E se a estátua derrubada fosse de meu tataravô?


Alguns descendentes comemoram, mas outros consideram o revisionismo histórico um abuso

Por Redação
Atualização:

 Clayton Wickham, de 28 anos, considerava a estátua do seu tetravô uma simples imagem que tinha seu nome e pela qual era agradável passar na frente vez às vezes. Quando Wickham soube mais a respeito do seu antepassado, o monumento se tornou um motivo de desconforto e depois de vergonha. E no dia em que manifestantes em Richmond, no Estado da Virgínia, derrubaram a estátua de bronze de Williams Carter Wickham, general confederado e escravocrata, Wickham ficou feliz.

Nem todos parentes de homenageados com estátuas estão satisfeitos com o movimento revisionista que surgiu em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um ex-segurança negro asfixiado por um policial branco, em Minneapolis. Para Robert E. Lee IV, sobrinho-neto em quarto grau do célebre general confederado, e Frank Rizzo Junior, filho do ex-prefeito da Filadélfia, a derrubada das estátuas traz também dor a suas famílias. 

Uma pesquisa feita em 2017 apontava que 39% dos americanos eram favoráveis à retirada de homenagens a líderes confederados. Os descendentes brancos de Wickham podiam estar entre eles, mas mudaram de ideia. Em 1995, alguns parentes do general mandaram limpar e polir a estátua. 

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Recentemente, porém, vários deles pediram às autoridades de Richmond que retirassem o monumento, inaugurado em 1891. Eles mudaram de opinião depois de assistir ao comício dos supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no mesmo ano em que foi feita a pesquisa, e após uma reunião com os descendentes de uma parte dos 275 negros que foram escravizados por seu ancestral. Reggie Harris, um músico e professor de 67 anos, é um descendente de Wickham e Bibanna Hewlett, uma negra escrava. Para ele, a estátua era um doloroso lembrete do abuso sofrido por sua família e da recusa dos Estados Unidos em reconhecer plenamente o seu passado.

Estátua de Robert Lee em Richmond, Virgínia Foto: Carlos Bernate/The New York Times

Harris e alguns outros descendentes de Wickham reuniram-se em um jantar em 2012, e decidiram visitá-la juntos. “Havíamos conversado a respeito do nosso parentesco, tentando olhar tudo com algum distanciamento. E agora tínhamos a estátua de bronze e concreto desta pessoa que, como vocês sabem, tem uma história complicada.” Em 2017, Clayton Wickham e seu irmão Will escreveram uma carta ao prefeito de Richmond, pedindo que a estátua fosse retirada. Nada aconteceu até que, neste mês, manifestantes amarraram uma corda nela e a puseram abaixo. 

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Alguns parentes de personalidades históricas derrubadas pelos manifestantes ou pelas prefeituras locais estão revoltados.  Em Jacksonville, na Flórida, um descendente de Charles Hemming, um soldado confederado, disse à TV WJXT que ficou frustrado pelo fato de o prefeito da cidade ter retirado uma estátua de Hemming sem comunicar à família. Um grupo de descendentes de soldados confederados de Mobile, no Alabama, disse que queria que a prefeitura mandasse a estátua de Raphael Semmes, um almirante confederado, para eles depois de retirada. O presidente Donald Trump não perdeu tempo. Na sexta-feira, baixou uma ordem executiva que prevê cadeia de até 10 anos para quem violar esses monumentos. 

E em meio a tantas reivindicações, também houve equívocos. Na semana retrasada, em San Francisco, alguns ativistas derrubaram uma estátua de Ulysses S. Grant, o ex-presidente que chefiou o exército da União para a vitória. Ele era dono de um escravo que depois libertou. Em Madison, Wisconsin, manifestantes derrubaram uma estátua de Hans Christian Heg, que morreu combatendo pela União.

Dentre os alvos dos manifestantes, há um que causou surpresa entre os seus parentes: Robert E. Lee IV. O sobrinho-neto dele, de 27 anos, cresceu considerando o general confederado, cujo nome herdou, um herói e tinha orgulho da sua herança sulista. Tudo mudou quando, em 2017, ele viu multidões de supremacistas brancos reunidas em torno da estátua do seu ancestral, em Charlottesville. “A gente quer amar a família. Por isso, tudo tem sido difícil para mim”, disse Lee, que é pastor. 

