'Na Hungria, o Muro começou a cair'


Bella Arpad: Coronel da reserva do Exército da Hungria; responsável pela fronteira com a Áustria fala sobre o dia em que deixou os alemães orientais passarem para o Ocidente

Por Jamil Chade

 

Veja também: Tempo ruim e frio frustram fuga da RDA por ultraleve O piquenique que rasgou a cortina

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O que ocorreu no dia 19 de agosto de 1989?

 

Autoridades austríacas e húngaras permitiram a realização de um piquenique, uma espécie de protesto. Fui enviado para a região para comandar a abertura limitada da fronteira. Lembro-me que perguntei aos generais sobre o que eu deveria fazer se outras pessoas tentassem cruzá-la. A resposta foi clara: só passariam as pessoas autorizadas que estavam numa lista.

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E como foi a abertura da fronteira para os alemães orientais?

 

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Deixei os alemães orientais passarem. Fui surpreendido por um grupo de jovens a pé. Tive 40 segundos para decidir. Se fizesse algo, seria um caos. Decidi abrir a fronteira. Depois, vieram outros grupos. O segundo grupo era de pessoas mais velhas. O terceiro, de famílias. Cerca de 600 alemães atravessaram a fronteira naquele dia.

 

Moscou não sabia de nada?

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Claro que não. Pensei que fossem me condenar. Alguns minutos depois, tentei falar com o comando do Exército, em Budapeste, mas eram férias de verão. O chefe das Forças Armadas estava na União Soviética. Seu substituto atendeu 30 minutos depois e me disse: "Você será julgado por um tribunal militar." Depois, o governo húngaro falou com Mikhail Gorbachev sobre a minha situação e nada ocorreu. Tudo pareceu um teste para ver como reagiria o Kremlin. Eu era a cobaia e não sabia. Pensei que fosse morrer.

 

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Como foram aqueles minutos de abertura dos portões?

 

Tensos. Eu sabia que não podia fazer aquilo. No entanto, sabia que, se fizesse qualquer outra coisa, muita gente morreria. Víamos medo nas pessoas. Elas não sabiam se atiraríamos. Eu tinha duas opções. Deixá-los passar ou começar uma batalha sangrenta. Optei pela primeira. Estávamos cansados de tanta guerra.

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Foi o primeiro sinal de vulnerabilidade da Cortina de Ferro?

 

Não (risos) . É que os outros o mundo não ficou sabendo. Nos dois anos anteriores, a Hungria anunciou a captura de cerca de 8 mil pessoas tentando fugir. O que nunca dissemos é que 6 mil conseguiram escapar entre 1988 e 1999. O sistema já era vulnerável.

 

Como o sr. avalia hoje aquele momento?

 

Foi na Hungria que o Muro de Berlim começou a cair. Mas, 20 anos depois, estamos em apuros. A democracia e a liberdade foram nossas maiores conquistas, mas a adesão à União Europeia não precisava ter sido tão rápida. Hoje, temos desemprego e pobreza e estamos no pior momento desde 1989.

 

 

Mas hoje as pessoas podem cruzar a fronteira que o sr. abriu...

 

Não é bem assim. As barreiras apenas mudaram de lugar. Hoje guardamos a fronteira da UE contra a entrada de ucranianos, sérvios, kosovares e tantos outros.

 

 

Veja também: Tempo ruim e frio frustram fuga da RDA por ultraleve O piquenique que rasgou a cortina

O que ocorreu no dia 19 de agosto de 1989?

 

Autoridades austríacas e húngaras permitiram a realização de um piquenique, uma espécie de protesto. Fui enviado para a região para comandar a abertura limitada da fronteira. Lembro-me que perguntei aos generais sobre o que eu deveria fazer se outras pessoas tentassem cruzá-la. A resposta foi clara: só passariam as pessoas autorizadas que estavam numa lista.

 

E como foi a abertura da fronteira para os alemães orientais?

 

Deixei os alemães orientais passarem. Fui surpreendido por um grupo de jovens a pé. Tive 40 segundos para decidir. Se fizesse algo, seria um caos. Decidi abrir a fronteira. Depois, vieram outros grupos. O segundo grupo era de pessoas mais velhas. O terceiro, de famílias. Cerca de 600 alemães atravessaram a fronteira naquele dia.

