Entenda o que significa o status de candidata da Ucrânia na União Europeia


Candidatura é o primeiro passo oficial para Ucrânia se tornar país-membro da UE e representa uma vitória simbólica de Kiev contra Moscou

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

A União Europeia concedeu à Ucrânia nesta quarta-feira, 23, o status de candidata a país-membro do bloco após repetidos discursos do presidente ucraniano Volodmir Zelenski sobre o desejo de ser parte do grupo. A candidatura é o primeiro passo oficial para isso e representa, no contexto da guerra com a Rússia, uma vitória simbólica de Kiev e um sinal de como o conflito reposicionou o mundo geopolítico.

O processo até se tornar país-membro é demorado e pode levar décadas, mas para autoridades europeias e nacionais a candidatura é histórica. Além da Ucrânia, a Moldávia, outra ex-república soviética, também se tornou candidata e a Geórgia está prestes a ganhar o status, após cumprir determinadas condições. “Esse é um momento definidor e um dia muito bom para a Europa”, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas.

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Com o status atual, a Ucrânia passa a ter de imediato uma retaguarda política que ajuda o país a se afastar da esfera de influência da Rússia. Zelenski comemorou a concessão como um “momento único” para as relações com a UE e disse que o futuro do país “está dentro” do bloco.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen (à esquerda) e presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski (à direita) durante coletiva de imprensa em Kiev no dia 11 deste mês. Encontro das duas autoridades praticamente garantiu status de candidata à Ucrânia Foto: Sergey Dolzhenko / EFE

Segundo o chefe da delegação ucraniana na União Europeia, Vsevolod Chentsov, se tornar candidata também passa o recado que a Ucrânia é uma nação soberana com poder de escolha. Ele, assim como outras autoridades europeias, avalia que o presidente russo Vladimir Putin enxerga o país como se ainda não fosse completamente independente.

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Da parte de Bruxelas, o status de candidata põe à prova uma das ferramentas mais bem-sucedidas da política externa do mundo pós-Guerra Fria e envia outra mensagem a Moscou: a de uma recusa da visão de Putin sobre o que é Europa.

Derrota simbólica para a influência russa na Ucrânia pós-soviética

Desde a semana passada, o presidente Volodmir Zelenski repete na maioria de seus discursos que o povo ucraniano deseja entrar na União Europeia. Segundo ele, o ingresso ajudaria o país a derrotar a Rússia na guerra.

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O discurso recupera um movimento pró-União Europeia que cresceu entre os ucranianos nas últimas décadas. Em 2014, foram protestos deste movimento que derrubaram o então presidente Viktor Ianukovich, defensor de uma política de aproximação com o Kremlin. O fato desencadeou uma divisão entre ucranianos pró-UE e pró-Russos que resultou na anexação russa da Crimeia e nos movimentos separatistas da região do Donbas, atual prioridade da Rússia no campo de batalha.

Vladimir Putin já sabia da possibilidade da candidatura da Ucrânia à UE e tem dito publicamente que se trata de uma decisão soberana do país de Zelenski. O tom das declarações é diferente do utilizado por Putin com relação à possibilidade da Ucrânia entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), vista como uma ameaça ao poder da Rússia.

Imagem de 29 de janeiro de 2014 mostra protestos ucranianos contra o então presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. Manifestações demonstraram força do movimento pró-União Europeia do país Foto: Thomas Peter / Reuters
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Segundo Putin, a diferença é que a União Europeia se trata de um bloco econômico, e a Otan, um bloco militar. “Nós sempre fomos contra a expansão militar para dentro do território ucraniano porque ameaça a nossa segurança”, declarou o presidente russo em São Petersburgo recentemente. “Mas uma integração econômica, por favor, pelo amor de Deus, é a escolha deles”.

Entretanto, Putin está ciente que o caminho entre ser candidato e se tornar país-membro da UE é longo. Diplomatas em Bruxelas afirmam que o russo pode dificultar o processo para Zelenski com diversos obstáculos. Isso porque para se tornar país-membro a Ucrânia precisa cumprir diversas condições, uma tarefa que a realidade da guerra torna mais difícil.

