Ascensão nas sombras


O rei tinha confiança no primo, mas sabemos que Bin Salman é um jovem ativo e autoritário

Por Gilles Lapouge, Correspondente e Paris

Entender o que ocorre nos bastidores do jogo político de um Estado democrático não é simples, mas é brincadeira em comparação com as intrigas comuns em uma monarquia, especialmente se ela for da Península Arábica e os Estados do Golfo. 

Tudo parecia calmo. Os jornalistas dormiam tranquilos. Mas na obscuridade dos palácios, murmúrios, gritos sufocados, alianças rompidas e, de repente, pela manhã, eles são informados de que o chefe não é mais chefe.

Príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é considerado um reformista Foto: Reuters
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É o que acaba de ocorrer na Arábia Saudita. Até ontem o poderoso país era governado pelo rei Salman, e seu vice era o príncipe herdeiro Mohammed Bin Nayef, de 57 anos, também ministro do Interior. Bom, isso ficou na história. O rei Salman continua rei, mas mudou de príncipe herdeiro. Nomeou para a função o príncipe Mohammed bin Salman, seu filho, que tem apenas 31 anos. E o príncipe destronado, o pobre Mohammed Bin Nayef, foi destituído de todas as funções. 

O novo príncipe herdeiro já é uma figura conhecida, chamado MBS, de Mohammed Bin Salman. O rei tinha total confiança no primo. Mas sabemos bem que MBS é uma figura muito ativa, que desdenha todas as cortesias que costumam seduzir. Há alguns anos, por exemplo, seu celular tocou durante uma reunião. Do outro lado da linha estava o rei Juan Carlos, da Espanha. MBS, irritado, respondeu: “Ligue mais tarde”. O novo príncipe herdeiro já vem interferindo na política externa de Riad. E nem sempre de modo afortunado. Foi ele quem teve a ideia, em 2015, de iniciar a guerra no Iêmen para acabar com os rebeldes houthis que cometiam o erro letal de ser ligados ao Irã. Resultado: fracasso total, bombardeios atrozes e em vão. Dez mil mortos, um milhão de pessoas deslocadas e os rebeldes ainda controlam Sanaa, a capital do país. Mas o príncipe Mohammed Bin Salman continuou ativo. Jovem, agitado, sedutor ou autoritário, ele introduziu um pouco de animação na política da rica Arábia Saudita que, deitada sobre seus poços de petróleo e sua teologia wahabita, adormecia a ponto de só produzir imobilidade. Mas esta inércia contrastava com a intensa atividade das monarquias do Golfo. Minúsculas e empanturradas de petróleo e gás, sua diplomacia é brilhante, e mesmo arriscada. Especialmente o pequeno Catar, que desafiou Washington e Riad, mantendo vínculos com o Irã xiita, crime terrível aos olhos da Arábia Saudita, a ponto de se tornar alvo de um bloqueio decretado por Riad e outros Estados do Golfo. Numa linha contrária está Abu Dabi, outra petromonarquia que mantém uma atividade diplomática intensa sob o comando de seu príncipe herdeiro Mohammed Bin Zayed Al-Nahyan, de 56 anos, muito próximo do novo príncipe herdeiro saudita. Os dois indivíduos provavelmente vão dominar a política do Oriente Médio nos próximos anos. Eles ambicionam juntos impor uma nova ordem regional, com base no ódio que têm do Irã e na sua rejeição do Islã político, representado pela Irmandade Muçulmana. Além, é claro, do desejo comum de enquadrar o Catar, que se faz de besta agradando os xiitas do Irã. Neste jogo opaco, quase invisível, qual é o papel de Donald Trump? De início ele apoiou resolutamente os dois “homens fortes” do Oriente Médio. Seu discurso em Riad em 6 de junho indicava isso. Alguns dias depois, manifestou grande satisfação quando Riad e seus amigos decretaram bloqueio ao Catar. Mas o governo americano é também tão obscuro quanto as Mil e Uma Noites. Em 6 de junho, Trump acusou o Catar de financiar o terrorismo. Em 14 de junho, o Pentágono anunciou um contrato de armamentos com Doha. Em 20 de junho, o Departamento de Estado se declarou “estupefato” com o fato de os países árabes que romperam relações com o Catar não terem fornecido nenhuma prova das acusações anteriores. / TRADUÇÃO DE TERESINHA MARTINO 

Entender o que ocorre nos bastidores do jogo político de um Estado democrático não é simples, mas é brincadeira em comparação com as intrigas comuns em uma monarquia, especialmente se ela for da Península Arábica e os Estados do Golfo. 

