Com extremo isolamento de Putin, poucos líderes mundiais podem convencê-lo a buscar um acordo de paz


Com a derrocada do Formato da Normandia, Turquia e Israel tentam se colocar como possíveis mediadores, enquanto autoridades esperam um papel mais decisivo da China

Por Adam Taylor

Depois de uma semana de guerra devastadora, inicia-se a corrida no sentido de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Mas qual líder mundial seria capaz de conquistar a confiança tanto do presidente russo, Vladimir Putin, cuja invasão à Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro sugere uma mentalidade paranoica e perturbada, e seu homólogo ucraniano, Volodmir Zelenski, que tem deixado claro que lutará até o fim por seu país?

Quando irrompeu o conflito entre Rússia e Ucrânia em 2014, seguindo-se ao apoio de Moscou aos separatistas no Donbass e à anexação russa da Crimeia, as potências europeias França e Alemanha desempenharam esse papel de mediação no chamado Formato Normandia. A capital de Belarus tornou-se o campo de negociação que finalmente levou aos Acordos de Minsk. Mas os Acordos de Minsk empacaram, em parte porque Kiev sentiu que eram injustos, porque os ucranianos negociaram a partir de uma posição de fraqueza.

Agora, quase oito anos depois, a ideia de que Belarus possa ser uma parte neutra é risível; já que o líder belarusso, Alexander Lukashenko, dependente em relação a Moscou desde os enormes protestos contra seu governo em 2020, permitiu que a Rússia use seu território para lançar ataques. Apesar de autoridades ucranianas terem comparecido no passado a negociações de paz com os russos em Minsk, desta vez elas insistem que as conversas sejam realizadas nas proximidades da fronteira entre Ucrânia e Belarus.

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Mulher passa por enormes outdoors com imagens de Vladimir Putin em que se leem "A Rússia não começa guerras, acaba com elas" e "Vamos apontar para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia" no centro da cidade de Simferopol, na Crimeia. Foto: AFP (04/03/2022)

Paris e Berlim, enquanto isso, provavelmente não serão aceitos por Putin como mediadores. A Alemanha está fornecendo poder de fogo considerável ao lado ucraniano, incluindo armamento antitanque e mísseis Stinger. A França, enquanto isso, tem fornecido equipamentos de defesa e dado um apoio mais genérico à Ucrânia. O presidente francês, Emmanuel Macron, é o único líder na Europa Ocidental em contato regular com Putin e revelou sinais desalentadores sobre a disposição do presidente russo para negociações.

“Neste ponto, (Putin) recusa-se a cessar seus ataques contra a Ucrânia”, escreveu Macron no Twitter na quinta-feira.

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Algum outro líder poderia se apresentar? O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, visitou Moscou neste fim de semana para uma reunião não anunciada com Putin. Bennett afirmou posteriormente, no domingo, que estava em contato tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia e que esperava intermediar a paz.

“Mesmo que a chance não seja grande, assim que houver uma abertura, mesmo que pequena, e tenhamos acesso aos dois lados e capacidade, vejo como nossa obrigação moral nos esforçarmos totalmente neste sentido”, afirmou o líder israelense antes de uma reunião de seu gabinete.

Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, telefonou para Putin no domingo. De acordo com uma transcrição da chamada fornecida pelo gabinete de Erdogan, o líder turco “afirmou que um cessar-fogo imediato aliviará não apenas preocupações humanitárias na região, mas também dará uma oportunidade à busca de uma solução política” e “renovou seu pedido para ‘abrirmos juntos o caminho para a paz’”, de acordo com a Reuters.

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A Turquia também afirmou que espera receber os ministros de Relações Exteriores russo e ucraniano em uma conferência diplomática na cidade turística de Antália. A Reuters noticia que tanto o mais graduado diplomata da Rússia, Serguei Lavrov, quanto o da Ucrânia, Dmitro Kuleba, aceitaram a oferta, apesar de não estar claro se algum deles conseguirá comparecer.

Tanto Bennett quanto Erdogan possuem atributos capazes de torná-los intermediadores desejáveis. Israel é um aliado antigo dos americanos, e a Turquia é membro pleno da Otan - mas ambos os países mantêm relações tensas com os aliados do Ocidente em certas ocasiões. Ancara é um dos únicos governos que compra armas tanto dos americanos quanto dos russos, para desgosto de Washington. Ambos os países possuem interesses próprios pelo fim da guerra: Israel abriga grandes diásporas de russos e ucranianos, enquanto a combalida economia turca não quer ver nenhuma perturbação no fluxo de milhões de russos e ucranianos que visitam seu país todos os anos.