O que a Ucrânia precisa fazer para se tornar país-membro

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A Ucrânia precisa se adequar a diversas condições, que envolvem reformas e mudanças na legislação, durante o processo de se tornar país-membro. Segundo as autoridades europeias, o procedimento vai seguir todos os passos estabelecidos pelo bloco e vai ser focado no mérito, independente da existência da guerra.

A candidatura está ligada a revisões e mudanças no Estado de direito dos países no que diz respeito à Justiça e a anticorrupção. Elas incluem, para a Ucrânia, fortalecimento dos aparatos de luta contra corrupção e contra o poder de oligarcas, mudanças na legislação sobre a seleção de juízes para o tribunal superior e proteção de minorias sociais.

Imagem do dia 16 deste mês mostra fachada do Palácio Mariinski, residência oficial do presidente da Ucrânia, em Kiev. Com status de candidata à UE, governo vai precisar aplicar reformas para entrar no bloco Foto: Ludovic Marin/Reuters
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As reformas são especialmente difíceis porque o país tem tido dificuldades na luta contra a corrupção e ainda precisa lidar com as consequências da guerra.

A principal autoridade da UE para os assuntos de ampliação, Oliver Varheli, afirmou que as negociações de adesão serão feitas somente mais adiante, depois das reformas. “Hoje não é sobre isso. Assim que as condições forem atendidas, teremos que voltar a isso e refletir”, disse.

A Comissão disse que avaliaria o progresso no final deste ano, o que dá a um país devastado pela guerra menos de sete meses para introduzir as mudanças, vistas como complexas e caras.

Riscos da Ucrânia durante o processo

Autoridades de países como a Albânia e a Macedônia do Norte deram declarações menos animadoras para a Ucrânia sobre o status de candidata. Os dois países, assim como Sérvia e Turquia, esperam há anos entrar no bloco, mas continuam apenas com a candidatura. O caso turco é o mais longínquo e se prolonga desde 1987.

Presente em Bruxelas nesta quinta-feira, o primeiro-ministro albanês Edi Rama expressou frustração com a lentidão do processo. “Bem-vindo à Ucrânia. É uma coisa boa dar o status de candidato, mas espero que o povo ucraniano não tenha muitas ilusões sobre isso”, declarou.

Quando as negociações e as reformas necessárias estiveram concluídas, a Ucrânia também vai precisar do aval de todos os países-membros da UE para se tornar parte. Trata-se de outro desafio para Zelenski, que pode enfrentar oposição de países como a Bulgária, que veta a entrada da Macedônia do Norte e a Albânia. O governo búlgaro pró-Ucrânia foi derrubado nesta quarta-feira, 22, por uma moção de censura votada pelo parlamento e pode enfrentar novas eleições -- o que abre a possibilidade de uma política aliada a Moscou.

Outros riscos são países da Europa Ocidental que continuam relutante sobre a entrada da Ucrânia. Apesar de Zelenski ter recebido apoio das maiores nações do bloco (Alemanha, França e Itália), existem dúvidas sobre até onde vai. A Ucrânia se tornaria o 5º país mais populoso do bloco e de longe o mais pobre, o que leva diplomatas ouvidos em anonimato pelo Washington Post a afirmarem que alguns países se preocupam sobre um desequilíbrio entre a Europa Ocidental e Oriental e uma maior dificuldade para tomar decisões.

Possíveis ganhos da Ucrânia como país-membro da UE

A entrada da Ucrânia na União Europeia faria o país estar junto do maior bloco econômico do mundo. Os ganhos mais visíveis são de benefícios econômicos, maior poder diplomático e maior capacidade de atrair investimentos, devido ao status de estabilidade da UE, funcionando como uma âncora para o país.

