Embora tenha alcançado a maior votação de sua história, com 7,6 milhões de votos, e tenha chegado ao segundo turno pela segunda vez em 15 anos, a Frente Nacional, maior partido de extrema direita da França, vive uma encruzilhada em 2017. A campanha de Marine Le Pen chegou a ter 28% das intenções de voto, acabou minguando para 21,3% e quase ficou fora do segundo turno.
O desempenho era o ponto central da imprensa internacional presente em Paris, que acompanhou com atenção o escore da extrema direita em razão do impacto que uma vitória do clã Le Pen na Franca poderia ter na União Europeia. Mas, apesar de ter sido recorde, o resultado foi aquém do esperado.
Foi a melhor votação histórica da FN. A ascensão do partido vem sendo lenta, mas contínua, partindo de 4,4 milhões de votos, em 1988, a 5,5 milhões, em 2002 – quando Jean-Marie Le Pen chegou ao segundo turno contra Jacques Chirac. Sua primeira queda foi em 2007, com 3,8 milhões de votos na última eleição do pai. Então, Marine assumiu o comando do partido.
O resultado é um discurso mais extremo, que recusa o rótulo de “extrema direita”, apresentando-se como “nacionalista”, e esconde os pontos mais delicados de sua imagem. Em 2017, a candidata se apresenta apenas como “Marine”, sem usar o nome Le Pen. Já o nome do partido, Frente Nacional, não aparece em cartazes ou propaganda. Em seu lugar, aparece um slogan: “Em nome do povo”.
A estratégia, iniciada em 2012, surtiu efeito nas duas últimas eleições, nas quais o partido voltou a crescer. Mas as boas notícias param aí. No domingo à noite, vários dirigentes da FN mostraram-se decepcionados com o resultado final – um segundo lugar que jogou por terra o discurso já pronto de “maior partido da França”. A nacionalista já definiu um novo eixo para sua campanha: a luta contra a “globalização selvagem” e a classe política reunida em torno de Macron.
“Há incontestavelmente uma FN forte, mas também uma dinâmica favorável a Macron”, diz Brice Tenturier, diretor de pesquisas do instituto Ifop. “É preciso que ele não se veja fechado em uma oposição entre a França de baixo (da pirâmide social) contra a França do alto. E Le Pen já começou a frisar o ponto.”
Para Pascal Perrineau, cientista político do Instituto de Estudos Políticos, de Paris, os resultados de Macron e de Le Pen significam o fim de uma época na política da França. “Nas eleições anteriores, sempre houve um grande confronto bipolar, ou uma grande força de esquerda e outra de direita. Isso acabou”, explica. “Estamos caminhando para uma divisão de novo tipo, entre uma sociedade aberta, proposta por Macron, e uma sociedade nacional, de Le Pen.”