E o Bahrein disse: caia fora


Monarquia aliada dos EUA prende opositores pacíficos, deixa livre quem usa coquetéis molotov e assim justifica repressão

Por NICOLAS D. KRISTOF

O Bahrein, um dos aliados mais repressivos dos EUA, tenta manter jornalistas e observadores de direitos humanos fora. Mesmo assim, recentemente tentei entrar. O jogo acabou no aeroporto do Bahrein quando um agente da imigração digitou meu nome em seu computador e, de repente, ficou em posição de sentido. "Volte até ali e sente", disse, olhando para mim cheio de horror e retendo meu passaporte. "Nós o chamaremos." A monarquia sunita do Bahrein não quer testemunhas enquanto endurece a repressão sobre uma população em grande parte xiita. Quase toda noite ocorrem choques entre polícia e manifestantes. Aproximadamente 100 pessoas foram mortas desde o início dos protestos da Primavera Árabe no Bahrein, em fevereiro de 2011. Eu estava no país quando tropas abriram fogo sem avisar sobre manifestantes desarmados que entoavam "pacífico, pacífico". A opressão às vezes tem sido nada menos que selvagem. Policiais deixaram um famoso cirurgião, Sadiq al-Ekri, em coma com cacetadas porque ele tentou prestar assistência médica a manifestantes feridos. Por todos os relatos, a tortura tem sido comum. O Bahrein é um país minúsculo e talvez não tenha muita importância para os EUA. O que incomoda é que ele é um forte aliado americano e muitas vezes ataca pessoas com equipamentos americanos, enquanto o governo Obama, na maioria das vezes, finge que não vê. Esse é um caso não apenas de repressão brutal, mas de hipocrisia americana. Após aquela repressão inicial de 2011, o rei encomendou um relatório externo imparcial e o governo Obama esperava que o país afrouxasse as rédeas sob o comando do príncipe coroado, uma mente mais aberta. Essa esperança se esboroou. A repressão, por sua vez, endureceu a oposição, que está recorrendo cada vez mais a coquetéis molotov, pedras e outras armas para enfrentar as autoridades. Os moderados de ambos os lados estão sendo marginalizados. Isso representa uma virada trágica para o Bahrein, que era tradicionalmente um oásis de prosperidade, moderação e tolerância. O rei, Hamad bin Isa al-Khalifa, só pode culpar a si mesmo pela escalada da violência. Ele mandou prender importantes defensores de uma resistência pacífica, como Nabeel Rajab, mundialmente respeitado presidente do Centro de Direitos Humanos do Bahrein. Meu palpite é que o regime prende intencionalmente moderados para deixar o movimento de protesto nas mãos de jovens que o desmerecem lançando bombas incendiárias - e com isso criando uma justificativa para a repressão. Em minha última visita ao Bahrein, fiz um perfil de Zainab al-Khawaja, uma jovem dinâmica falando inglês perfeito que estudou Mahatma Gandhi e o reverendo Martin Luther King Jr. e tenta aplicar seus métodos. Ela é o tipo exato de líder de oposição de que o Bahrein precisa, atirando mensagens pelo Twitter em vez de pedras. Num e-mail para mim, um mês atrás, ela lamentou: "Está ficando muito difícil até tuitar sobre violações no Bahrein". Agora também está presa. O presidente Obama contém seus ataques em parte pelas bases da 5.ª Frota da Marinha americana no Bahrein e em parte porque a Arábia Saudita apoia insistentemente a repressão. Para mim, isso parece um eco do Egito: os EUA adulam um ditador e ignoram os anseios populares por mudanças. O resultado é extremismo, instabilidade e antiamericanismo. No aeroporto, um agente da imigração acabou se aproximando de mim e disse: "Seu nome está numa lista. Você não pode entrar". Não há como discutir com uma lista negra, e, na manhã seguinte, fui deportado para Dubai. As autoridades do governo me trataram com respeito. A situação é diferente se você for um bareinita. No dia em que cheguei, a polícia prendeu talvez o último ativista de direitos humanos bareinita ainda à solta, Said Yousif al-Muhafdah, depois que ele postou no Twitter a foto de um manifestante contra o qual a polícia havia disparado com uma espingarda. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK* É COLUNISTA