Os ganhos econômicos são significativos para um país que teve no ano passado o PIB per capita de US$ 4.872, menos da metade do atual membro mais pobre da UE, a Bulgária, que teve US$ 11.683, segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por isso, a comemoração da Ucrânia nesta quinta-feira, 23, é significativa em termos simbólicos da relação com a Rússia, mas também de perspectivas de desenvolvimento do país. “Grato a @CharlesMichel (Charles Michel), @vonderleyen (Ursula von der Leyen) e aos líderes da UE pelo apoio. O futuro da Ucrânia está dentro da UE”, agradeceu Zelenski no Twitter. /WP, NYT, REUTERS, AP

A União Europeia concedeu à Ucrânia nesta quarta-feira, 23, o status de candidata a país-membro do bloco após repetidos discursos do presidente ucraniano Volodmir Zelenski sobre o desejo de ser parte do grupo. A candidatura é o primeiro passo oficial para isso e representa, no contexto da guerra com a Rússia, uma vitória simbólica de Kiev e um sinal de como o conflito reposicionou o mundo geopolítico.

O processo até se tornar país-membro é demorado e pode levar décadas, mas para autoridades europeias e nacionais a candidatura é histórica. Além da Ucrânia, a Moldávia, outra ex-república soviética, também se tornou candidata e a Geórgia está prestes a ganhar o status, após cumprir determinadas condições. “Esse é um momento definidor e um dia muito bom para a Europa”, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Com o status atual, a Ucrânia passa a ter de imediato uma retaguarda política que ajuda o país a se afastar da esfera de influência da Rússia. Zelenski comemorou a concessão como um “momento único” para as relações com a UE e disse que o futuro do país “está dentro” do bloco.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen (à esquerda) e presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski (à direita) durante coletiva de imprensa em Kiev no dia 11 deste mês. Encontro das duas autoridades praticamente garantiu status de candidata à Ucrânia Foto: Sergey Dolzhenko / EFE

Segundo o chefe da delegação ucraniana na União Europeia, Vsevolod Chentsov, se tornar candidata também passa o recado que a Ucrânia é uma nação soberana com poder de escolha. Ele, assim como outras autoridades europeias, avalia que o presidente russo Vladimir Putin enxerga o país como se ainda não fosse completamente independente.

Da parte de Bruxelas, o status de candidata põe à prova uma das ferramentas mais bem-sucedidas da política externa do mundo pós-Guerra Fria e envia outra mensagem a Moscou: a de uma recusa da visão de Putin sobre o que é Europa.

Derrota simbólica para a influência russa na Ucrânia pós-soviética

Desde a semana passada, o presidente Volodmir Zelenski repete na maioria de seus discursos que o povo ucraniano deseja entrar na União Europeia. Segundo ele, o ingresso ajudaria o país a derrotar a Rússia na guerra.

O discurso recupera um movimento pró-União Europeia que cresceu entre os ucranianos nas últimas décadas. Em 2014, foram protestos deste movimento que derrubaram o então presidente Viktor Ianukovich, defensor de uma política de aproximação com o Kremlin. O fato desencadeou uma divisão entre ucranianos pró-UE e pró-Russos que resultou na anexação russa da Crimeia e nos movimentos separatistas da região do Donbas, atual prioridade da Rússia no campo de batalha.

Vladimir Putin já sabia da possibilidade da candidatura da Ucrânia à UE e tem dito publicamente que se trata de uma decisão soberana do país de Zelenski. O tom das declarações é diferente do utilizado por Putin com relação à possibilidade da Ucrânia entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), vista como uma ameaça ao poder da Rússia.

Imagem de 29 de janeiro de 2014 mostra protestos ucranianos contra o então presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. Manifestações demonstraram força do movimento pró-União Europeia do país Foto: Thomas Peter / Reuters

Segundo Putin, a diferença é que a União Europeia se trata de um bloco econômico, e a Otan, um bloco militar. “Nós sempre fomos contra a expansão militar para dentro do território ucraniano porque ameaça a nossa segurança”, declarou o presidente russo em São Petersburgo recentemente. “Mas uma integração econômica, por favor, pelo amor de Deus, é a escolha deles”.

Entretanto, Putin está ciente que o caminho entre ser candidato e se tornar país-membro da UE é longo. Diplomatas em Bruxelas afirmam que o russo pode dificultar o processo para Zelenski com diversos obstáculos. Isso porque para se tornar país-membro a Ucrânia precisa cumprir diversas condições, uma tarefa que a realidade da guerra torna mais difícil.

