Esquerda na berlinda


Apesar do êxito de Jeremy Corbyn, a esquerda lambe suas feridas em outros países

Por Gilles Lapouge

A esquerda europeia não vai bem das pernas. Ela acaba de fazer um brilhante e inesperado retorno graças ao trabalhista britânico Jeremy Corbyn, mas essa exceção é explicada pelo mar tempestuoso que o Reino Unido do Brexit atravessa e pelo governo errático da primeira-ministra, Theresa May. Na Europa Ocidental continental, porém, aquela de Alemanha, França e Itália, a esquerda lambe as feridas.

Na França, o Partido Socialista foi nocauteado. Caiu morto, ou quase, reduzido a pele e osso. Há cinco anos, estava em plena glória e o presidente François Hollande era “o bom”. Hoje, o PS não passa de um joão-ninguém. Provavelmente, vai renascer algum dia, pois os países precisam de uma esquerda. Mas quando? Em um mês? Um ano? Dez anos?

François Hollande fez um balanço de seu mandato ao passar o cargo para Emmanuel Macron. Foto: AFP PHOTO/Xavier Leoty
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O SPD alemão está se saindo melhor. Continua sendo o segundo partido da Alemanha e, se é provável que Angela Merkel, da direita, vá renovar seu longo reinado em setembro, o SPD continuará governando, apesar de tudo. Nos últimos anos, optou por entrar no governo Merkel como força de apoio. Nesse desempenho, contudo, teve de ratificar medidas pouco esquerdistas – a ponto de, no fim, seus militantes o acusarem de comprar sua sobrevida vendendo a alma.

Já na Itália, a coisa é mais complicada. Os contornos de seus partidos são fluidos e suas doutrinas, colagens. Eles bebem ora na direita, ora na esquerda, como o Movimento 5 Estrelas, do palhaço Beppe Grillo, que entrou com estardalhaço no jogo alguns anos atrás. O 5 Estrelas chegou a conquistar as prefeituras de Roma e Turim, mas seu desempenho medíocre nessas cidades acabou prejudicando Beppe Grillo.

As eleições locais de domingo na Itália opuseram a esquerda – o Partido Democrata – à direita. E a direita ganhou. Tomou dos democratas alguns de seus bastiões eleitorais históricos, como a grande cidade de Gênova. Ali, um candidato que se proclamava firmemente de direita, Marco Bucci, ganhou de lavada.

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Não muito longe, La Spezia, outra cidadela da esquerda, passou também para a direita. A lista continua, com Sesto San Giovanni, na Lombardia, e Pistoia, na Toscana. Mesmo a vila mártir de L’Aquila, arrasada por um terremoto há oito anos, elegeu Pierluigi Biondi, do partido Irmãos da Itália, organização neofascista.

Na maioria dos casos, o candidato de direita se apresentou como tal. A tática evocou fortemente aquela que permitiu a Silvio Berlusconi obter seu primeiro sucesso eleitoral e entrar de supetão na política, em 1994.

A Itália viveu domingo à noite um espetáculo irreal. Nas telas de televisão, sucederam-se rostos encanecidos, mas restaurados pela maquilagem, que se acreditava desaparecidos e pareciam sair de uma fenda do tempo no fundo da qual esperavam sua hora. Eles explicaram que a Itália precisava recuperar o juízo e fazer alianças semelhantes às que garantiram ao país os belos anos 2000.

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E Berlusconi? Um velho, derrubado. Mas não é o que ele acha. “Como se pode ver, estou de volta”, declarou, modestamente. Nos últimos meses, Berlusconi vem defendendo a ideia de um pacto de governo que reuniria “centro-esquerda e centro-direita”. Ontem, ele reiterou que apresentará nos próximos dias um projeto de governo.

