'Em Gaza, existem todas as condições para uma explosão'


Para ex-comandante de espionagem israelense, assentamentos judaicos na Cisjordânia impedirão solução de dois Estados

Por DER SPIEGEL

Yuval Diskin foi diretor do Shin Bet, serviço de inteligência interna de Israel, entre 2005 e 2011. Nos últimos anos, tornou-se crítico às políticas do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Deskin defende que, se Israel não parar a construção de assentamentos em território palestino, a solução de dois Estados para o conflito, em breve, será descartada. 
Qual o objetivo da invasão israelense na Faixa de Gaza?
Israel não tinha outra opção senão aumentar a pressão. Todas as tentativas de negociação fracassaram. O Exército tenta agora destruir os túneis entre Israel e Gaza com uma mini-invasão e o governo também mostra que está fazendo algo. Os eleitores exigem uma invasão com veemência cada vez maior. O Exército espera que essa invasão force o Hamas a aceitar um cessar-fogo. 
O sr. diz que o Netanyahu vem sendo pressionado pela direita.
Felizmente para Israel, Netanyahu, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, e o comandante do Estado-Maior, Benny Gantz, não são aventureiros. Nenhum deles quer a invasão nem está empolgado com uma reocupação de Gaza. Israel não planejou essa operação, o país foi arrastado para essa crise. 
O que deve ocorrer depois?
Israel é agora um instrumento nas mãos do Hamas, não o contrário. O Hamas não se preocupa se a sua população é atingida pelos ataques ou não, porque a população vem sofrendo de qualquer maneira. O Hamas não se preocupa com suas próprias vítimas. O que deseja é que algo mude a situação.
Até que ponto o Hamas é forte? 
Infelizmente, não conseguimos no passado desferir um golpe que realmente debilitasse o Hamas. Durante a operação de 2008 e 2009, chegamos perto. Nos últimos dias daquela operação, o Hamas estava próximo do colapso; muitos militantes desistiram. Agora a situação mudou em favor dos islamistas. 
Israel não está jogando os palestinos nos braços do Hamas?
Parece. Do mesmo modo que o Hamas, a população de Gaza não tem nada a perder. E esse é o problema. Enquanto Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, estava no poder no Egito, as coisas corriam muito bem para o Hamas. No entanto, o Exército egípcio assumiu o governo e destruiu a economia gerida por túneis entre Gaza e a Península do Sinai, que era crucial para o Hamas. 
As mediações fracassaram. O que pode acabar com a guerra?
Observamos na recente tentativa de cessar-fogo que o Egito, o mediador natural na Faixa de Gaza, não é o mesmo de antes. Pelo contrário, o país está usando sua importância para humilhar o Hamas. 
E se Israel conversar diretamente com o Hamas?
Não é possível. Na verdade, somente os egípcios podem fazer uma mediação confiável. Mas precisam apresentar uma proposta mais generosa: a abertura da fronteira que liga Rafah ao Egito, por exemplo. Israel também tem de fazer concessões e permitir mais liberdade de movimento. 
Por essas razões o Hamas teria provocado o atual confronto? 
O Hamas não desejava essa guerra também. Mas, como costuma ocorrer no Oriente Médio, as coisas acontecem de modo diferente do planejado. Começou com o sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. Pelo que li e sei como o Hamas opera, acho que o grupo foi tomado de surpresa. Parece que o incidente não foi coordenado ou comandado pelo Hamas. 
Netanyahu, porém, disse que foi e usou essa justificativa para as medidas severas que adotou. 
Após o sequestro dos adolescente, o Hamas compreendeu que tinha um problema. À medida que a operação do Exército na Cisjordânia se ampliou, os radicais em Gaza dispararam foguetes contra Israel e a Força Aérea israelense lançou ataques. E, então, houve o sequestro e o assassinato do palestino em Jerusalém, o que deu a Israel mais legitimidade para atacar. 
Como o governo deveria reagir?