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Algumas cidades reagiram de maneira mais rápida aos pedidos dos descendentes. Neste mês, a prefeitura de Raleigh, na Carolina do Norte, mandou derrubar a estátua de Josephus Daniels a pedido de um grupo de descendentes. Daniels, ex-dono e editor do The News & Observer, defendia as posições dos supremacistas brancos.

Frank Daniels III contou que a família decidiu retirar a estátua a fim de mostrar o seu apoio ao movimento pela justiça racial. Ele disse que foi difícil para alguns membros mais velhos da família que conheceram Josephus pessoalmente. Mas ter o controle do processo e permitir que a família retirasse a estátua em caráter mais privado facilitou as coisas, segundo Frank Daniels. “Tentamos dar a esta decisão um caráter racional e não emotivo.” 

Já Frank Rizzo Junior não se conforma. O filho de Frank Rizzo, ex-prefeito e chefe de polícia que, segundo muitos, cometeu abusos contra negros e gays, diz que quando a estátua de seu pai foi inaugurada, no fim dos anos 1990, políticos de todos os partidos estiveram presentes à cerimônia. “Agora, não vejo ninguém que tente deter essa destruição”, disse Rizzo. “As pessoas que se preocupam com a cidade de Filadélfia” prosseguiu, “continuarão lembrando de Frank Rizzo, com ou sem estátua. / NYT, TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

 Clayton Wickham, de 28 anos, considerava a estátua do seu tetravô uma simples imagem que tinha seu nome e pela qual era agradável passar na frente vez às vezes. Quando Wickham soube mais a respeito do seu antepassado, o monumento se tornou um motivo de desconforto e depois de vergonha. E no dia em que manifestantes em Richmond, no Estado da Virgínia, derrubaram a estátua de bronze de Williams Carter Wickham, general confederado e escravocrata, Wickham ficou feliz.

Nem todos parentes de homenageados com estátuas estão satisfeitos com o movimento revisionista que surgiu em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um ex-segurança negro asfixiado por um policial branco, em Minneapolis. Para Robert E. Lee IV, sobrinho-neto em quarto grau do célebre general confederado, e Frank Rizzo Junior, filho do ex-prefeito da Filadélfia, a derrubada das estátuas traz também dor a suas famílias. 

Uma pesquisa feita em 2017 apontava que 39% dos americanos eram favoráveis à retirada de homenagens a líderes confederados. Os descendentes brancos de Wickham podiam estar entre eles, mas mudaram de ideia. Em 1995, alguns parentes do general mandaram limpar e polir a estátua. 

Recentemente, porém, vários deles pediram às autoridades de Richmond que retirassem o monumento, inaugurado em 1891. Eles mudaram de opinião depois de assistir ao comício dos supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no mesmo ano em que foi feita a pesquisa, e após uma reunião com os descendentes de uma parte dos 275 negros que foram escravizados por seu ancestral. Reggie Harris, um músico e professor de 67 anos, é um descendente de Wickham e Bibanna Hewlett, uma negra escrava. Para ele, a estátua era um doloroso lembrete do abuso sofrido por sua família e da recusa dos Estados Unidos em reconhecer plenamente o seu passado.

Estátua de Robert Lee em Richmond, Virgínia Foto: Carlos Bernate/The New York Times

Harris e alguns outros descendentes de Wickham reuniram-se em um jantar em 2012, e decidiram visitá-la juntos. “Havíamos conversado a respeito do nosso parentesco, tentando olhar tudo com algum distanciamento. E agora tínhamos a estátua de bronze e concreto desta pessoa que, como vocês sabem, tem uma história complicada.” Em 2017, Clayton Wickham e seu irmão Will escreveram uma carta ao prefeito de Richmond, pedindo que a estátua fosse retirada. Nada aconteceu até que, neste mês, manifestantes amarraram uma corda nela e a puseram abaixo. 

Alguns parentes de personalidades históricas derrubadas pelos manifestantes ou pelas prefeituras locais estão revoltados.  Em Jacksonville, na Flórida, um descendente de Charles Hemming, um soldado confederado, disse à TV WJXT que ficou frustrado pelo fato de o prefeito da cidade ter retirado uma estátua de Hemming sem comunicar à família. Um grupo de descendentes de soldados confederados de Mobile, no Alabama, disse que queria que a prefeitura mandasse a estátua de Raphael Semmes, um almirante confederado, para eles depois de retirada. O presidente Donald Trump não perdeu tempo. Na sexta-feira, baixou uma ordem executiva que prevê cadeia de até 10 anos para quem violar esses monumentos. 

