Golpe ajuda tese de Erdogan


Para especialistas, presidente turco sempre teve ambição de superar figura histórica de Ataturk

Por Tim Arango

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sempre teve a ambição de ofuscar Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna, como o mais importante personagem do país. Agora, com o golpe frustrado, talvez ele finalmente o consiga. Há anos Erdogan, um islâmico, comemora grandes momentos do passado otomano quando Istambul era sede do califado, subestimando a história secular da Turquia promovida por Ataturk. 

Com a frustrada tentativa de golpe, ele agora tem sua própria história e não perdeu tempo em começar a propagar sua coleção de eventos e símbolos para incutir esta nova narrativa na consciência nacional.

Erdogan quer deixar sua marca na história da Turquia Foto: AFP / OZAN KOSE
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Uma ponte sobre o Bósforo que tinha sido capturada pelos soldados renegados foi renomeada em homenagem aos civis mortos ali. Uma praça em Ancara, ocupada por tanques quando os militares tentaram tomar o poder, também recebeu novo nome como símbolo de democracia. 

Agências de mídia e jornais pró-governo publicam material em profusão sobre o golpe, homenageando as vítimas como heróis nacionais e uma emissora estatal está produzindo um documentário a respeito. Está planejada a construção de estátuas e monumentos e o dia 15 de julho do próximo ano, 1.º aniversário do golpe fracassado, será feriado nacional.

Tudo isso em três semanas. O objetivo de Erdogan é assegurar não só que nada seja perdido da história, mas também que esse mais recente capítulo pertença totalmente a seus seguidores. Segundo historiadores e analistas, ele encontrou uma oportunidade para celebrar o que há muito tempo qualifica como “a nova Turquia” – uma nação moderna com ênfase no islamismo que rompeu com o passado secular. Kerem Oktem, historiador turco da Universidade de Graz na Áustria, chama essa tese de defesa islâmica da democracia”.

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O discurso é no sentido de uma resistência heroica em nome do islamismo contra as potências estrangeiras, incluindo os EUA, que Erdogan e outros sugerem que teriam se envolvido na conspiração. Mas, segundo a narrativa de Erdogan, o golpe não foi liderado pela antiga elite secular, mas pelos partidários de Fethullah Gulen, clérigo muçulmano que dirige um movimento islâmico rival e vive exilado na Pensilvânia. 

A tentativa de golpe já é citada no país como a segunda guerra de independência da Turquia. A primeira, liderada por Ataturk, foi após o colapso do Império Otomano no fim da 1.ª Guerra e cujo foco era a construção de uma identidade turca com base em princípios nacionalistas e secularistas. “O governo do AKP – partido político de Erdogan – já estava em busca de novas comemorações para marcar o que define como a Nova Turquia”, afirmou Esra Ozyurek, que dirige o centro de estudos turcos na London School of Economics. 

O governo enfureceu os turcos seculares quando cancelou diversas comemorações em homenagem a Ataturk, por razões como o acidente em uma mina e um terremoto – e ao mesmo tempo tem comemorado vitórias otomanas históricas e o nascimento do profeta Maomé.

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Segundo Kerem Okten, Erdogan pretende criar uma nova história da identidade islâmica turca “com um alcance que extrapole” a construída por Ataturk. 

A mensagem agora é a de que a Turquia é para os islâmicos, mesmo que Erdogan tente unir o país, aproximando-se de alguns dos seus oponentes tradicionais, especialmente os turcos nacionalistas e seculares, anulando processos que moveu contra eles e convidando-os para os comícios. Erdogan, que já foi preso pela velha elite secular da Turquia por declamar um poema religioso em público, assumiu o poder em 2003 como a voz das massas religiosas do país. Fortaleceu um grupo de pessoas que historicamente eram tratadas como cidadãos de segunda classe, despertando nelas o sentimento de que sua voz é importante nos assuntos do país.

Depois do golpe frustrado, ofereceu a esses indivíduos algo ainda maior: a crença de que, atendendo a seu apelo e os dos pregadores nas mesquitas para se levantarem em defesa do governo, eles salvaram o país do mesmo modo que Ataturk o fez após a 1.ª Guerra. 