Foi um erro de Netanyahu atacar o governo de unidade do Hamas e do Fatah sob a liderança de Mahmoud Abbas. Israel devia ter sido mais pragmático. Devíamos ter apoiado os palestinos porque queremos estar em paz com todos, não com apenas a metade deles. Um acordo com o governo de unidade teria sido mais realista do que afirmar que Abbas é terrorista. Mas esse governo de unidade tem de concordar com todas as condições impostas pelo Quarteto para o Oriente Médio (ONU, EUA, UE e Rússia): aceitar Israel, renunciar ao terrorismo e reconhecer acordos já firmados. 
A chance de haver uma Terceira Intifada tem sido mencionada repetidamente nos últimos dias. 
Ninguém pode prever uma intifada porque uma revolta não é algo planejado. Mas não devemos achar que os palestinos estão mais pacíficos em virtude da ocupação. Eles jamais aceitarão o status quo da ocupação israelense. Quando as pessoas perdem a esperança, se tornam mais radicais. Isso é da natureza do ser humano. A Faixa de Gaza é o melhor exemplo. Todas as condições estão reunidas ali para uma explosão. 
As mais recentes negociações fracassaram, de novo. 
Sim e com razão. Temos um problema hoje que não tivemos em 1993 quando o primeiro Acordo de Oslo foi negociado. Naquela ocasião, tínhamos líderes de fato, que não temos hoje. Abbas não é um líder de verdade, tampouco Netanyahu. Abbas é uma boa pessoa sob muitos aspectos, mas nem ele nem Netanyahu pode consolidar a paz. Além disso, nenhum deles tem confiança no outro. 
O secretário de Estado americano, John Kerry, tentou fazer uma intermediação entre os dois. 
Sim, mas a iniciativa de Kerry não foi levada a sério. A única solução para esse conflito tem de ser regional, com a participação de Israel, dos palestinos, da Jordânia e do Egito. 
O sr. acha que os assentamentos na Cisjordânia podem inviabilizar a solução de dois Estados? 
Atualmente, estamos muito próximos do ponto sem volta. O número de colonos está aumentando e uma solução para esse problema já é quase impossível, de um ponto de vista puramente logístico, mesmo que haja vontade política. 
Alguma solução para o conflito ainda é possível?
Temos de avançar progressivamente; necessitamos de muitos sucessos pequenos. Precisamos do acordo do lado palestino e a aceitação as condições estabelecidas pelo Quarteto. E Israel tem de congelar de uma vez a construção de novos assentamentos. Do contrário, a única possibilidade será um único Estado partilhado. E essa alternativa é péssima. 
O sr. acha que existe o perigo de Israel ficar isolado?
Estamos perdendo legitimidade e o espaço para agir não é mais tão grande, nem mesmo quando o perigo é iminente. 
O sr. sente-se isolado por sua posição sobre essa situação?
Existem muitas pessoas dentro do Shin Bet, do Mossad e do Exército que pensam como eu. Mas, em mais cinco anos, estaremos muito sós, porque o número de sionistas religiosos ocupando posições de poder e no Exército cresce continuamente. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Yuval Diskin foi diretor do Shin Bet, serviço de inteligência interna de Israel, entre 2005 e 2011. Nos últimos anos, tornou-se crítico às políticas do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Deskin defende que, se Israel não parar a construção de assentamentos em território palestino, a solução de dois Estados para o conflito, em breve, será descartada. 
Qual o objetivo da invasão israelense na Faixa de Gaza?
Israel não tinha outra opção senão aumentar a pressão. Todas as tentativas de negociação fracassaram. O Exército tenta agora destruir os túneis entre Israel e Gaza com uma mini-invasão e o governo também mostra que está fazendo algo. Os eleitores exigem uma invasão com veemência cada vez maior. O Exército espera que essa invasão force o Hamas a aceitar um cessar-fogo. 
O sr. diz que o Netanyahu vem sendo pressionado pela direita.
