Desafios de ideias inovadoras


Substratos importantes da política externa do Brasil requerem uma aguda imersão

Por HUSSEIN e KALOUT

Política externa não é uma demanda de massa. Trata-se de uma matéria ornamentada por especificidades e nuances que seu arquétipo requer, por vezes, uma abordagem minuciosa. A temática acerca das relações internacionais do Brasil sempre esteve circunscrita, historicamente, a um círculo social e intelectual muito específico. Recentemente, o conteúdo posto à baila sobre os desafios da política externa brasileira pelo ministro de Estado Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, convida à reflexão. Primeiramente, há um desafino entre a tese intelectual e o contexto morfológico que caracteriza o exercício da atividade diplomática, principalmente, em seus componentes de reserva e de confidencialidade. Destrinchando a acepção do conteúdo é perceptível denotar que há uma massa robusta de ideias e críticas que necessitam de maior consideração e matização. Substratos importantes da política exterior do Brasil como Mercosul, as relações bilaterais com os EUA de Barack Obama e a aproximação com a China requerem mais uma aguda imersão do que um mero olhar tangencial. Sobre o Mercosul é preciso se debruçar imbuído do valor e do custo que a formação, projeção e estabilização do bloco requereu do Brasil desde sua constituição. O Mercosul como projeto de política externa, nasceu como parte de um consenso nacional condimentado por complexos componentes que, ainda, hoje, incidem sobre a magnitude do discurso brasileiro no âmbito da América do Sul. Dar um tempo no Mercosul não é uma opção real. Congelar o projeto é assumir que a doutrina da política externa da redemocratização exauriu-se em seu eixo mais nevrálgico: a integração regional e a preservação da segurança econômica e política do nosso entorno fronteiriço. Por bem ou por mal, o Mercosul conseguiu impor uma ordem democrática na região de forma inexaurível e nisso reside o mérito de seu componente político. Não se deve ignorar, contudo, o momento de hibernação que o bloco atravessa. É sadio que se discuta os rumos e, preferivelmente, de forma destinada a conservar a sensibilidade que o assunto demanda junto aos demais sócios. A proposta de explorar de modo mais estratégico as relações com os EUA é uma missão imperativa e vai requerer de qualquer governo brasileiro um engajamento à altura se o Brasil tenciona ver seus interesses evoluírem no diagrama das relações globais. Construir canais sinérgicos entre Brasília e Washington com o objetivo de impulsionar de forma qualificada o projeto de desenvolvimento nacional do país, transcorre preliminarmente pelo estabelecimento de padrão de equilíbrio no relacionamento bilateral, alçado ao nível de diálogo estratégico, que descortine oportunidades, elimine desconfianças e reduza assimetrias. Nesse sentido, é necessário explorar denominadores comuns que adicionem e não subtraiam da mobilidade e navegabilidade do Brasil no traçado do sistema internacional. Por isso, acoplar o exploração de espaços comerciais em consonância com a nossa evolução no tabuleiro geopolítico mundial poderia ser temerário. A preposição de agenda revisionista da ordem internacional tem sido a aposta brasileira desde 2000. Contudo, esse desafio perpassa, à priori, por mudanças em nossa cultura estratégica cujo alicerce deveria ser conjecturado à partir de um consenso suprapartidário para não cair na inocuidade. Entretanto, a análise inerente à aproximação com a China é, sem dúvida, providencial. A abordagem dessa discussão a partir de um prisma estratégico veiculado à segurança econômico-industrial do país deveria servir para repensar o exame das relações sino-brasileiras, no médio prazo, evitando a decomposição de alguns setores do sistema produtivo nacional. Atrair investimento chinês ao Brasil só é bom se não for desordenado. Já a abordagem lançada pelo ministro Mangabeira quanto à escolha de diplomatas na condução da pasta das relações exteriores não deixa de ser uma visão legítima. No passado, o Brasil contou, à frente das relações exteriores, com chanceleres diplomatas e não diplomatas de aguda percepção geopolítica e macroestratégica. Provavelmente, esse enfoque é o que mais causou a inquietude no corpo diplomático. Não obstante, essa colocação possui o mérito de reacender o debate sobre a necessidade de pensar da política externa para além do espectro da tecnocracia. Uma das características marcantes de esgotamento da doutrina da política externa da redemocratização possui como reflexo o círculo vicioso que a diplomacia brasileira está caindo ao gerir, e não mais em prover, soluções com base em visões estratégicas de longo prazo. Não há dúvidas de que o exercício da política externa com visão tecnocrática tende a limitar a capacidade de inserção do País nas relações internacionais. Em sua essência, por fim, as ideias do ministro Mangabeira são substantivas e carregam algum coeficiente de coerência. Mas, para que essas percepções ganhem tração, latitude e ressonância, é preciso lançá-las em foros de debate em nível nacional junto à múltiplas forças do estamento sócio-intelectual e institucional do País para serem, devidamente, matizadas. Intrépidos pensamentos em política externa só serão instrumentalizados como cultura estratégica se seu conteúdo for proliferado no habitat adequado, caso contrário, corre-se o risco de transformar potentes ideias em retóricas imemoráveis ou em um messianismo inútil. É CIENTISTA POLÍTICO E PESQUISADOR DA UNIVERSIDADE HARVARD. INTEGRA O ADVISORY BOARD DA HARVARD INTERNATIONAL REVIEW E ATUA COMO CONSELHEIRO SÊNIOR DO CENTER FOR STRATEGIC AND INTERNATIONAL STUDIES (CSIS).