A Liga Norte, de direita xenófoba, também se agita. Seu alvo é o Movimento 5 Estrelas, que, apesar de algumas ideias embaraçosas de esquerda, teve o lampejo de, como a Liga Norte, apresentar-se como “antissistema”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

A esquerda europeia não vai bem das pernas. Ela acaba de fazer um brilhante e inesperado retorno graças ao trabalhista britânico Jeremy Corbyn, mas essa exceção é explicada pelo mar tempestuoso que o Reino Unido do Brexit atravessa e pelo governo errático da primeira-ministra, Theresa May. Na Europa Ocidental continental, porém, aquela de Alemanha, França e Itália, a esquerda lambe as feridas.

Na França, o Partido Socialista foi nocauteado. Caiu morto, ou quase, reduzido a pele e osso. Há cinco anos, estava em plena glória e o presidente François Hollande era “o bom”. Hoje, o PS não passa de um joão-ninguém. Provavelmente, vai renascer algum dia, pois os países precisam de uma esquerda. Mas quando? Em um mês? Um ano? Dez anos?

François Hollande fez um balanço de seu mandato ao passar o cargo para Emmanuel Macron. Foto: AFP PHOTO/Xavier Leoty

O SPD alemão está se saindo melhor. Continua sendo o segundo partido da Alemanha e, se é provável que Angela Merkel, da direita, vá renovar seu longo reinado em setembro, o SPD continuará governando, apesar de tudo. Nos últimos anos, optou por entrar no governo Merkel como força de apoio. Nesse desempenho, contudo, teve de ratificar medidas pouco esquerdistas – a ponto de, no fim, seus militantes o acusarem de comprar sua sobrevida vendendo a alma.

Já na Itália, a coisa é mais complicada. Os contornos de seus partidos são fluidos e suas doutrinas, colagens. Eles bebem ora na direita, ora na esquerda, como o Movimento 5 Estrelas, do palhaço Beppe Grillo, que entrou com estardalhaço no jogo alguns anos atrás. O 5 Estrelas chegou a conquistar as prefeituras de Roma e Turim, mas seu desempenho medíocre nessas cidades acabou prejudicando Beppe Grillo.

As eleições locais de domingo na Itália opuseram a esquerda – o Partido Democrata – à direita. E a direita ganhou. Tomou dos democratas alguns de seus bastiões eleitorais históricos, como a grande cidade de Gênova. Ali, um candidato que se proclamava firmemente de direita, Marco Bucci, ganhou de lavada.

Não muito longe, La Spezia, outra cidadela da esquerda, passou também para a direita. A lista continua, com Sesto San Giovanni, na Lombardia, e Pistoia, na Toscana. Mesmo a vila mártir de L’Aquila, arrasada por um terremoto há oito anos, elegeu Pierluigi Biondi, do partido Irmãos da Itália, organização neofascista.

Na maioria dos casos, o candidato de direita se apresentou como tal. A tática evocou fortemente aquela que permitiu a Silvio Berlusconi obter seu primeiro sucesso eleitoral e entrar de supetão na política, em 1994.

A Itália viveu domingo à noite um espetáculo irreal. Nas telas de televisão, sucederam-se rostos encanecidos, mas restaurados pela maquilagem, que se acreditava desaparecidos e pareciam sair de uma fenda do tempo no fundo da qual esperavam sua hora. Eles explicaram que a Itália precisava recuperar o juízo e fazer alianças semelhantes às que garantiram ao país os belos anos 2000.

E Berlusconi? Um velho, derrubado. Mas não é o que ele acha. “Como se pode ver, estou de volta”, declarou, modestamente. Nos últimos meses, Berlusconi vem defendendo a ideia de um pacto de governo que reuniria “centro-esquerda e centro-direita”. Ontem, ele reiterou que apresentará nos próximos dias um projeto de governo.