Felizmente para Israel, Netanyahu, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, e o comandante do Estado-Maior, Benny Gantz, não são aventureiros. Nenhum deles quer a invasão nem está empolgado com uma reocupação de Gaza. Israel não planejou essa operação, o país foi arrastado para essa crise. 
O que deve ocorrer depois?
Israel é agora um instrumento nas mãos do Hamas, não o contrário. O Hamas não se preocupa se a sua população é atingida pelos ataques ou não, porque a população vem sofrendo de qualquer maneira. O Hamas não se preocupa com suas próprias vítimas. O que deseja é que algo mude a situação.
Até que ponto o Hamas é forte? 
Infelizmente, não conseguimos no passado desferir um golpe que realmente debilitasse o Hamas. Durante a operação de 2008 e 2009, chegamos perto. Nos últimos dias daquela operação, o Hamas estava próximo do colapso; muitos militantes desistiram. Agora a situação mudou em favor dos islamistas. 
Israel não está jogando os palestinos nos braços do Hamas?
Parece. Do mesmo modo que o Hamas, a população de Gaza não tem nada a perder. E esse é o problema. Enquanto Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, estava no poder no Egito, as coisas corriam muito bem para o Hamas. No entanto, o Exército egípcio assumiu o governo e destruiu a economia gerida por túneis entre Gaza e a Península do Sinai, que era crucial para o Hamas. 
As mediações fracassaram. O que pode acabar com a guerra?
Observamos na recente tentativa de cessar-fogo que o Egito, o mediador natural na Faixa de Gaza, não é o mesmo de antes. Pelo contrário, o país está usando sua importância para humilhar o Hamas. 
E se Israel conversar diretamente com o Hamas?
Não é possível. Na verdade, somente os egípcios podem fazer uma mediação confiável. Mas precisam apresentar uma proposta mais generosa: a abertura da fronteira que liga Rafah ao Egito, por exemplo. Israel também tem de fazer concessões e permitir mais liberdade de movimento. 
Por essas razões o Hamas teria provocado o atual confronto? 
O Hamas não desejava essa guerra também. Mas, como costuma ocorrer no Oriente Médio, as coisas acontecem de modo diferente do planejado. Começou com o sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. Pelo que li e sei como o Hamas opera, acho que o grupo foi tomado de surpresa. Parece que o incidente não foi coordenado ou comandado pelo Hamas. 
Netanyahu, porém, disse que foi e usou essa justificativa para as medidas severas que adotou. 
Após o sequestro dos adolescente, o Hamas compreendeu que tinha um problema. À medida que a operação do Exército na Cisjordânia se ampliou, os radicais em Gaza dispararam foguetes contra Israel e a Força Aérea israelense lançou ataques. E, então, houve o sequestro e o assassinato do palestino em Jerusalém, o que deu a Israel mais legitimidade para atacar. 
Como o governo deveria reagir?
Foi um erro de Netanyahu atacar o governo de unidade do Hamas e do Fatah sob a liderança de Mahmoud Abbas. Israel devia ter sido mais pragmático. Devíamos ter apoiado os palestinos porque queremos estar em paz com todos, não com apenas a metade deles. Um acordo com o governo de unidade teria sido mais realista do que afirmar que Abbas é terrorista. Mas esse governo de unidade tem de concordar com todas as condições impostas pelo Quarteto para o Oriente Médio (ONU, EUA, UE e Rússia): aceitar Israel, renunciar ao terrorismo e reconhecer acordos já firmados. 
A chance de haver uma Terceira Intifada tem sido mencionada repetidamente nos últimos dias. 
Ninguém pode prever uma intifada porque uma revolta não é algo planejado. Mas não devemos achar que os palestinos estão mais pacíficos em virtude da ocupação. Eles jamais aceitarão o status quo da ocupação israelense. Quando as pessoas perdem a esperança, se tornam mais radicais. Isso é da natureza do ser humano. A Faixa de Gaza é o melhor exemplo. Todas as condições estão reunidas ali para uma explosão. 