Política externa não é uma demanda de massa. Trata-se de uma matéria ornamentada por especificidades e nuances que seu arquétipo requer, por vezes, uma abordagem minuciosa. A temática acerca das relações internacionais do Brasil sempre esteve circunscrita, historicamente, a um círculo social e intelectual muito específico. Recentemente, o conteúdo posto à baila sobre os desafios da política externa brasileira pelo ministro de Estado Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, convida à reflexão. Primeiramente, há um desafino entre a tese intelectual e o contexto morfológico que caracteriza o exercício da atividade diplomática, principalmente, em seus componentes de reserva e de confidencialidade. Destrinchando a acepção do conteúdo é perceptível denotar que há uma massa robusta de ideias e críticas que necessitam de maior consideração e matização. Substratos importantes da política exterior do Brasil como Mercosul, as relações bilaterais com os EUA de Barack Obama e a aproximação com a China requerem mais uma aguda imersão do que um mero olhar tangencial. Sobre o Mercosul é preciso se debruçar imbuído do valor e do custo que a formação, projeção e estabilização do bloco requereu do Brasil desde sua constituição. O Mercosul como projeto de política externa, nasceu como parte de um consenso nacional condimentado por complexos componentes que, ainda, hoje, incidem sobre a magnitude do discurso brasileiro no âmbito da América do Sul. Dar um tempo no Mercosul não é uma opção real. Congelar o projeto é assumir que a doutrina da política externa da redemocratização exauriu-se em seu eixo mais nevrálgico: a integração regional e a preservação da segurança econômica e política do nosso entorno fronteiriço. Por bem ou por mal, o Mercosul conseguiu impor uma ordem democrática na região de forma inexaurível e nisso reside o mérito de seu componente político. Não se deve ignorar, contudo, o momento de hibernação que o bloco atravessa. É sadio que se discuta os rumos e, preferivelmente, de forma destinada a conservar a sensibilidade que o assunto demanda junto aos demais sócios. A proposta de explorar de modo mais estratégico as relações com os EUA é uma missão imperativa e vai requerer de qualquer governo brasileiro um engajamento à altura se o Brasil tenciona ver seus interesses evoluírem no diagrama das relações globais. Construir canais sinérgicos entre Brasília e Washington com o objetivo de impulsionar de forma qualificada o projeto de desenvolvimento nacional do país, transcorre preliminarmente pelo estabelecimento de padrão de equilíbrio no relacionamento bilateral, alçado ao nível de diálogo estratégico, que descortine oportunidades, elimine desconfianças e reduza assimetrias. Nesse sentido, é necessário explorar denominadores comuns que adicionem e não subtraiam da mobilidade e navegabilidade do Brasil no traçado do sistema internacional. Por isso, acoplar o exploração de espaços comerciais em consonância com a nossa evolução no tabuleiro geopolítico mundial poderia ser temerário. A preposição de agenda revisionista da ordem internacional tem sido a aposta brasileira desde 2000. Contudo, esse desafio perpassa, à priori, por mudanças em nossa cultura estratégica cujo alicerce deveria ser conjecturado à partir de um consenso suprapartidário para não cair na inocuidade. Entretanto, a análise inerente à aproximação com a China é, sem dúvida, providencial. A abordagem dessa discussão a partir de um prisma estratégico veiculado à segurança econômico-industrial do país deveria servir para repensar o exame das relações sino-brasileiras, no médio prazo, evitando a decomposição de alguns setores do sistema produtivo nacional. Atrair investimento chinês