Tudo parecia calmo. Os jornalistas dormiam tranquilos. Mas na obscuridade dos palácios, murmúrios, gritos sufocados, alianças rompidas e, de repente, pela manhã, eles são informados de que o chefe não é mais chefe.

Príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é considerado um reformista Foto: Reuters

É o que acaba de ocorrer na Arábia Saudita. Até ontem o poderoso país era governado pelo rei Salman, e seu vice era o príncipe herdeiro Mohammed Bin Nayef, de 57 anos, também ministro do Interior. Bom, isso ficou na história. O rei Salman continua rei, mas mudou de príncipe herdeiro. Nomeou para a função o príncipe Mohammed bin Salman, seu filho, que tem apenas 31 anos. E o príncipe destronado, o pobre Mohammed Bin Nayef, foi destituído de todas as funções. 

O novo príncipe herdeiro já é uma figura conhecida, chamado MBS, de Mohammed Bin Salman. O rei tinha total confiança no primo. Mas sabemos bem que MBS é uma figura muito ativa, que desdenha todas as cortesias que costumam seduzir. Há alguns anos, por exemplo, seu celular tocou durante uma reunião. Do outro lado da linha estava o rei Juan Carlos, da Espanha. MBS, irritado, respondeu: “Ligue mais tarde”. O novo príncipe herdeiro já vem interferindo na política externa de Riad. E nem sempre de modo afortunado. Foi ele quem teve a ideia, em 2015, de iniciar a guerra no Iêmen para acabar com os rebeldes houthis que cometiam o erro letal de ser ligados ao Irã. Resultado: fracasso total, bombardeios atrozes e em vão. Dez mil mortos, um milhão de pessoas deslocadas e os rebeldes ainda controlam Sanaa, a capital do país. Mas o príncipe Mohammed Bin Salman continuou ativo. Jovem, agitado, sedutor ou autoritário, ele introduziu um pouco de animação na política da rica Arábia Saudita que, deitada sobre seus poços de petróleo e sua teologia wahabita, adormecia a ponto de só produzir imobilidade. Mas esta inércia contrastava com a intensa atividade das monarquias do Golfo. Minúsculas e empanturradas de petróleo e gás, sua diplomacia é brilhante, e mesmo arriscada. Especialmente o pequeno Catar, que desafiou Washington e Riad, mantendo vínculos com o Irã xiita, crime terrível aos olhos da Arábia Saudita, a ponto de se tornar alvo de um bloqueio decretado por Riad e outros Estados do Golfo. Numa linha contrária está Abu Dabi, outra petromonarquia que mantém uma atividade diplomática intensa sob o comando de seu príncipe herdeiro Mohammed Bin Zayed Al-Nahyan, de 56 anos, muito próximo do novo príncipe herdeiro saudita. Os dois indivíduos provavelmente vão dominar a política do Oriente Médio nos próximos anos. Eles ambicionam juntos impor uma nova ordem regional, com base no ódio que têm do Irã e na sua rejeição do Islã político, representado pela Irmandade Muçulmana. Além, é claro, do desejo comum de enquadrar o Catar, que se faz de besta agradando os xiitas do Irã. Neste jogo opaco, quase invisível, qual é o papel de Donald Trump? De início ele apoiou resolutamente os dois “homens fortes” do Oriente Médio. Seu discurso em Riad em 6 de junho indicava isso. Alguns dias depois, manifestou grande satisfação quando Riad e seus amigos decretaram bloqueio ao Catar. Mas o governo americano é também tão obscuro quanto as Mil e Uma Noites. Em 6 de junho, Trump acusou o Catar de financiar o terrorismo. Em 14 de junho, o Pentágono anunciou um contrato de armamentos com Doha. Em 20 de junho, o Departamento de Estado se declarou “estupefato” com o fato de os países árabes que romperam relações com o Catar não terem fornecido nenhuma prova das acusações anteriores. / TRADUÇÃO DE TERESINHA MARTINO 

Entender o que ocorre nos bastidores do jogo político de um Estado democrático não é simples, mas é brincadeira em comparação com as intrigas comuns em uma monarquia, especialmente se ela for da Península Arábica e os Estados do Golfo. 