As mais recentes negociações fracassaram, de novo. 
Sim e com razão. Temos um problema hoje que não tivemos em 1993 quando o primeiro Acordo de Oslo foi negociado. Naquela ocasião, tínhamos líderes de fato, que não temos hoje. Abbas não é um líder de verdade, tampouco Netanyahu. Abbas é uma boa pessoa sob muitos aspectos, mas nem ele nem Netanyahu pode consolidar a paz. Além disso, nenhum deles tem confiança no outro. 
O secretário de Estado americano, John Kerry, tentou fazer uma intermediação entre os dois. 
Sim, mas a iniciativa de Kerry não foi levada a sério. A única solução para esse conflito tem de ser regional, com a participação de Israel, dos palestinos, da Jordânia e do Egito. 
O sr. acha que os assentamentos na Cisjordânia podem inviabilizar a solução de dois Estados? 
Atualmente, estamos muito próximos do ponto sem volta. O número de colonos está aumentando e uma solução para esse problema já é quase impossível, de um ponto de vista puramente logístico, mesmo que haja vontade política. 
Alguma solução para o conflito ainda é possível?
Temos de avançar progressivamente; necessitamos de muitos sucessos pequenos. Precisamos do acordo do lado palestino e a aceitação as condições estabelecidas pelo Quarteto. E Israel tem de congelar de uma vez a construção de novos assentamentos. Do contrário, a única possibilidade será um único Estado partilhado. E essa alternativa é péssima. 
O sr. acha que existe o perigo de Israel ficar isolado?
Estamos perdendo legitimidade e o espaço para agir não é mais tão grande, nem mesmo quando o perigo é iminente. 
O sr. sente-se isolado por sua posição sobre essa situação?
Existem muitas pessoas dentro do Shin Bet, do Mossad e do Exército que pensam como eu. Mas, em mais cinco anos, estaremos muito sós, porque o número de sionistas religiosos ocupando posições de poder e no Exército cresce continuamente. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Yuval Diskin foi diretor do Shin Bet, serviço de inteligência interna de Israel, entre 2005 e 2011. Nos últimos anos, tornou-se crítico às políticas do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Deskin defende que, se Israel não parar a construção de assentamentos em território palestino, a solução de dois Estados para o conflito, em breve, será descartada. 
Qual o objetivo da invasão israelense na Faixa de Gaza?
Israel não tinha outra opção senão aumentar a pressão. Todas as tentativas de negociação fracassaram. O Exército tenta agora destruir os túneis entre Israel e Gaza com uma mini-invasão e o governo também mostra que está fazendo algo. Os eleitores exigem uma invasão com veemência cada vez maior. O Exército espera que essa invasão force o Hamas a aceitar um cessar-fogo. 
O sr. diz que o Netanyahu vem sendo pressionado pela direita.
Felizmente para Israel, Netanyahu, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, e o comandante do Estado-Maior, Benny Gantz, não são aventureiros. Nenhum deles quer a invasão nem está empolgado com uma reocupação de Gaza. Israel não planejou essa operação, o país foi arrastado para essa crise. 
O que deve ocorrer depois?
Israel é agora um instrumento nas mãos do Hamas, não o contrário. O Hamas não se preocupa se a sua população é atingida pelos ataques ou não, porque a população vem sofrendo de qualquer maneira. O Hamas não se preocupa com suas próprias vítimas. O que deseja é que algo mude a situação.
Até que ponto o Hamas é forte? 
Infelizmente, não conseguimos no passado desferir um golpe que realmente debilitasse o Hamas. Durante a operação de 2008 e 2009, chegamos perto. Nos últimos dias daquela operação, o Hamas estava próximo do colapso; muitos militantes desistiram. Agora a situação mudou em favor dos islamistas. 
Israel não está jogando os palestinos nos braços do Hamas?
