É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Brexit é exemplo acabado de resultado do populismo


A duração de cada ciclo depende da capacidade de um país de aprender com seus erros

Por Lourival Sant'Anna

A renúncia da primeira-ministra Theresa May era tão previsível quanto aquilo que a causou: o fracasso das negociações da saída britânica da União Europeia (UE). Há uma crítica ao modo como May conduziu a negociação ao longo desses três anos, primeiro buscando acordos com a UE, para só depois consultar o Parlamento britânico.

Governo de Theresa May nãoconsegue chegar a um consenso sobre a saída do Reino Unido da União Europeia Foto: Dylan Martinez / Reuters

Em tese, a crítica é pertinente. Na prática, dificilmente o resultado final teria sido outro. Ouvir os deputados primeiro teria poupado a primeira-ministra dos constrangimentos por que ela – e consequentemente o país que ela representa – passou com as idas e vindas e por fim o pedido de adiamento da saída. Mas, no final, ficou provado que o Parlamento britânico não reúne condições para apresentar uma solução que atenda às expectativas de seus eleitores. Quando May jogou a toalha e pediu aos deputados que então aprovassem qualquer plano, o resultado foi nulo.

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Isso porque os eleitores foram enganados. Votaram em algo que não existe: sair da UE sem pagar um preço econômico pela aventura, depois de décadas de integração. May entendeu que sua missão era manter o Reino Unido no Mercado Comum Europeu por um período de transição, enquanto seu país buscava um meio de negociar novos acordos comerciais, com a própria UE e o restante do mundo, contornando a camisa de força da Tarifa Externa Comum, nossa velha conhecida no Mercosul.

A condição da UE para manter o Reino Unido no Mercado Comum foi simples e óbvia: que o arquipélago mantivesse aberta sua única fronteira, com a República da Irlanda, membro da UE. Essa parte do plano foi recusada pelos deputados que querem uma ruptura mais radical com a UE e pelos unionistas, que representam a maioria protestante da Irlanda do Norte e rejeitam esse status especial para a minoria católica, cultural e politicamente vinculada à República da Irlanda. O Brexit acabou, assim, reavivando o conflito na Irlanda do Norte, que estava apaziguado desde o fim dos anos 90.

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Após muita especulação, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira sua renúncia ao cargo. Ela fica no posto até o dia 7 de junho.

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O Brexit é um exemplo acabado de resultado do populismo, de como promessas impossíveis, com base em fantasias atraentes para pessoas comuns, levam os países a perder o que haviam conquistado, sem ganhar o que foi prometido. Só quem sai ganhando são os próprios populistas. Boris Johnson, que liderou a campanha em favor do Brexit no plebiscito de 2016, é agora o favorito ao cargo de May.

O populismo funciona de forma cíclica. Ele surte resultados imediatos, enquanto o seu preço demora para aparecer. Quando os problemas aparecem, o ciclo se esgota, e vêm governantes sensatos arrumar a bagunça deixada pelas políticas equivocadas dos populistas.

A duração de cada ciclo depende da capacidade de um país de aprender com seus erros e de criar líderes que o reconduzam de volta à sensatez. A pré-candidatura do democrata Joe Biden, por exemplo, representa uma oportunidade para os Estados Unidos evitarem que os estragos provocados pelo governo de Donald Trump se prolonguem por oito anos.

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A dificuldade de lidar com os populistas é que é uma disputa desigual. Sua desonestidade intelectual lhes proporciona uma vantagem competitiva. A realidade é em geral menos atraente que suas promessas de atalhos que, só se perceberá mais adiante, nos distanciam dos nossos objetivos. Além disso, têm menos limites: escrevo da Zâmbia, onde o líder da oposição, Hakainde Hichilema, foi preso sob acusação de dirigir seu carro perto do comboio do presidente Edgar Lungu.

Os populistas encontram ressonância nos eleitores mais frustrados, mais impacientes e menos informados. Essa confluência está em alta no mundo: os argentinos flertam de novo com Cristina Kirchner; os filipinos dão a Rodrigo Duterte carta branca no Congresso para seguir matando indiscriminadamente suspeitos de narcotráfico; a bancada nacionalista deve crescer nessas eleições do Parlamento Europeu

Resta torcer para que o ciclo seja curto e o estrago, não muito grande.