ao Brasil só é bom se não for desordenado. Já a abordagem lançada pelo ministro Mangabeira quanto à escolha de diplomatas na condução da pasta das relações exteriores não deixa de ser uma visão legítima. No passado, o Brasil contou, à frente das relações exteriores, com chanceleres diplomatas e não diplomatas de aguda percepção geopolítica e macroestratégica. Provavelmente, esse enfoque é o que mais causou a inquietude no corpo diplomático. Não obstante, essa colocação possui o mérito de reacender o debate sobre a necessidade de pensar da política externa para além do espectro da tecnocracia. Uma das características marcantes de esgotamento da doutrina da política externa da redemocratização possui como reflexo o círculo vicioso que a diplomacia brasileira está caindo ao gerir, e não mais em prover, soluções com base em visões estratégicas de longo prazo. Não há dúvidas de que o exercício da política externa com visão tecnocrática tende a limitar a capacidade de inserção do País nas relações internacionais. Em sua essência, por fim, as ideias do ministro Mangabeira são substantivas e carregam algum coeficiente de coerência. Mas, para que essas percepções ganhem tração, latitude e ressonância, é preciso lançá-las em foros de debate em nível nacional junto à múltiplas forças do estamento sócio-intelectual e institucional do País para serem, devidamente, matizadas. Intrépidos pensamentos em política externa só serão instrumentalizados como cultura estratégica se seu conteúdo for proliferado no habitat adequado, caso contrário, corre-se o risco de transformar potentes ideias em retóricas imemoráveis ou em um messianismo inútil. É CIENTISTA POLÍTICO E PESQUISADOR DA UNIVERSIDADE HARVARD. INTEGRA O ADVISORY BOARD DA HARVARD INTERNATIONAL REVIEW E ATUA COMO CONSELHEIRO SÊNIOR DO CENTER FOR STRATEGIC AND INTERNATIONAL STUDIES (CSIS).

Política externa não é uma demanda de massa. Trata-se de uma matéria ornamentada por especificidades e nuances que seu arquétipo requer, por vezes, uma abordagem minuciosa. A temática acerca das relações internacionais do Brasil sempre esteve circunscrita, historicamente, a um círculo social e intelectual muito específico. Recentemente, o conteúdo posto à baila sobre os desafios da política externa brasileira pelo ministro de Estado Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, convida à reflexão. Primeiramente, há um desafino entre a tese intelectual e o contexto morfológico que caracteriza o exercício da atividade diplomática, principalmente, em seus componentes de reserva e de confidencialidade. Destrinchando a acepção do conteúdo é perceptível denotar que há uma massa robusta de ideias e críticas que necessitam de maior consideração e matização. Substratos importantes da política exterior do Brasil como Mercosul, as relações bilaterais com os EUA de Barack Obama e a aproximação com a China requerem mais uma aguda imersão do que um mero olhar tangencial. Sobre o Mercosul é preciso se debruçar imbuído do valor e do custo que a formação, projeção e estabilização do bloco requereu do Brasil desde sua constituição. O Mercosul como projeto de política externa, nasceu como parte de um consenso nacional condimentado por complexos componentes que, ainda, hoje, incidem sobre a magnitude do discurso brasileiro no âmbito da América do Sul. Dar um tempo no Mercosul não é uma opção real. Congelar o projeto é assumir que a doutrina da política externa da redemocratização exauriu-se em seu eixo mais nevrálgico: a integração regional e a preservação da segurança econômica e política do nosso entorno fronteiriço. Por bem ou por mal, o Mercosul conseguiu impor uma ordem democrática na região de forma inexaurível e nisso reside o mérito