Mas tanto Israel quanto Turquia tiveram diferenças com a Rússia, particularmente em relação ao apoio de Moscou ao governo de Bashar Assad na guerra civil síria. Complicando as coisas ainda mais, há o detalhe de que a Turquia está fornecendo um tipo de drone armado que está sendo usado na Ucrânia contra as forças invasoras da Rússia.

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Uma matéria do Wall Street Journal diz que a Rússia recruta combatentes sírios com experiência em combate urbano, ao mesmo tempo que avança na invasão da Ucrânia.

Mesmo antes do conflito, a compra de Kiev dos drones Bayraktar TB2 eriçou Moscou, que considerou a ação um exemplo de um país-membro da Otan abastecendo seu inimigo. Desde a invasão, vídeos com imagens dos drones de fabricação turca lançando ataques devastadores contra forças russas desavisadas espalharam-se pelas redes sociais, marcando mais uma vitória de propaganda para Kiev. E apesar da proximidade de Erdogan com Putin, relatou-se que mais drones foram entregues na semana passada.

Mas há poucos candidatos melhores. Na semana passada, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, houve uma esmagadora demonstração de apoio por uma resolução exortando a Rússia ao fim da guerra. Até o Taleban, no Afeganistão, e a junta militar de Mianmar assinaram o pedido. Assim como Israel e Turquia.

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Somente cinco países votaram contra a moção, um heterogêneo grupo composto porBelarus, Eritreia, Coreia do Norte, a própria Rússia e a Síria - improváveis exemplos a serem seguidos em termos de diplomacia. Mas outros 35 países se abstiveram, incluindo potências como Índia e China, que até então vinham tentando evitar escolher lados no conflito.

A Índia se ofereceu para facilitar negociações de paz apesar de, enquanto grande importadora de armas russas, muitos analistas a sintam amedrontada demais com a possibilidade de enfurecer Moscou. Mas alguns diplomatas na Europa Ocidental - e até na própria Ucrânia - acreditam que o caminho da paz poderia ser aberto não por Nova Délhi, mas por Pequim.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião em Pequim. Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin via REUTERS
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Em uma entrevista ao El Mundo publicada na sexta-feira, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que, em relação à mediação de um acordo de paz, não há outra alternativa: “Tem de ser a China, estou certo disso”. Borrell disse ao jornal espanhol: “Não pedimos isso, nem eles pediram isso. Mas já que tem se ser uma potência (a mediar) e nem EUA nem Europa podem ser (mediadores), poderia ser a China”.

Kuleba, o ministro de Relações Exteriores ucraniano, afirmou numa conferência de imprensa online no sábado que autoridades chinesas lhe garantiram que “a China tem interesse em impedir esta guerra”, acrescentando que a guerra contraria interesses de Pequim e que a diplomacia chinesa possui “ferramentas suficientes para fazer a diferença”.

Mas mesmo que a China tenha influência sobre a Rússia, Pequim continua discordando do Ocidente a respeito de muitos temas e raramente atuou na mediação de conflitos globais. Alguns analistas duvidaram que os chineses dariam apoio a negociações. “Eles não estão numa posição neutra”, afirmou ao Financial Times John Delury, professor de estudos sobre China na Universidade Yonsei, em Seul. “Eles são muito mais próximos à Rússia.”/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Depois de uma semana de guerra devastadora, inicia-se a corrida no sentido de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Mas qual líder mundial seria capaz de conquistar a confiança tanto do presidente russo, Vladimir Putin, cuja invasão à Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro sugere uma mentalidade paranoica e perturbada, e seu homólogo ucraniano, Volodmir Zelenski, que tem deixado claro que lutará até o fim por seu país?

Quando irrompeu o conflito entre Rússia e Ucrânia em 2014, seguindo-se ao apoio de Moscou aos separatistas no Donbass e à anexação russa da Crimeia, as potências europeias França e Alemanha desempenharam esse papel de mediação no chamado Formato Normandia. A capital de Belarus tornou-se o campo de negociação que finalmente levou aos Acordos de Minsk. Mas os Acordos de Minsk empacaram, em parte porque Kiev sentiu que eram injustos, porque os ucranianos negociaram a partir de uma posição de fraqueza.