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Desde o golpe, noite após noite os partidários do presidente, a seu apelo, se reúnem na Praça Taksim, no centro de Istambul, para comemorar a salvação do país. A praça, no passado, já foi palco de manifestações de movimentos seculares, trabalhistas e sociais nos anos 60 e contra o governo, realizadas há três anos e tiveram início com o protesto contra um projeto de reforma do Parque Gezi. 

A própria história de Erdogan na noite do golpe, que teria escapado por um triz de um hotel antes de conspiradores chegarem ao local com o objetivo de matá-lo ou sequestrá-lo, já é comparada a uma famosa narrativa sobre Ataturk, que durante a batalha de Gallipoli teria escapado da morte, pois a bala dirigida contra ele foi desviada por seu relógio de bolso.

Não importa que a história tenha sido refutada por notícias posteriores, indicando que Erdogan deixou o hotel à beira-mar onde se encontrava algumas horas antes da chegada dos comandos. Mas o relato de que havia escapado por um triz já entrou no folclore popular. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É JORNALISTA

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Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

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Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

Foto: REUTERS/Murad Sezer
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Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

Foto: REUTERS/Tumay Berkin
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Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

Foto: AP Photo/Emrah Gurel
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Foto: AP Photo/Emrah Gurel
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Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

Foto: AP Photo/Emrah Gurel

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sempre teve a ambição de ofuscar Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna, como o mais importante personagem do país. Agora, com o golpe frustrado, talvez ele finalmente o consiga. Há anos Erdogan, um islâmico, comemora grandes momentos do passado otomano quando Istambul era sede do califado, subestimando a história secular da Turquia promovida por Ataturk. 

Com a frustrada tentativa de golpe, ele agora tem sua própria história e não perdeu tempo em começar a propagar sua coleção de eventos e símbolos para incutir esta nova narrativa na consciência nacional.

Erdogan quer deixar sua marca na história da Turquia Foto: AFP / OZAN KOSE

Uma ponte sobre o Bósforo que tinha sido capturada pelos soldados renegados foi renomeada em homenagem aos civis mortos ali. Uma praça em Ancara, ocupada por tanques quando os militares tentaram tomar o poder, também recebeu novo nome como símbolo de democracia. 

Agências de mídia e jornais pró-governo publicam material em profusão sobre o golpe, homenageando as vítimas como heróis nacionais e uma emissora estatal está produzindo um documentário a respeito. Está planejada a construção de estátuas e monumentos e o dia 15 de julho do próximo ano, 1.º aniversário do golpe fracassado, será feriado nacional.

Tudo isso em três semanas. O objetivo de Erdogan é assegurar não só que nada seja perdido da história, mas também que esse mais recente capítulo pertença totalmente a seus seguidores. Segundo historiadores e analistas, ele encontrou uma oportunidade para celebrar o que há muito tempo qualifica como “a nova Turquia” – uma nação moderna com ênfase no islamismo que rompeu com o passado secular. Kerem Oktem, historiador turco da Universidade de Graz na Áustria, chama essa tese de defesa islâmica da democracia”.

O discurso é no sentido de uma resistência heroica em nome do islamismo contra as potências estrangeiras, incluindo os EUA, que Erdogan e outros sugerem que teriam se envolvido na conspiração. Mas, segundo a narrativa de Erdogan, o golpe não foi liderado pela antiga elite secular, mas pelos partidários de Fethullah Gulen, clérigo muçulmano que dirige um movimento islâmico rival e vive exilado na Pensilvânia. 

A tentativa de golpe já é citada no país como a segunda guerra de independência da Turquia. A primeira, liderada por Ataturk, foi após o colapso do Império Otomano no fim da 1.ª Guerra e cujo foco era a construção de uma identidade turca com base em princípios nacionalistas e secularistas. “O governo do AKP – partido político de Erdogan – já estava em busca de novas comemorações para marcar o que define como a Nova Turquia”, afirmou Esra Ozyurek, que dirige o centro de estudos turcos na London School of Economics. 

O governo enfureceu os turcos seculares quando cancelou diversas comemorações em homenagem a Ataturk, por razões como o acidente em uma mina e um terremoto – e ao mesmo tempo tem comemorado vitórias otomanas históricas e o nascimento do profeta Maomé.