de seu componente político. Não se deve ignorar, contudo, o momento de hibernação que o bloco atravessa. É sadio que se discuta os rumos e, preferivelmente, de forma destinada a conservar a sensibilidade que o assunto demanda junto aos demais sócios. A proposta de explorar de modo mais estratégico as relações com os EUA é uma missão imperativa e vai requerer de qualquer governo brasileiro um engajamento à altura se o Brasil tenciona ver seus interesses evoluírem no diagrama das relações globais. Construir canais sinérgicos entre Brasília e Washington com o objetivo de impulsionar de forma qualificada o projeto de desenvolvimento nacional do país, transcorre preliminarmente pelo estabelecimento de padrão de equilíbrio no relacionamento bilateral, alçado ao nível de diálogo estratégico, que descortine oportunidades, elimine desconfianças e reduza assimetrias. Nesse sentido, é necessário explorar denominadores comuns que adicionem e não subtraiam da mobilidade e navegabilidade do Brasil no traçado do sistema internacional. Por isso, acoplar o exploração de espaços comerciais em consonância com a nossa evolução no tabuleiro geopolítico mundial poderia ser temerário. A preposição de agenda revisionista da ordem internacional tem sido a aposta brasileira desde 2000. Contudo, esse desafio perpassa, à priori, por mudanças em nossa cultura estratégica cujo alicerce deveria ser conjecturado à partir de um consenso suprapartidário para não cair na inocuidade. Entretanto, a análise inerente à aproximação com a China é, sem dúvida, providencial. A abordagem dessa discussão a partir de um prisma estratégico veiculado à segurança econômico-industrial do país deveria servir para repensar o exame das relações sino-brasileiras, no médio prazo, evitando a decomposição de alguns setores do sistema produtivo nacional. Atrair investimento chinês ao Brasil só é bom se não for desordenado. Já a abordagem lançada pelo ministro Mangabeira quanto à escolha de diplomatas na condução da pasta das relações exteriores não deixa de ser uma visão legítima. No passado, o Brasil contou, à frente das relações exteriores, com chanceleres diplomatas e não diplomatas de aguda percepção geopolítica e macroestratégica. Provavelmente, esse enfoque é o que mais causou a inquietude no corpo diplomático. Não obstante, essa colocação possui o mérito de reacender o debate sobre a necessidade de pensar da política externa para além do espectro da tecnocracia. Uma das características marcantes de esgotamento da doutrina da política externa da redemocratização possui como reflexo o círculo vicioso que a diplomacia brasileira está caindo ao gerir, e não mais em prover, soluções com base em visões estratégicas de longo prazo. Não há dúvidas de que o exercício da política externa com visão tecnocrática tende a limitar a capacidade de inserção do País nas relações internacionais. Em sua essência, por fim, as ideias do ministro Mangabeira são substantivas e carregam algum coeficiente de coerência. Mas, para que essas percepções ganhem tração, latitude e ressonância, é preciso lançá-las em foros de debate em nível nacional junto à múltiplas forças do estamento sócio-intelectual e institucional do País para serem, devidamente, matizadas. Intrépidos pensamentos em política externa só serão instrumentalizados como cultura estratégica se seu conteúdo for proliferado no habitat adequado, caso contrário, corre-se o risco de transformar potentes ideias em retóricas imemoráveis ou em um messianismo inútil. É CIENTISTA POLÍTICO E PESQUISADOR DA UNIVERSIDADE HARVARD. INTEGRA O ADVISORY BOARD DA HARVARD INTERNATIONAL REVIEW E ATUA COMO CONSELHEIRO SÊNIOR DO CENTER FOR STRATEGIC AND INTERNATIONAL STUDIES (CSIS).