Agora, quase oito anos depois, a ideia de que Belarus possa ser uma parte neutra é risível; já que o líder belarusso, Alexander Lukashenko, dependente em relação a Moscou desde os enormes protestos contra seu governo em 2020, permitiu que a Rússia use seu território para lançar ataques. Apesar de autoridades ucranianas terem comparecido no passado a negociações de paz com os russos em Minsk, desta vez elas insistem que as conversas sejam realizadas nas proximidades da fronteira entre Ucrânia e Belarus.

Mulher passa por enormes outdoors com imagens de Vladimir Putin em que se leem "A Rússia não começa guerras, acaba com elas" e "Vamos apontar para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia" no centro da cidade de Simferopol, na Crimeia. Foto: AFP (04/03/2022)

Paris e Berlim, enquanto isso, provavelmente não serão aceitos por Putin como mediadores. A Alemanha está fornecendo poder de fogo considerável ao lado ucraniano, incluindo armamento antitanque e mísseis Stinger. A França, enquanto isso, tem fornecido equipamentos de defesa e dado um apoio mais genérico à Ucrânia. O presidente francês, Emmanuel Macron, é o único líder na Europa Ocidental em contato regular com Putin e revelou sinais desalentadores sobre a disposição do presidente russo para negociações.

“Neste ponto, (Putin) recusa-se a cessar seus ataques contra a Ucrânia”, escreveu Macron no Twitter na quinta-feira.

Algum outro líder poderia se apresentar? O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, visitou Moscou neste fim de semana para uma reunião não anunciada com Putin. Bennett afirmou posteriormente, no domingo, que estava em contato tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia e que esperava intermediar a paz.

“Mesmo que a chance não seja grande, assim que houver uma abertura, mesmo que pequena, e tenhamos acesso aos dois lados e capacidade, vejo como nossa obrigação moral nos esforçarmos totalmente neste sentido”, afirmou o líder israelense antes de uma reunião de seu gabinete.

Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, telefonou para Putin no domingo. De acordo com uma transcrição da chamada fornecida pelo gabinete de Erdogan, o líder turco “afirmou que um cessar-fogo imediato aliviará não apenas preocupações humanitárias na região, mas também dará uma oportunidade à busca de uma solução política” e “renovou seu pedido para ‘abrirmos juntos o caminho para a paz’”, de acordo com a Reuters.

A Turquia também afirmou que espera receber os ministros de Relações Exteriores russo e ucraniano em uma conferência diplomática na cidade turística de Antália. A Reuters noticia que tanto o mais graduado diplomata da Rússia, Serguei Lavrov, quanto o da Ucrânia, Dmitro Kuleba, aceitaram a oferta, apesar de não estar claro se algum deles conseguirá comparecer.

Tanto Bennett quanto Erdogan possuem atributos capazes de torná-los intermediadores desejáveis. Israel é um aliado antigo dos americanos, e a Turquia é membro pleno da Otan - mas ambos os países mantêm relações tensas com os aliados do Ocidente em certas ocasiões. Ancara é um dos únicos governos que compra armas tanto dos americanos quanto dos russos, para desgosto de Washington. Ambos os países possuem interesses próprios pelo fim da guerra: Israel abriga grandes diásporas de russos e ucranianos, enquanto a combalida economia turca não quer ver nenhuma perturbação no fluxo de milhões de russos e ucranianos que visitam seu país todos os anos.

Mas tanto Israel quanto Turquia tiveram diferenças com a Rússia, particularmente em relação ao apoio de Moscou ao governo de Bashar Assad na guerra civil síria. Complicando as coisas ainda mais, há o detalhe de que a Turquia está fornecendo um tipo de drone armado que está sendo usado na Ucrânia contra as forças invasoras da Rússia.

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Uma matéria do Wall Street Journal diz que a Rússia recruta combatentes sírios com experiência em combate urbano, ao mesmo tempo que avança na invasão da Ucrânia.

Mesmo antes do conflito, a compra de Kiev dos drones Bayraktar TB2 eriçou Moscou, que considerou a ação um exemplo de um país-membro da Otan abastecendo seu inimigo. Desde a invasão, vídeos com imagens dos drones de fabricação turca lançando ataques devastadores contra forças russas desavisadas espalharam-se pelas redes sociais, marcando mais uma vitória de propaganda para Kiev. E apesar da proximidade de Erdogan com Putin, relatou-se que mais drones foram entregues na semana passada.