Segundo Kerem Okten, Erdogan pretende criar uma nova história da identidade islâmica turca “com um alcance que extrapole” a construída por Ataturk. 

A mensagem agora é a de que a Turquia é para os islâmicos, mesmo que Erdogan tente unir o país, aproximando-se de alguns dos seus oponentes tradicionais, especialmente os turcos nacionalistas e seculares, anulando processos que moveu contra eles e convidando-os para os comícios. Erdogan, que já foi preso pela velha elite secular da Turquia por declamar um poema religioso em público, assumiu o poder em 2003 como a voz das massas religiosas do país. Fortaleceu um grupo de pessoas que historicamente eram tratadas como cidadãos de segunda classe, despertando nelas o sentimento de que sua voz é importante nos assuntos do país.

Depois do golpe frustrado, ofereceu a esses indivíduos algo ainda maior: a crença de que, atendendo a seu apelo e os dos pregadores nas mesquitas para se levantarem em defesa do governo, eles salvaram o país do mesmo modo que Ataturk o fez após a 1.ª Guerra. 

Desde o golpe, noite após noite os partidários do presidente, a seu apelo, se reúnem na Praça Taksim, no centro de Istambul, para comemorar a salvação do país. A praça, no passado, já foi palco de manifestações de movimentos seculares, trabalhistas e sociais nos anos 60 e contra o governo, realizadas há três anos e tiveram início com o protesto contra um projeto de reforma do Parque Gezi. 

A própria história de Erdogan na noite do golpe, que teria escapado por um triz de um hotel antes de conspiradores chegarem ao local com o objetivo de matá-lo ou sequestrá-lo, já é comparada a uma famosa narrativa sobre Ataturk, que durante a batalha de Gallipoli teria escapado da morte, pois a bala dirigida contra ele foi desviada por seu relógio de bolso.

Não importa que a história tenha sido refutada por notícias posteriores, indicando que Erdogan deixou o hotel à beira-mar onde se encontrava algumas horas antes da chegada dos comandos. Mas o relato de que havia escapado por um triz já entrou no folclore popular. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É JORNALISTA

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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sempre teve a ambição de ofuscar Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna, como o mais importante personagem do país. Agora, com o golpe frustrado, talvez ele finalmente o consiga. Há anos Erdogan, um islâmico, comemora grandes momentos do passado otomano quando Istambul era sede do califado, subestimando a história secular da Turquia promovida por Ataturk. 

Com a frustrada tentativa de golpe, ele agora tem sua própria história e não perdeu tempo em começar a propagar sua coleção de eventos e símbolos para incutir esta nova narrativa na consciência nacional.

Erdogan quer deixar sua marca na história da Turquia Foto: AFP / OZAN KOSE

Uma ponte sobre o Bósforo que tinha sido capturada pelos soldados renegados foi renomeada em homenagem aos civis mortos ali. Uma praça em Ancara, ocupada por tanques quando os militares tentaram tomar o poder, também recebeu novo nome como símbolo de democracia. 

Agências de mídia e jornais pró-governo publicam material em profusão sobre o golpe, homenageando as vítimas como heróis nacionais e uma emissora estatal está produzindo um documentário a respeito. Está planejada a construção de estátuas e monumentos e o dia 15 de julho do próximo ano, 1.º aniversário do golpe fracassado, será feriado nacional.

Tudo isso em três semanas. O objetivo de Erdogan é assegurar não só que nada seja perdido da história, mas também que esse mais recente capítulo pertença totalmente a seus seguidores. Segundo historiadores e analistas, ele encontrou uma oportunidade para celebrar o que há muito tempo qualifica como “a nova Turquia” – uma nação moderna com ênfase no islamismo que rompeu com o passado secular. Kerem Oktem, historiador turco da Universidade de Graz na Áustria, chama essa tese de defesa islâmica da democracia”.