Parece. Do mesmo modo que o Hamas, a população de Gaza não tem nada a perder. E esse é o problema. Enquanto Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, estava no poder no Egito, as coisas corriam muito bem para o Hamas. No entanto, o Exército egípcio assumiu o governo e destruiu a economia gerida por túneis entre Gaza e a Península do Sinai, que era crucial para o Hamas. 
As mediações fracassaram. O que pode acabar com a guerra?
Observamos na recente tentativa de cessar-fogo que o Egito, o mediador natural na Faixa de Gaza, não é o mesmo de antes. Pelo contrário, o país está usando sua importância para humilhar o Hamas. 
E se Israel conversar diretamente com o Hamas?
Não é possível. Na verdade, somente os egípcios podem fazer uma mediação confiável. Mas precisam apresentar uma proposta mais generosa: a abertura da fronteira que liga Rafah ao Egito, por exemplo. Israel também tem de fazer concessões e permitir mais liberdade de movimento. 
Por essas razões o Hamas teria provocado o atual confronto? 
O Hamas não desejava essa guerra também. Mas, como costuma ocorrer no Oriente Médio, as coisas acontecem de modo diferente do planejado. Começou com o sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. Pelo que li e sei como o Hamas opera, acho que o grupo foi tomado de surpresa. Parece que o incidente não foi coordenado ou comandado pelo Hamas. 
Netanyahu, porém, disse que foi e usou essa justificativa para as medidas severas que adotou. 
Após o sequestro dos adolescente, o Hamas compreendeu que tinha um problema. À medida que a operação do Exército na Cisjordânia se ampliou, os radicais em Gaza dispararam foguetes contra Israel e a Força Aérea israelense lançou ataques. E, então, houve o sequestro e o assassinato do palestino em Jerusalém, o que deu a Israel mais legitimidade para atacar. 
Como o governo deveria reagir?
Foi um erro de Netanyahu atacar o governo de unidade do Hamas e do Fatah sob a liderança de Mahmoud Abbas. Israel devia ter sido mais pragmático. Devíamos ter apoiado os palestinos porque queremos estar em paz com todos, não com apenas a metade deles. Um acordo com o governo de unidade teria sido mais realista do que afirmar que Abbas é terrorista. Mas esse governo de unidade tem de concordar com todas as condições impostas pelo Quarteto para o Oriente Médio (ONU, EUA, UE e Rússia): aceitar Israel, renunciar ao terrorismo e reconhecer acordos já firmados. 
A chance de haver uma Terceira Intifada tem sido mencionada repetidamente nos últimos dias. 
Ninguém pode prever uma intifada porque uma revolta não é algo planejado. Mas não devemos achar que os palestinos estão mais pacíficos em virtude da ocupação. Eles jamais aceitarão o status quo da ocupação israelense. Quando as pessoas perdem a esperança, se tornam mais radicais. Isso é da natureza do ser humano. A Faixa de Gaza é o melhor exemplo. Todas as condições estão reunidas ali para uma explosão. 
As mais recentes negociações fracassaram, de novo. 
Sim e com razão. Temos um problema hoje que não tivemos em 1993 quando o primeiro Acordo de Oslo foi negociado. Naquela ocasião, tínhamos líderes de fato, que não temos hoje. Abbas não é um líder de verdade, tampouco Netanyahu. Abbas é uma boa pessoa sob muitos aspectos, mas nem ele nem Netanyahu pode consolidar a paz. Além disso, nenhum deles tem confiança no outro. 
O secretário de Estado americano, John Kerry, tentou fazer uma intermediação entre os dois. 
Sim, mas a iniciativa de Kerry não foi levada a sério. A única solução para esse conflito tem de ser regional, com a participação de Israel, dos palestinos, da Jordânia e do Egito. 
O sr. acha que os assentamentos na Cisjordânia podem inviabilizar a solução de dois Estados? 
Atualmente, estamos muito próximos do ponto sem volta. O número de colonos está aumentando e uma solução para esse problema já é quase impossível, de um ponto de vista puramente logístico, mesmo que haja vontade política. 