Mas há poucos candidatos melhores. Na semana passada, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, houve uma esmagadora demonstração de apoio por uma resolução exortando a Rússia ao fim da guerra. Até o Taleban, no Afeganistão, e a junta militar de Mianmar assinaram o pedido. Assim como Israel e Turquia.

Somente cinco países votaram contra a moção, um heterogêneo grupo composto porBelarus, Eritreia, Coreia do Norte, a própria Rússia e a Síria - improváveis exemplos a serem seguidos em termos de diplomacia. Mas outros 35 países se abstiveram, incluindo potências como Índia e China, que até então vinham tentando evitar escolher lados no conflito.

A Índia se ofereceu para facilitar negociações de paz apesar de, enquanto grande importadora de armas russas, muitos analistas a sintam amedrontada demais com a possibilidade de enfurecer Moscou. Mas alguns diplomatas na Europa Ocidental - e até na própria Ucrânia - acreditam que o caminho da paz poderia ser aberto não por Nova Délhi, mas por Pequim.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião em Pequim. Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin via REUTERS

Em uma entrevista ao El Mundo publicada na sexta-feira, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que, em relação à mediação de um acordo de paz, não há outra alternativa: “Tem de ser a China, estou certo disso”. Borrell disse ao jornal espanhol: “Não pedimos isso, nem eles pediram isso. Mas já que tem se ser uma potência (a mediar) e nem EUA nem Europa podem ser (mediadores), poderia ser a China”.

Kuleba, o ministro de Relações Exteriores ucraniano, afirmou numa conferência de imprensa online no sábado que autoridades chinesas lhe garantiram que “a China tem interesse em impedir esta guerra”, acrescentando que a guerra contraria interesses de Pequim e que a diplomacia chinesa possui “ferramentas suficientes para fazer a diferença”.

Mas mesmo que a China tenha influência sobre a Rússia, Pequim continua discordando do Ocidente a respeito de muitos temas e raramente atuou na mediação de conflitos globais. Alguns analistas duvidaram que os chineses dariam apoio a negociações. “Eles não estão numa posição neutra”, afirmou ao Financial Times John Delury, professor de estudos sobre China na Universidade Yonsei, em Seul. “Eles são muito mais próximos à Rússia.”/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Depois de uma semana de guerra devastadora, inicia-se a corrida no sentido de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Mas qual líder mundial seria capaz de conquistar a confiança tanto do presidente russo, Vladimir Putin, cuja invasão à Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro sugere uma mentalidade paranoica e perturbada, e seu homólogo ucraniano, Volodmir Zelenski, que tem deixado claro que lutará até o fim por seu país?

Quando irrompeu o conflito entre Rússia e Ucrânia em 2014, seguindo-se ao apoio de Moscou aos separatistas no Donbass e à anexação russa da Crimeia, as potências europeias França e Alemanha desempenharam esse papel de mediação no chamado Formato Normandia. A capital de Belarus tornou-se o campo de negociação que finalmente levou aos Acordos de Minsk. Mas os Acordos de Minsk empacaram, em parte porque Kiev sentiu que eram injustos, porque os ucranianos negociaram a partir de uma posição de fraqueza.

Agora, quase oito anos depois, a ideia de que Belarus possa ser uma parte neutra é risível; já que o líder belarusso, Alexander Lukashenko, dependente em relação a Moscou desde os enormes protestos contra seu governo em 2020, permitiu que a Rússia use seu território para lançar ataques. Apesar de autoridades ucranianas terem comparecido no passado a negociações de paz com os russos em Minsk, desta vez elas insistem que as conversas sejam realizadas nas proximidades da fronteira entre Ucrânia e Belarus.

Mulher passa por enormes outdoors com imagens de Vladimir Putin em que se leem "A Rússia não começa guerras, acaba com elas" e "Vamos apontar para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia" no centro da cidade de Simferopol, na Crimeia. Foto: AFP (04/03/2022)

Paris e Berlim, enquanto isso, provavelmente não serão aceitos por Putin como mediadores. A Alemanha está fornecendo poder de fogo considerável ao lado ucraniano, incluindo armamento antitanque e mísseis Stinger. A França, enquanto isso, tem fornecido equipamentos de defesa e dado um apoio mais genérico à Ucrânia. O presidente francês, Emmanuel Macron, é o único líder na Europa Ocidental em contato regular com Putin e revelou sinais desalentadores sobre a disposição do presidente russo para negociações.