Tudo parecia calmo. Os jornalistas dormiam tranquilos. Mas na obscuridade dos palácios, murmúrios, gritos sufocados, alianças rompidas e, de repente, pela manhã, eles são informados de que o chefe não é mais chefe.

Príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é considerado um reformista Foto: Reuters

É o que acaba de ocorrer na Arábia Saudita. Até ontem o poderoso país era governado pelo rei Salman, e seu vice era o príncipe herdeiro Mohammed Bin Nayef, de 57 anos, também ministro do Interior. Bom, isso ficou na história. O rei Salman continua rei, mas mudou de príncipe herdeiro. Nomeou para a função o príncipe Mohammed bin Salman, seu filho, que tem apenas 31 anos. E o príncipe destronado, o pobre Mohammed Bin Nayef, foi destituído de todas as funções. 

O novo príncipe herdeiro já é uma figura conhecida, chamado MBS, de Mohammed Bin Salman. O rei tinha total confiança no primo. Mas sabemos bem que MBS é uma figura muito ativa, que desdenha todas as cortesias que costumam seduzir. Há alguns anos, por exemplo, seu celular tocou durante uma reunião. Do outro lado da linha estava o rei Juan Carlos, da Espanha. MBS, irritado, respondeu: “Ligue mais tarde”. O novo príncipe herdeiro já vem interferindo na política externa de Riad. E nem sempre de modo afortunado. Foi ele quem teve a ideia, em 2015, de iniciar a guerra no Iêmen para acabar com os rebeldes houthis que cometiam o erro letal de ser ligados ao Irã. Resultado: fracasso total, bombardeios atrozes e em vão. Dez mil mortos, um milhão de pessoas deslocadas e os rebeldes ainda controlam Sanaa, a capital do país. Mas o príncipe Mohammed Bin Salman continuou ativo. Jovem, agitado, sedutor ou autoritário, ele introduziu um pouco de animação na política da rica Arábia Saudita que, deitada sobre seus poços de petróleo e sua teologia wahabita, adormecia a ponto de só produzir imobilidade. Mas esta inércia contrastava com a intensa atividade das monarquias do Golfo. Minúsculas e empanturradas de petróleo e gás, sua diplomacia é brilhante, e mesmo arriscada. Especialmente o pequeno Catar, que desafiou Washington e Riad, mantendo vínculos com o Irã xiita, crime terrível aos olhos da Arábia Saudita, a ponto de se tornar alvo de um bloqueio decretado por Riad e outros Estados do Golfo. Numa linha contrária está Abu Dabi, outra petromonarquia que mantém uma atividade diplomática intensa sob o comando de seu príncipe herdeiro Mohammed Bin Zayed Al-Nahyan, de 56 anos, muito próximo do novo príncipe herdeiro saudita. Os dois indivíduos provavelmente vão dominar a política do Oriente Médio nos próximos anos. Eles ambicionam juntos impor uma nova ordem regional, com base no ódio que têm do Irã e na sua rejeição do Islã político, representado pela Irmandade Muçulmana. Além, é claro, do desejo comum de enquadrar o Catar, que se faz de besta agradando os xiitas do Irã. Neste jogo opaco, quase invisível, qual é o papel de Donald Trump? De início ele apoiou resolutamente os dois “homens fortes” do Oriente Médio. Seu discurso em Riad em 6 de junho indicava isso. Alguns dias depois, manifestou grande satisfação quando Riad e seus amigos decretaram bloqueio ao Catar. Mas o governo americano é também tão obscuro quanto as Mil e Uma Noites. Em 6 de junho, Trump acusou o Catar de financiar o terrorismo. Em 14 de junho, o Pentágono anunciou um contrato de armamentos com Doha. Em 20 de junho, o Departamento de Estado se declarou “estupefato” com o fato de os países árabes que romperam relações com o Catar não terem fornecido nenhuma prova das acusações anteriores. / TRADUÇÃO DE TERESINHA MARTINO 

Entender o que ocorre nos bastidores do jogo político de um Estado democrático não é simples, mas é brincadeira em comparação com as intrigas comuns em uma monarquia, especialmente se ela for da Península Arábica e os Estados do Golfo. 