Alguma solução para o conflito ainda é possível?
Temos de avançar progressivamente; necessitamos de muitos sucessos pequenos. Precisamos do acordo do lado palestino e a aceitação as condições estabelecidas pelo Quarteto. E Israel tem de congelar de uma vez a construção de novos assentamentos. Do contrário, a única possibilidade será um único Estado partilhado. E essa alternativa é péssima. 
O sr. acha que existe o perigo de Israel ficar isolado?
Estamos perdendo legitimidade e o espaço para agir não é mais tão grande, nem mesmo quando o perigo é iminente. 
O sr. sente-se isolado por sua posição sobre essa situação?
Existem muitas pessoas dentro do Shin Bet, do Mossad e do Exército que pensam como eu. Mas, em mais cinco anos, estaremos muito sós, porque o número de sionistas religiosos ocupando posições de poder e no Exército cresce continuamente. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Yuval Diskin foi diretor do Shin Bet, serviço de inteligência interna de Israel, entre 2005 e 2011. Nos últimos anos, tornou-se crítico às políticas do premiê israelense, Binyamin Netanyahu. Deskin defende que, se Israel não parar a construção de assentamentos em território palestino, a solução de dois Estados para o conflito, em breve, será descartada. 
Qual o objetivo da invasão israelense na Faixa de Gaza?
Israel não tinha outra opção senão aumentar a pressão. Todas as tentativas de negociação fracassaram. O Exército tenta agora destruir os túneis entre Israel e Gaza com uma mini-invasão e o governo também mostra que está fazendo algo. Os eleitores exigem uma invasão com veemência cada vez maior. O Exército espera que essa invasão force o Hamas a aceitar um cessar-fogo. 
O sr. diz que o Netanyahu vem sendo pressionado pela direita.
Felizmente para Israel, Netanyahu, o ministro da Defesa, Moshe Yaalon, e o comandante do Estado-Maior, Benny Gantz, não são aventureiros. Nenhum deles quer a invasão nem está empolgado com uma reocupação de Gaza. Israel não planejou essa operação, o país foi arrastado para essa crise. 
O que deve ocorrer depois?
Israel é agora um instrumento nas mãos do Hamas, não o contrário. O Hamas não se preocupa se a sua população é atingida pelos ataques ou não, porque a população vem sofrendo de qualquer maneira. O Hamas não se preocupa com suas próprias vítimas. O que deseja é que algo mude a situação.
Até que ponto o Hamas é forte? 
Infelizmente, não conseguimos no passado desferir um golpe que realmente debilitasse o Hamas. Durante a operação de 2008 e 2009, chegamos perto. Nos últimos dias daquela operação, o Hamas estava próximo do colapso; muitos militantes desistiram. Agora a situação mudou em favor dos islamistas. 
Israel não está jogando os palestinos nos braços do Hamas?
Parece. Do mesmo modo que o Hamas, a população de Gaza não tem nada a perder. E esse é o problema. Enquanto Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana, estava no poder no Egito, as coisas corriam muito bem para o Hamas. No entanto, o Exército egípcio assumiu o governo e destruiu a economia gerida por túneis entre Gaza e a Península do Sinai, que era crucial para o Hamas. 
As mediações fracassaram. O que pode acabar com a guerra?
Observamos na recente tentativa de cessar-fogo que o Egito, o mediador natural na Faixa de Gaza, não é o mesmo de antes. Pelo contrário, o país está usando sua importância para humilhar o Hamas. 
E se Israel conversar diretamente com o Hamas?
Não é possível. Na verdade, somente os egípcios podem fazer uma mediação confiável. Mas precisam apresentar uma proposta mais generosa: a abertura da fronteira que liga Rafah ao Egito, por exemplo. Israel também tem de fazer concessões e permitir mais liberdade de movimento. 
Por essas razões o Hamas teria provocado o atual confronto? 