“Neste ponto, (Putin) recusa-se a cessar seus ataques contra a Ucrânia”, escreveu Macron no Twitter na quinta-feira.

Algum outro líder poderia se apresentar? O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, visitou Moscou neste fim de semana para uma reunião não anunciada com Putin. Bennett afirmou posteriormente, no domingo, que estava em contato tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia e que esperava intermediar a paz.

“Mesmo que a chance não seja grande, assim que houver uma abertura, mesmo que pequena, e tenhamos acesso aos dois lados e capacidade, vejo como nossa obrigação moral nos esforçarmos totalmente neste sentido”, afirmou o líder israelense antes de uma reunião de seu gabinete.

Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, telefonou para Putin no domingo. De acordo com uma transcrição da chamada fornecida pelo gabinete de Erdogan, o líder turco “afirmou que um cessar-fogo imediato aliviará não apenas preocupações humanitárias na região, mas também dará uma oportunidade à busca de uma solução política” e “renovou seu pedido para ‘abrirmos juntos o caminho para a paz’”, de acordo com a Reuters.

A Turquia também afirmou que espera receber os ministros de Relações Exteriores russo e ucraniano em uma conferência diplomática na cidade turística de Antália. A Reuters noticia que tanto o mais graduado diplomata da Rússia, Serguei Lavrov, quanto o da Ucrânia, Dmitro Kuleba, aceitaram a oferta, apesar de não estar claro se algum deles conseguirá comparecer.

Tanto Bennett quanto Erdogan possuem atributos capazes de torná-los intermediadores desejáveis. Israel é um aliado antigo dos americanos, e a Turquia é membro pleno da Otan - mas ambos os países mantêm relações tensas com os aliados do Ocidente em certas ocasiões. Ancara é um dos únicos governos que compra armas tanto dos americanos quanto dos russos, para desgosto de Washington. Ambos os países possuem interesses próprios pelo fim da guerra: Israel abriga grandes diásporas de russos e ucranianos, enquanto a combalida economia turca não quer ver nenhuma perturbação no fluxo de milhões de russos e ucranianos que visitam seu país todos os anos.

Mas tanto Israel quanto Turquia tiveram diferenças com a Rússia, particularmente em relação ao apoio de Moscou ao governo de Bashar Assad na guerra civil síria. Complicando as coisas ainda mais, há o detalhe de que a Turquia está fornecendo um tipo de drone armado que está sendo usado na Ucrânia contra as forças invasoras da Rússia.

Seu navegador não suporta esse video.

Uma matéria do Wall Street Journal diz que a Rússia recruta combatentes sírios com experiência em combate urbano, ao mesmo tempo que avança na invasão da Ucrânia.

Mesmo antes do conflito, a compra de Kiev dos drones Bayraktar TB2 eriçou Moscou, que considerou a ação um exemplo de um país-membro da Otan abastecendo seu inimigo. Desde a invasão, vídeos com imagens dos drones de fabricação turca lançando ataques devastadores contra forças russas desavisadas espalharam-se pelas redes sociais, marcando mais uma vitória de propaganda para Kiev. E apesar da proximidade de Erdogan com Putin, relatou-se que mais drones foram entregues na semana passada.

Mas há poucos candidatos melhores. Na semana passada, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, houve uma esmagadora demonstração de apoio por uma resolução exortando a Rússia ao fim da guerra. Até o Taleban, no Afeganistão, e a junta militar de Mianmar assinaram o pedido. Assim como Israel e Turquia.

Somente cinco países votaram contra a moção, um heterogêneo grupo composto porBelarus, Eritreia, Coreia do Norte, a própria Rússia e a Síria - improváveis exemplos a serem seguidos em termos de diplomacia. Mas outros 35 países se abstiveram, incluindo potências como Índia e China, que até então vinham tentando evitar escolher lados no conflito.

A Índia se ofereceu para facilitar negociações de paz apesar de, enquanto grande importadora de armas russas, muitos analistas a sintam amedrontada demais com a possibilidade de enfurecer Moscou. Mas alguns diplomatas na Europa Ocidental - e até na própria Ucrânia - acreditam que o caminho da paz poderia ser aberto não por Nova Délhi, mas por Pequim.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião em Pequim. Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin via REUTERS

Em uma entrevista ao El Mundo publicada na sexta-feira, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que, em relação à mediação de um acordo de paz, não há outra alternativa: “Tem de ser a China, estou certo disso”. Borrell disse ao jornal espanhol: “Não pedimos isso, nem eles pediram isso. Mas já que tem se ser uma potência (a mediar) e nem EUA nem Europa podem ser (mediadores), poderia ser a China”.