E em meio a tantas reivindicações, também houve equívocos. Na semana retrasada, em San Francisco, alguns ativistas derrubaram uma estátua de Ulysses S. Grant, o ex-presidente que chefiou o exército da União para a vitória. Ele era dono de um escravo que depois libertou. Em Madison, Wisconsin, manifestantes derrubaram uma estátua de Hans Christian Heg, que morreu combatendo pela União.

Dentre os alvos dos manifestantes, há um que causou surpresa entre os seus parentes: Robert E. Lee IV. O sobrinho-neto dele, de 27 anos, cresceu considerando o general confederado, cujo nome herdou, um herói e tinha orgulho da sua herança sulista. Tudo mudou quando, em 2017, ele viu multidões de supremacistas brancos reunidas em torno da estátua do seu ancestral, em Charlottesville. “A gente quer amar a família. Por isso, tudo tem sido difícil para mim”, disse Lee, que é pastor. 

Algumas cidades reagiram de maneira mais rápida aos pedidos dos descendentes. Neste mês, a prefeitura de Raleigh, na Carolina do Norte, mandou derrubar a estátua de Josephus Daniels a pedido de um grupo de descendentes. Daniels, ex-dono e editor do The News & Observer, defendia as posições dos supremacistas brancos.

Frank Daniels III contou que a família decidiu retirar a estátua a fim de mostrar o seu apoio ao movimento pela justiça racial. Ele disse que foi difícil para alguns membros mais velhos da família que conheceram Josephus pessoalmente. Mas ter o controle do processo e permitir que a família retirasse a estátua em caráter mais privado facilitou as coisas, segundo Frank Daniels. “Tentamos dar a esta decisão um caráter racional e não emotivo.” 

Já Frank Rizzo Junior não se conforma. O filho de Frank Rizzo, ex-prefeito e chefe de polícia que, segundo muitos, cometeu abusos contra negros e gays, diz que quando a estátua de seu pai foi inaugurada, no fim dos anos 1990, políticos de todos os partidos estiveram presentes à cerimônia. “Agora, não vejo ninguém que tente deter essa destruição”, disse Rizzo. “As pessoas que se preocupam com a cidade de Filadélfia” prosseguiu, “continuarão lembrando de Frank Rizzo, com ou sem estátua. / NYT, TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

 Clayton Wickham, de 28 anos, considerava a estátua do seu tetravô uma simples imagem que tinha seu nome e pela qual era agradável passar na frente vez às vezes. Quando Wickham soube mais a respeito do seu antepassado, o monumento se tornou um motivo de desconforto e depois de vergonha. E no dia em que manifestantes em Richmond, no Estado da Virgínia, derrubaram a estátua de bronze de Williams Carter Wickham, general confederado e escravocrata, Wickham ficou feliz.

Nem todos parentes de homenageados com estátuas estão satisfeitos com o movimento revisionista que surgiu em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um ex-segurança negro asfixiado por um policial branco, em Minneapolis. Para Robert E. Lee IV, sobrinho-neto em quarto grau do célebre general confederado, e Frank Rizzo Junior, filho do ex-prefeito da Filadélfia, a derrubada das estátuas traz também dor a suas famílias. 

Uma pesquisa feita em 2017 apontava que 39% dos americanos eram favoráveis à retirada de homenagens a líderes confederados. Os descendentes brancos de Wickham podiam estar entre eles, mas mudaram de ideia. Em 1995, alguns parentes do general mandaram limpar e polir a estátua. 

Recentemente, porém, vários deles pediram às autoridades de Richmond que retirassem o monumento, inaugurado em 1891. Eles mudaram de opinião depois de assistir ao comício dos supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no mesmo ano em que foi feita a pesquisa, e após uma reunião com os descendentes de uma parte dos 275 negros que foram escravizados por seu ancestral. Reggie Harris, um músico e professor de 67 anos, é um descendente de Wickham e Bibanna Hewlett, uma negra escrava. Para ele, a estátua era um doloroso lembrete do abuso sofrido por sua família e da recusa dos Estados Unidos em reconhecer plenamente o seu passado.

Estátua de Robert Lee em Richmond, Virgínia Foto: Carlos Bernate/The New York Times

Harris e alguns outros descendentes de Wickham reuniram-se em um jantar em 2012, e decidiram visitá-la juntos. “Havíamos conversado a respeito do nosso parentesco, tentando olhar tudo com algum distanciamento. E agora tínhamos a estátua de bronze e concreto desta pessoa que, como vocês sabem, tem uma história complicada.” Em 2017, Clayton Wickham e seu irmão Will escreveram uma carta ao prefeito de Richmond, pedindo que a estátua fosse retirada. Nada aconteceu até que, neste mês, manifestantes amarraram uma corda nela e a puseram abaixo. 