O discurso é no sentido de uma resistência heroica em nome do islamismo contra as potências estrangeiras, incluindo os EUA, que Erdogan e outros sugerem que teriam se envolvido na conspiração. Mas, segundo a narrativa de Erdogan, o golpe não foi liderado pela antiga elite secular, mas pelos partidários de Fethullah Gulen, clérigo muçulmano que dirige um movimento islâmico rival e vive exilado na Pensilvânia. 

A tentativa de golpe já é citada no país como a segunda guerra de independência da Turquia. A primeira, liderada por Ataturk, foi após o colapso do Império Otomano no fim da 1.ª Guerra e cujo foco era a construção de uma identidade turca com base em princípios nacionalistas e secularistas. “O governo do AKP – partido político de Erdogan – já estava em busca de novas comemorações para marcar o que define como a Nova Turquia”, afirmou Esra Ozyurek, que dirige o centro de estudos turcos na London School of Economics. 

O governo enfureceu os turcos seculares quando cancelou diversas comemorações em homenagem a Ataturk, por razões como o acidente em uma mina e um terremoto – e ao mesmo tempo tem comemorado vitórias otomanas históricas e o nascimento do profeta Maomé.

Segundo Kerem Okten, Erdogan pretende criar uma nova história da identidade islâmica turca “com um alcance que extrapole” a construída por Ataturk. 

A mensagem agora é a de que a Turquia é para os islâmicos, mesmo que Erdogan tente unir o país, aproximando-se de alguns dos seus oponentes tradicionais, especialmente os turcos nacionalistas e seculares, anulando processos que moveu contra eles e convidando-os para os comícios. Erdogan, que já foi preso pela velha elite secular da Turquia por declamar um poema religioso em público, assumiu o poder em 2003 como a voz das massas religiosas do país. Fortaleceu um grupo de pessoas que historicamente eram tratadas como cidadãos de segunda classe, despertando nelas o sentimento de que sua voz é importante nos assuntos do país.

Depois do golpe frustrado, ofereceu a esses indivíduos algo ainda maior: a crença de que, atendendo a seu apelo e os dos pregadores nas mesquitas para se levantarem em defesa do governo, eles salvaram o país do mesmo modo que Ataturk o fez após a 1.ª Guerra. 

Desde o golpe, noite após noite os partidários do presidente, a seu apelo, se reúnem na Praça Taksim, no centro de Istambul, para comemorar a salvação do país. A praça, no passado, já foi palco de manifestações de movimentos seculares, trabalhistas e sociais nos anos 60 e contra o governo, realizadas há três anos e tiveram início com o protesto contra um projeto de reforma do Parque Gezi. 

A própria história de Erdogan na noite do golpe, que teria escapado por um triz de um hotel antes de conspiradores chegarem ao local com o objetivo de matá-lo ou sequestrá-lo, já é comparada a uma famosa narrativa sobre Ataturk, que durante a batalha de Gallipoli teria escapado da morte, pois a bala dirigida contra ele foi desviada por seu relógio de bolso.

Não importa que a história tenha sido refutada por notícias posteriores, indicando que Erdogan deixou o hotel à beira-mar onde se encontrava algumas horas antes da chegada dos comandos. Mas o relato de que havia escapado por um triz já entrou no folclore popular. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É JORNALISTA

Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

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O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sempre teve a ambição de ofuscar Mustafa Kemal Ataturk, fundador da Turquia moderna, como o mais importante personagem do país. Agora, com o golpe frustrado, talvez ele finalmente o consiga. Há anos Erdogan, um islâmico, comemora grandes momentos do passado otomano quando Istambul era sede do califado, subestimando a história secular da Turquia promovida por Ataturk. 

Com a frustrada tentativa de golpe, ele agora tem sua própria história e não perdeu tempo em começar a propagar sua coleção de eventos e símbolos para incutir esta nova narrativa na consciência nacional.

Erdogan quer deixar sua marca na história da Turquia Foto: AFP / OZAN KOSE

Uma ponte sobre o Bósforo que tinha sido capturada pelos soldados renegados foi renomeada em homenagem aos civis mortos ali. Uma praça em Ancara, ocupada por tanques quando os militares tentaram tomar o poder, também recebeu novo nome como símbolo de democracia. 