 

Moscou não sabia de nada?

 

Claro que não. Pensei que fossem me condenar. Alguns minutos depois, tentei falar com o comando do Exército, em Budapeste, mas eram férias de verão. O chefe das Forças Armadas estava na União Soviética. Seu substituto atendeu 30 minutos depois e me disse: "Você será julgado por um tribunal militar." Depois, o governo húngaro falou com Mikhail Gorbachev sobre a minha situação e nada ocorreu. Tudo pareceu um teste para ver como reagiria o Kremlin. Eu era a cobaia e não sabia. Pensei que fosse morrer.

 

Como foram aqueles minutos de abertura dos portões?

 

Tensos. Eu sabia que não podia fazer aquilo. No entanto, sabia que, se fizesse qualquer outra coisa, muita gente morreria. Víamos medo nas pessoas. Elas não sabiam se atiraríamos. Eu tinha duas opções. Deixá-los passar ou começar uma batalha sangrenta. Optei pela primeira. Estávamos cansados de tanta guerra.

 

Foi o primeiro sinal de vulnerabilidade da Cortina de Ferro?

 

Não (risos) . É que os outros o mundo não ficou sabendo. Nos dois anos anteriores, a Hungria anunciou a captura de cerca de 8 mil pessoas tentando fugir. O que nunca dissemos é que 6 mil conseguiram escapar entre 1988 e 1999. O sistema já era vulnerável.

 

Como o sr. avalia hoje aquele momento?

 

Foi na Hungria que o Muro de Berlim começou a cair. Mas, 20 anos depois, estamos em apuros. A democracia e a liberdade foram nossas maiores conquistas, mas a adesão à União Europeia não precisava ter sido tão rápida. Hoje, temos desemprego e pobreza e estamos no pior momento desde 1989.

 

 

Mas hoje as pessoas podem cruzar a fronteira que o sr. abriu...

 

Não é bem assim. As barreiras apenas mudaram de lugar. Hoje guardamos a fronteira da UE contra a entrada de ucranianos, sérvios, kosovares e tantos outros.

 

 

Veja também: Tempo ruim e frio frustram fuga da RDA por ultraleve O piquenique que rasgou a cortina

O que ocorreu no dia 19 de agosto de 1989?

 

Autoridades austríacas e húngaras permitiram a realização de um piquenique, uma espécie de protesto. Fui enviado para a região para comandar a abertura limitada da fronteira. Lembro-me que perguntei aos generais sobre o que eu deveria fazer se outras pessoas tentassem cruzá-la. A resposta foi clara: só passariam as pessoas autorizadas que estavam numa lista.

 

E como foi a abertura da fronteira para os alemães orientais?

 

Deixei os alemães orientais passarem. Fui surpreendido por um grupo de jovens a pé. Tive 40 segundos para decidir. Se fizesse algo, seria um caos. Decidi abrir a fronteira. Depois, vieram outros grupos. O segundo grupo era de pessoas mais velhas. O terceiro, de famílias. Cerca de 600 alemães atravessaram a fronteira naquele dia.

 

Moscou não sabia de nada?

 

Claro que não. Pensei que fossem me condenar. Alguns minutos depois, tentei falar com o comando do Exército, em Budapeste, mas eram férias de verão. O chefe das Forças Armadas estava na União Soviética. Seu substituto atendeu 30 minutos depois e me disse: "Você será julgado por um tribunal militar." Depois, o governo húngaro falou com Mikhail Gorbachev sobre a minha situação e nada ocorreu. Tudo pareceu um teste para ver como reagiria o Kremlin. Eu era a cobaia e não sabia. Pensei que fosse morrer.

 

Como foram aqueles minutos de abertura dos portões?

 

Tensos. Eu sabia que não podia fazer aquilo. No entanto, sabia que, se fizesse qualquer outra coisa, muita gente morreria. Víamos medo nas pessoas. Elas não sabiam se atiraríamos. Eu tinha duas opções. Deixá-los passar ou começar uma batalha sangrenta. Optei pela primeira. Estávamos cansados de tanta guerra.