Alguns parentes de personalidades históricas derrubadas pelos manifestantes ou pelas prefeituras locais estão revoltados.  Em Jacksonville, na Flórida, um descendente de Charles Hemming, um soldado confederado, disse à TV WJXT que ficou frustrado pelo fato de o prefeito da cidade ter retirado uma estátua de Hemming sem comunicar à família. Um grupo de descendentes de soldados confederados de Mobile, no Alabama, disse que queria que a prefeitura mandasse a estátua de Raphael Semmes, um almirante confederado, para eles depois de retirada. O presidente Donald Trump não perdeu tempo. Na sexta-feira, baixou uma ordem executiva que prevê cadeia de até 10 anos para quem violar esses monumentos. 

E em meio a tantas reivindicações, também houve equívocos. Na semana retrasada, em San Francisco, alguns ativistas derrubaram uma estátua de Ulysses S. Grant, o ex-presidente que chefiou o exército da União para a vitória. Ele era dono de um escravo que depois libertou. Em Madison, Wisconsin, manifestantes derrubaram uma estátua de Hans Christian Heg, que morreu combatendo pela União.

Dentre os alvos dos manifestantes, há um que causou surpresa entre os seus parentes: Robert E. Lee IV. O sobrinho-neto dele, de 27 anos, cresceu considerando o general confederado, cujo nome herdou, um herói e tinha orgulho da sua herança sulista. Tudo mudou quando, em 2017, ele viu multidões de supremacistas brancos reunidas em torno da estátua do seu ancestral, em Charlottesville. “A gente quer amar a família. Por isso, tudo tem sido difícil para mim”, disse Lee, que é pastor. 

Algumas cidades reagiram de maneira mais rápida aos pedidos dos descendentes. Neste mês, a prefeitura de Raleigh, na Carolina do Norte, mandou derrubar a estátua de Josephus Daniels a pedido de um grupo de descendentes. Daniels, ex-dono e editor do The News & Observer, defendia as posições dos supremacistas brancos.

Frank Daniels III contou que a família decidiu retirar a estátua a fim de mostrar o seu apoio ao movimento pela justiça racial. Ele disse que foi difícil para alguns membros mais velhos da família que conheceram Josephus pessoalmente. Mas ter o controle do processo e permitir que a família retirasse a estátua em caráter mais privado facilitou as coisas, segundo Frank Daniels. “Tentamos dar a esta decisão um caráter racional e não emotivo.” 

Já Frank Rizzo Junior não se conforma. O filho de Frank Rizzo, ex-prefeito e chefe de polícia que, segundo muitos, cometeu abusos contra negros e gays, diz que quando a estátua de seu pai foi inaugurada, no fim dos anos 1990, políticos de todos os partidos estiveram presentes à cerimônia. “Agora, não vejo ninguém que tente deter essa destruição”, disse Rizzo. “As pessoas que se preocupam com a cidade de Filadélfia” prosseguiu, “continuarão lembrando de Frank Rizzo, com ou sem estátua. / NYT, TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

 Clayton Wickham, de 28 anos, considerava a estátua do seu tetravô uma simples imagem que tinha seu nome e pela qual era agradável passar na frente vez às vezes. Quando Wickham soube mais a respeito do seu antepassado, o monumento se tornou um motivo de desconforto e depois de vergonha. E no dia em que manifestantes em Richmond, no Estado da Virgínia, derrubaram a estátua de bronze de Williams Carter Wickham, general confederado e escravocrata, Wickham ficou feliz.

Nem todos parentes de homenageados com estátuas estão satisfeitos com o movimento revisionista que surgiu em meio aos protestos pela morte de George Floyd, um ex-segurança negro asfixiado por um policial branco, em Minneapolis. Para Robert E. Lee IV, sobrinho-neto em quarto grau do célebre general confederado, e Frank Rizzo Junior, filho do ex-prefeito da Filadélfia, a derrubada das estátuas traz também dor a suas famílias. 

Uma pesquisa feita em 2017 apontava que 39% dos americanos eram favoráveis à retirada de homenagens a líderes confederados. Os descendentes brancos de Wickham podiam estar entre eles, mas mudaram de ideia. Em 1995, alguns parentes do general mandaram limpar e polir a estátua. 