Agências de mídia e jornais pró-governo publicam material em profusão sobre o golpe, homenageando as vítimas como heróis nacionais e uma emissora estatal está produzindo um documentário a respeito. Está planejada a construção de estátuas e monumentos e o dia 15 de julho do próximo ano, 1.º aniversário do golpe fracassado, será feriado nacional.

Tudo isso em três semanas. O objetivo de Erdogan é assegurar não só que nada seja perdido da história, mas também que esse mais recente capítulo pertença totalmente a seus seguidores. Segundo historiadores e analistas, ele encontrou uma oportunidade para celebrar o que há muito tempo qualifica como “a nova Turquia” – uma nação moderna com ênfase no islamismo que rompeu com o passado secular. Kerem Oktem, historiador turco da Universidade de Graz na Áustria, chama essa tese de defesa islâmica da democracia”.

O discurso é no sentido de uma resistência heroica em nome do islamismo contra as potências estrangeiras, incluindo os EUA, que Erdogan e outros sugerem que teriam se envolvido na conspiração. Mas, segundo a narrativa de Erdogan, o golpe não foi liderado pela antiga elite secular, mas pelos partidários de Fethullah Gulen, clérigo muçulmano que dirige um movimento islâmico rival e vive exilado na Pensilvânia. 

A tentativa de golpe já é citada no país como a segunda guerra de independência da Turquia. A primeira, liderada por Ataturk, foi após o colapso do Império Otomano no fim da 1.ª Guerra e cujo foco era a construção de uma identidade turca com base em princípios nacionalistas e secularistas. “O governo do AKP – partido político de Erdogan – já estava em busca de novas comemorações para marcar o que define como a Nova Turquia”, afirmou Esra Ozyurek, que dirige o centro de estudos turcos na London School of Economics. 

O governo enfureceu os turcos seculares quando cancelou diversas comemorações em homenagem a Ataturk, por razões como o acidente em uma mina e um terremoto – e ao mesmo tempo tem comemorado vitórias otomanas históricas e o nascimento do profeta Maomé.

Segundo Kerem Okten, Erdogan pretende criar uma nova história da identidade islâmica turca “com um alcance que extrapole” a construída por Ataturk. 

A mensagem agora é a de que a Turquia é para os islâmicos, mesmo que Erdogan tente unir o país, aproximando-se de alguns dos seus oponentes tradicionais, especialmente os turcos nacionalistas e seculares, anulando processos que moveu contra eles e convidando-os para os comícios. Erdogan, que já foi preso pela velha elite secular da Turquia por declamar um poema religioso em público, assumiu o poder em 2003 como a voz das massas religiosas do país. Fortaleceu um grupo de pessoas que historicamente eram tratadas como cidadãos de segunda classe, despertando nelas o sentimento de que sua voz é importante nos assuntos do país.

Depois do golpe frustrado, ofereceu a esses indivíduos algo ainda maior: a crença de que, atendendo a seu apelo e os dos pregadores nas mesquitas para se levantarem em defesa do governo, eles salvaram o país do mesmo modo que Ataturk o fez após a 1.ª Guerra. 

Desde o golpe, noite após noite os partidários do presidente, a seu apelo, se reúnem na Praça Taksim, no centro de Istambul, para comemorar a salvação do país. A praça, no passado, já foi palco de manifestações de movimentos seculares, trabalhistas e sociais nos anos 60 e contra o governo, realizadas há três anos e tiveram início com o protesto contra um projeto de reforma do Parque Gezi. 

A própria história de Erdogan na noite do golpe, que teria escapado por um triz de um hotel antes de conspiradores chegarem ao local com o objetivo de matá-lo ou sequestrá-lo, já é comparada a uma famosa narrativa sobre Ataturk, que durante a batalha de Gallipoli teria escapado da morte, pois a bala dirigida contra ele foi desviada por seu relógio de bolso.

Não importa que a história tenha sido refutada por notícias posteriores, indicando que Erdogan deixou o hotel à beira-mar onde se encontrava algumas horas antes da chegada dos comandos. Mas o relato de que havia escapado por um triz já entrou no folclore popular. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO É JORNALISTA

Militares turcos tomam controle de pontos estratégicos na Turquia

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