Política externa não é uma demanda de massa. Trata-se de uma matéria ornamentada por especificidades e nuances que seu arquétipo requer, por vezes, uma abordagem minuciosa. A temática acerca das relações internacionais do Brasil sempre esteve circunscrita, historicamente, a um círculo social e intelectual muito específico. Recentemente, o conteúdo posto à baila sobre os desafios da política externa brasileira pelo ministro de Estado Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger, convida à reflexão. Primeiramente, há um desafino entre a tese intelectual e o contexto morfológico que caracteriza o exercício da atividade diplomática, principalmente, em seus componentes de reserva e de confidencialidade. Destrinchando a acepção do conteúdo é perceptível denotar que há uma massa robusta de ideias e críticas que necessitam de maior consideração e matização. Substratos importantes da política exterior do Brasil como Mercosul, as relações bilaterais com os EUA de Barack Obama e a aproximação com a China requerem mais uma aguda imersão do que um mero olhar tangencial. Sobre o Mercosul é preciso se debruçar imbuído do valor e do custo que a formação, projeção e estabilização do bloco requereu do Brasil desde sua constituição. O Mercosul como projeto de política externa, nasceu como parte de um consenso nacional condimentado por complexos componentes que, ainda, hoje, incidem sobre a magnitude do discurso brasileiro no âmbito da América do Sul. Dar um tempo no Mercosul não é uma opção real. Congelar o projeto é assumir que a doutrina da política externa da redemocratização exauriu-se em seu eixo mais nevrálgico: a integração regional e a preservação da segurança econômica e política do nosso entorno fronteiriço. Por bem ou por mal, o Mercosul conseguiu impor uma ordem democrática na região de forma inexaurível e nisso reside o mérito de seu componente político. Não se deve ignorar, contudo, o momento de hibernação que o bloco atravessa. É sadio que se discuta os rumos e, preferivelmente, de forma destinada a conservar a sensibilidade que o assunto demanda junto aos demais sócios. A proposta de explorar de modo mais estratégico as relações com os EUA é uma missão imperativa e vai requerer de qualquer governo brasileiro um engajamento à altura se o Brasil tenciona ver seus interesses evoluírem no diagrama das relações globais. Construir canais sinérgicos entre Brasília e Washington com o objetivo de impulsionar de forma qualificada o projeto de desenvolvimento nacional do país, transcorre preliminarmente pelo estabelecimento de padrão de equilíbrio no relacionamento bilateral, alçado ao nível de diálogo estratégico, que descortine oportunidades, elimine desconfianças e reduza assimetrias. Nesse sentido, é necessário explorar denominadores comuns que adicionem e não subtraiam da mobilidade e navegabilidade do Brasil no traçado do sistema internacional. Por isso, acoplar o exploração de espaços comerciais em consonância com a nossa evolução no tabuleiro geopolítico mundial poderia ser temerário. A preposição de agenda revisionista da ordem internacional tem sido a aposta brasileira desde 2000. Contudo, esse desafio perpassa, à priori, por mudanças em nossa cultura estratégica cujo alicerce deveria ser conjecturado à partir de um consenso suprapartidário para não cair na inocuidade. Entretanto, a análise inerente à aproximação com a China é, sem dúvida, providencial. A abordagem dessa discussão a partir de um prisma estratégico veiculado à segurança econômico-industrial do país deveria servir para repensar o exame das relações sino-brasileiras, no médio prazo, evitando a decomposição de alguns setores do sistema produtivo nacional. Atrair investimento chinês ao Brasil só é bom se não for desordenado. Já a abordagem lançada pelo ministro Mangabeira quanto à escolha de diplomatas na condução da pasta das relações exteriores não deixa de ser uma visão legítima. No passado, o Brasil contou, à frente das relações exteriores, com chanceleres diplomatas e não diplomatas de aguda percepção geopolítica e macroestratégica. Provavelmente, esse enfoque é o que mais causou a inquietude no corpo diplomático. Não obstante, essa colocação possui o mérito de reacender o debate sobre a necessidade de pensar da política externa para além do espectro da tecnocracia. Uma das características marcantes de esgotamento da doutrina da política externa da redemocratização possui como reflexo o círculo vicioso que a diplomacia brasileira está caindo ao gerir, e não mais em prover, soluções com base em visões estratégicas de longo prazo. Não há dúvidas de que o exercício da política externa com visão tecnocrática tende a limitar a capacidade de inserção do País nas relações internacionais. Em sua essência, por fim, as ideias do ministro Mangabeira são substantivas e carregam algum coeficiente de coerência. Mas, para que essas percepções ganhem tração, latitude e ressonância, é preciso lançá-las em foros de debate em nível nacional junto à múltiplas forças do estamento sócio-intelectual e institucional do País para serem, devidamente, matizadas. Intrépidos pensamentos em política externa só serão instrumentalizados como cultura estratégica se seu conteúdo for proliferado no habitat adequado, caso contrário, corre-se o risco de transformar potentes ideias em retóricas imemoráveis ou em um messianismo inútil. É CIENTISTA POLÍTICO E PESQUISADOR DA UNIVERSIDADE HARVARD. INTEGRA O ADVISORY BOARD DA HARVARD INTERNATIONAL REVIEW E ATUA COMO CONSELHEIRO SÊNIOR DO CENTER FOR STRATEGIC AND INTERNATIONAL STUDIES (CSIS).

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