O que a Ucrânia precisa fazer para se tornar país-membro

A Ucrânia precisa se adequar a diversas condições, que envolvem reformas e mudanças na legislação, durante o processo de se tornar país-membro. Segundo as autoridades europeias, o procedimento vai seguir todos os passos estabelecidos pelo bloco e vai ser focado no mérito, independente da existência da guerra.

A candidatura está ligada a revisões e mudanças no Estado de direito dos países no que diz respeito à Justiça e a anticorrupção. Elas incluem, para a Ucrânia, fortalecimento dos aparatos de luta contra corrupção e contra o poder de oligarcas, mudanças na legislação sobre a seleção de juízes para o tribunal superior e proteção de minorias sociais.

Imagem do dia 16 deste mês mostra fachada do Palácio Mariinski, residência oficial do presidente da Ucrânia, em Kiev. Com status de candidata à UE, governo vai precisar aplicar reformas para entrar no bloco Foto: Ludovic Marin/Reuters

As reformas são especialmente difíceis porque o país tem tido dificuldades na luta contra a corrupção e ainda precisa lidar com as consequências da guerra.

A principal autoridade da UE para os assuntos de ampliação, Oliver Varheli, afirmou que as negociações de adesão serão feitas somente mais adiante, depois das reformas. “Hoje não é sobre isso. Assim que as condições forem atendidas, teremos que voltar a isso e refletir”, disse.

A Comissão disse que avaliaria o progresso no final deste ano, o que dá a um país devastado pela guerra menos de sete meses para introduzir as mudanças, vistas como complexas e caras.

Riscos da Ucrânia durante o processo

Autoridades de países como a Albânia e a Macedônia do Norte deram declarações menos animadoras para a Ucrânia sobre o status de candidata. Os dois países, assim como Sérvia e Turquia, esperam há anos entrar no bloco, mas continuam apenas com a candidatura. O caso turco é o mais longínquo e se prolonga desde 1987.

Presente em Bruxelas nesta quinta-feira, o primeiro-ministro albanês Edi Rama expressou frustração com a lentidão do processo. “Bem-vindo à Ucrânia. É uma coisa boa dar o status de candidato, mas espero que o povo ucraniano não tenha muitas ilusões sobre isso”, declarou.

Quando as negociações e as reformas necessárias estiveram concluídas, a Ucrânia também vai precisar do aval de todos os países-membros da UE para se tornar parte. Trata-se de outro desafio para Zelenski, que pode enfrentar oposição de países como a Bulgária, que veta a entrada da Macedônia do Norte e a Albânia. O governo búlgaro pró-Ucrânia foi derrubado nesta quarta-feira, 22, por uma moção de censura votada pelo parlamento e pode enfrentar novas eleições -- o que abre a possibilidade de uma política aliada a Moscou.

Outros riscos são países da Europa Ocidental que continuam relutante sobre a entrada da Ucrânia. Apesar de Zelenski ter recebido apoio das maiores nações do bloco (Alemanha, França e Itália), existem dúvidas sobre até onde vai. A Ucrânia se tornaria o 5º país mais populoso do bloco e de longe o mais pobre, o que leva diplomatas ouvidos em anonimato pelo Washington Post a afirmarem que alguns países se preocupam sobre um desequilíbrio entre a Europa Ocidental e Oriental e uma maior dificuldade para tomar decisões.

Possíveis ganhos da Ucrânia como país-membro da UE

A entrada da Ucrânia na União Europeia faria o país estar junto do maior bloco econômico do mundo. Os ganhos mais visíveis são de benefícios econômicos, maior poder diplomático e maior capacidade de atrair investimentos, devido ao status de estabilidade da UE, funcionando como uma âncora para o país.

Os ganhos econômicos são significativos para um país que teve no ano passado o PIB per capita de US$ 4.872, menos da metade do atual membro mais pobre da UE, a Bulgária, que teve US$ 11.683, segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por isso, a comemoração da Ucrânia nesta quinta-feira, 23, é significativa em termos simbólicos da relação com a Rússia, mas também de perspectivas de desenvolvimento do país. “Grato a @CharlesMichel (Charles Michel), @vonderleyen (Ursula von der Leyen) e aos líderes da UE pelo apoio. O futuro da Ucrânia está dentro da UE”, agradeceu Zelenski no Twitter. /WP, NYT, REUTERS, AP

A União Europeia concedeu à Ucrânia nesta quarta-feira, 23, o status de candidata a país-membro do bloco após repetidos discursos do presidente ucraniano Volodmir Zelenski sobre o desejo de ser parte do grupo. A candidatura é o primeiro passo oficial para isso e representa, no contexto da guerra com a Rússia, uma vitória simbólica de Kiev e um sinal de como o conflito reposicionou o mundo geopolítico.