Tudo parecia calmo. Os jornalistas dormiam tranquilos. Mas na obscuridade dos palácios, murmúrios, gritos sufocados, alianças rompidas e, de repente, pela manhã, eles são informados de que o chefe não é mais chefe.

Príncipe herdeiro Mohamed bin Salman é considerado um reformista Foto: Reuters

É o que acaba de ocorrer na Arábia Saudita. Até ontem o poderoso país era governado pelo rei Salman, e seu vice era o príncipe herdeiro Mohammed Bin Nayef, de 57 anos, também ministro do Interior. Bom, isso ficou na história. O rei Salman continua rei, mas mudou de príncipe herdeiro. Nomeou para a função o príncipe Mohammed bin Salman, seu filho, que tem apenas 31 anos. E o príncipe destronado, o pobre Mohammed Bin Nayef, foi destituído de todas as funções. 

O novo príncipe herdeiro já é uma figura conhecida, chamado MBS, de Mohammed Bin Salman. O rei tinha total confiança no primo. Mas sabemos bem que MBS é uma figura muito ativa, que desdenha todas as cortesias que costumam seduzir. Há alguns anos, por exemplo, seu celular tocou durante uma reunião. Do outro lado da linha estava o rei Juan Carlos, da Espanha. MBS, irritado, respondeu: “Ligue mais tarde”. O novo príncipe herdeiro já vem interferindo na política externa de Riad. E nem sempre de modo afortunado. Foi ele quem teve a ideia, em 2015, de iniciar a guerra no Iêmen para acabar com os rebeldes houthis que cometiam o erro letal de ser ligados ao Irã. Resultado: fracasso total, bombardeios atrozes e em vão. Dez mil mortos, um milhão de pessoas deslocadas e os rebeldes ainda controlam Sanaa, a capital do país. Mas o príncipe Mohammed Bin Salman continuou ativo. Jovem, agitado, sedutor ou autoritário, ele introduziu um pouco de animação na política da rica Arábia Saudita que, deitada sobre seus poços de petróleo e sua teologia wahabita, adormecia a ponto de só produzir imobilidade. Mas esta inércia contrastava com a intensa atividade das monarquias do Golfo. Minúsculas e empanturradas de petróleo e gás, sua diplomacia é brilhante, e mesmo arriscada. Especialmente o pequeno Catar, que desafiou Washington e Riad, mantendo vínculos com o Irã xiita, crime terrível aos olhos da Arábia Saudita, a ponto de se tornar alvo de um bloqueio decretado por Riad e outros Estados do Golfo. Numa linha contrária está Abu Dabi, outra petromonarquia que mantém uma atividade diplomática intensa sob o comando de seu príncipe herdeiro Mohammed Bin Zayed Al-Nahyan, de 56 anos, muito próximo do novo príncipe herdeiro saudita. Os dois indivíduos provavelmente vão dominar a política do Oriente Médio nos próximos anos. Eles ambicionam juntos impor uma nova ordem regional, com base no ódio que têm do Irã e na sua rejeição do Islã político, representado pela Irmandade Muçulmana. Além, é claro, do desejo comum de enquadrar o Catar, que se faz de besta agradando os xiitas do Irã. Neste jogo opaco, quase invisível, qual é o papel de Donald Trump? De início ele apoiou resolutamente os dois “homens fortes” do Oriente Médio. Seu discurso em Riad em 6 de junho indicava isso. Alguns dias depois, manifestou grande satisfação quando Riad e seus amigos decretaram bloqueio ao Catar. Mas o governo americano é também tão obscuro quanto as Mil e Uma Noites. Em 6 de junho, Trump acusou o Catar de financiar o terrorismo. Em 14 de junho, o Pentágono anunciou um contrato de armamentos com Doha. Em 20 de junho, o Departamento de Estado se declarou “estupefato” com o fato de os países árabes que romperam relações com o Catar não terem fornecido nenhuma prova das acusações anteriores. / TRADUÇÃO DE TERESINHA MARTINO 

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