Kuleba, o ministro de Relações Exteriores ucraniano, afirmou numa conferência de imprensa online no sábado que autoridades chinesas lhe garantiram que “a China tem interesse em impedir esta guerra”, acrescentando que a guerra contraria interesses de Pequim e que a diplomacia chinesa possui “ferramentas suficientes para fazer a diferença”.

Mas mesmo que a China tenha influência sobre a Rússia, Pequim continua discordando do Ocidente a respeito de muitos temas e raramente atuou na mediação de conflitos globais. Alguns analistas duvidaram que os chineses dariam apoio a negociações. “Eles não estão numa posição neutra”, afirmou ao Financial Times John Delury, professor de estudos sobre China na Universidade Yonsei, em Seul. “Eles são muito mais próximos à Rússia.”/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Depois de uma semana de guerra devastadora, inicia-se a corrida no sentido de intermediar um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia. Mas qual líder mundial seria capaz de conquistar a confiança tanto do presidente russo, Vladimir Putin, cuja invasão à Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro sugere uma mentalidade paranoica e perturbada, e seu homólogo ucraniano, Volodmir Zelenski, que tem deixado claro que lutará até o fim por seu país?

Quando irrompeu o conflito entre Rússia e Ucrânia em 2014, seguindo-se ao apoio de Moscou aos separatistas no Donbass e à anexação russa da Crimeia, as potências europeias França e Alemanha desempenharam esse papel de mediação no chamado Formato Normandia. A capital de Belarus tornou-se o campo de negociação que finalmente levou aos Acordos de Minsk. Mas os Acordos de Minsk empacaram, em parte porque Kiev sentiu que eram injustos, porque os ucranianos negociaram a partir de uma posição de fraqueza.

Agora, quase oito anos depois, a ideia de que Belarus possa ser uma parte neutra é risível; já que o líder belarusso, Alexander Lukashenko, dependente em relação a Moscou desde os enormes protestos contra seu governo em 2020, permitiu que a Rússia use seu território para lançar ataques. Apesar de autoridades ucranianas terem comparecido no passado a negociações de paz com os russos em Minsk, desta vez elas insistem que as conversas sejam realizadas nas proximidades da fronteira entre Ucrânia e Belarus.

Mulher passa por enormes outdoors com imagens de Vladimir Putin em que se leem "A Rússia não começa guerras, acaba com elas" e "Vamos apontar para a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia" no centro da cidade de Simferopol, na Crimeia. Foto: AFP (04/03/2022)

Paris e Berlim, enquanto isso, provavelmente não serão aceitos por Putin como mediadores. A Alemanha está fornecendo poder de fogo considerável ao lado ucraniano, incluindo armamento antitanque e mísseis Stinger. A França, enquanto isso, tem fornecido equipamentos de defesa e dado um apoio mais genérico à Ucrânia. O presidente francês, Emmanuel Macron, é o único líder na Europa Ocidental em contato regular com Putin e revelou sinais desalentadores sobre a disposição do presidente russo para negociações.

“Neste ponto, (Putin) recusa-se a cessar seus ataques contra a Ucrânia”, escreveu Macron no Twitter na quinta-feira.

Algum outro líder poderia se apresentar? O primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, visitou Moscou neste fim de semana para uma reunião não anunciada com Putin. Bennett afirmou posteriormente, no domingo, que estava em contato tanto com a Rússia quanto com a Ucrânia e que esperava intermediar a paz.

“Mesmo que a chance não seja grande, assim que houver uma abertura, mesmo que pequena, e tenhamos acesso aos dois lados e capacidade, vejo como nossa obrigação moral nos esforçarmos totalmente neste sentido”, afirmou o líder israelense antes de uma reunião de seu gabinete.

Enquanto isso, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, telefonou para Putin no domingo. De acordo com uma transcrição da chamada fornecida pelo gabinete de Erdogan, o líder turco “afirmou que um cessar-fogo imediato aliviará não apenas preocupações humanitárias na região, mas também dará uma oportunidade à busca de uma solução política” e “renovou seu pedido para ‘abrirmos juntos o caminho para a paz’”, de acordo com a Reuters.