O Hamas não desejava essa guerra também. Mas, como costuma ocorrer no Oriente Médio, as coisas acontecem de modo diferente do planejado. Começou com o sequestro de três adolescentes israelenses na Cisjordânia. Pelo que li e sei como o Hamas opera, acho que o grupo foi tomado de surpresa. Parece que o incidente não foi coordenado ou comandado pelo Hamas. 
Netanyahu, porém, disse que foi e usou essa justificativa para as medidas severas que adotou. 
Após o sequestro dos adolescente, o Hamas compreendeu que tinha um problema. À medida que a operação do Exército na Cisjordânia se ampliou, os radicais em Gaza dispararam foguetes contra Israel e a Força Aérea israelense lançou ataques. E, então, houve o sequestro e o assassinato do palestino em Jerusalém, o que deu a Israel mais legitimidade para atacar. 
Como o governo deveria reagir?
Foi um erro de Netanyahu atacar o governo de unidade do Hamas e do Fatah sob a liderança de Mahmoud Abbas. Israel devia ter sido mais pragmático. Devíamos ter apoiado os palestinos porque queremos estar em paz com todos, não com apenas a metade deles. Um acordo com o governo de unidade teria sido mais realista do que afirmar que Abbas é terrorista. Mas esse governo de unidade tem de concordar com todas as condições impostas pelo Quarteto para o Oriente Médio (ONU, EUA, UE e Rússia): aceitar Israel, renunciar ao terrorismo e reconhecer acordos já firmados. 
A chance de haver uma Terceira Intifada tem sido mencionada repetidamente nos últimos dias. 
Ninguém pode prever uma intifada porque uma revolta não é algo planejado. Mas não devemos achar que os palestinos estão mais pacíficos em virtude da ocupação. Eles jamais aceitarão o status quo da ocupação israelense. Quando as pessoas perdem a esperança, se tornam mais radicais. Isso é da natureza do ser humano. A Faixa de Gaza é o melhor exemplo. Todas as condições estão reunidas ali para uma explosão. 
As mais recentes negociações fracassaram, de novo. 
Sim e com razão. Temos um problema hoje que não tivemos em 1993 quando o primeiro Acordo de Oslo foi negociado. Naquela ocasião, tínhamos líderes de fato, que não temos hoje. Abbas não é um líder de verdade, tampouco Netanyahu. Abbas é uma boa pessoa sob muitos aspectos, mas nem ele nem Netanyahu pode consolidar a paz. Além disso, nenhum deles tem confiança no outro. 
O secretário de Estado americano, John Kerry, tentou fazer uma intermediação entre os dois. 
Sim, mas a iniciativa de Kerry não foi levada a sério. A única solução para esse conflito tem de ser regional, com a participação de Israel, dos palestinos, da Jordânia e do Egito. 
O sr. acha que os assentamentos na Cisjordânia podem inviabilizar a solução de dois Estados? 
Atualmente, estamos muito próximos do ponto sem volta. O número de colonos está aumentando e uma solução para esse problema já é quase impossível, de um ponto de vista puramente logístico, mesmo que haja vontade política. 
Alguma solução para o conflito ainda é possível?
Temos de avançar progressivamente; necessitamos de muitos sucessos pequenos. Precisamos do acordo do lado palestino e a aceitação as condições estabelecidas pelo Quarteto. E Israel tem de congelar de uma vez a construção de novos assentamentos. Do contrário, a única possibilidade será um único Estado partilhado. E essa alternativa é péssima. 
O sr. acha que existe o perigo de Israel ficar isolado?
Estamos perdendo legitimidade e o espaço para agir não é mais tão grande, nem mesmo quando o perigo é iminente. 
O sr. sente-se isolado por sua posição sobre essa situação?
Existem muitas pessoas dentro do Shin Bet, do Mossad e do Exército que pensam como eu. Mas, em mais cinco anos, estaremos muito sós, porque o número de sionistas religiosos ocupando posições de poder e no Exército cresce continuamente. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.