O Bahrein, um dos aliados mais repressivos dos EUA, tenta manter jornalistas e observadores de direitos humanos fora. Mesmo assim, recentemente tentei entrar. O jogo acabou no aeroporto do Bahrein quando um agente da imigração digitou meu nome em seu computador e, de repente, ficou em posição de sentido. "Volte até ali e sente", disse, olhando para mim cheio de horror e retendo meu passaporte. "Nós o chamaremos." A monarquia sunita do Bahrein não quer testemunhas enquanto endurece a repressão sobre uma população em grande parte xiita. Quase toda noite ocorrem choques entre polícia e manifestantes. Aproximadamente 100 pessoas foram mortas desde o início dos protestos da Primavera Árabe no Bahrein, em fevereiro de 2011. Eu estava no país quando tropas abriram fogo sem avisar sobre manifestantes desarmados que entoavam "pacífico, pacífico". A opressão às vezes tem sido nada menos que selvagem. Policiais deixaram um famoso cirurgião, Sadiq al-Ekri, em coma com cacetadas porque ele tentou prestar assistência médica a manifestantes feridos. Por todos os relatos, a tortura tem sido comum. O Bahrein é um país minúsculo e talvez não tenha muita importância para os EUA. O que incomoda é que ele é um forte aliado americano e muitas vezes ataca pessoas com equipamentos americanos, enquanto o governo Obama, na maioria das vezes, finge que não vê. Esse é um caso não apenas de repressão brutal, mas de hipocrisia americana. Após aquela repressão inicial de 2011, o rei encomendou um relatório externo imparcial e o governo Obama esperava que o país afrouxasse as rédeas sob o comando do príncipe coroado, uma mente mais aberta. Essa esperança se esboroou. A repressão, por sua vez, endureceu a oposição, que está recorrendo cada vez mais a coquetéis molotov, pedras e outras armas para enfrentar as autoridades. Os moderados de ambos os lados estão sendo marginalizados. Isso representa uma virada trágica para o Bahrein, que era tradicionalmente um oásis de prosperidade, moderação e tolerância. O rei, Hamad bin Isa al-Khalifa, só pode culpar a si mesmo pela escalada da violência. Ele mandou prender importantes defensores de uma resistência pacífica, como Nabeel Rajab, mundialmente respeitado presidente do Centro de Direitos Humanos do Bahrein. Meu palpite é que o regime prende intencionalmente moderados para deixar o movimento de protesto nas mãos de jovens que o desmerecem lançando bombas incendiárias - e com isso criando uma justificativa para a repressão. Em minha última visita ao Bahrein, fiz um perfil de Zainab al-Khawaja, uma jovem dinâmica falando inglês perfeito que estudou Mahatma Gandhi e o reverendo Martin Luther King Jr. e tenta aplicar seus métodos. Ela é o tipo exato de líder de oposição de que o Bahrein precisa, atirando mensagens pelo Twitter em vez de pedras. Num e-mail para mim, um mês atrás, ela lamentou: "Está ficando muito difícil até tuitar sobre violações no Bahrein". Agora também está presa. O presidente Obama contém seus ataques em parte pelas bases da 5.ª Frota da Marinha americana no Bahrein e em parte porque a Arábia Saudita apoia insistentemente a repressão. Para mim, isso parece um eco do Egito: os EUA adulam um ditador e ignoram os anseios populares por mudanças. O resultado é extremismo, instabilidade e antiamericanismo. No aeroporto, um agente da imigração acabou se aproximando de mim e disse: "Seu nome está numa lista. Você não pode entrar". Não há como discutir com uma lista negra, e, na manhã seguinte, fui deportado para Dubai. As autoridades do governo me trataram com respeito. A situação é diferente se você for um bareinita. No dia em que cheguei, a polícia prendeu talvez o último ativista de direitos humanos bareinita ainda à solta, Said Yousif al-Muhafdah, depois que ele postou no Twitter a foto de um manifestante contra o qual a polícia havia disparado com uma espingarda. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK* É COLUNISTA

