Ontem, a ONU marcou o Dia Mundial da Assistência Humanitária, data que se comemora no dia da morte do brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Em 19 de agosto de 2003, ele e mais 21 pessoas na sede da ONU em Bagdá foram alvos de um ataque terrorista. As mortes foram um divisor de águas nas Nações Unidas, que gozava de proteção e acreditava que não seria alvo de atentados por seu caráter de entidade neutra.
Uma década depois, o que a ONU constata é que a situação é ainda mais grave e que seu estatuto foi diluído de uma forma ainda mais perigosa. Em 2013, 155 funcionários internacionais em missões humanitárias foram assassinados, numa clara violação do direito humanitário internacional e em atos considerados como crimes de guerra. 171 funcionários ainda ficaram seriamente feridos e outros 134 foram sequestrados. 81 deles foram mortos apenas no Afeganistão, além de vítimas na Síria, Paquistão e Sudão.
Os números são duas vezes superiores ao recorde anterior, de 2012, quando 277 pessoas foram alvos de ataques.
Para 2014, a tendência mostra que o desrespeito a todas as regras internacionais continua. Até agosto de 2014, 79 funcionários humanitários tinham sido assassinados. Os ataques contra escolas da ONU em Gaza contribuíram para elevar o número das vítimas.
Impacto - Para a ONU, esses ataques ameaçam as operações da entidade em diversos locais do mundo e justamente onde a população mais precisa de ajuda. "Neste ano, nosso plano é de atender 76 milhões de pessoas em 31 países", declarou Rashid Khalikov, diretora do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. "As pessoas que realizam esse trabalho precisam ser protegidas", disse.
"Está cada vez mais perigoso trabalhar em missões humanitárias hoje", alertou a Comissária Europeia para Ajuda Humanitária, Kristalina Georgieva. "A cada mês, doze trabalhadores perdem suas vidas e mais de dez são sequestrados tentando ajudar aos demais", disse.
A Cruz Vermelha também alerta que as mortes tem afetado sua capacidade de levar ajuda aos mais necessitados. No total 38 sírios e sete palestinos foram mortos desde o conflito na Síria. "Pedimos que todas as partes no conflito na Síria respeitem suas obrigações diante do direito humanitário internacional e respeitem os trabalhadores da Cruz Vermelha", indicou um comunicado da entidade.
A ONU admite em informes internos que, para os grupos terroristas, todas essas entidades seriam "braços" da "ocupação Ocidental", ou instrumentos de controle de potências. Mas a entidade vem alertando a governos que também precisam garantir que a entidade possa trabalhar em segurança. "Estamos sendo atacados tanto pelas autoridades sírias quanto as israelenses hoje", declarou o informe.
"Um trabalhador humanitário morto é uma pessoa a menos que o mundo conta para salvar vidas", declarou Valerie Amos, a responsável na ONU para Coordenar ações de emergência na entidade.