Recentemente, porém, vários deles pediram às autoridades de Richmond que retirassem o monumento, inaugurado em 1891. Eles mudaram de opinião depois de assistir ao comício dos supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, no mesmo ano em que foi feita a pesquisa, e após uma reunião com os descendentes de uma parte dos 275 negros que foram escravizados por seu ancestral. Reggie Harris, um músico e professor de 67 anos, é um descendente de Wickham e Bibanna Hewlett, uma negra escrava. Para ele, a estátua era um doloroso lembrete do abuso sofrido por sua família e da recusa dos Estados Unidos em reconhecer plenamente o seu passado.

Estátua de Robert Lee em Richmond, Virgínia Foto: Carlos Bernate/The New York Times

Harris e alguns outros descendentes de Wickham reuniram-se em um jantar em 2012, e decidiram visitá-la juntos. “Havíamos conversado a respeito do nosso parentesco, tentando olhar tudo com algum distanciamento. E agora tínhamos a estátua de bronze e concreto desta pessoa que, como vocês sabem, tem uma história complicada.” Em 2017, Clayton Wickham e seu irmão Will escreveram uma carta ao prefeito de Richmond, pedindo que a estátua fosse retirada. Nada aconteceu até que, neste mês, manifestantes amarraram uma corda nela e a puseram abaixo. 

Alguns parentes de personalidades históricas derrubadas pelos manifestantes ou pelas prefeituras locais estão revoltados.  Em Jacksonville, na Flórida, um descendente de Charles Hemming, um soldado confederado, disse à TV WJXT que ficou frustrado pelo fato de o prefeito da cidade ter retirado uma estátua de Hemming sem comunicar à família. Um grupo de descendentes de soldados confederados de Mobile, no Alabama, disse que queria que a prefeitura mandasse a estátua de Raphael Semmes, um almirante confederado, para eles depois de retirada. O presidente Donald Trump não perdeu tempo. Na sexta-feira, baixou uma ordem executiva que prevê cadeia de até 10 anos para quem violar esses monumentos. 

E em meio a tantas reivindicações, também houve equívocos. Na semana retrasada, em San Francisco, alguns ativistas derrubaram uma estátua de Ulysses S. Grant, o ex-presidente que chefiou o exército da União para a vitória. Ele era dono de um escravo que depois libertou. Em Madison, Wisconsin, manifestantes derrubaram uma estátua de Hans Christian Heg, que morreu combatendo pela União.

Dentre os alvos dos manifestantes, há um que causou surpresa entre os seus parentes: Robert E. Lee IV. O sobrinho-neto dele, de 27 anos, cresceu considerando o general confederado, cujo nome herdou, um herói e tinha orgulho da sua herança sulista. Tudo mudou quando, em 2017, ele viu multidões de supremacistas brancos reunidas em torno da estátua do seu ancestral, em Charlottesville. “A gente quer amar a família. Por isso, tudo tem sido difícil para mim”, disse Lee, que é pastor. 

Algumas cidades reagiram de maneira mais rápida aos pedidos dos descendentes. Neste mês, a prefeitura de Raleigh, na Carolina do Norte, mandou derrubar a estátua de Josephus Daniels a pedido de um grupo de descendentes. Daniels, ex-dono e editor do The News & Observer, defendia as posições dos supremacistas brancos.

Frank Daniels III contou que a família decidiu retirar a estátua a fim de mostrar o seu apoio ao movimento pela justiça racial. Ele disse que foi difícil para alguns membros mais velhos da família que conheceram Josephus pessoalmente. Mas ter o controle do processo e permitir que a família retirasse a estátua em caráter mais privado facilitou as coisas, segundo Frank Daniels. “Tentamos dar a esta decisão um caráter racional e não emotivo.” 

Já Frank Rizzo Junior não se conforma. O filho de Frank Rizzo, ex-prefeito e chefe de polícia que, segundo muitos, cometeu abusos contra negros e gays, diz que quando a estátua de seu pai foi inaugurada, no fim dos anos 1990, políticos de todos os partidos estiveram presentes à cerimônia. “Agora, não vejo ninguém que tente deter essa destruição”, disse Rizzo. “As pessoas que se preocupam com a cidade de Filadélfia” prosseguiu, “continuarão lembrando de Frank Rizzo, com ou sem estátua. / NYT, TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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