O processo até se tornar país-membro é demorado e pode levar décadas, mas para autoridades europeias e nacionais a candidatura é histórica. Além da Ucrânia, a Moldávia, outra ex-república soviética, também se tornou candidata e a Geórgia está prestes a ganhar o status, após cumprir determinadas condições. “Esse é um momento definidor e um dia muito bom para a Europa”, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Com o status atual, a Ucrânia passa a ter de imediato uma retaguarda política que ajuda o país a se afastar da esfera de influência da Rússia. Zelenski comemorou a concessão como um “momento único” para as relações com a UE e disse que o futuro do país “está dentro” do bloco.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen (à esquerda) e presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski (à direita) durante coletiva de imprensa em Kiev no dia 11 deste mês. Encontro das duas autoridades praticamente garantiu status de candidata à Ucrânia Foto: Sergey Dolzhenko / EFE

Segundo o chefe da delegação ucraniana na União Europeia, Vsevolod Chentsov, se tornar candidata também passa o recado que a Ucrânia é uma nação soberana com poder de escolha. Ele, assim como outras autoridades europeias, avalia que o presidente russo Vladimir Putin enxerga o país como se ainda não fosse completamente independente.

Da parte de Bruxelas, o status de candidata põe à prova uma das ferramentas mais bem-sucedidas da política externa do mundo pós-Guerra Fria e envia outra mensagem a Moscou: a de uma recusa da visão de Putin sobre o que é Europa.

Derrota simbólica para a influência russa na Ucrânia pós-soviética

Desde a semana passada, o presidente Volodmir Zelenski repete na maioria de seus discursos que o povo ucraniano deseja entrar na União Europeia. Segundo ele, o ingresso ajudaria o país a derrotar a Rússia na guerra.

O discurso recupera um movimento pró-União Europeia que cresceu entre os ucranianos nas últimas décadas. Em 2014, foram protestos deste movimento que derrubaram o então presidente Viktor Ianukovich, defensor de uma política de aproximação com o Kremlin. O fato desencadeou uma divisão entre ucranianos pró-UE e pró-Russos que resultou na anexação russa da Crimeia e nos movimentos separatistas da região do Donbas, atual prioridade da Rússia no campo de batalha.

Vladimir Putin já sabia da possibilidade da candidatura da Ucrânia à UE e tem dito publicamente que se trata de uma decisão soberana do país de Zelenski. O tom das declarações é diferente do utilizado por Putin com relação à possibilidade da Ucrânia entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), vista como uma ameaça ao poder da Rússia.

Imagem de 29 de janeiro de 2014 mostra protestos ucranianos contra o então presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. Manifestações demonstraram força do movimento pró-União Europeia do país Foto: Thomas Peter / Reuters

Segundo Putin, a diferença é que a União Europeia se trata de um bloco econômico, e a Otan, um bloco militar. “Nós sempre fomos contra a expansão militar para dentro do território ucraniano porque ameaça a nossa segurança”, declarou o presidente russo em São Petersburgo recentemente. “Mas uma integração econômica, por favor, pelo amor de Deus, é a escolha deles”.

Entretanto, Putin está ciente que o caminho entre ser candidato e se tornar país-membro da UE é longo. Diplomatas em Bruxelas afirmam que o russo pode dificultar o processo para Zelenski com diversos obstáculos. Isso porque para se tornar país-membro a Ucrânia precisa cumprir diversas condições, uma tarefa que a realidade da guerra torna mais difícil.

O que a Ucrânia precisa fazer para se tornar país-membro

A Ucrânia precisa se adequar a diversas condições, que envolvem reformas e mudanças na legislação, durante o processo de se tornar país-membro. Segundo as autoridades europeias, o procedimento vai seguir todos os passos estabelecidos pelo bloco e vai ser focado no mérito, independente da existência da guerra.