 

Foi o primeiro sinal de vulnerabilidade da Cortina de Ferro?

 

Não (risos) . É que os outros o mundo não ficou sabendo. Nos dois anos anteriores, a Hungria anunciou a captura de cerca de 8 mil pessoas tentando fugir. O que nunca dissemos é que 6 mil conseguiram escapar entre 1988 e 1999. O sistema já era vulnerável.

 

Como o sr. avalia hoje aquele momento?

 

Foi na Hungria que o Muro de Berlim começou a cair. Mas, 20 anos depois, estamos em apuros. A democracia e a liberdade foram nossas maiores conquistas, mas a adesão à União Europeia não precisava ter sido tão rápida. Hoje, temos desemprego e pobreza e estamos no pior momento desde 1989.

 

 

Mas hoje as pessoas podem cruzar a fronteira que o sr. abriu...

 

Não é bem assim. As barreiras apenas mudaram de lugar. Hoje guardamos a fronteira da UE contra a entrada de ucranianos, sérvios, kosovares e tantos outros.

 

 

Veja também: Tempo ruim e frio frustram fuga da RDA por ultraleve O piquenique que rasgou a cortina

O que ocorreu no dia 19 de agosto de 1989?

 

Autoridades austríacas e húngaras permitiram a realização de um piquenique, uma espécie de protesto. Fui enviado para a região para comandar a abertura limitada da fronteira. Lembro-me que perguntei aos generais sobre o que eu deveria fazer se outras pessoas tentassem cruzá-la. A resposta foi clara: só passariam as pessoas autorizadas que estavam numa lista.

 

E como foi a abertura da fronteira para os alemães orientais?

 

Deixei os alemães orientais passarem. Fui surpreendido por um grupo de jovens a pé. Tive 40 segundos para decidir. Se fizesse algo, seria um caos. Decidi abrir a fronteira. Depois, vieram outros grupos. O segundo grupo era de pessoas mais velhas. O terceiro, de famílias. Cerca de 600 alemães atravessaram a fronteira naquele dia.

 

Moscou não sabia de nada?

 

Claro que não. Pensei que fossem me condenar. Alguns minutos depois, tentei falar com o comando do Exército, em Budapeste, mas eram férias de verão. O chefe das Forças Armadas estava na União Soviética. Seu substituto atendeu 30 minutos depois e me disse: "Você será julgado por um tribunal militar." Depois, o governo húngaro falou com Mikhail Gorbachev sobre a minha situação e nada ocorreu. Tudo pareceu um teste para ver como reagiria o Kremlin. Eu era a cobaia e não sabia. Pensei que fosse morrer.

 

Como foram aqueles minutos de abertura dos portões?

 

Tensos. Eu sabia que não podia fazer aquilo. No entanto, sabia que, se fizesse qualquer outra coisa, muita gente morreria. Víamos medo nas pessoas. Elas não sabiam se atiraríamos. Eu tinha duas opções. Deixá-los passar ou começar uma batalha sangrenta. Optei pela primeira. Estávamos cansados de tanta guerra.

 

Foi o primeiro sinal de vulnerabilidade da Cortina de Ferro?

 

Não (risos) . É que os outros o mundo não ficou sabendo. Nos dois anos anteriores, a Hungria anunciou a captura de cerca de 8 mil pessoas tentando fugir. O que nunca dissemos é que 6 mil conseguiram escapar entre 1988 e 1999. O sistema já era vulnerável.

 

Como o sr. avalia hoje aquele momento?

 

Foi na Hungria que o Muro de Berlim começou a cair. Mas, 20 anos depois, estamos em apuros. A democracia e a liberdade foram nossas maiores conquistas, mas a adesão à União Europeia não precisava ter sido tão rápida. Hoje, temos desemprego e pobreza e estamos no pior momento desde 1989.

 

 

Mas hoje as pessoas podem cruzar a fronteira que o sr. abriu...

 

Não é bem assim. As barreiras apenas mudaram de lugar. Hoje guardamos a fronteira da UE contra a entrada de ucranianos, sérvios, kosovares e tantos outros.

 

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