A renúncia da primeira-ministra Theresa May era tão previsível quanto aquilo que a causou: o fracasso das negociações da saída britânica da União Europeia (UE). Há uma crítica ao modo como May conduziu a negociação ao longo desses três anos, primeiro buscando acordos com a UE, para só depois consultar o Parlamento britânico.

Governo de Theresa May nãoconsegue chegar a um consenso sobre a saída do Reino Unido da União Europeia Foto: Dylan Martinez / Reuters

Em tese, a crítica é pertinente. Na prática, dificilmente o resultado final teria sido outro. Ouvir os deputados primeiro teria poupado a primeira-ministra dos constrangimentos por que ela – e consequentemente o país que ela representa – passou com as idas e vindas e por fim o pedido de adiamento da saída. Mas, no final, ficou provado que o Parlamento britânico não reúne condições para apresentar uma solução que atenda às expectativas de seus eleitores. Quando May jogou a toalha e pediu aos deputados que então aprovassem qualquer plano, o resultado foi nulo.

Isso porque os eleitores foram enganados. Votaram em algo que não existe: sair da UE sem pagar um preço econômico pela aventura, depois de décadas de integração. May entendeu que sua missão era manter o Reino Unido no Mercado Comum Europeu por um período de transição, enquanto seu país buscava um meio de negociar novos acordos comerciais, com a própria UE e o restante do mundo, contornando a camisa de força da Tarifa Externa Comum, nossa velha conhecida no Mercosul.

A condição da UE para manter o Reino Unido no Mercado Comum foi simples e óbvia: que o arquipélago mantivesse aberta sua única fronteira, com a República da Irlanda, membro da UE. Essa parte do plano foi recusada pelos deputados que querem uma ruptura mais radical com a UE e pelos unionistas, que representam a maioria protestante da Irlanda do Norte e rejeitam esse status especial para a minoria católica, cultural e politicamente vinculada à República da Irlanda. O Brexit acabou, assim, reavivando o conflito na Irlanda do Norte, que estava apaziguado desde o fim dos anos 90.

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Após muita especulação, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira sua renúncia ao cargo. Ela fica no posto até o dia 7 de junho.

O Brexit é um exemplo acabado de resultado do populismo, de como promessas impossíveis, com base em fantasias atraentes para pessoas comuns, levam os países a perder o que haviam conquistado, sem ganhar o que foi prometido. Só quem sai ganhando são os próprios populistas. Boris Johnson, que liderou a campanha em favor do Brexit no plebiscito de 2016, é agora o favorito ao cargo de May.

O populismo funciona de forma cíclica. Ele surte resultados imediatos, enquanto o seu preço demora para aparecer. Quando os problemas aparecem, o ciclo se esgota, e vêm governantes sensatos arrumar a bagunça deixada pelas políticas equivocadas dos populistas.

A duração de cada ciclo depende da capacidade de um país de aprender com seus erros e de criar líderes que o reconduzam de volta à sensatez. A pré-candidatura do democrata Joe Biden, por exemplo, representa uma oportunidade para os Estados Unidos evitarem que os estragos provocados pelo governo de Donald Trump se prolonguem por oito anos.

A dificuldade de lidar com os populistas é que é uma disputa desigual. Sua desonestidade intelectual lhes proporciona uma vantagem competitiva. A realidade é em geral menos atraente que suas promessas de atalhos que, só se perceberá mais adiante, nos distanciam dos nossos objetivos. Além disso, têm menos limites: escrevo da Zâmbia, onde o líder da oposição, Hakainde Hichilema, foi preso sob acusação de dirigir seu carro perto do comboio do presidente Edgar Lungu.

Os populistas encontram ressonância nos eleitores mais frustrados, mais impacientes e menos informados. Essa confluência está em alta no mundo: os argentinos flertam de novo com Cristina Kirchner; os filipinos dão a Rodrigo Duterte carta branca no Congresso para seguir matando indiscriminadamente suspeitos de narcotráfico; a bancada nacionalista deve crescer nessas eleições do Parlamento Europeu

Resta torcer para que o ciclo seja curto e o estrago, não muito grande.