A candidatura está ligada a revisões e mudanças no Estado de direito dos países no que diz respeito à Justiça e a anticorrupção. Elas incluem, para a Ucrânia, fortalecimento dos aparatos de luta contra corrupção e contra o poder de oligarcas, mudanças na legislação sobre a seleção de juízes para o tribunal superior e proteção de minorias sociais.

Imagem do dia 16 deste mês mostra fachada do Palácio Mariinski, residência oficial do presidente da Ucrânia, em Kiev. Com status de candidata à UE, governo vai precisar aplicar reformas para entrar no bloco Foto: Ludovic Marin/Reuters

As reformas são especialmente difíceis porque o país tem tido dificuldades na luta contra a corrupção e ainda precisa lidar com as consequências da guerra.

A principal autoridade da UE para os assuntos de ampliação, Oliver Varheli, afirmou que as negociações de adesão serão feitas somente mais adiante, depois das reformas. “Hoje não é sobre isso. Assim que as condições forem atendidas, teremos que voltar a isso e refletir”, disse.

A Comissão disse que avaliaria o progresso no final deste ano, o que dá a um país devastado pela guerra menos de sete meses para introduzir as mudanças, vistas como complexas e caras.

Riscos da Ucrânia durante o processo

Autoridades de países como a Albânia e a Macedônia do Norte deram declarações menos animadoras para a Ucrânia sobre o status de candidata. Os dois países, assim como Sérvia e Turquia, esperam há anos entrar no bloco, mas continuam apenas com a candidatura. O caso turco é o mais longínquo e se prolonga desde 1987.

Presente em Bruxelas nesta quinta-feira, o primeiro-ministro albanês Edi Rama expressou frustração com a lentidão do processo. “Bem-vindo à Ucrânia. É uma coisa boa dar o status de candidato, mas espero que o povo ucraniano não tenha muitas ilusões sobre isso”, declarou.

Quando as negociações e as reformas necessárias estiveram concluídas, a Ucrânia também vai precisar do aval de todos os países-membros da UE para se tornar parte. Trata-se de outro desafio para Zelenski, que pode enfrentar oposição de países como a Bulgária, que veta a entrada da Macedônia do Norte e a Albânia. O governo búlgaro pró-Ucrânia foi derrubado nesta quarta-feira, 22, por uma moção de censura votada pelo parlamento e pode enfrentar novas eleições -- o que abre a possibilidade de uma política aliada a Moscou.

Outros riscos são países da Europa Ocidental que continuam relutante sobre a entrada da Ucrânia. Apesar de Zelenski ter recebido apoio das maiores nações do bloco (Alemanha, França e Itália), existem dúvidas sobre até onde vai. A Ucrânia se tornaria o 5º país mais populoso do bloco e de longe o mais pobre, o que leva diplomatas ouvidos em anonimato pelo Washington Post a afirmarem que alguns países se preocupam sobre um desequilíbrio entre a Europa Ocidental e Oriental e uma maior dificuldade para tomar decisões.

Possíveis ganhos da Ucrânia como país-membro da UE

A entrada da Ucrânia na União Europeia faria o país estar junto do maior bloco econômico do mundo. Os ganhos mais visíveis são de benefícios econômicos, maior poder diplomático e maior capacidade de atrair investimentos, devido ao status de estabilidade da UE, funcionando como uma âncora para o país.

Os ganhos econômicos são significativos para um país que teve no ano passado o PIB per capita de US$ 4.872, menos da metade do atual membro mais pobre da UE, a Bulgária, que teve US$ 11.683, segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por isso, a comemoração da Ucrânia nesta quinta-feira, 23, é significativa em termos simbólicos da relação com a Rússia, mas também de perspectivas de desenvolvimento do país. “Grato a @CharlesMichel (Charles Michel), @vonderleyen (Ursula von der Leyen) e aos líderes da UE pelo apoio. O futuro da Ucrânia está dentro da UE”, agradeceu Zelenski no Twitter. /WP, NYT, REUTERS, AP

A União Europeia concedeu à Ucrânia nesta quarta-feira, 23, o status de candidata a país-membro do bloco após repetidos discursos do presidente ucraniano Volodmir Zelenski sobre o desejo de ser parte do grupo. A candidatura é o primeiro passo oficial para isso e representa, no contexto da guerra com a Rússia, uma vitória simbólica de Kiev e um sinal de como o conflito reposicionou o mundo geopolítico.

O processo até se tornar país-membro é demorado e pode levar décadas, mas para autoridades europeias e nacionais a candidatura é histórica. Além da Ucrânia, a Moldávia, outra ex-república soviética, também se tornou candidata e a Geórgia está prestes a ganhar o status, após cumprir determinadas condições. “Esse é um momento definidor e um dia muito bom para a Europa”, disse Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, em Bruxelas.

Com o status atual, a Ucrânia passa a ter de imediato uma retaguarda política que ajuda o país a se afastar da esfera de influência da Rússia. Zelenski comemorou a concessão como um “momento único” para as relações com a UE e disse que o futuro do país “está dentro” do bloco.

Presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen (à esquerda) e presidente da Ucrânia Volodmir Zelenski (à direita) durante coletiva de imprensa em Kiev no dia 11 deste mês. Encontro das duas autoridades praticamente garantiu status de candidata à Ucrânia Foto: Sergey Dolzhenko / EFE

Segundo o chefe da delegação ucraniana na União Europeia, Vsevolod Chentsov, se tornar candidata também passa o recado que a Ucrânia é uma nação soberana com poder de escolha. Ele, assim como outras autoridades europeias, avalia que o presidente russo Vladimir Putin enxerga o país como se ainda não fosse completamente independente.

Da parte de Bruxelas, o status de candidata põe à prova uma das ferramentas mais bem-sucedidas da política externa do mundo pós-Guerra Fria e envia outra mensagem a Moscou: a de uma recusa da visão de Putin sobre o que é Europa.

Derrota simbólica para a influência russa na Ucrânia pós-soviética

Desde a semana passada, o presidente Volodmir Zelenski repete na maioria de seus discursos que o povo ucraniano deseja entrar na União Europeia. Segundo ele, o ingresso ajudaria o país a derrotar a Rússia na guerra.

O discurso recupera um movimento pró-União Europeia que cresceu entre os ucranianos nas últimas décadas. Em 2014, foram protestos deste movimento que derrubaram o então presidente Viktor Ianukovich, defensor de uma política de aproximação com o Kremlin. O fato desencadeou uma divisão entre ucranianos pró-UE e pró-Russos que resultou na anexação russa da Crimeia e nos movimentos separatistas da região do Donbas, atual prioridade da Rússia no campo de batalha.

Vladimir Putin já sabia da possibilidade da candidatura da Ucrânia à UE e tem dito publicamente que se trata de uma decisão soberana do país de Zelenski. O tom das declarações é diferente do utilizado por Putin com relação à possibilidade da Ucrânia entrar na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), vista como uma ameaça ao poder da Rússia.

Imagem de 29 de janeiro de 2014 mostra protestos ucranianos contra o então presidente Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. Manifestações demonstraram força do movimento pró-União Europeia do país Foto: Thomas Peter / Reuters

Segundo Putin, a diferença é que a União Europeia se trata de um bloco econômico, e a Otan, um bloco militar. “Nós sempre fomos contra a expansão militar para dentro do território ucraniano porque ameaça a nossa segurança”, declarou o presidente russo em São Petersburgo recentemente. “Mas uma integração econômica, por favor, pelo amor de Deus, é a escolha deles”.

Entretanto, Putin está ciente que o caminho entre ser candidato e se tornar país-membro da UE é longo. Diplomatas em Bruxelas afirmam que o russo pode dificultar o processo para Zelenski com diversos obstáculos. Isso porque para se tornar país-membro a Ucrânia precisa cumprir diversas condições, uma tarefa que a realidade da guerra torna mais difícil.

O que a Ucrânia precisa fazer para se tornar país-membro

A Ucrânia precisa se adequar a diversas condições, que envolvem reformas e mudanças na legislação, durante o processo de se tornar país-membro. Segundo as autoridades europeias, o procedimento vai seguir todos os passos estabelecidos pelo bloco e vai ser focado no mérito, independente da existência da guerra.

A candidatura está ligada a revisões e mudanças no Estado de direito dos países no que diz respeito à Justiça e a anticorrupção. Elas incluem, para a Ucrânia, fortalecimento dos aparatos de luta contra corrupção e contra o poder de oligarcas, mudanças na legislação sobre a seleção de juízes para o tribunal superior e proteção de minorias sociais.

Imagem do dia 16 deste mês mostra fachada do Palácio Mariinski, residência oficial do presidente da Ucrânia, em Kiev. Com status de candidata à UE, governo vai precisar aplicar reformas para entrar no bloco Foto: Ludovic Marin/Reuters

As reformas são especialmente difíceis porque o país tem tido dificuldades na luta contra a corrupção e ainda precisa lidar com as consequências da guerra.

A principal autoridade da UE para os assuntos de ampliação, Oliver Varheli, afirmou que as negociações de adesão serão feitas somente mais adiante, depois das reformas. “Hoje não é sobre isso. Assim que as condições forem atendidas, teremos que voltar a isso e refletir”, disse.

A Comissão disse que avaliaria o progresso no final deste ano, o que dá a um país devastado pela guerra menos de sete meses para introduzir as mudanças, vistas como complexas e caras.

Riscos da Ucrânia durante o processo

Autoridades de países como a Albânia e a Macedônia do Norte deram declarações menos animadoras para a Ucrânia sobre o status de candidata. Os dois países, assim como Sérvia e Turquia, esperam há anos entrar no bloco, mas continuam apenas com a candidatura. O caso turco é o mais longínquo e se prolonga desde 1987.

Presente em Bruxelas nesta quinta-feira, o primeiro-ministro albanês Edi Rama expressou frustração com a lentidão do processo. “Bem-vindo à Ucrânia. É uma coisa boa dar o status de candidato, mas espero que o povo ucraniano não tenha muitas ilusões sobre isso”, declarou.

Quando as negociações e as reformas necessárias estiveram concluídas, a Ucrânia também vai precisar do aval de todos os países-membros da UE para se tornar parte. Trata-se de outro desafio para Zelenski, que pode enfrentar oposição de países como a Bulgária, que veta a entrada da Macedônia do Norte e a Albânia. O governo búlgaro pró-Ucrânia foi derrubado nesta quarta-feira, 22, por uma moção de censura votada pelo parlamento e pode enfrentar novas eleições -- o que abre a possibilidade de uma política aliada a Moscou.

Outros riscos são países da Europa Ocidental que continuam relutante sobre a entrada da Ucrânia. Apesar de Zelenski ter recebido apoio das maiores nações do bloco (Alemanha, França e Itália), existem dúvidas sobre até onde vai. A Ucrânia se tornaria o 5º país mais populoso do bloco e de longe o mais pobre, o que leva diplomatas ouvidos em anonimato pelo Washington Post a afirmarem que alguns países se preocupam sobre um desequilíbrio entre a Europa Ocidental e Oriental e uma maior dificuldade para tomar decisões.

Possíveis ganhos da Ucrânia como país-membro da UE

A entrada da Ucrânia na União Europeia faria o país estar junto do maior bloco econômico do mundo. Os ganhos mais visíveis são de benefícios econômicos, maior poder diplomático e maior capacidade de atrair investimentos, devido ao status de estabilidade da UE, funcionando como uma âncora para o país.

Os ganhos econômicos são significativos para um país que teve no ano passado o PIB per capita de US$ 4.872, menos da metade do atual membro mais pobre da UE, a Bulgária, que teve US$ 11.683, segundo as estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI).

Por isso, a comemoração da Ucrânia nesta quinta-feira, 23, é significativa em termos simbólicos da relação com a Rússia, mas também de perspectivas de desenvolvimento do país. “Grato a @CharlesMichel (Charles Michel), @vonderleyen (Ursula von der Leyen) e aos líderes da UE pelo apoio. O futuro da Ucrânia está dentro da UE”, agradeceu Zelenski no Twitter. /WP, NYT, REUTERS, AP

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