O Bahrein, um dos aliados mais repressivos dos EUA, tenta manter jornalistas e observadores de direitos humanos fora. Mesmo assim, recentemente tentei entrar. O jogo acabou no aeroporto do Bahrein quando um agente da imigração digitou meu nome em seu computador e, de repente, ficou em posição de sentido. "Volte até ali e sente", disse, olhando para mim cheio de horror e retendo meu passaporte. "Nós o chamaremos." A monarquia sunita do Bahrein não quer testemunhas enquanto endurece a repressão sobre uma população em grande parte xiita. Quase toda noite ocorrem choques entre polícia e manifestantes. Aproximadamente 100 pessoas foram mortas desde o início dos protestos da Primavera Árabe no Bahrein, em fevereiro de 2011. Eu estava no país quando tropas abriram fogo sem avisar sobre manifestantes desarmados que entoavam "pacífico, pacífico". A opressão às vezes tem sido nada menos que selvagem. Policiais deixaram um famoso cirurgião, Sadiq al-Ekri, em coma com cacetadas porque ele tentou prestar assistência médica a manifestantes feridos. Por todos os relatos, a tortura tem sido comum. O Bahrein é um país minúsculo e talvez não tenha muita importância para os EUA. O que incomoda é que ele é um forte aliado americano e muitas vezes ataca pessoas com equipamentos americanos, enquanto o governo Obama, na maioria das vezes, finge que não vê. Esse é um caso não apenas de repressão brutal, mas de hipocrisia americana. Após aquela repressão inicial de 2011, o rei encomendou um relatório externo imparcial e o governo Obama esperava que o país afrouxasse as rédeas sob o comando do príncipe coroado, uma mente mais aberta. Essa esperança se esboroou. A repressão, por sua vez, endureceu a oposição, que está recorrendo cada vez mais a coquetéis molotov, pedras e outras armas para enfrentar as autoridades. Os moderados de ambos os lados estão sendo marginalizados. Isso representa uma virada trágica para o Bahrein, que era tradicionalmente um oásis de prosperidade, moderação e tolerância. O rei, Hamad bin Isa al-Khalifa, só pode culpar a si mesmo pela escalada da violência. Ele mandou prender importantes defensores de uma resistência pacífica, como Nabeel Rajab, mundialmente respeitado presidente do Centro de Direitos Humanos do Bahrein. Meu palpite é que o regime prende intencionalmente moderados para deixar o movimento de protesto nas mãos de jovens que o desmerecem lançando bombas incendiárias - e com isso criando uma justificativa para a repressão. Em minha última visita ao Bahrein, fiz um perfil de Zainab al-Khawaja, uma jovem dinâmica falando inglês perfeito que estudou Mahatma Gandhi e o reverendo Martin Luther King Jr. e tenta aplicar seus métodos. Ela é o tipo exato de líder de oposição de que o Bahrein precisa, atirando mensagens pelo Twitter em vez de pedras. Num e-mail para mim, um mês atrás, ela lamentou: "Está ficando muito difícil até tuitar sobre violações no Bahrein". Agora também está presa. O presidente Obama contém seus ataques em parte pelas bases da 5.ª Frota da Marinha americana no Bahrein e em parte porque a Arábia Saudita apoia insistentemente a repressão. Para mim, isso parece um eco do Egito: os EUA adulam um ditador e ignoram os anseios populares por mudanças. O resultado é extremismo, instabilidade e antiamericanismo. No aeroporto, um agente da imigração acabou se aproximando de mim e disse: "Seu nome está numa lista. Você não pode entrar". Não há como discutir com uma lista negra, e, na manhã seguinte, fui deportado para Dubai. As autoridades do governo me trataram com respeito. A situação é diferente se você for um bareinita. No dia em que cheguei, a polícia prendeu talvez o último ativista de direitos humanos bareinita ainda à solta, Said Yousif al-Muhafdah, depois que ele postou no Twitter a foto de um manifestante contra o qual a polícia havia disparado com uma espingarda. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK* É COLUNISTA