A Liga Norte, de direita xenófoba, também se agita. Seu alvo é o Movimento 5 Estrelas, que, apesar de algumas ideias embaraçosas de esquerda, teve o lampejo de, como a Liga Norte, apresentar-se como “antissistema”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

A esquerda europeia não vai bem das pernas. Ela acaba de fazer um brilhante e inesperado retorno graças ao trabalhista britânico Jeremy Corbyn, mas essa exceção é explicada pelo mar tempestuoso que o Reino Unido do Brexit atravessa e pelo governo errático da primeira-ministra, Theresa May. Na Europa Ocidental continental, porém, aquela de Alemanha, França e Itália, a esquerda lambe as feridas.

Na França, o Partido Socialista foi nocauteado. Caiu morto, ou quase, reduzido a pele e osso. Há cinco anos, estava em plena glória e o presidente François Hollande era “o bom”. Hoje, o PS não passa de um joão-ninguém. Provavelmente, vai renascer algum dia, pois os países precisam de uma esquerda. Mas quando? Em um mês? Um ano? Dez anos?

François Hollande fez um balanço de seu mandato ao passar o cargo para Emmanuel Macron. Foto: AFP PHOTO/Xavier Leoty

O SPD alemão está se saindo melhor. Continua sendo o segundo partido da Alemanha e, se é provável que Angela Merkel, da direita, vá renovar seu longo reinado em setembro, o SPD continuará governando, apesar de tudo. Nos últimos anos, optou por entrar no governo Merkel como força de apoio. Nesse desempenho, contudo, teve de ratificar medidas pouco esquerdistas – a ponto de, no fim, seus militantes o acusarem de comprar sua sobrevida vendendo a alma.

Já na Itália, a coisa é mais complicada. Os contornos de seus partidos são fluidos e suas doutrinas, colagens. Eles bebem ora na direita, ora na esquerda, como o Movimento 5 Estrelas, do palhaço Beppe Grillo, que entrou com estardalhaço no jogo alguns anos atrás. O 5 Estrelas chegou a conquistar as prefeituras de Roma e Turim, mas seu desempenho medíocre nessas cidades acabou prejudicando Beppe Grillo.

As eleições locais de domingo na Itália opuseram a esquerda – o Partido Democrata – à direita. E a direita ganhou. Tomou dos democratas alguns de seus bastiões eleitorais históricos, como a grande cidade de Gênova. Ali, um candidato que se proclamava firmemente de direita, Marco Bucci, ganhou de lavada.

Não muito longe, La Spezia, outra cidadela da esquerda, passou também para a direita. A lista continua, com Sesto San Giovanni, na Lombardia, e Pistoia, na Toscana. Mesmo a vila mártir de L’Aquila, arrasada por um terremoto há oito anos, elegeu Pierluigi Biondi, do partido Irmãos da Itália, organização neofascista.

Na maioria dos casos, o candidato de direita se apresentou como tal. A tática evocou fortemente aquela que permitiu a Silvio Berlusconi obter seu primeiro sucesso eleitoral e entrar de supetão na política, em 1994.

A Itália viveu domingo à noite um espetáculo irreal. Nas telas de televisão, sucederam-se rostos encanecidos, mas restaurados pela maquilagem, que se acreditava desaparecidos e pareciam sair de uma fenda do tempo no fundo da qual esperavam sua hora. Eles explicaram que a Itália precisava recuperar o juízo e fazer alianças semelhantes às que garantiram ao país os belos anos 2000.

E Berlusconi? Um velho, derrubado. Mas não é o que ele acha. “Como se pode ver, estou de volta”, declarou, modestamente. Nos últimos meses, Berlusconi vem defendendo a ideia de um pacto de governo que reuniria “centro-esquerda e centro-direita”. Ontem, ele reiterou que apresentará nos próximos dias um projeto de governo.