A renúncia da primeira-ministra Theresa May era tão previsível quanto aquilo que a causou: o fracasso das negociações da saída britânica da União Europeia (UE). Há uma crítica ao modo como May conduziu a negociação ao longo desses três anos, primeiro buscando acordos com a UE, para só depois consultar o Parlamento britânico.

Governo de Theresa May nãoconsegue chegar a um consenso sobre a saída do Reino Unido da União Europeia Foto: Dylan Martinez / Reuters

Em tese, a crítica é pertinente. Na prática, dificilmente o resultado final teria sido outro. Ouvir os deputados primeiro teria poupado a primeira-ministra dos constrangimentos por que ela – e consequentemente o país que ela representa – passou com as idas e vindas e por fim o pedido de adiamento da saída. Mas, no final, ficou provado que o Parlamento britânico não reúne condições para apresentar uma solução que atenda às expectativas de seus eleitores. Quando May jogou a toalha e pediu aos deputados que então aprovassem qualquer plano, o resultado foi nulo.

Isso porque os eleitores foram enganados. Votaram em algo que não existe: sair da UE sem pagar um preço econômico pela aventura, depois de décadas de integração. May entendeu que sua missão era manter o Reino Unido no Mercado Comum Europeu por um período de transição, enquanto seu país buscava um meio de negociar novos acordos comerciais, com a própria UE e o restante do mundo, contornando a camisa de força da Tarifa Externa Comum, nossa velha conhecida no Mercosul.

A condição da UE para manter o Reino Unido no Mercado Comum foi simples e óbvia: que o arquipélago mantivesse aberta sua única fronteira, com a República da Irlanda, membro da UE. Essa parte do plano foi recusada pelos deputados que querem uma ruptura mais radical com a UE e pelos unionistas, que representam a maioria protestante da Irlanda do Norte e rejeitam esse status especial para a minoria católica, cultural e politicamente vinculada à República da Irlanda. O Brexit acabou, assim, reavivando o conflito na Irlanda do Norte, que estava apaziguado desde o fim dos anos 90.

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Após muita especulação, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira sua renúncia ao cargo. Ela fica no posto até o dia 7 de junho.

O Brexit é um exemplo acabado de resultado do populismo, de como promessas impossíveis, com base em fantasias atraentes para pessoas comuns, levam os países a perder o que haviam conquistado, sem ganhar o que foi prometido. Só quem sai ganhando são os próprios populistas. Boris Johnson, que liderou a campanha em favor do Brexit no plebiscito de 2016, é agora o favorito ao cargo de May.

O populismo funciona de forma cíclica. Ele surte resultados imediatos, enquanto o seu preço demora para aparecer. Quando os problemas aparecem, o ciclo se esgota, e vêm governantes sensatos arrumar a bagunça deixada pelas políticas equivocadas dos populistas.

A duração de cada ciclo depende da capacidade de um país de aprender com seus erros e de criar líderes que o reconduzam de volta à sensatez. A pré-candidatura do democrata Joe Biden, por exemplo, representa uma oportunidade para os Estados Unidos evitarem que os estragos provocados pelo governo de Donald Trump se prolonguem por oito anos.

A dificuldade de lidar com os populistas é que é uma disputa desigual. Sua desonestidade intelectual lhes proporciona uma vantagem competitiva. A realidade é em geral menos atraente que suas promessas de atalhos que, só se perceberá mais adiante, nos distanciam dos nossos objetivos. Além disso, têm menos limites: escrevo da Zâmbia, onde o líder da oposição, Hakainde Hichilema, foi preso sob acusação de dirigir seu carro perto do comboio do presidente Edgar Lungu.

Os populistas encontram ressonância nos eleitores mais frustrados, mais impacientes e menos informados. Essa confluência está em alta no mundo: os argentinos flertam de novo com Cristina Kirchner; os filipinos dão a Rodrigo Duterte carta branca no Congresso para seguir matando indiscriminadamente suspeitos de narcotráfico; a bancada nacionalista deve crescer nessas eleições do Parlamento Europeu

Resta torcer para que o ciclo seja curto e o estrago, não muito grande.