A Turquia também afirmou que espera receber os ministros de Relações Exteriores russo e ucraniano em uma conferência diplomática na cidade turística de Antália. A Reuters noticia que tanto o mais graduado diplomata da Rússia, Serguei Lavrov, quanto o da Ucrânia, Dmitro Kuleba, aceitaram a oferta, apesar de não estar claro se algum deles conseguirá comparecer.

Tanto Bennett quanto Erdogan possuem atributos capazes de torná-los intermediadores desejáveis. Israel é um aliado antigo dos americanos, e a Turquia é membro pleno da Otan - mas ambos os países mantêm relações tensas com os aliados do Ocidente em certas ocasiões. Ancara é um dos únicos governos que compra armas tanto dos americanos quanto dos russos, para desgosto de Washington. Ambos os países possuem interesses próprios pelo fim da guerra: Israel abriga grandes diásporas de russos e ucranianos, enquanto a combalida economia turca não quer ver nenhuma perturbação no fluxo de milhões de russos e ucranianos que visitam seu país todos os anos.

Mas tanto Israel quanto Turquia tiveram diferenças com a Rússia, particularmente em relação ao apoio de Moscou ao governo de Bashar Assad na guerra civil síria. Complicando as coisas ainda mais, há o detalhe de que a Turquia está fornecendo um tipo de drone armado que está sendo usado na Ucrânia contra as forças invasoras da Rússia.

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Mesmo antes do conflito, a compra de Kiev dos drones Bayraktar TB2 eriçou Moscou, que considerou a ação um exemplo de um país-membro da Otan abastecendo seu inimigo. Desde a invasão, vídeos com imagens dos drones de fabricação turca lançando ataques devastadores contra forças russas desavisadas espalharam-se pelas redes sociais, marcando mais uma vitória de propaganda para Kiev. E apesar da proximidade de Erdogan com Putin, relatou-se que mais drones foram entregues na semana passada.

Mas há poucos candidatos melhores. Na semana passada, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, houve uma esmagadora demonstração de apoio por uma resolução exortando a Rússia ao fim da guerra. Até o Taleban, no Afeganistão, e a junta militar de Mianmar assinaram o pedido. Assim como Israel e Turquia.

Somente cinco países votaram contra a moção, um heterogêneo grupo composto porBelarus, Eritreia, Coreia do Norte, a própria Rússia e a Síria - improváveis exemplos a serem seguidos em termos de diplomacia. Mas outros 35 países se abstiveram, incluindo potências como Índia e China, que até então vinham tentando evitar escolher lados no conflito.

A Índia se ofereceu para facilitar negociações de paz apesar de, enquanto grande importadora de armas russas, muitos analistas a sintam amedrontada demais com a possibilidade de enfurecer Moscou. Mas alguns diplomatas na Europa Ocidental - e até na própria Ucrânia - acreditam que o caminho da paz poderia ser aberto não por Nova Délhi, mas por Pequim.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o presidente chinês, Xi Jinping, durante reunião em Pequim. Foto: Sputnik/Aleksey Druzhinin/Kremlin via REUTERS

Em uma entrevista ao El Mundo publicada na sexta-feira, o chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que, em relação à mediação de um acordo de paz, não há outra alternativa: “Tem de ser a China, estou certo disso”. Borrell disse ao jornal espanhol: “Não pedimos isso, nem eles pediram isso. Mas já que tem se ser uma potência (a mediar) e nem EUA nem Europa podem ser (mediadores), poderia ser a China”.

Kuleba, o ministro de Relações Exteriores ucraniano, afirmou numa conferência de imprensa online no sábado que autoridades chinesas lhe garantiram que “a China tem interesse em impedir esta guerra”, acrescentando que a guerra contraria interesses de Pequim e que a diplomacia chinesa possui “ferramentas suficientes para fazer a diferença”.

Mas mesmo que a China tenha influência sobre a Rússia, Pequim continua discordando do Ocidente a respeito de muitos temas e raramente atuou na mediação de conflitos globais. Alguns analistas duvidaram que os chineses dariam apoio a negociações. “Eles não estão numa posição neutra”, afirmou ao Financial Times John Delury, professor de estudos sobre China na Universidade Yonsei, em Seul. “Eles são muito mais próximos à Rússia.”/ TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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