A Liga Norte, de direita xenófoba, também se agita. Seu alvo é o Movimento 5 Estrelas, que, apesar de algumas ideias embaraçosas de esquerda, teve o lampejo de, como a Liga Norte, apresentar-se como “antissistema”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

A esquerda europeia não vai bem das pernas. Ela acaba de fazer um brilhante e inesperado retorno graças ao trabalhista britânico Jeremy Corbyn, mas essa exceção é explicada pelo mar tempestuoso que o Reino Unido do Brexit atravessa e pelo governo errático da primeira-ministra, Theresa May. Na Europa Ocidental continental, porém, aquela de Alemanha, França e Itália, a esquerda lambe as feridas.

Na França, o Partido Socialista foi nocauteado. Caiu morto, ou quase, reduzido a pele e osso. Há cinco anos, estava em plena glória e o presidente François Hollande era “o bom”. Hoje, o PS não passa de um joão-ninguém. Provavelmente, vai renascer algum dia, pois os países precisam de uma esquerda. Mas quando? Em um mês? Um ano? Dez anos?

François Hollande fez um balanço de seu mandato ao passar o cargo para Emmanuel Macron. Foto: AFP PHOTO/Xavier Leoty

O SPD alemão está se saindo melhor. Continua sendo o segundo partido da Alemanha e, se é provável que Angela Merkel, da direita, vá renovar seu longo reinado em setembro, o SPD continuará governando, apesar de tudo. Nos últimos anos, optou por entrar no governo Merkel como força de apoio. Nesse desempenho, contudo, teve de ratificar medidas pouco esquerdistas – a ponto de, no fim, seus militantes o acusarem de comprar sua sobrevida vendendo a alma.

Já na Itália, a coisa é mais complicada. Os contornos de seus partidos são fluidos e suas doutrinas, colagens. Eles bebem ora na direita, ora na esquerda, como o Movimento 5 Estrelas, do palhaço Beppe Grillo, que entrou com estardalhaço no jogo alguns anos atrás. O 5 Estrelas chegou a conquistar as prefeituras de Roma e Turim, mas seu desempenho medíocre nessas cidades acabou prejudicando Beppe Grillo.

As eleições locais de domingo na Itália opuseram a esquerda – o Partido Democrata – à direita. E a direita ganhou. Tomou dos democratas alguns de seus bastiões eleitorais históricos, como a grande cidade de Gênova. Ali, um candidato que se proclamava firmemente de direita, Marco Bucci, ganhou de lavada.

Não muito longe, La Spezia, outra cidadela da esquerda, passou também para a direita. A lista continua, com Sesto San Giovanni, na Lombardia, e Pistoia, na Toscana. Mesmo a vila mártir de L’Aquila, arrasada por um terremoto há oito anos, elegeu Pierluigi Biondi, do partido Irmãos da Itália, organização neofascista.

Na maioria dos casos, o candidato de direita se apresentou como tal. A tática evocou fortemente aquela que permitiu a Silvio Berlusconi obter seu primeiro sucesso eleitoral e entrar de supetão na política, em 1994.

A Itália viveu domingo à noite um espetáculo irreal. Nas telas de televisão, sucederam-se rostos encanecidos, mas restaurados pela maquilagem, que se acreditava desaparecidos e pareciam sair de uma fenda do tempo no fundo da qual esperavam sua hora. Eles explicaram que a Itália precisava recuperar o juízo e fazer alianças semelhantes às que garantiram ao país os belos anos 2000.

E Berlusconi? Um velho, derrubado. Mas não é o que ele acha. “Como se pode ver, estou de volta”, declarou, modestamente. Nos últimos meses, Berlusconi vem defendendo a ideia de um pacto de governo que reuniria “centro-esquerda e centro-direita”. Ontem, ele reiterou que apresentará nos próximos dias um projeto de governo.

A Liga Norte, de direita xenófoba, também se agita. Seu alvo é o Movimento 5 Estrelas, que, apesar de algumas ideias embaraçosas de esquerda, teve o lampejo de, como a Liga Norte, apresentar-se como “antissistema”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ 

*É CORRESPONDENTE EM PARIS

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