A renúncia da primeira-ministra Theresa May era tão previsível quanto aquilo que a causou: o fracasso das negociações da saída britânica da União Europeia (UE). Há uma crítica ao modo como May conduziu a negociação ao longo desses três anos, primeiro buscando acordos com a UE, para só depois consultar o Parlamento britânico.

Governo de Theresa May nãoconsegue chegar a um consenso sobre a saída do Reino Unido da União Europeia Foto: Dylan Martinez / Reuters

Em tese, a crítica é pertinente. Na prática, dificilmente o resultado final teria sido outro. Ouvir os deputados primeiro teria poupado a primeira-ministra dos constrangimentos por que ela – e consequentemente o país que ela representa – passou com as idas e vindas e por fim o pedido de adiamento da saída. Mas, no final, ficou provado que o Parlamento britânico não reúne condições para apresentar uma solução que atenda às expectativas de seus eleitores. Quando May jogou a toalha e pediu aos deputados que então aprovassem qualquer plano, o resultado foi nulo.

Isso porque os eleitores foram enganados. Votaram em algo que não existe: sair da UE sem pagar um preço econômico pela aventura, depois de décadas de integração. May entendeu que sua missão era manter o Reino Unido no Mercado Comum Europeu por um período de transição, enquanto seu país buscava um meio de negociar novos acordos comerciais, com a própria UE e o restante do mundo, contornando a camisa de força da Tarifa Externa Comum, nossa velha conhecida no Mercosul.

A condição da UE para manter o Reino Unido no Mercado Comum foi simples e óbvia: que o arquipélago mantivesse aberta sua única fronteira, com a República da Irlanda, membro da UE. Essa parte do plano foi recusada pelos deputados que querem uma ruptura mais radical com a UE e pelos unionistas, que representam a maioria protestante da Irlanda do Norte e rejeitam esse status especial para a minoria católica, cultural e politicamente vinculada à República da Irlanda. O Brexit acabou, assim, reavivando o conflito na Irlanda do Norte, que estava apaziguado desde o fim dos anos 90.

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Após muita especulação, a primeira-ministra britânica, Theresa May, anunciou nesta sexta-feira sua renúncia ao cargo. Ela fica no posto até o dia 7 de junho.

O Brexit é um exemplo acabado de resultado do populismo, de como promessas impossíveis, com base em fantasias atraentes para pessoas comuns, levam os países a perder o que haviam conquistado, sem ganhar o que foi prometido. Só quem sai ganhando são os próprios populistas. Boris Johnson, que liderou a campanha em favor do Brexit no plebiscito de 2016, é agora o favorito ao cargo de May.

O populismo funciona de forma cíclica. Ele surte resultados imediatos, enquanto o seu preço demora para aparecer. Quando os problemas aparecem, o ciclo se esgota, e vêm governantes sensatos arrumar a bagunça deixada pelas políticas equivocadas dos populistas.

A duração de cada ciclo depende da capacidade de um país de aprender com seus erros e de criar líderes que o reconduzam de volta à sensatez. A pré-candidatura do democrata Joe Biden, por exemplo, representa uma oportunidade para os Estados Unidos evitarem que os estragos provocados pelo governo de Donald Trump se prolonguem por oito anos.

A dificuldade de lidar com os populistas é que é uma disputa desigual. Sua desonestidade intelectual lhes proporciona uma vantagem competitiva. A realidade é em geral menos atraente que suas promessas de atalhos que, só se perceberá mais adiante, nos distanciam dos nossos objetivos. Além disso, têm menos limites: escrevo da Zâmbia, onde o líder da oposição, Hakainde Hichilema, foi preso sob acusação de dirigir seu carro perto do comboio do presidente Edgar Lungu.

Os populistas encontram ressonância nos eleitores mais frustrados, mais impacientes e menos informados. Essa confluência está em alta no mundo: os argentinos flertam de novo com Cristina Kirchner; os filipinos dão a Rodrigo Duterte carta branca no Congresso para seguir matando indiscriminadamente suspeitos de narcotráfico; a bancada nacionalista deve crescer nessas eleições do Parlamento Europeu

Resta torcer para que o ciclo seja curto e o estrago, não muito grande.

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