O Bahrein, um dos aliados mais repressivos dos EUA, tenta manter jornalistas e observadores de direitos humanos fora. Mesmo assim, recentemente tentei entrar. O jogo acabou no aeroporto do Bahrein quando um agente da imigração digitou meu nome em seu computador e, de repente, ficou em posição de sentido. "Volte até ali e sente", disse, olhando para mim cheio de horror e retendo meu passaporte. "Nós o chamaremos." A monarquia sunita do Bahrein não quer testemunhas enquanto endurece a repressão sobre uma população em grande parte xiita. Quase toda noite ocorrem choques entre polícia e manifestantes. Aproximadamente 100 pessoas foram mortas desde o início dos protestos da Primavera Árabe no Bahrein, em fevereiro de 2011. Eu estava no país quando tropas abriram fogo sem avisar sobre manifestantes desarmados que entoavam "pacífico, pacífico". A opressão às vezes tem sido nada menos que selvagem. Policiais deixaram um famoso cirurgião, Sadiq al-Ekri, em coma com cacetadas porque ele tentou prestar assistência médica a manifestantes feridos. Por todos os relatos, a tortura tem sido comum. O Bahrein é um país minúsculo e talvez não tenha muita importância para os EUA. O que incomoda é que ele é um forte aliado americano e muitas vezes ataca pessoas com equipamentos americanos, enquanto o governo Obama, na maioria das vezes, finge que não vê. Esse é um caso não apenas de repressão brutal, mas de hipocrisia americana. Após aquela repressão inicial de 2011, o rei encomendou um relatório externo imparcial e o governo Obama esperava que o país afrouxasse as rédeas sob o comando do príncipe coroado, uma mente mais aberta. Essa esperança se esboroou. A repressão, por sua vez, endureceu a oposição, que está recorrendo cada vez mais a coquetéis molotov, pedras e outras armas para enfrentar as autoridades. Os moderados de ambos os lados estão sendo marginalizados. Isso representa uma virada trágica para o Bahrein, que era tradicionalmente um oásis de prosperidade, moderação e tolerância. O rei, Hamad bin Isa al-Khalifa, só pode culpar a si mesmo pela escalada da violência. Ele mandou prender importantes defensores de uma resistência pacífica, como Nabeel Rajab, mundialmente respeitado presidente do Centro de Direitos Humanos do Bahrein. Meu palpite é que o regime prende intencionalmente moderados para deixar o movimento de protesto nas mãos de jovens que o desmerecem lançando bombas incendiárias - e com isso criando uma justificativa para a repressão. Em minha última visita ao Bahrein, fiz um perfil de Zainab al-Khawaja, uma jovem dinâmica falando inglês perfeito que estudou Mahatma Gandhi e o reverendo Martin Luther King Jr. e tenta aplicar seus métodos. Ela é o tipo exato de líder de oposição de que o Bahrein precisa, atirando mensagens pelo Twitter em vez de pedras. Num e-mail para mim, um mês atrás, ela lamentou: "Está ficando muito difícil até tuitar sobre violações no Bahrein". Agora também está presa. O presidente Obama contém seus ataques em parte pelas bases da 5.ª Frota da Marinha americana no Bahrein e em parte porque a Arábia Saudita apoia insistentemente a repressão. Para mim, isso parece um eco do Egito: os EUA adulam um ditador e ignoram os anseios populares por mudanças. O resultado é extremismo, instabilidade e antiamericanismo. No aeroporto, um agente da imigração acabou se aproximando de mim e disse: "Seu nome está numa lista. Você não pode entrar". Não há como discutir com uma lista negra, e, na manhã seguinte, fui deportado para Dubai. As autoridades do governo me trataram com respeito. A situação é diferente se você for um bareinita. No dia em que cheguei, a polícia prendeu talvez o último ativista de direitos humanos bareinita ainda à solta, Said Yousif al-Muhafdah, depois que ele postou no Twitter a foto de um manifestante contra o qual a polícia havia disparado com uma espingarda. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK* É COLUNISTA

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