento das mortes no mar. Em 2016, o número de refugiados e imigrantes mortos tentando cruzar o Mar Mediterrâneo já sofreu um salto de 50% nos três primeiros meses do ano, superando o que já era um ano recorde registrado em 2015.
Dados da OIM apontam para um total de 714 mortos - no mesmo período de 2015, foram 489 vítimas.
“O sistema parece estar funcionando para reduzir o volume de pessoas cruzando esse trecho da Turquia para a Grécia”, disse a OIM. “Mas estamos preocupados com a possibilidade de que tomem caminhos mais arriscados. Não existem ainda evidências de que isso já esteja ocorrendo de forma intensa. Mas é a nossa grande preocupação, até mesmo de que essas pessoas caiam uma vez mais nas mãos de grupos criminosos.”
Para a entidade e para as Nações Unidas, uma forma de evitar mais mortes seria a de garantir que, apesar das deportações, sírios e outros refugiados na Turquia serão reassentados na Europa. “As pessoas precisam ver que existe uma esperança, o que reduziria o incentivo para se arriscar em trajetos perigosos”, indicou o porta-voz da OIM, Leonard Doyle.
Mas, por enquanto, o número de reassentamentos é mínimo. Nos últimos dois dias, apenas 74 pessoas foram retiradas de acampamentos na Turquia para Alemanha ou Finlândia.
Ontem, outros 31 seriam levados para a Holanda. “É muito pouco”, confirmou Doyle. No total, 3,7 mil pessoas morreram tentando chegar à Europa em 2015, principalmente no mar entre a Grécia e Turquia e entre a Líbia e a Itália.
Visita papal. O papa Francisco também decidiu reforçar a pressão, indicando que poderá fazer uma visita às ilhas gregas na semana que vem para mostrar solidariedade com os refugiados.
O governo da Grécia informou ontem que Francisco e o patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu, visitarão a ilha de Lesbos, foco da crise de refugiados no país, nos dias 14 e 15.