A família Bush, McCain, Romney e Ryan são conservadores. Conservadores tradicionais e com uma visão positiva do mundo, com compaixão. Não consideram mexicanos e muçulmanos inferiores. Querem, por meio do livre mercado, enriquecer os EUA por meio de acordos comerciais independentemente de isso enriquecer também a China. E acreditam, concorde-se ou não, que os EUA tem o papel de difundir a democracia e o liberalismo pelo mundo.
Trump segue um outro tipo de conservadorismo. Um conservadorismo negativo, agressivo, populista, nacionalista e xenófobo. Enquanto George W. Bush visitava mesquitas e escolhia embaixadores muçulmanos para o Iraque e o Afeganistão (embora sua invasão do Iraque tenha sido um tremendo erro), deixando claro que sua guerra era contra o terrorismo e não contra o islamismo, Trump quer barrar os muçulmanos - 1,8 bilhão de pessoas, incluindo figuras como o atual Nobel de Química, como o atual técnico do Real Madrid (Zidane) e a Nobel da Paz (Malala).
Infelizmente, o conservadorismo sério e competente de Romney e Ryan e mesmo de Angela Merkel, concorde-se ou não com eles, têm perdido espaço nos últimos anos para extremistas populistas como Trump. E este fenômeno se repete no Brasil, com algumas figuras agressivas na nova direita (alguns dos seguidores vão me agredir verbalmente por este post), e em outras partes do mundo, como no Leste Europeu.
É fundamental que a direita conservadora exista e tenha força, assim como a esquerda progressista. Mas deve ser uma direita como a revista britânica The Economist, bastião do liberalismo econômico mundial desde o século 19, que classificou na sua capa desta semana Trump como uma tragédia para os EUA - Trump, por sinal, que é contra o liberalismo econômico e defende políticas protecionistas, muitas vezes associada à esquerda.
Que fique claro, acho que George W. Bush foi um péssimo presidente. Mas acho que o pai dele teve pontos positivos. Considero McCain um dos maiores heróis de guerra dos EUA (Trump tirou sarro dele por ter sido prisioneiro e torturado no Vietnã). E avalio que Romney seria hoje a pessoa mais preparada para ser presidente dos EUA.
Guga Chacra, blogueiro de política internacional do Estadão e comentarista do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires